Os psicoterapeutas modernos veem
o individualismo positivamente. Dizem que o erro está no egoísmo, que seria um
estágio de imaturidade emocional. É certo que em dado momento é bom ficar a só
para refletir ou ponderar sobre certas questões. Porém, o cristianismo
não incentiva a individualidade. O psicoterapeuta Flávio Gikovate afirmou que “a
palavra individualidade tem conotação positiva, como a conquista de um estado
de autonomia”. Eis aí o problema para os cristãos: a autonomia humana. A
mutualidade é imprescindível no cristianismo.
Minha intenção é desenvolver a
postagem em duas partes. Nesta parte pretendo falar da necessidade que temos de
ter comunhão com o Deus Triuno.
Definição
Para que definamos corretamente o
que é comunhão temos que considerar primeiramente seus dois sentidos: vertical
e horizontal. Um depende do outro para ser eficaz em seu resultado. Não
acredito que consigamos amar verdadeiramente aqueles irmãos “difíceis” no
convívio cristão, se primeiro não tivermos comunhão com o Deus Triuno. Foi
exatamente isso que disse o apóstolo João aos seus leitores:
“o que temos
visto e ouvido anunciamos também a vós outros, para que vós, igualmente,
mantenhais comunhão conosco. Ora, a nossa comunhão é com o Pai e com seu Filho,
Jesus Cristo”. (I João 1:2,3).
União e comunhão
Nesse momento é importante
distinguir entre a nossa união com
Cristo e nossa comunhão com Ele. A
união com Cristo significa que fomos dados por Deus à ele desde a eternidade.
Nossa união com Cristo é posicional. É denominada de união judicial ou legal. Tem haver com os seguintes aspectos:
passado (fomos salvos), presente (estamos sendo salvos) e futuro (estaremos
definitivamente salvos).
“As minhas
ovelhas ouvem a minha voz; eu as conheço, e elas me seguem. Eu lhes dou a vida
eterna; jamais perecerão, e ninguém as arrebatará da minha mão. Aquilo que meu
Pai me deu é maior do que tudo; e da mão do Pai ninguém pode arrebatar”. (João
10:27-29);
“Bendito o
Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que nos tem abençoado com toda a sorte
de bênçãos espirituais nas regiões celestiais em Cristo, assim como nos
escolheu, nele, antes da fundação do mundo, para sermos santos e
irrepreensíveis perante ele” (Efésios 1:3,4).
Já a nossa comunhão com Cristo é algo paulatino, progressivo, metódico. A
comunhão pode ser definida como “a participação comum em algo”. Se de fato
fomos unidos a Cristo por Deus,
devemos ter comunhão com Ele em suas graças, sofrimentos, morte, ressurreição e
glória.
Elementos da comunhão com Cristo: graças, sofrimentos, morte,
ressurreição e glória
As graças de Cristo trata-se das bênçãos espirituais proporcionadas
por Ele aos seus escolhidos: “Porque todos temos recebidos da sua plenitude e
graça sobre graça” (João 1:16). É o gozo que o fiel deve sentir em ser salvo
por Cristo e servi-lo até o fim. Este fato nos obriga humilharmos e deixarmos
ser supridos por Cristo em nossas necessidades espirituais. John Charles Ryle
(o bispo Ryle), afirmou que está guardado em Cristo
“...
como na casa do tesouro, um suprimento ilimitado de tudo quanto o pecador
necessita, no tempo presente e na eternidade. Sua dádiva especial à igreja é o
Espírito de vida, o qual, assim como uma grande raiz, transporta a seiva e o
vigor espiritual de Cristo a todos os ramos que nele creem. Jesus Cristo é rico
em misericórdia, graça, sabedoria, justiça, santificação e redenção”.
(Meditações no Evangelho de João, p. 13).
Recebemos a graça de Cristo em
nossas vidas, portanto, temos de estar ligado a Ele, desfrutando e
compartilhando de sua graça as demais pessoas. Ter Cristo na vida é como “um
grande achado”. Ele é a pérola de valor inestimável.
Se participar das graças ou virtudes de Cristo é o que todos querem, não acontece o mesmo com a
participação nos Seus sofrimentos – que diga a teologia da prosperidade e o triunfalismo
evangélico. Ter comunhão com Cristo
nos seus sofrimentos, na verdade, trata das implicações negativas em servir a
Ele. A praga daninha do evangelho da prosperidade e do triunfalismo não se
sustenta diante desta doutrina. Leia os versículos que seguem e reflita se eles
deveriam adjetivar seus autores como “fracos”, “covardes”, “não espirituais”,
“carnais”, ou se o que escreveram representa a verdade do evangelho de Cristo.
