Por Gilson Barbosa
A Reforma Protestante comemora hoje 495 anos. Sou extremamente grato a Deus por esse fato histórico, pelo fervor teológico, apologético e piedoso dos homens que foram instrumentos de Deus para o seu acontecimento e pelo seu significado para a Igreja do Senhor na atualidade. Os salvos em Cristo, bem como as igrejas que se denominam cristãs, não podem jamais esquecer os princípios que nortearam a Reforma Protestante e a aprovação destes de maneira objetiva, sistemática e final para a saúde espiritual da igreja.
O período em que ocorreu a Reforma era de densas trevas espirituais, diversos tipos de imoralidades, hipocrisias, desvios teológicos, heresias, abundantes misticismos, e muitas outras práticas repugnantes. Esses procedimentos não se referem à sociedade ímpia e sem Deus, que fazem tudo quanto o desagrada, até mesmo por não terem recebido a iluminação do evangelho da graça de Cristo, mas as práticas que ocorriam no interior de uma igreja que pretensiosamente dizia ser autenticamente cristã, mas que há muito tempo perdera os fundamentos da fé cristã.
Inicialmente os três pontos básicos da Reforma Protestante que motivaram o monge alemão Martinho Lutero, foram: a autoridade final da Bíblia Sagrada, a justificação somente pela fé e o sacerdócio de todos os crentes. Tendo a Bíblia como autoridade final nenhuma tradição denominacional/religiosa ou uma “nova revelação espiritual” deve ser buscada ou acrescentada à ela. É verdade que as instituições religiosas possuem certas tradições (II Ts 2.15; I Co 11.2), mas elas não podem jamais contrariar as Escrituras Sagradas (I Pe 1.18). Há igrejas evangélicas que em nome das suas tradições, da importância demasiada e entendimento equivocado quanto aos usos e costumes, tem até mesmo traído o evangelho de Cristo (Mt 15.6). Certas tradições denominacionais podem gerar ensinamentos contraditórios, prescrições abusivas, doutrinas incongruentes e heresias. As Escrituras Sagradas são suficientes por si só. Todas as tradições existentes devem ser examinadas à luz da Bíblia Sagrada.
Há grupos evangélicos que até escapam das tradições prejudiciais, mas aderiram a um misticismo desenfreado, irresponsável, prática distanciada e divorciada da espiritualidade bíblica, confusa e destrutiva. Nesse caso encontra-se o atual movimento pentecostal.
Discordo da maneira como líderes pentecostais tem se comportado diante da ocorrência das línguas e dos dons espirituais na igreja. Em muitas igrejas pentecostais predomina certos tipos de comportamento com respeito às experiências do Espírito onde se evidencia a não preocupação em avaliá-las a luz das Escrituras. Em certas igrejas pentecostais essas experiências têm recebido maior atenção do que à exposição da Palavra de Deus. Alguns crentes pentecostais pensam que o fato de falar em línguas ou ter recebido algum dom espiritual, os tornam mais espirituais ou mais santos. Há exageros e muitos equívocos a respeito do verdadeiro sentido e significado das experiências espirituais. Alguns pentecostais moderados dirão que essas ocorrências tem a ver com a postura da liderança pastoral diante do desafio de ensinar os crentes a respeito do recebimento destes dons e seu uso na igreja. Dizem que são desafios que a liderança pentecostal deve enfrentar.
O segundo ponto importante enfatizado por Martinho Lutero foi à justificação dos crentes somente pela fé. Lutero chegou a essa conclusão lendo o texto bíblico de Romanos 1.17 onde está escrito que o justo viverá por fé. Até chegar a esse entendimento ele considerava a doutrina da justiça divina como a punição de Deus sobre o injusto.
O entendimento da doutrina da justificação é que ela modifica a situação do pecador diante de diante de Deus. Stanley Horton (CPAD), explica que o “termo justificação refere-se ao ato mediante o qual, com base na obra infinitamente justa e satisfatória de Cristo na cruz, Deus declara os pecadores condenados livre de toda a culpa do pecado e das suas consequências eternas”.
