quarta-feira, 26 de junho de 2013

TENDÊNCIAS CATÓLICAS ENTRE OS EVANGÉLICOS

Por Gilson Barbosa
 
Estou cada vez mais convencido de que o evangelicalismo moderno está a "cara" da Igreja Católica Romana medieval. Há uma semelhança sutil e ao mesmo tempo descarada. Alguns nem sabem que estão parecidissimos com a Igreja Católica Romana, outros querem mesmo praticar uma espécie de indulgência evangélica. O pastor Augustus Nicodemus Lopes escreveu um artigo interessantíssimo sobre isso, com o título "A alma católica dos evangélicos no Brasil". O artigo destaca cinco tendências entre os evangélicos atuais:

1 - O gosto por bispos e apóstolos;
2) A idéia de que pastores são mediadores entre Deus e os homens;
3) O misticismo supersticioso no apego a objetos sagrados;
4) A separação entre sagrado e profano;
5) Somente pecados sexuais são realmente graves.

A conclusão que chegamos é a de que necessitamos urgente de um avivamento. Aqui também temos problemas, pois o conceito de avivamento foi terrivelmente afetado e perdeu seu sentido original. Muitos não compreendem o que é um real avivamento e confundiram o mesmo com shows gospel, transito livre nas emissoras televisivas, pentecostalismo e neopentecostalismo, avivalismo, sucesso, igrejas lotadas, pregações eloquentes, visibilidade na mídia e política, etc. Todos os meios e modelos tem se mostrado ineficientes. Creio piamente que somente um retorno aos cinco solas da Reforma (somente a Escritura, somente a Graça, somente a Fé, somente Cristo, somente Glória a Deus) serão eficientes e suficientes para colocar a igreja evangélica no prumo. A pergunta que se deve fazer é: "Quem está interessado nisso?"

Uma das tendências atuais que me deixa curioso é a sacralização de objetos, elementos e ações. Na sacralização de objetos e elementos temos: copo de água em cima do rádio, toalhinha santa, sal grosso, água do rio Jordão, lascas da arca de Noé, pregos da cruz, manto de Elias, a sacralização do templo (principalmente do púlpito), a consubstanciação e sacralização dos elementos da ceia (pão e vinho), etc. Os principais resultados disto é promover o misticismo e subtrair a glória devida somente a Deus.

Há pregadores e até mesmo obreiros que no ambiente do culto não sobem no púlpito sem antes dobrar os joelhos e fazer uma oração - como se este compartimento do Templo fosse distinto e "mais sagrado" dos demais. Neste caso lembro-me do episódio em que Moisés teve uma visão no deserto onde a sarça queimava mas não se consumia. Quando Moisés impressionado pelo acontecimento intencionou se aproximar da sarça o Anjo do Senhor bradou:

           "Moisés, Moisés. Respondeu ele: Eis-me aqui. E disse: Não te chegues para cá; tira os sapatos de teus pés; porque o lugar em que tu estás é terra santa". (Êxodo 3:4-5)

Numa passagem bíblica paralela fica claro que para Deus não importa realmente o local aonde ele deve ser adorado. Encontramos em Atos 7 Estevão diante do Sinédrio tendo que responder a acusação de que havia proferido blasfêmias contra o Santo Templo e a Lei de Moisés (Atos 6: 13). Para o judeu devoto o Templo era extremamente sagrado. Porém, em seu discurso Estevão atacou severamente essa ideia dizendo que "o Altíssimo não habita em templos feitos por mãos de homens" (Atos 7:48), no sentido de que a adoração a Deus não se concretiza nem apenas se legitima num Templo. A adoração é algo do espírito/alma e de fórum intimo. Aonde o povo do Senhor se reúne em verdade, ali Deus pode receber a verdadeira adoração. Não há necessidade de mecanismos nem aparatos sofisticados. Encontramos este sentido no diálogo de Jesus com a mulher samaritana:
 
           Nossos pais adoraram neste monte, e vós dizeis que é em Jerusalém o lugar onde se deve adorar. Disse-lhe Jesus: Mulher, crê-me que a hora vem, em que nem neste monte nem em Jerusalém adorareis o Pai. Vós adorais o que não sabeis; nós adoramos o que sabemos porque a salvação vem dos judeus. Mas a hora vem, e agora é, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade; porque o Pai procura a tais que assim o adorem. Deus é Espírito, e importa que os que o adoram o adorem em espírito e em verdade. (João 4:20-24).
 
Outra tendência tem sido a de sacralizar indevidamente os elementos da ceia do Senhor. Semelhante a Lutero, talvez inconscientemente, alguns tem aderido a doutrina da consubstanciação dos elementos. Ao participar do culto de santa ceia, mais precisamente no momento da distribuição dos elementos, você já deve ter ouvido algo como: "enquando você come o pão ou bebe do cálice pode ser curado, batizado em línguas, ter problemas solucionados, etc. O que é esse entendimento senão o de que após a consagração dos elementos na oração os mesmos passam a possuir o poder e a presença magnética de Cristo?
 
A ingestão dos elementos não possuem a propriedade para tais operações extraordinárias. Após a consagração o pão continua pão e o vinho (ou suco de uva) continua o mesmo. O que importa mesmo é o significado e simbolismo: "Porque todas as vezes que comerdes este pão e beberdes este cálice anunciais a morte do Senhor, até que venha. Portanto, qualquer que comer este pão, ou beber o cálice do Senhor indignamente, será culpado do corpo e do sangue do Senhor. Examine-se, pois, o homem a si mesmo, e assim coma deste pão e beba deste cálice." (1 Coríntios 11:26-28). Não há nenhuma alteração ou metamorfose nos elementos. 
 
Uma ação que demonstra a sacralização dos elementos é o fim destinado com as sobras da ceia. O que sabe é que comumente alguns 1) enterram as sobras ou 2) jogam no lixo. A questão principal é que fazem assim motivados por um sentimento fantasioso, supersticioso e místico. Há até "lendas" contando que um cachorro morreu após ingerir sobras do pão da ceia que havia sido enterrado no quintal da igreja. O cálice e o pão estão  sendo reverenciados por muitos, aumentando mais ainda a semelhança supersticiosa e idolátrica com a Igreja Católica Romana. 
 
Se a igreja evangélica não se voltar para os Solas da Reforma Protestante estará cada vez mais se afundando no lamaçal da confusão doutrinária e teológica. Que o Senhor tenha misericórdia de nós e abra os nossos olhos espirituais.
 
Em Cristo,
 
 
 
 
     


    
 
 
 
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