sábado, 5 de novembro de 2011

O LEGÍTIMO AVIVAMENTO (Subsidio EBD)

Por Gilson Barbosa
Do jeito que as coisas andam precisamos urgente de um avivamento. Quando falo de avivamento não entenda como sinônimo de pentecostalismo (ou seja, os elementos que o envolvem, tais como as línguas e os dons do Espírito Santo). O próprio pentecostalismo, em certo sentido, necessita de ser avivado. Quando digo, também, que precisamos, refiro-me tanto individualmente quanto coletivamente. A necessidade individual é porque somos seres humanos pecadores e sempre tendenciosos ao conformismo e que ela, também, está nitidamente retratada nos escândalos entre políticos evangélicos, na ausência de caráter que tem afetado alguns pastores e liderança evangélica, nos crentes nominais totalmente descomprometidos com as questões da alma/espírito – são meros assistentes na igreja.    
No sentido coletivo refiro-me a igreja evangélica brasileira em geral; é certo que uma mais que outras, mas no geral, necessitamos de um avivamento que nos desperte para o reconhecimento da soberania de Deus, à centralização de Cristo no culto, a aceitação real e verdadeira das Escrituras Sagradas como autoridade final para nossa fé, o entendimento de que uma teologia fria, mecânica, técnica, por si só não é suficiente para produzir avivamento. Grandes avivamentos históricos ou bíblicos tiveram essas marcas. 
A BÍBLIA DEVE SER A BASE DO AVIVAMENTO

O texto que servirá para a exposição bíblica dessa lição é Neemias 8.1-12 que trata da leitura da Lei pelo sacerdote Esdras e da reação do povo após a ouvirem. Começamos o texto bíblico com um fato inusitado: é o povo que se reúne por sua própria vontade e solicita a Esdras a leitura do Livro da Lei. Havia muito mais que muros e portas derrubadas, havia vidas destruídas. Dois fatos me chamam atenção: primeiro eles reconhecem o triste estado espiritual que se encontravam, e segundo, entendiam que somente o retorno ao conhecimento e entendimento das Escrituras Sagradas é que poderia livrá-los desse estado. Isso é o que chamo de um avivamento bem intencionado e correto.
É muito fácil hoje os crentes lotarem estádios de futebol ou mega-igrejas para participarem de show gospel; não é difícil reunir multidões de pessoas para “marcharem para Jesus” ao som de um excelente cantor famoso, é fácil reunir e manter centenas ou milhares crentes, muitos deles imaturos, nas campanhas semanais de libertação, mas com tristeza observamos que esse mesmo povo não tem paciência para ouvir a exposição da Palavra de Deus. Preferem uma pregação curtinha, rápida, recheada de humor com piadinhas evangélicas e temas atuais, como por exemplo: “semeando muito para colher bastante”. Aliás, esse chavão referindo-se a “semeadura”, “semear”, virou pretexto na intenção de convencer os crentes a doarem dinheiro ou ofertarem à igreja. Se lermos com atenção o texto de II Coríntios 9 veremos que a “semeadura” referida por Paulo foge as sutis intenções dos mercadores da fé, mas disso podemos tratar em outra postagem.
Todo o povo podia participar dessa reunião, não havia impedimento a ninguém, pois ela não ocorreu no interior do Templo, mas na praça pública, diante da Porta das Águas (8.1). Todos tinham acesso ao entendimento do texto bíblico e não somente os sacerdotes ou apenas os que estavam envolvidos “no alto escalão ministerial”. Novamente o contraste é forte com a situação dos nossos dias onde alguns crentes entendem que a obrigação de ler, conhecer, entender e explicar as Escrituras é do pastor, do professor de escola dominical ou de teologia. São biblicamente analfabetos ou quando muito analfabetos funcionais – até leem a Bíblia, mas não entendem nada, ou não fazem nenhuma questão em aprender ou entender. O fato de haver sido construído um púlpito de madeira para esta finalidade (8.4) não significa que a reunião tinha um formato de um culto moderno, com liturgias, por exemplo.
 A responsabilidade de ensinar a Lei para o povo coube a Esdras. A Bíblia informa que ele tinha autoridade para tal tarefa, pois era sacerdote e escriba simultaneamente (8.9). Isso implica que o pastor (responsável pelo “rebanho” sob seus cuidados) deve estar apto para ensinar a igreja sob sua liderança. Essa é a mesma qualificação neotestamentária exigida pelo apóstolo Paulo em I Timóteo 3.2: “É necessário, pois, que o bispo seja irrepreensível, marido de uma só mulher, temperante, sóbrio, ordeiro, hospitaleiro, apto para ensinar”. Não quero dizer que com isso os pastores devam ser bacharéis, mestres ou doutores em teologia (se forem, melhor), mas no mínimo o básico é imprescindível, pois facilitará muito seu pastorado. Em primeiro lugar, notamos a importância dada a esse evento pela presença de grupos: adultos (homens e mulheres), adultos com certas restrições de entendimento (os que eram capazes de entender o que ouviam – isso pode incluir os adolescentes e jovens) e os menores de idade (os que podiam entender).  Esse acontecimento estava previsto na Lei de Moisés, mais especificamente em Deuteronômio 31.10-13 (não deixe de ler). Em segundo lugar os elementos que caracterizaram essa reunião também demonstram sua importância: leitura da Lei ao povo, os leitores, o tempo que durou, o lugar onde ocorreu, a composição da congregação e sua atenção. O povo permaneceu ouvindo a Lei aproximadamente por 6 horas. Hoje em nossas igrejas o povo não suporta 30 minutos de pregação da Palavra. Bom, é verdade que quase sempre as “pregações” não passam de palestras de auto-ajuda. Mas, nesse caso era melhor não dar atenção ao que se diz mesmo. Refiro-me a real exposição do texto sagrado. Quais foram exatamente os assuntos da Lei, tratados por Esdras, não podemos saber.
Os versículos 4 e 7 mencionam a presença de 13 homens à direita e esquerda de Esdras. Penso que eles não podiam ensinar, pois deviam ser leigos. O texto bíblico não os identifica como levitas ou sacerdotes. Sugere esse fato que a presença deles ao lado de Esdras, por ocasião da instrução da Lei, dava sustentação e apoio, mas também se subentende que a responsabilidade não era apenas dos líderes religiosos. Da mesma forma todos os crentes deveriam se empenhar em aprender, estudar e compreender as Escrituras e não entender que isso é apenas responsabilidade do pastor.
Logo que Esdras abriu o Livro da Lei, numa atitude de reverencia, todo o povo se pôs em pé (8.6). Algumas igrejas, talvez pautado em textos como esse, possuem o hábito de se levantarem quando a leitura da Bíblia é feita na igreja, em atitude de respeito. Não dogmatizo se esse procedimento deve ser prescritivo e obrigatório na igreja ou se temos liberdade de permanecermos assentados. Penso que nem sempre as pessoas que ficam em pé estão todos em santo temor ou reverencia e nem os que permanecem sentados desrespeitam ou não temem a Palavra de Deus. Sou a favor da liberdade e decisão da igreja local.
Nesse avivamento notamos o temor e a reverencia que em santa atitude o povo devotou a Deus: “Então Esdras bendisse ao Senhor, o grande Deus; e todo povo, levantando as mãos, respondeu: Amém! amém! E, inclinando-se, adoraram ao Senhor, com os rostos em terra” (8.6). Eis o desafio do pentecostalismo: não deixar que o legítimo avivamento se torne irreal e transforme as experiências em mero sentimentalismo e desprovido de espiritualidade. No culto podemos até levantar as mãos e dobrar os joelhos, mas isso sem o reconhecimento da autoridade final das Escrituras e do Ser de Deus de nada vale.
A Bíblia (8.8) diz que Esdras e os levitas “... leram no livro, na lei de Deus, distintamente; e deram o sentido, de modo que se entendesse a leitura”. Os levitas andavam entre o povo repetindo a leitura do livro e explicando o sentido ao povo. Alguns estudiosos opinam que o vocábulo sentido, nesse versículo, significa a tradução das passagens do texto da Lei de modo que o povo entendesse a leitura. Essa opinião vai ao encontro da suposição de que o povo judeu havia perdido a escrita hebraica durante as décadas que viveram na Babilônia, pois ali eles falavam a língua aramaica.  Porém, não há nada concreto nessa teoria. Mais adiante no livro de Neemias (13.23, 24) a implicação era a de que os judeus falavam hebraico. O que interessa é que o povo entendeu “as palavras que lhes foram explicadas” (8.12). Como carecemos disso hoje em dia: que o povo evangélico, e especialmente os crentes da nossa igreja, entendam o que estamos dizendo nos púlpitos quando expomos a Palavra de Deus, se é que estamos pregando verdadeiramente a Palavra.
A REAÇÃO DO POVO

