sábado, 12 de novembro de 2011

ARREPENDIMENTO E CONFISSÃO DE PECADOS (Subsidio EBD)

Por Gilson Barbosa
Diante desse texto bíblico (Ne 9.1-38) notamos como é estranho a postura antropocêntrica de alguns crentes adotada por certas igrejas no seu aspecto litúrgico (o homem sendo o centro do culto), pois, o aprendizado da Palavra de Deus (cap. 8) levou os filhos de Israel a um arrependimento e confissão de pecados, o que caracteriza uma atitude de humildade dependência, e não de exaltação ou independência de Deus. Estas, são características de crentes que não reconhecem sua natureza pecaminosa e se acham no direito de reivindicar bênçãos materiais e louvores terrenos. Esse tipo de “culto” (liturgia) era desconhecido aos crentes da Igreja Primitiva. Alguns (muitos) “hinos” atuais são extremamente antropocêntricos chegando ao descarado cúmulo de enfatizar que depois de muito olho gordo fraternal “a vitória final teve sabor de mel”. Que Deus abra os olhos da liderança evangélica para ensinar as suas ovelhas que somos pecadores e que somente Deus certamente triunfará.
Durante oito dias da festa (8.18) o povo havia sido alimentado pela leitura da Palavra de Deus. Poucos dias após a leitura e aprendizado da Lei (cap. 8; 8.2; 9.1) aconteceu outra reunião. O clima era de pesar pelos pecados praticados, entendido pela expressão jejum e pano de saco. A expressão do v. 1 “se ajuntaram os filhos de Israel” sinaliza que partiu do povo, novamente, a ação.
No primeiro ato da reunião (v. 2 – o segundo ato está no v.3) se destacam três ações em cadeia que usam verbos no tempo passado: se apartaram, puseram-se em pé e fizeram confissão dos seus pecados. Em primeiro lugar, os israelitas apartaram-se de “todos os estrangeiros” – trata-se de um ato litúrgico que expressou o compromisso de se manterem puros das influencias nocivas de outros povos, e não meramente uma separação física. Em segundo lugar “colocaram-se em pé” – isso evidencia atitude. Em terceiro lugar, houve uma confissão nacional de pecados, entendidas nas expressões “seus pecados” e “iniquidades de seus pais”. Pode surgir a duvida sobre o porquê eles oravam pelas “iniquidades dos seus pais”, se estes já não mais estavam com eles e não restava mais perdão. Podemos fazer esse tipo de oração? Sobre essa questão o Dr. Russel Shedd nos informa: “A confissão das iniquidades dos pais não é para o perdão dos pais (pois a confissão tem que ser pessoal), mas é para exortar os filhos a evitarem as mesmas transgressões”.
TEOLOGIA DA ORAÇÃO
Os dois grupos de levitas (vs. 4,5) se colocaram em pé e iniciaram a oração clamando ao Senhor. Hoje os “levitas” (não todos), denominados desta forma em algumas igrejas, sabem bem pouco da Palavra de Deus e oram bem pouco também. Sendo assim não possuem autoridade para pedirem que os demais leiam a Bíblia ou orem. Isso não acontecia com os levitas nos dias de Neemias.
Precisamos (re) aprender a orar. Os levitas introduziram a oração reconhecendo da majestade de Deus. O principal desejo deles era que Deus fosse louvado (v.5). Bendizer a Deus é adorá-lo; é contar suas ações e virtudes poderosas. Eles reconheceram que Deus deve ser adorado e louvado de eternidade a eternidade. Somente Deus é digno de ser entronizado em nossos cultos e nas orações. Infelizmente nas orações os crentes são (des) instruídos a “colocarem Deus na parede”, a “exigirem de Deus”, a “decretar a vitória”. São novos tipos de orações que não enaltecem em nada a Deus e não reconhece sua excelsa grandeza, em comparação com as suas criaturas. Precisamos urgente de uma teologia da oração. Precisamos buscar a Deus numa oração que reconheça especialmente Sua vontade na história da nossa vida. Lembro-me da oração do Pai Nosso, ensinada por Jesus aos seus discípulos: “faça-se a tua vontade, assim na terra como no céu”. A vontade de Deus é que deve prevalecer, tanto na terra como no céu. Somos seres mortais, não temos noção clara do nosso futuro, por isso é que não podemos, em hipótese alguma, dizer a Deus em oração o que Ele deve fazer por nós.
Os levitas levaram suas mentes em oração para o tempo da criação, e desta forma o Senhor foi lembrado por sua grandeza: “Só tú és Senhor, tu fizeste o céu, o céu dos céus e todo o seu exército, a terra e tudo quanto nela há, os mares e tudo quanto há neles; e tú os preservas a todos com vida, e o exércitos dos céus te adora” (v.6). Deus é lembrado como Criador, Dominador e Sustentador. Não há interferência de outros deuses. A expressão “exércitos dos céus” refere-se aos astros celestes. Alguns expositores entendem que os anjos estão incluídos na expressão. O certo é que os povos ao redor de Israel adoravam os astros celestes (uma espécie de astrologia), porém não compreendia nem entendiam que eles foram criados por Jeová, sustentados por Ele e de alguma forma o adoram. Essa sim é uma oração que engrandece a Deus e humilha o homem, que é por natureza, um pecador.
PRINCIPAIS FATOS DA HISTÓRIA ISRAELITA
A aliança abraâmica (vs. 7,8) - O mesmo Deus que criou o universo condescendeu sua graça a ponto de eleger Abraão para uma tarefa especial. O Senhor Deus o tirou de Ur dos Caldeus, mudou seu nome, prometendo assim muitos descendentes, e, finalmente fez um pacto de dar a Terra de Canaã a estes (v.8). Abraão havia tido um coração fiel à Deus (Gn 18.18,19), mas nesse momento histórico o propósito dele contrastava com a infidelidade do povo israelita, pois haviam se desviado do propósito original (vs. 16-18), porém era um exemplo que os israelitas propunham-se imitar (v. 38).
Os acontecimentos do Êxodo e os anos de peregrinação no deserto (vs. 9-23) – Os acontecimentos que envolveram o êxodo de Israel do Egito demandavam a exibição do poder, fidelidade e misericórdia de Deus (vs. 9-11). Ao louvar a Deus por suas obras de outrora, os israelitas pedem que Ele repita as mesmas, entendimento este evidenciado nas expressões aflição de nossos pais e clamor junto ao Mar Vermelho (v.9). Devemos entender essas expressões no sentido que abrange o ponto de vista do orador, ou seja, ele pede que Deus se lembre destes fatos históricos e os repita em seus dias. Porém, todos nós sabemos que Deus não se esquece de nada, de nenhum fato. Deus sabe todas as coisas, ele é onisciente. O pedido é que, da mesma forma que Deus fez sinais e maravilhas contra Faraó no Egito, do mesmo modo como atentou para a aflição dos hebreus no Egito, da mesma maneira como dividiu o mar e “condenou” o exercito de Faraó a ruína, Deus também poderia livrá-los da opressão e domínio do Império Persa.
