Se Deus é bom, justo, perfeito e quer o bem da humanidade, então de onde vem o pecado? Qual sua origem? Como aconteceu sua entrada em nosso Universo?
De fato, saber a sua origem é vital para implantar o remédio eficaz contra este mal que assola o ser humano. Fingir que o pecado não existe, ignorá-lo, é a tendência de vários segmentos na sociedade. Mas antes de respondermos à pergunta: “De onde veio o pecado?”, analisemos algumas teorias que tentam negar esta realidade:
Gnosticismo
Esta teoria continua sendo, assim como foi no passado, uma grave ameaça para a igreja cristã. Sua propagação deu-se especialmente no período entre os séculos I a III. Numa forma bem simples, podemos definir o gnosticismo como o movimento cujos adeptos julgam ter “conhecimentos especiais”, superiores aos cristãos, e uma nova forma de comunicar-se com um Ser Superior. Os gnósticos identificavam o mal com a matéria, ou seja, a carne com suas paixões, e o bem como uma substância do espírito. Sendo assim, não há razão para acreditar no pecado, que no caso, seria nada mais do que a eterna luta entre o bem e o mal.
Ateísmo
O termo vem do grego atheos, que significa sem Deus. Exatamente por negar a Deus e viver sem Ele, negam o conceito de pecado, porque o pecado não pode ser simplesmente contra o ser humano, mas, contra um Ser soberano. Se assim fosse as pessoas que não fazem nada de errado contra o seu próximo poderiam considerar–se boas, justas e isentas de pecado. Não há pecados se não há atos errados, pensam os ateus.
Hedonismo
Para os hedonistas o que importa é o prazer e este deve ser desfrutado sem nenhum sentimento de culpa. O hedonista não está preocupado se algo é errado, mas antes, se promove prazer. Ceder à tentação é algo normal e resistir a ela seria perda de tempo. Em nome do prazer é válido todo tipo de prática, principalmente os atos imorais, como o homossexualismo, o lesbianismo, o adultério, etc.
Evolucionismo
Se há pecado no ser humano este é o resultado da animalesca e primitiva origem do homem, é o que pensam os adeptos da teoria da evolução e/ou do evolucionismo. No entanto, perguntamos: Como pode ser isso, visto que os animais não pecam? Diante desta indagação, os evolucionistas defendem a idéia de que não há espaço para o sentimento de culpa, não há a imagem divina no ser humano, não há distorção desta imagem. Portanto, o ser humano não depende e nem precisa de Deus.
É importante para o aluno deter o conhecimento destas concepções sobre o pecado, primeiro porque são ao mesmo tempo antigas e contemporâneas e segundo, porque leva-nos a examinar o que a Bíblia diz a respeito da origem do pecado. E é isto o propomos a seguir.
A origem do pecado sob o ponto de vista bíblico
A rebelião angelical
Antes que Adão e Eva pecassem, o pecado aconteceu no mundo angelical por meio da desobediência e rebelião de Satanás contra Deus, apoiado pelos anjos que o seguiram no seu intento magistral. É óbvio que Deus não criou o Diabo, mas sim, um ser angelical poderoso, com o privilégio de servi-lo, como os demais anjos. Quanto ao tempo exato da rebelião de Satanás nas regiões celestiais, há divergências entre os teólogos em geral. Há estudiosos da Bíblia que entendem haver menção desta rebelião e conseqüente queda de Satanás nos textos de Ezequiel 28.15: “Perfeito eras nos teus caminhos, desde o dia em que foste criado, até que se achou iniqüidade em ti” e Isaías 14.12: “Como caíste desde o céu, ó estrela da manhã, filha da alva! Como foste cortado por terra, tu que debilitavas as nações!”. Já há outro grupo de estudiosos que não admitem nestes textos a possibilidade de referir-se a Satanás na sua rebelião e queda. Não entraremos aqui no mérito destas questões, isso poderá ser discutido com propriedade em nosso próximo módulo, no estudo sistemático sobre os anjos. O que é fundamental sabermos por ora é o fato de que tanto uma corrente de interpretação como outra, admitem Satanás como o originador do pecado.
Satanás e sua origem pecaminosa
O pecado de Adão e Eva dependeu antes da instrução maliciosa e tendenciosa de Satanás, por intermédio da serpente, no jardim do Éden, conforme registra a Bíblia (Gn 3.1-6). A sua responsabilidade, com relação à entrada do pecado no mundo e sua natureza é evidente: “Vós tendes por pai ao diabo, e quereis satisfazer os desejos de vosso pai. Ele foi homicida desde o princípio, e não se firmou na verdade, porque não há verdade nele. Quando ele profere mentira, fala do que lhe é próprio, porque é mentiroso, e pai da mentira” (Jo 8.44). O apóstolo João diz que o Diabo peca desde o princípio: “... porque o diabo peca desde o princípio” (1 Jo3.8).
Deus não é o autor do pecado
Colocar a culpa do pecado em Deus é se eximir da responsabilidade. Conforme vimos anteriormente, a entrada do pecado no mundo deu-se primeiramente no mundo angelical, logo após essa ocorrência o homem também pecou. Sendo assim, qual é a culpa de Deus no caso?
