Por Gilson Barbosa
A igreja é (ou pelo menos
deveria ser) o local onde o pecador tem a oportunidade de ao ouvir a
proclamação do evangelho ser confrontado em seu pecado pela Palavra de Deus e
render-se aos pés de Cristo. Jamais imaginamos que o mesmo caso também se
aplica aos nossos filhos. Tendemos a
admitir a salvação dos nossos filhos por procriação ou caso hereditário. Porém,
o evangelista João (1:12,13) afirmou:
“Mas a todos quantos o
receberam, deu-lhes o direito de se tornarem filhos de Deus, ou seja, aos que
creem no seu Nome; os quais não nasceram
do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus”
[meu grifo].
A nota da Bíblia King
James explica que “A expressão grega plural ex haimatõn ‘dos sangues’ indica
que o nascimento espiritual é um dom de Deus, concedido a cada crente, em
especial, e não pode vir por descendência humana nem pelo cumprimento de
qualquer ritual de iniciação à religião”’.
CRIANÇAS
SÃO POR NATUREZA PECADORES
Mesmo
as crianças não escaparam do efeito da queda. Esse
é o principal motivo que lançam aos pais a responsabilidade de educar e
discipular seus filhos com o objetivo de que eles amem e sirvam ao Senhor. O Dr
John Murray disse o seguinte a esse respeito:
“[...] até as recém
nascidas, necessitam de ser limpas do pecado, tanto de sua corrupção quanto de
sua culpa. Crianças não ficam pecadoras depois de crescidas ou durante o
processo de crescimento. Elas são concebidas em pecado e são conduzidas em iniquidade.
Isso remonta ao ventre materno. Ninguém que esteja consciente da realidade do
seu pecado se lembra de quando veio se tornar um pecador. Sabe-se que não foi
por qualquer decisão ou ato deliberado de sua parte que se tornou pecador.
Sabe-se que fora sempre pecador. Certamente que reconhece que essa pecaminosidade
inata e intrínseca foi se agravando, e repetidamente se expressando em atos
voluntários de pecado. Portanto, é a pecaminosidade inerente e agravada que se
expressa em seus atos voluntários de pecado. Além disso, nenhum arguto
observador do crescimento e desenvolvimento humano, desde a infância até à fase
adulta, vai se lembrar do determinado ponto em que o pecado começou a
apossar-se do seu coração, interesses e propósitos”.
AGENTES
DE DISCIPULADO
Está claro que tanto a igreja local quanto os pais devem
ser os agentes principais de discipulado na vida de seus filhos. O apóstolo
Paulo aconselhou os efésios (6:4): “E vós, pais, não provoqueis a ira dos
vossos filhos, mas educai-os de acordo com
a disciplina e o conselho do Senhor [meu grifo].” O exegeta William
Hendriksen comenta que “a disciplina, da qual Paulo trata, pode ser descrita
como uma educação mediante regras e normas, recompensas, e se for necessário
até mesmo uma repreensão severa. A expressão “conselho” (ou admoestação) é a
ação formativa por meio da palavra falada, podendo ser ela de ensino,
advertência ou alento. E por fim tanto a disciplina quanto a admoestação deve
ser “do Senhor”. Essas ações são de natureza espiritual e não está relacionada
à questão de educarmos socialmente ou moralmente nossos filhos. A educação
cristã deve ser de tal forma que o próprio Senhor a aprova.
No entanto, a tarefa de discipular os filhos para que
glorifiquem e sirvam ao Senhor não pode ser exclusivo das igrejas locais,
pois muitas já não pregam um evangelho autentico e substituíram a simplicidade
da proclamação do evangelho por entretenimento e diversas outras atrações que
no final das contas não produzirá o efeito correto. Há muitos jovens
decepcionados com a igreja e consequentemente deixaram totalmente de praticar a
sua fé. Urge, então, que tanto os pais quanto a igreja atentem ao fato de que
nossas crianças devem ser discipuladas e educadas nos caminhos do Senhor. E quem
tem a melhor oportunidade para influenciá-los para o reino de Deus são seus
pais.