As peregrinações no deserto estão elencadas nos versículos 12-21. O Senhor guiou os israelitas de maneira milagrosa pelo caminho (v. 12, de dia coluna de nuvem, de noite coluna de fogo), lhes deu leis salutares (v.13,14) no sentido de que estas eram fiéis, retas e justas ao revelar ao povo de Israel como obter a benção Divina e providenciou no deserto a alimentação necessária (v.15, maná e água).
Apesar de toda bondade Divina os israelitas se rebelaram contra Deus (v.16, 17a). Tornaram-se soberbos, recusaram a ouvi-lo, não se lembraram das maravilhas operadas por Deus a eles e o pior de tudo: tornaram-se idólatras (v.16-18). Essa oração reconhece os pecados cometidos por Israel no deserto e o principio aprendido aqui era que devido ao pecado de Israel estavam amargando agora o cativeiro persa. Se por causa dos pecados, os descendentes dos que estavam orando naquele momento, foram tidos como escravos no Egito, na Assíria, na Babilônia e Pérsia, eles deveriam confessar os seus pecados, arrependendo-se, e então o Senhor os perdoaria e lhes daria a tão liberdade sonhada. Essa oração servia como um lembrete àqueles judeus de que é muito prejudicial (social, psicológico, espiritual) permanecer em flagrante desobediência a Deus. 
Os versículos 19-21 demonstram que Deus não abandonou Seu povo e isso até mesmo quando os israelitas adoraram o bezerro de ouro, atribuindo a ele as obras de Deus. Provavelmente o argumento deles era que o bezerro não era outro deus, mas uma representação exata da presencia de Deus. Parece ser ainda hoje o mesmo argumento utilizado pelos idólatras. O que importa é que Deus teve misericórdia do povo de Israel protegendo-os e providenciando até mesmo as mínimas condições (v. 21).
As conquistas militares e territoriais de Israel estão nos versículos 22-25. Deus cumpriu a promessa do pacto feito com Abraão multiplicando seus filhos como as estrelas do céu. Este pacto estava resolvido, faltava dá-los a terra de Canaã. Por fim o Senhor deu à eles os reinos do lado oriental do Jordão (v.22) e logo em seguida a terra prometida – Canaã (v.23-25). Aos descendentes dos israelitas, Deus lhes entregou não somente a terra, mas os povos e os reis (v.24), terras produtivas, economia próspera e muitas cidades fortificadas. Aqueles que estavam orando (cap. 9) reconheciam que Deus havia providenciado o retorno à terra de Judá e esperavam que Deus os prosperasse alí, fazendo-os sobrepujar sobre os dominadores.
A apostasia de Israel (vs.26-31) - Apesar de terem gozado das bênçãos Divinas, esqueceram-se de Deus e repetidamente houveram-se num ciclo de pecado, opressão, clamor e libertação – isso foi proeminente no tempo dos juízes (vs.26-30). Nesse período, o povo tinha decaído muito na crença em Yahweh. A geração corajosa e guerreira de Josué tinha passado e agora a geração presente em juízes era fraca e obstinada. Tornaram-se indiferentes entre seus irmãos. Cada um se importava somente consigo mesmo. O patriotismo hebreu nacional arrefeceu. Ao invés de expulsarem as nações ímpias de Canaã, apenas as subjugavam. Desta forma, foram fazendo alianças com elas e aderindo suas práticas, o que trouxe grandes prejuízos para a nação de Israel. Com isto, os antigos donos do terreno foram se fortalecendo, a ponto de fazerem frente aos exércitos de Israel e tornarem-se seus inimigos ferrenhos. Dentre eles, os filisteus, os midianitas, os sírios e os moabitas. Enfim, a degeneração de Israel contribuiu para a sua própria condenação, sofrimentos e derrotas. Não obstante a desordem ser mais ressaltada neste período houve também pessoas que obedeciam piedosamente a Deus.
A confissão de pecados (vs. 32-37) – Está contida nessa oração a petição (v.32), a confissão (v.33-35) e a descrição de angústia (v.36,37). O pedido do versículo 32 é que Deus conceda a liberdade do jugo estrangeiro, pois Ele sabia tudo o que tinham passado. Certamente eles confiavam na aliança que Deus havia feito aos descendentes de Abraão – de dar-lhes uma terra como habitação. Os israelitas foram humildes para admitirem que mereceram os séculos de opressão (v.33-35). Quando na oração disseram que o Senhor era justo (v.33) e que atuava com sinceridade cumprindo dessa maneira suas promessas, por outro lado Israel tinha sido infiel (33b-35). Na lista dos desobedientes também estava o alto escalão: reis, sacerdotes, príncipes (v.34). Ninguém está imune ao pecado: pastores, presbíteros, diáconos, reverendos, “apóstolos”, bispos, etc.
Infelizmente em nossos dias temos muitos crentes que pensam que não são pecadores. Acham que essa condição (de pecadores) é somente daqueles que ainda não receberam a Cristo. Há alguns pensando que podem conquistar méritos diante de Deus tendo como fundamento primário o desuso de jóias, o modo como se veste, o tamanho do cabelo (às mulheres cristãs), não jogar futebol, não assistir televisão, não vestir bermudas (aos homens). Pensam que agindo desta forma podem se considerar mais santos que outros e, portanto correm menos risco de pecarem ou são melhores que os demais. Não é esse o ensino bíblico.
O apóstolo João escreveu sua primeira carta à uma comunidade cristã, no entanto, lembrou-os que eram pecadores por natureza e deveriam fazer confissões dos pecados (I Jo 1.8-10). A Bíblia de Aplicação Pessoal (CPAD) comenta sobre esse pensamento dizendo que:
“Todas as pessoas são pecadoras por natureza e prática. Na conversão todos os nossos pecados são perdoados. Ainda assim, mesmo depois de nos tornarmos cristãoS, pecamos e precisamos confessar os nossos pecados. Este tipo de confissão não nos é oferecida para obtermos a aceitação de Deus, mas para remover a barreira da união que o nosso pecado colocou entre nós e Ele”. 
SINAIS DE AVIVAMENTO

