Tenho vários amigos e irmãos arminianos e em contato com
eles percebo que eles possuem pelo menos quatro medos: a não certeza da
salvação, o de perder a salvação, de fazer Deus o algoz do pecador e de
blasfemar contra o Espírito Santo. É óbvio que nem todos os irmãos arminianos
são assim, mas é minoria. Por mais que as literaturas ensinem timidamente algum tipo de segurança
nesses assuntos, contudo, o medo esta alojado no subconsciente da maioria. Nesta
postagem vamos refletir sobre a não certeza ou convicção da salvação.
É dito pelos irmãos arminianos que não temos como saber se
somos salvos ou não. Estar convicto da salvação soa como se fosse arrogância ou
autoconfiança. Devemos fazer alguma coisa para ser salvo (por exemplo: se
decidir por Cristo). A obra da redenção é meramente potencial, pois apenas
possibilita que o homem se salve.
No entanto, a convicção da salvação é produzida no coração
do crente por causa da chamada especial do Espírito Santo. É ele quem persuade
o coração e a mente do pecador e muda-os radicalmente (II Coríntios 5:17). No
diálogo com o famoso fariseu chamado Nicodemos, o Senhor Jesus afirmou que a
regeneração (ou o “nascer de novo”) é uma obra vertical produzida somente pelo
poder do Espírito. O Mestre disse que “O vento sopra onde quer, ouves a sua
voz, mas não sabes donde vem, nem para onde vai; assim é todo o que é nascido
do Espírito”. Nenhum ser humano tem o poder de dizer ao vento para que sopre “aqui”
ou “ali”, ou que “faça isso” ou “aquilo”. O vento vem e faz o que tem para
fazer a nossa revelia. Ou seja, o Espírito é soberano na salvação.
Em primeiro lugar penso que o medo de não estar salvo (ou a não
convicção da salvação) é justamente porque a salvação é colocada sobre o ombro
dos pecadores. É dele a responsabilidade de ser salvo ou não. É desta forma que
sintetizo o apelo feito nos cultos para os pecadores. Mas basta os dias se
passarem e percebemos que muitos dos que foram à frente, motivados pelo apelo
de aceitarem a Cristo, não permanecem na igreja e muito menos em Cristo. O fato
é que o pecador não pode salvar a si próprio, pois sendo assim quem é produzirá
a convicção no seu coração? Ele mesmo?
Em segundo lugar penso que a não convicção da salvação é
resultado de uma compreensão muito superficial ou equivocada da “Queda Adâmica”,
ou seja, dos graves efeitos do pecado original. Para muitos crentes o pecado de
Adão afetou o corpo e alma, mas não o espírito. O que eles querem afirmar é que
o pecado de Adão não atingiu plenamente o ser humano, mas resta nele algo que o
capacita para aceitar a Cristo por si só. Porém, independente da linha
teológica sobre a natureza do ser humano (se dicotômica ou tricotômica) Deus
não nos vê repartidos, mas como uma pessoal total.
O pecado nos atingiu como um
todo: sentimento, emoção, razão e moral. Atingiu nossa parte imaterial e
material. A Bíblia afirma nossa condição diante de Deus e diz que estávamos
mortos: “Ele vos deu vida, estando vós mortos nos vossos delitos e pecados”
(Efésios 2:1). Pense em Lázaro morto há quatro dias (João cap. 11). O que ele próprio
poderia fazer para voltar a viver? Obviamente nada. Foi somente após ouvir o
chamado de Jesus: “Lázaro, vem para fora!” é que ele voltou a viver. Se o
pecador não for chamado eficazmente pelo Espírito nem mesmo que ele queira
conseguirá ser salvo. Conheço muitas pessoas que tentam “mudar de vida”
aceitando Cristo, mas como a salvação não processou na sua mente e no seu
coração continuam exatamente iguais.
É o Espírito Santo quem inclina o coração do pecador para
aceitar a oferta do evangelho e obedecer aos seus mandamentos. O profeta
Jeremias tinha convicção disso ao afirmar o seguinte: “Eu sei, ó SENHOR, que
não cabe ao homem determinar o seu caminho, nem ao que caminha o dirigir os
seus passos” (Jeremias 10:23). Por isso é uma grande bobagem que certos
pregadores se orgulhem de que após sua pregação dezenas ou centenas de pessoas
aceitaram a Cristo. Se estivesse no homem o poder de aceitar a Cristo creio que
ele não faria isso. O evangelista João (3:19,20) afirma nas palavras de Jesus: “O
julgamento é este: que a luz veio ao mundo, e os homens amaram mais as trevas
do que a luz; porque as suas obras eram más. Pois todo aquele que pratica o mal
aborrece a luz e não se chega para a luz, a fim de não serem argüidas as suas
obras”. É necessário que o Espírito
convença o homem do pecado, da justiça e do juízo.
Há duas chamadas diferentes do evangelho: a externa ou geral
e a interna ou particular. Todos são convidados a vir a Cristo: “Vinde a mim,
todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei” (Mateus
11:25) ou ainda Apocalipse 22:17 “O Espírito e a noiva dizem: Vem! Aquele que
ouve, diga: Vem! Aquele que tem sede venha, e quem quiser receba de graça a
água da vida”. Esta é a chamada geral ou externa do evangelho. Mas nem todos de
fato vêm a Cristo ou crêem em Cristo para a salvação. Esta é a chamada interna
ou particular. E por que é assim? Biblicamente é por causa do que Cristo disse
em João 6:37,44: “Todo aquele que o Pai me dá, esse virá a mim; e o que vem a
mim, de modo nenhum o lançarei fora”; “Ninguém pode vir a mim se o Pai, que me
enviou, não o trouxer”.
Enfim, o homem não consegue nem pode produzir sua própria
salvação. Se fosse assim, ele teria méritos em sua salvação. Mas nem mesmo a fé
que o ser humano produz para crer em Cristo é originada dele próprio. O
apóstolo disse aos efésios: “Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e
isto não vem de vós; é dom de Deus; não de obras, para que ninguém se glorie”
(Efésios 2:8,9).
A evidência principal da salvação é a união e o amor a
Cristo, a vontade e o desejo de lhe obedecer e fazer a Sua vontade e ainda a
produção do fruto do Espírito. Se possuir esses elementos você é um salvo em
Cristo. Tenha convicção da sua salvação e não tenha medo. Não há condenação
para os que estão em Cristo: “Agora, pois, já nenhuma condenação há para os que
estão em Cristo Jesus” (Romanos 8:1).