segunda-feira, 9 de maio de 2011

A NATUREZA DA IGREJA

Por Gilson Barbosa
Nem todos os sistemas organizacionais e políticos têm a sua disposição e em seu meio pessoas de níveis sociais tão diferentes quanto a igreja. O que faz com que essas pessoas, sendo tão diferentes aspirem aos mesmos ideais e detenham a mesma esperança? Isso só pode ocorrer porque a igreja tem uma proposta totalmente oposta a das organizações. As diferenças não são excluídas, ou pelo menos não devem excluir a harmonia entre os membros, o que leva as pessoas a alimentarem muitas dúvidas sobre a natureza da igreja. Por isso é importante saber: o que é verdadeiramente a igreja? Qual o significado do termo? A igreja sempre existiu? Todos os que estão na igreja (sentido visível) são de fato componentes da Igreja de Cristo? (sentido invisível). A estas e outras perguntas propomos as respostas sempre nos fundamentando nas Escrituras Sagradas. Seguindo este objetivo, é importante, antes de tudo, definirmos o que é igreja.
Conceito
A palavra grega que foi traduzida para igreja é ekklesia. É composta pela preposição ek (fora de) mais o verbo kaleo (chamar). No sentido usual entre os fiéis refere-se àquelas pessoas que Deus chamou para se separarem (para fora) do pecado a fim de viverem uma nova vida com seu Filho, Jesus Cristo.  
Os mais variados dicionários teológicos apresentam significados básicos para este termo. Em primeiro lugar significa: “O corpo místico de Cristo”. Neste caso é formado pelos genuínos cristãos que compreende somente os verdadeiros salvos. Segundo Wayne Grudem a igreja “... inclui todos os verdadeiros cristãos de todos os tempos, tanto os salvos do Novo como os do Antigo Testamento”.  O outro sentido é: “Um agrupamento dos fiéis com o propósito de adorar a Deus”. Desta forma, dizemos que a igreja é tanto invisível (corpo místico de Cristo), quanto visível (ajuntamento dos crentes). Analisemos as várias aplicações:
No sentido clássico
Apresenta o hábito que tinham os cidadãos, peculiarmente os gregos, de se reunirem com uma prévia convocação para um tipo de assembléia com dimensões legislativas. A elite, que detinha o poder para tratar assuntos de interesses populares, eram os escolhidos, os “chamados para fora” de dentro da massa popular para conduzir. Na democracia grega, as pessoas se reuniam em locais públicos para debater questões sociais, econômicas e políticas. Era a democracia direta, na qual o povo participava fielmente das decisões da sociedade.  A esta assembléia os gregos chamavam de ekklesia.
Na versão Septuaginta
Relaciona o termo ekklesia com a palavra hebraica qahal. Ao analisarmos esta similaridade, verificamos a existência deste projeto de Deus, a Igreja, já no Antigo Testamento. Para uma prova disso, basta comprovar a tradução que a Septuaginta empregou para o texto de Deuteronômio 4.10 (Versão Almeida e Atualizada) que afirma: “Reúne este povo, e os farei ouvir as minhas palavras, a fim de que aprendam a temer-me todos os dias que na terra viver e as ensinará a seus filhos”. O vocábulo “reúne”, no hebraico qahal, foi traduzido pela Septuaginta com o sentido de “convocar uma assembléia”, cujo termo grego é ekklesiazo, verbo da mesma raiz do substantivo ekklesia, que no Novo Testamento, como já referido, é igreja. Não é preciso ser erudito para ponderar a transliteração do texto de Atos 7.38 em que fala do povo de Israel como uma “congregação (igreja) no deserto”: “OUTOS ESTIN O GENOMENOS EN TÊ EKKLÊSIA EN TÊ ERÊMÔ META TOU AGGELOU TOU LALOUNTOS AUTÔ EN TÔ OREI SINA KAI TÔN PATERÔN ÊMÔN OS EDEXATO LOGON LOGIA ZÔNTA DOUNAI ÊMIN”, ou na versão em português: “Este é o que esteve entre a congregação no deserto, com o anjo que lhe falava no monte Sinai, e com nossos pais, o qual recebeu as palavras de vida para no-las dar”.