Essa justificação do pecador diante de Deus acontece unicamente pela fé em Cristo independente das obras. Estas, apesar de acompanhar a salvação, não podem salvar o ser humano da condenação eterna (Ef 2.9). O mérito da salvação é totalmente de Cristo. Na Igreja Católica Romana medieval havia o entendimento de que rituais, ordenanças, sacrifícios, tradições, costumes, práticas, poderiam proporcionar ao pecador a libertação dos seus pecados e a salvação eterna. A Igreja Católica Romana ensina que para alguém ser salvo deve fazer obras tais como batizar-se, cumprir as exigências dos sacramentos e outras obras adicionais. Lutero, pelo livre exame das Escrituras e por intermédio do Espírito Santo concluiu que não.
O terceiro ponto trata-se do sacerdócio de todos os crentes. Nos dias de Lutero os adeptos do romanismo estavam sob o poder de um sacerdote católico (e ainda hoje) e era comum que confessasse seus pecados à ele. Ele era a ponte e a possibilidade de contato entre Deus e os homens. Porém, a Bíblia diz que devemos confessar nossos pecados unicamente a Deus (I Jo 1.9). Isso porque somente Jesus tem o poder de perdoar nossos pecados: “Portanto, pode também salvar perfeitamente os que por ele se chegam a Deus, vivendo sempre para interceder por eles” (Hb 9.27). Só ele pode perdoar pecados (Mc 2.7). Martinho Lutero se opôs veementemente ao poder papal e a instituição da Igreja Católica Romana ao afirmar o sacerdócio de todos os crentes como resultado da fé pessoal em Cristo. Afirmava ele que o fiel tem direito em ir diretamente a Deus através de Cristo. O apóstolo Pedro há centenas de anos havia escrito aos destinatários de sua primeira carta (2.9) que no Novo Pacto eram eles individualmente sacerdotes: “Mas vós sois a geração eleita, o sacerdócio real, a nação santa, o povo adquirido, para que anuncieis as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz”. Há muitos crentes que veem no pastor uma espécie de intermediário, possuidor de certo poder, capaz de mediar sua vida diante de Deus conquistando assim as benesses divinas. Isso é antibíblico.
`É necessário um retorno à teologia reformada. Que o Senhor nos desperte para um verdadeiro e genuíno avivamento.
Em Cristo,
É gratificante contarmos com críticas como essa, a enaltecer as bases da doutrina bíblica e que exclui do cristianismo as heresias implantadas desde o início do catolicismo romano.
ResponderExcluirMuito bom!
Pr Mesquita, devemos manter em nossos ministérios e particularmente nas nossas vidas, os pontos fundamentais da Reforma. Não são todos, mas infelizmente sem considerar a seriedade das ADs, alguns "reformados" acusam os pentecostais de nada terem com a Reforma. Que nossa liderança jamais perca de vista os principios levantados pela Reforma.
ResponderExcluirUm grande abraço,
Olá! Parabéns pela postagem. Está muito bem construída, muito embora considere que ainda devamos discutir essa questão sobre ser o movimento pentecostal um movimento alheio à Reforma. Penso que o fato de seus líderes fundadores terem uma origem batista e, por tanto, reformada, não significa dizer que eles tenham continuado fies a esses pressupostos. Muito pelo contrário, eles abandonaram a igreja batista. Abandonaram a confissão de fé batista e, por fim: abandonaram qualquer aproximação com a teologia da reforma, sobretudo com o solascripture.
ResponderExcluirContudo, isso não invalida a qualidade de sua postagem. Ela é importante para que possamos refletir a partir de outro ponto de visto, equilibrado, por sinal. Aliás, coisa raríssima no meio pentecostal, como vc mesmo pontua.
Tudo de bom!
Escrevi uma série de postagens intitulada "Pentecostalismo e Reforma Protestante". Gostaria de convidá-los a lerem, opinarem, discordarem, criticarem. Fiquem absolutamente à vontade. Afinal, a crítica é um importante instrumento de investigação da verdade. Em:
http://www.filosofiacalvinista.blogspot.com/
Estimado irmão, li suas postagens e as considero relevante para o entendimento do que é ser espiritual. Devo dizer-lhe que tenho grande apreço pelas doutrinas reformadas e me esforço para ensiná-la nas aulas de teologia que ministro, pela misericórdia de Deus. Só não tenho paciência para uma discordância destituída do amor cristão.
ResponderExcluirSe não notou, seu blog é sugerido por mim na coluna dos blogs favoritos.
Em Cristo,