segunda-feira, 4 de janeiro de 2016

A SACRALIZAÇÃO EVANGÉLICA DE LUGARES E LOCAIS ESPECÍFICOS


Lugares e locais específicos são considerados por muitos como sagrados em detrimentos de outros locais e lugares. Não devemos sacralizar ou mistificar lugares ou locais específicos. Mas a grande questão é essa: a presença de Deus está MAIS em determinados lugares e locais que em outros?

Meu entendimento bíblico é que não devemos ser categóricos em afirmar que Deus está mais (no sentido qualitativo) presente num culto público do que em nossos lares, ou no local onde trabalhamos, por exemplo. A natureza de um culto público é uma, a de estarmos em nossa casas é outra, mas a percepção do sagrado ou da presença de Deus deve ser a mesma. Esse assunto enseja abordar o tema da percepção do sagrado e da presença de Deus em determinados lugares ou em localidades específicas. Deus, bem como sua presença ou sacralidade, poderia estar enclausurado ou habitar em algum lugar ou local específico?

Ao olharmos para o Antigo Testamento observamos que o Senhor determinou a construção de uma estrutura móvel, isto é, um espaço sagrado aonde Ele deveria ser reverenciado. Os Salmos tecem notáveis elogios e considerações a esse Santuário: “Quão amáveis são os teus tabernáculos, SENHOR dos Exércitos!” (Salmos 84:1). “E em Salém está o seu tabernáculo, e a sua morada em Sião” (Salmos 76:2). “Envia a tua luz e a tua verdade, para que me guiem e me levem ao teu santo monte, e aos teus tabernáculos”. (Salmos 43:3). Sem dúvidas, o Tabernáculo era sagrado para os judeus e muito devotado. Mas sabemos que o propósito de Deus sempre foi habitar dentro de cada pessoa regenerada pelo sacrifício de seu Filho amado. O Templo como local sagrado ao decorrer do tempo perderia sua importância e sua funcionalidade.

No Novo Testamento deparamos com Estêvão (Atos 6:8-7:1-50) discursando diante das autoridades religiosas no Sinédrio e enfrentando duas severas acusações dos judeus: o descaso com o Templo Sagrado e com a Lei de Moisés. Eles diziam que Estêvão desrespeitava tanto o local quanto a lei sagrada. Os judeus objetavam que Deus prometera colocar seu Nome nele e encontrar seu povo ali. Havia uma forte tendência em mistificar o Templo. A existência deste era garantia de proteção divina, a destruição, significava o abandono de Deus por seu povo. No seu discurso Estêvão deixa claro que não é assim. Tanto o Templo Sagrado quanto a Lei de Moisés adquirem novas formas, sentidos, conceitos ou interpretações.

O discurso de Estêvão no Sinédrio é muito importante, pois nos remete a relembrarmos de forma correta o moderno e bíblico ensino a respeito da sacralidade de locais e objetos. Ele escolheu quatro das principais épocas da história de Israel, dominadas por quatro personagens principais. Primeiro, ele destacou Abraão e o período patriarcal (7:2-8); depois José e o exílio no Egito (vs. 9-19); passando para Moisés, o Êxodo e a peregrinação no deserto (vs. 20-44); e finalmente Davi e Salomão, e o estabelecimento da monarquia (vs. 45-50).

Aprendemos das quatro narrativas históricas que 1º) Deus está presente em todos os lugares; 2º) a terra santa está em qualquer lugar onde Deus possa estar (Atos 7:33); 3º) o Templo ou local de culto não deve ser considerado a Casa do Senhor, em algum sentido literal (Atos 7:48); 4º) Deus não se restringe a um lugar específico; 5º) a Casa de Deus somos nós Seu povo (I Pedro 2:5).

Alguns sacralizam os locais de culto público (os templos modernos) enfatizando a permanente presença literal do Divino. Outros pensam que locais específicos dentro do local do culto são especiais, pois neles se admite a presença santa e sacra do Ser Divino. É o caso da sacralização do púlpito – alguns crentes sentem que o púlpito é uma espécie de “Altar Sagrado”. Não devemos insistir na ingenuidade depois que somos avisados daquilo que é certo ou errado. Portanto, seja em casa, no emprego, no local de culto público, andando na rua, de passeio no shopping, etc, devemos ter em mente que estamos em “terra santa”, pois ali Deus está.

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