No uso cristão
A primeira dentre as mais de cem referências à igreja (ekklesia), no Novo Testamento, se encontra registrada em Mateus 16.18: “Pois também eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela”. O termo aplica-se a uma congregação, onde, organizados eclesiasticamente, os fiéis se reuniam para fins de comunhão (entre si e com Cristo) e adoração. É denominada de igreja local, no sentido geográfico: “... às igrejas da Galácia” (Gl 1.2); “ ... à igreja dos tessalonicenses” (1 Ts 1.1); “ Saudai também a igreja que está em sua casa” (Rm 16.5).  Aplica-se também o termo a toda a reunião (a igreja mística e não local) de crentes na terra: “Grande é este mistério; digo-o, porém, a respeito de Cristo e da igreja” (Ef 5.32). Segundo alguns teólogos refere-se somente aos salvos alcançados pela morte de Cristo. Neste sentido, não há diferenças denominacionais, sociais, intelectuais, culturais, etc.
Ainda concernente à natureza da igreja, é bom que se diferencie a igreja que se vê da que não pode ser vista, pois muitos estão na igreja (visível) mas não fazem parte da Igreja (invisível). Como pode ser isso? Vejamos:
A igreja vista por Deus
A Bíblia afirma que somente Deus tem o poder de saber quem, na igreja, está listado entre os salvos: “O Senhor conhece os que são seus ...” (2Ts 2.19). Por não sabermos quem são os verdadeiramente salvos, não devemos nos escandalizar quanto às apostasias, heresias e tantas barbaridades doutrinárias entre (no meio) os genuínos cristãos. Nos dias da igreja primitiva, o apóstolo Paulo reclamou de pessoas que estavam entre os legítimos cristãos e, no entanto, não se portavam como tais. Note, por exemplo, o caso de Himeneu e Fileto censurados por Paulo: “Mas evita os falatórios profanos, porque produzirão maior impiedade. E a palavra desses roerá como gangrena; entre os quais são Himeneu e Fileto; os quais se desviaram da verdade, dizendo que a ressurreição era já feita, e perverteram a fé de alguns” (2Ts 2.16-18). Também em 2Tessalonicenses 4.10: “Porque Demas me desamparou, amando o presente século”. Poderíamos, em certo sentido, concluir que estes apóstatas certamente compunham a igreja, pois, os mesmos estavam regularmente nela, porém, o Senhor “... não vê como vê o homem, pois o homem vê o que está diante de seus olhos”, ele “conhece os que são seus”. É exatamente por Ele saber quem são os verdadeiros salvos que demonstrou a possibilidade de pessoas bem posicionadas na igreja se equivocarem no último momento: “Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus. Muitos me dirão naquele dia: Senhor, Senhor, não profetizamos nós em teu nome? E em teu nome não expulsamos demônios? E em teu nome não fizemos muitas maravilhas? E então lhes direi abertamente: Nunca vos conheci; apartai-vos de mim, vós que praticais a iniqüidade”. Porventura,  participaram estes da igreja mística de Cristo? Obviamente que não!
O Senhor Jesus admoestou: “Acautelai-vos, porém, dos falsos profetas, que vêm até vós vestidos como ovelhas, mas, interiormente, são lobos devoradores” (Mt 7.15). Como podemos observar, as heresias ganharam em nossos dias novas roupagens. São distorções arcaicas que remontam ao início da igreja primitiva, entretanto, entram sutilmente nas igrejas, o que comprova tantos “ventos de doutrinas” no meio evangélico.  
Antes da partida do apóstolo Paulo, vemos que ele aconselhou aos irmãos: “Porque eu sei isto que, depois da minha partida, entrarão no meio de vós lobos cruéis, que não pouparão ao rebanho” (At 20.29). Entretanto, a despeito dos ataques nocivos de Satanás à igreja, geograficamente falando, ele não pode destruir a Igreja invisível de Cristo, pois “... as portas do inferno não prevalecerão contra ela”.
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