O apóstolo Paulo disse: “Agora,
me regozijo nos meus sofrimentos por vós, e preencho o que resta das aflições
de Cristo, na minha carne, a favor do seu corpo, que é a igreja (Colossenses
1:24). O apóstolo Pedro disse palavras mais contundentes ainda:
“Amados, não
estranheis o fogo ardente que surge no meio de vós, destinado a provar-vos,
como se alguma coisa extraordinária vos estivesse acontecendo; pelo contrário,
alegrai-vos na medida em que sois co-participantes dos sofrimentos de Cristo,
para que também, na revelação de sua glória, vos alegreis exultando. Se, pelo
nome de Cristo, sois injuriados, bem-aventurados sois, porque sobre vós repousa
o Espirito da glória de Deus. Não sofra, porém, nenhum de vós como assassino,
ou ladrão, ou malfeitor, ou como quem se intromete em negócios de outrem; mas,
se sofrer como cristão, não se envergonhe disso; antes, glorifique a Deus com
esse nome.” (I Pedro 4:12-16)
É óbvio que nenhum cristão gosta
de sofrer, não somos uma espécie de masoquista. Mas, o sofrimento é parte da
glória de Deus em nossas vidas. É difícil compreender isso, mas, é assim que
Deus trabalha. A obra de Deus sempre avançou nas dificuldades, perseguições ou
provações. Padecer por Cristo é uma honra, e não uma vergonha. O apóstolo Paulo,
diferente do evangelho triunfalista que presenciamos em nossos dias, sabia que
suas prisões, apedrejamentos, naufrágios, surras, fome, frio, enaltecia o
evangelho de nosso Senhor Jesus Cristo. Ele encorajou os irmãos filipenses que
preservassem a unidade cristã na luta:
“Vivei, acima
de tudo, por modo digno do evangelho de Cristo, para que, ou indo ver-vos ou
estando ausente, ouça, no tocante a vos outros, que estais firmes em um só
espírito, como uma só alma, lutando juntos pela fé evangélica; e que em nada
estais intimidados pelos adversários. Pois o que é para eles prova evidente de
perdição é, para vos outros, de salvação, e isto da parte de Deus. Porque vos
foi concedida a graça de padecerdes por Cristo e não somente de crerdes nele,
pois tendes o mesmo combate que vistes em mim e, ainda agora, ouvis que é o
meu.” (Filipenses 1:27-30)
O terceiro elemento da comunhão
com Cristo forma um par: morte e ressurreição. A morte e ressurreição de Cristo
foram extremamente significativas para nós, pois, há relação entre o batismo em
água, que é o sinal e selo da união inicial com Cristo, com a morte e
ressurreição de nosso Senhor. Note o que Paulo disse aos crentes romanos:
“Ou,
porventura, ignorais que todos nós que fomos batizados em Cristo Jesus fomos
batizados na sua morte? Fomos, pois, sepultados com ele na morte pelo batismo;
para que, como Cristo foi ressuscitado dentre os mortos pela glória do Pai,
assim também andemos nós em novidade de vida. Porque, se fomos unidos com ele
na semelhança da sua morte, certamente, o seremos também na semelhança da sua
ressurreição, sabendo isto: que foi crucificado com ele o nosso velho homem,
para que o corpo do pecado seja destruído, e não sirvamos o pecado como
escravos; porquanto quem morreu está justificado do pecado.” (Romanos 6:3-7)
A identificação do crente na morte
e ressurreição de Cristo com o batismo deve gerar no crente os sinais de regeneração,
o fruto do Espírito. Ele deve andar em novidade de vida, pois “como tal, o
batismo proclama que aqueles que estão unidos com Cristo morreram para o pecado”
(Bíblia de Genebra – nota). Ou seja, se há união com Cristo deve haver também
comunhão. Isso acontece mediante a consideração pela morte e ressurreição de
Cristo, que nos vem à memória por meio do batismo.
O estágio ultimo e final, da
nossa comunhão com Cristo, se dará quando formos glorificados. A glorificação dos
escolhidos do Senhor significa a salvação final e completa na nova ordem de
Deus – ou o estado eterno.
“Fiel é esta
palavra: Se já morremos com ele, também viveremos com ele; se perseveramos,
também com ele reinaremos.” (II Timóteo 2:12).
"Ora, se somos filhos, somos também herdeiros, herdeiros de Deus e co-herdeiros com Cristo; se com ele sofremos, também com ele seremos glorificados." (Romanos 8:17)
"Ora, se somos filhos, somos também herdeiros, herdeiros de Deus e co-herdeiros com Cristo; se com ele sofremos, também com ele seremos glorificados." (Romanos 8:17)
O primeiro e grande mandamento
É maravilhosa a comunhão que
podemos ter com o Senhor. Porém, suas implicações possuem simultaneamente um
gosto amargo e doce. Mas isso é apenas a primeira parte do mandamento que
Cristo mencionou em Mateus 22.37: “Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu
coração, de toda a tua alma e de todo o teu entendimento. Este é o grande e
primeiro mandamento.” Falta a segunda parte, o que pretendo postar assim que
der.
Em Cristo,
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