Dizem que “a ocasião faz o ladrão”. Essa afirmação nos oferece como proposta a ideia de que havendo oportunidades fatalmente transgrediremos o mandamento, a ordem, a lei. Neste caso, o que corrompe a moralidade do ser humano está ligado a fatores externos. Tendo essa ideia na mente diremos que o político se corrompe porque o sistema que permeia a política facilita e o induz a corrupção. O adultério ocorreu porque aquela mulher (ou homem) nos seduziu com seus encantos. O jovem experimentou entorpecente porque há ofertas explícitas desse tipo em todas as esquinas dos bairros, nas escolas, etc. O furto ocorreu porque o objeto estava perdido ou não tinha dono. O estudante “cola” na prova de um vestibular porque há a obrigação de passar na Faculdade, etc. Os exemplos são inúmeros. Faça um exercício mental: pense em alguma transgressão moral em que se envolveu por causa de fatores externos. Esse entendimento faz parte do universo até mesmo dos cristãos protestantes.
Entretanto, a Bíblia não ampara e não admite esse entendimento. Segundo ela, é a natureza humana que se degenerou e são seres humanos corrompidos que corrompem as estruturas da sociedade, pois os mesmos fazem parte das estruturas sociais. Se as pessoas fossem honestas, sinceras, leais, etc, os relacionamentos sociais, profissionais, religiosos, seriam bem melhores e o mundo seria um pouco mais justo e bom pra se viver. Acontece que procuramos justificativas para os nossos erros nas más companhias, no Diabo, no ambiente que frequentamos, nos comportamentos indesejáveis das pessoas. É claro que devemos tomar cuidado com certas companhias, certos ambientes, com a operosidade demoníaca, etc. Mas não é isso que nos leva ao pecado, a transgredir a lei moral de Deus. Somos nós mesmos, é a natureza humana caída, é o nosso próprio coração.
Certa vez Jesus e seus discípulos foram acusados pelos grupos religiosos dos fariseus e dos mestres da lei de não observarem atos cerimoniais externos de limpeza e purificação. Os fariseus e os mestres da lei perguntaram a Jesus: “Por que os seus discípulos não vivem de acordo com a tradição dos líderes religiosos, em vez de comerem com as mãos ‘impuras’?” (Marcos 7:5). A preocupação deles era tão somente com a tradição judaica. O negócio deles era com a reputação de santidade. Importavam com a aparência externa da espiritualidade. Porém, Jesus colocou o dedo na ferida deles e os lembrou de que em nome da tradição religiosa eles transgrediam os mandamentos de Deus (7:9). Por algum motivo, eles criaram um preceito de que não estavam obrigados a ajudarem seus pais porque haviam dedicados seus bens ou dinheiro ao próprio Deus. Trata-se da oferta conhecida como Corbã. Mas essa prática era uma farsa para negligenciarem a ajuda aos pais em prol de si mesmos.
Jesus conhecendo a real intenção censurou a busca deles por santidade em fatores externos em detrimento da pureza do coração. Não são abluções corporais que torna a alma limpa bem como não conquista nossa justificação diante de Deus. Não é o que comemos, não é o que vestimos, não é a observância de dias e tempos (7:15-19; Gálatas 4:8-10). É o coração. São as reais motivações do nosso íntimo. “O que sai do homem é que o torna ‘impuro’. Pois do interior do coração dos homens vêm os maus pensamentos...” (7:20-23). Tudo o que fizermos, até mesmo ao Senhor, pode estar contaminado se não levarmos em consideração a situação do nosso coração. O que motiva nosso ativismo na obra do Senhor? Pense nisso.
Precisamos de um coração profundamente regenerado, pois os “males vêm de dentro” (7:23). Não devemos ser artistas espirituais honrando o Senhor com os lábios, mas impondo uma carga pesada nos ombros dos demais por meio de uma espiritualidade vazia e oca, pautada em nossas próprias regras de “sim” e “não”. Não sejamos hipócritas, o Senhor conhece nosso coração. O sábio já afirmava: “Acima de tudo, guarde o seu coração, pois dele depende toda a sua vida”. (Provérbios 4:23).
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