AS
DIFICULDADES
No
processo de discipular os filhos nós encontraremos muitas dificuldades. Sentiremos
que somos imperfeitos, e, portanto, que somos incapazes de exigir deles alguma
coisa. É necessário reconhecermos que somos pecadores e que estamos num
processo de aprendizagem e amadurecimento. O apóstolo Paulo nos remete ao fato
de que em certo momento da nossa vida vamos abandonar o nosso jeito infantil de
pensar e agir (I Coríntios 13:11-13). Mas mesmo assim temos de admitir que
somos falhos e carecemos da bendita graça do Senhor para discipularmos nossos
filhos com amor. Nossa intenção não deve ser a de educar nossos filhos para nós
mesmos, mas para que eles sirvam ao Senhor de todo o coração.
Com a responsabilidade de
discipular seus filhos os pais precisam
primeiro aprender para depois ensinar. Ensinarão o quê aos filhos se não
sabem nem mesmo para si? É necessário que os pais saibam conversar com seus
filhos sobre:
- o evangelho verdadeiro e
bíblico. Informe que infelizmente há muitos evangelhos falsos. Porém, cuidado
para não enfatizar demais o aspecto negativo. Não poupe dizer ao seu filho que 1)
Deus é Soberano sobre todas as coisas, que o evangelho pertence a Deus e que a
salvação é proveniente Dele (Apocalipse 7:10; Efésios 1:3,4); 2) o ser humano
rejeitou o governo soberano e santo de Deus (Romanos 3:10-12); 3) Jesus, o
eterno Filho de Deus, veio salvar os pecadores (I Timóteo 1:15; Apocalipse
5:9,10); 4) para seguir a Cristo é necessário abandonar os pecados, aceitar a
lei de Cristo e confiar Nele completamente para o perdão de pecados.
- a história bíblica
aponta para Deus e não meramente seus personagens. Ler a Bíblia para extrair
suas “lições de vida” põe muito em foco o leitor. Todavia a verdadeira história
da Bíblia tem a ver com seu Autor.
- as grandes verdades
sistemáticas da Bíblia. Os teólogos dividiram o ensino da Bíblia em classes
gerais de verdade que são: a Palavra de Deus; o caráter de Deus; a natureza
humana e o pecado; a pessoa de Jesus; a
obra e o ministério de Jesus; a pessoa e a obra do Espírito Santo; a salvação;
a igreja; as ultimas coisas.
- A grande comissão. É
importante que nossos filhos vejam o coração missionário de Deus para com o
mundo, e entendam que Deus é glorificado por meio de nosso testemunho fiel.
Deus quer nos usar para alcançar os eleitos.
- As disciplinas
espirituais. Deus não salvou para “ficarmos deitados em berços esplêndidos”.
Paulo escreveu à Timóteo: “Exercita-te, porém, na piedade” (I Timóteo 4.7b). É
primordial que ensinemos aos nossos filhos as disciplinas básicas da vida
cristã e suas raízes bíblicas. As disciplinas básicas para a vida cristã reúne
cinco disciplinas básicas: estudo da Bíblia, oração, adoração, serviço e
mordomia cristã.
- a vida cristã. A vida
cristã diz respeito à nossa caminhada diária na fé. Alguns temas são: perdão,
pureza sexual, criação de filhos, casamento, família e decisões certas.
- a cosmovisão. É a lente
por meio da qual interpretamos tudo o que aprendemos e vivenciamos. Ela é
importante para ajudar nossos filhos a analisar a informação cultural que
absorvem diariamente.
Como
se preparar para isso?
- Deve ter conhecimento
bíblico. Portanto, comprometa-se a ler a Bíblia inteira no mínimo uma vez.
- Leia bons livros que
tragam edificação e conhecimento.
- Comprometendo-se com uma
igreja fiel na pregação expositiva e sólido ensino teológico.
- Recicle sua aprendizagem
sempre.
ÁREAS
NO DISCIPULADO DA FAMÍLIA
A tarefa de discipular os
filhos consistem em repetição e rotina.