A seção dos versículos 9-12 demonstra a reação positiva do povo após a explicação da Lei. Eles começaram a chorar após a leitura da Palavra de Deus, pois esta revelou os seus pecados. Esse choro ainda que fosse de tristeza era legítimo e de certa maneira agradável a Deus. O Senhor Jesus no Sermão do Monte disse: “Bem-aventurados os que choram, porque serão consolados” (Mt 5.4). A Bíblia de Estudo de Genebra nota: “O contexto indica que estão chorando por causa do pecado e do mal, especialmente os deles mesmos, e por causa do fracasso da humanidade em dar a glória devida a Deus”.  Outra coisa importante que os levou a chorar era o fato de que o distanciamento do que prescrevia a Lei implicava em castigo divino (leia II Cr 34.19-28).
Apesar deste choro ser aceitável, especificamente neste momento tão piedoso que se encontrava o povo de Deus, nos dias consagrados ao Senhor (8.9,11) não deveriam dar demasiada vazão a esse sentimento (leia Dt 16.11,14,15; 12.7), mas sim, se alegrarem e confraternizarem-se mutuamente (8.12). Os que tinham bastantes alimentos deveriam compartilhar com os que nada possuíam (8.10). Alguém que foi agraciado por Deus com a prosperidade (em todos os sentidos) só demonstrará que é um crente avivado e que compreende a essência da Palavra de Deus a partir do momento que seu coração estiver livre para repartir com os necessitados. O entendimento quando a Palavra de Deus é plenamente ensinada a partir do púlpito deve gerar, também, a alegria no Espírito e comunhão entre os irmãos. Se uma igreja diz ser avivada, mas esse “avivamento” não foi produzido pelo amor e ensino da Palavra de Deus, se os crentes vivem em pé de guerra, são desunidos, iracundos uns com os outros, isso realmente não é avivamento. 
A ALEGRIA DO SENHOR

O ânimo e a força do povo de Deus e dos crentes atuais, quanto à alegria do Senhor (8.10), significa que devemos regozijar Nele, isto é, por sua graça divina em nosso favor, o que inclui o perdão dos nossos pecados (Sl 103.7-12). A alegria do Senhor evidencia seu perdão e, portanto seu povo não precisa temer nenhum juízo divino devido às desobediências do passado, pelo contrário, deviam sentir-se fortalecidos Nele. Pelo texto de Neemias 8.1-12 entendemos que só experimentaremos um verdadeiro avivamento quando valorizarmos devidamente as Escrituras Sagradas com sua aplicação para as nossas vidas e lamentarmos pelos nossos pecados ou por cada vez que transgredirmos Sua vontade. 
Em Cristo,
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