Há uma teoria chamada “Determinismo” que ensina ser o livre arbítrio uma ilusão e que na realidade há dentro do ser humano impulsos e circunstâncias que não podem ser controladas e nem evitadas pelo homem. Desta forma, se a pessoa é boa ou má pouco importa e assim esta não deve nem ser elogiada nem condenada por seus atos, visto ser escrava dos seus impulsos e das circunstâncias. Este pensamento faz de Deus o autor do pecado e o responsável direto pela entrada deste no mundo. Entretanto, a Bíblia nos mostra a santidade de Deus de forma incisiva: “Ele é a Rocha, cuja obra é perfeita, porque todos os seus caminhos justos são; Deus é a verdade, e não há nele injustiça; justo e reto é” (Dt 32.4). Deus repudia a perversidade: “Portanto vós, homens de entendimento, escutai-me: Longe de Deus esteja o praticar a maldade e do Todo-Poderoso o cometer a perversidade!” (Jó 34. 10).
Dualismo
Os gnósticos ensinavam que havia na natureza duas forças: a do mundo físico, identificada com o mal e a do mundo espiritual, identificada com o bem. No caso, o Deus bíblico não teria criado o mundo físico, pois o mesmo se compunha da matéria, e a matéria é física, e o físico é mal.
O problema de aceitar esta teoria é que somos obrigados a aceitar a idéia de um poder maligno existente eternamente junto de Deus, ou igual ou mais poderoso do que Ele. Temos de entender que Deus “fez todas as coisas, segundo o conselho da sua vontade” (Ef 1.11). Sendo Deus onisciente, até mesmo antes de criar o homem já sabia da entrada do pecado no mundo, no entanto, a sua manifestação na terra surgiu das decisões voluntárias das criaturas moralmente capacitadas.
A raça humana
De forma voluntária, Adão e Eva pecaram contra Deus. Deus tinha dito ao casal que poderia comer de toda a árvore... “Mas da árvore do conhecimento do bem e do mal, dela não comerás; porque no dia em que dela comeres, certamente morrerás” (Gn 2.17). Contrariando esta palavra a serpente disse que não morreriam: “Então a serpente disse à mulher: Certamente não morrereis” (Gn 3.4). O Diabo, representado pela serpente, semeou a dúvida e colocou em xeque a veracidade da Palavra de Deus. Cabia a Eva acreditar ou na Palavra de Deus ou na da serpente.
O Diabo insinuou ao casal que Deus estava escondendo um segredo deles e opinou arbitrariamente que o segredo era a possibilidade de se tornarem deuses também: “Porque Deus sabe que no dia em que dele comerdes se abrirão os vossos olhos, e sereis como Deus, sabendo o bem e o mal” (Gn 3.5). O erro do casal foi “esquecer” que Deus os criou com a finalidade de serem criatura e não Criador; servos e não Senhor. A responsabilidade do ser humano na entrada do pecado no mundo está em Romanos 5.12: “... por um homem entrou o pecado no mundo” e ainda que “...a mulher, sendo enganada, caiu em transgressão” (1Tm 2.14). Os passos para o pecado deram-se gradativamente: “E viu a mulher que aquela árvore era boa para se comer, e agradável aos olhos, e árvore desejável para dar entendimento; tomou do seu fruto, e comeu, e deu também a seu marido, e ele comeu com ela” (Gn 3.6).
O pecado na era dos pais apostólicos
Orígenes
Nascido, provavelmente em Alexandria, no Egito, cerca de 185 d.C, faleceu em Tiro, cerca de 254 d.C. Foi um dos maiores filósofos-teólogos cristãos. Combateu ferrenhamente o gnosticismo. Para ele, a questão do pecado é universal. Pelo fato de a alma (o pecado de Adão e Eva) ter se envolvido com o pecado, nosso corpo teria aprisionado a alma, entretanto, há uma redenção para esta. O ser humano pecou por sua própria liberdade e vontade.
Irineu
Acredita-se que tenha vivido entre 130-200 d.C. Foi um eminente líder e teólogo cristão. O gnosticismo sofreu fortes ataques por seu intermédio. Acreditava na culpabilidade do pecado transmitido pela transgressão de Adão. Cristo tornou-se pecado em nosso lugar (na sua morte) quando corrigiu o erro e a desobediência de Adão.
Agostinho
Aurélio Agostinho nasceu no ano de 354 d.C. na província romana ao norte da África. Foi um competente teólogo cristão. Entendia que o pecado não era um mal necessário, mas deu-se devido ao livre arbítrio humano. A contaminação e a culpa são originadas do pecado e este ofende a santidade de Deus.
Cipriano de Cartago
Nasceu em Cartago, África do Norte, cerca de 200 d.C. Aos 46 anos, converteu-se ao cristianismo e abandonou as crenças e práticas religiosas pagãs de sua família. Afirmou que todos nascem culpados do pecado de Adão e considerava que mediante o batismo a pessoa obtinha a regeneração.