Moisés exortou o povo de Israel: “Que todas estas palavras que hoje lhe ordeno
estejam em quando estiver sentado em
casa, quando estiver andando pelo caminho, quando se deitar e quando se
levantar. Amarre-as como um sinal nos braços e prenda-as na testa. Escreva-as
nos batentes das portas de sua casa e em seus portões”. O discipulado é mais eficaz
quando a prática é integrada ao ritmo da vida diária. Por isso temos de aplicar
a Palavra de Deus a todos os aspectos da vida de nossos filhos, aproveitando
cada oportunidade para transmitir à eles a sabedoria e a cosmovisão da Bíblia.
Isso pode ser aplicado nas três áreas principais:
-
Primeira área: o lar. O lar certamente é o lugar mais importante
para a maioria das famílias e onde passamos o maior tempo juntos, por isso,
pode e deve ser um lugar seguro para discutirmos verdades espirituais profundas.
Algumas situações domésticas que oferecem oportunidades de discipulado são:
- as refeições; o momento de disciplinar os filhos; na
hora de dormir; no culto doméstico.
- Segunda área: a sociedade. Muitos cristãos professos não tem
relacionamentos verdadeiros com não crentes. Se queremos discipular nossos
filhos, não podemos afastá-lo da realidade de um mundo perdido. Muitos de nós
achamos que isolar nossos filhos do mundo secular é essencial para a pureza
moral e espiritual deles. No entanto, a Bíblia não nos orienta a criarmos os
filhos trancados em comunidades cristãs
-
Terceira área: a igreja. A Igreja local e os pais no lar devem
ser parceiros no discipulado dos filhos. Os pais podem fazer isso...
- assumindo compromisso com sua igreja local; participando
junto com os filhos no culto; ame sua igreja e evite certos comentários em
casa.
É
NECESSÁRIO DISCIPULAR
No Antigo Testamento os
filhos dos fiéis eram inclusos na aliança de Deus com seu povo. Deus fez um
pacto com Abraão, envolveu seus filhos na aliança e ordenou que fossem
circuncidados (Gênesis 17:9-14). A circuncisão era o sinal da fé que Abraão
tinha e uma prática que deveria ser obedecida (Romanos 4:3-11; Gênesis 15:6;
Gênesis 17:23-27). A persuasão que a igreja de hoje é a continuação da Igreja
do Antigo Testamento faz com que algumas delas substituam a prática da
circuncisão pelo batismo infantil. Trata-se de um compromisso dos pais com a
aliança e do desejo de verem seus filhos crescerem nos caminhos do Senhor.
Conforme afirmou o pastor Augustus Nicodemus Lopes:
Símbolos
e rituais mudaram, mas é a mesma Igreja, o mesmo povo. O Sábado tomou-se em
Domingo, a Páscoa, em Ceia, e a circuncisão, em batismo. Os crentes são
chamados de “filhos de Abraão” (Gl 3.7,29) e a Igreja de “o Israel de Deus” (Gl
6.16). Não é de se admirar que Paulo chame o batismo de “a circuncisão de
Cristo” (Cl 2.11-11).
É necessário consagrar
nossos lares para a obra do Senhor, dar prioridade ao Senhor, dedicar-se a
árdua tarefa de discipular os filhos e assim colhermos alegremente os frutos
como resultado: “Agora temam o Senhor e sirvam-no com integridade e fidelidade.
Joguem fora os deuses que os seus antepassados adoraram além do Eufrates e no
Egito, e sirvam ao Senhor. Se, porém, não lhes agrada servir ao Senhor,
escolham hoje a quem irão servir, se aos deuses que os seus antepassados
serviram além do Eufrates, ou aos deuses dos amorreus, em cuja terra vocês
estão vivendo. Mas, eu e a minha família serviremos ao Senhor”.
Que o Senhor dê graça aos
pais na educação dos filhos. Precisamos ajuda-los no desenvolvimento das
disciplinas espirituais (II Timóteo 1:5). O mundo não precisa de pessoas de bom
comportamento, mas de gente que ame ao Senhor, que o glorifique e entenda que
não há tesouro mais precioso que Ele (Mateus 13:44). Não há alternativas aos
pais, o discipulado possui implicações eternas.