O arrependimento e a confissão de pecados também são sinais de avivamento. Uma igreja onde as pessoas pensam que são super crentes, imunes ao pecado, que os pecadores são sempre os “outros”, não é verdadeiramente avivada. Por outro lado há crentes que estão banalizando o pecado a ponto de terem se tornado imorais, viverem na prática do pecado, e mesmo assim frequentam a igreja, participam das atividades, pregam, e não admitem que nesse estado estão em inimizade contra Deus.
Um fervor aparentemente espiritual, mas destituída de uma vida santa, de moralidade, de ética, não passa de uma “ilusão de poder espiritual”. Pessoas há que entendem que o avivamento é produzido por ele mesmo, ou seja, quem produz o avivamento é o próprio avivamento, é como se ele brotasse do nada. Isso é engano. Leitura e dedicação ao aprendizado da Palavra de Deus, choro pelos nossos pecados, arrependimento e confissão dos pecados são à base de uma igreja avivada. Muitos pastores no passado, e digo isso com profundo respeito, ensinaram que igreja avivada é aquela barulhenta (há até mesmo um louvor que diz “onde está aquele povo barulhento"), onde o avivamento é entendido somente todos os crentes falarem em línguas, ou onde há muitas “manifestações espirituais”, mas hoje sabemos que se os elementos fundamentais de um avivamento, segundo Neemias capítulos 8,9 não existirem, não importam o que digam nem quem diga,  isso não é um avivamento descrito nas Escrituras Sagradas.

Em Cristo,
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Um comentário:

  1. Excelente suas palavras Presbítero, que a cada manhã Deus na Sua infinita Bondade possa lhe capacitar e derramar sobre sua vida palavras como estas para fortalecer pessoas que andam sendo levados por todos os vento doutrina! Deus o abençoe!

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