Por Gilson Barbosa
Estudaremos nessa lição (Lição 2 – Liderança em Tempos de Crise) alguns elementos práticos para uma liderança eficaz, exemplificada em Neemias. Minha oração é que Deus levante líderes com bom senso de organização, discernimento espiritual, detentores de boas qualidades, influenciadores para o bem e, sobretudo que amem seus liderados.
A soberania de Deus e a ação humana
Após ser informado da condição social de Jerusalém (1.1-3), buscar a Deus em oração (1.3-11) dia e noite (1.6), com lágrimas e jejuns (1.4) estava próximo o tempo de Deus para que Neemias colocasse seu projeto em ação. O mês de Quislev era o nono mês judaico (1.1) e corresponde ao mês de novembro-dezembro; já o mês de Nisã é o primeiro mês judaico e corresponde ao mês de março-abril. Portanto, Neemias orou, jejuou e esperou por quatro meses um sinal positivo de Deus para conversar com o rei Artaxerxes Longímano sobre seu propósito de ir à Jerusalém e ajudar seus conterrâneos – Judá estava distante da fortaleza de Susã cerca de 1.800 km. Nem à distância, o tempo de espera, a oposição, as dificuldades, as crises sociais, a tensão, pôde desestimular Neemias. Ele entendia a conjugação entre a soberania de Deus e a ação humana. Não saiu desesperado, nervoso, contando vitória antes do tempo, “decretando isso” ou “declarando aquilo”, mas numa perfeita sintonia com os propósitos de Deus, soube detectar e discernir o tempo certo de agir.
Neemias diante do rei
As ações empreendidas por Neemias são corajosas, porém, sua coragem, uma das características da sua personalidade, não significa necessariamente total ausência de medo. Notamos isso por pelo menos três motivos. O primeiro é que sendo copeiro do rei e “responsável” pela sua vida, certamente seu estado de espírito poderia sinalizar segurança ou desconfiança, e a Bíblia informa que o rei percebeu que algo não estava bem com Neemias (2.1). Isso por si só poderia ser um mau presságio para um chefe de Estado que tinha sempre de se preocupar com alguém mal intencionado em usurpar do seu poder (trono) mediante sua morte. O segundo motivo é que o mesmo rei (Artaxerxes Longímano) havia embargado a reconstrução dos muros de Jerusalém na época de Esdras (Ed 4.7-23). O terceiro motivo pode ser o tema da conversa que ele teria com o rei: retornar à Jerusalém, pois, ela estava sob a autoridade do governo persa e desejar reconstruí-la poderia não agradar. Pelo menos esses três acontecimentos são suficientes para comprovar que Neemias, apesar de corajoso, em alguns momentos também tinha certo medo. O versículo 2 deixa claro que ele temeu sobremaneiramente quando o rei lhe perguntou o motivo da sua tristeza.
Ao responder a pergunta do rei sobre seu estado emocional (2.1), e fazer sua solicitação, Neemias clarifica para nós cristãos que era uma pessoa sábia, pois sabia usar as palavras adequadas e precisas nesse momento tão tenso em sua vida. Em primeiro lugar iniciou seu diálogo com uma saudação tradicional, Viva o rei para sempre! (2.3; Dn 2.4). Não se trata de bajulação ou lisonja, mas de lealdade e respeito. Em segundo lugar ele não debateu questões políticas, mas mencionou que precisava ir urgente à cidade dos sepulcros de seus pais (2.5). Essa menção deve ter “mexido” com os sentimentos do rei, pois os reis do Oriente Antigo guardavam um profundo respeito e consideração pelos sepulcros dos seus ancestrais. Em terceiro lugar ele evitou pronunciar Jerusalém, pois nessa altura Artaxerxes tinham um conceito de que ela era uma rebelde e malvada cidade (Ed 4.12). A maneira como Neemias “usou as palavras” servem de modelo às lideranças (e a todos os cristãos também) dos nossos dias que não sabem usar palavras adequadas para chamar a atenção dos liderados, exortar um membro, comunicar um obreiro sobre um fato polêmico, distribuir tarefas, etc.
O rei aprovou as solicitações de Neemias (2.5, 7, 8). Neemias havia planejado tudo com antecedência (Ne 2.7-9; Lc 14.28-32). O verdadeiro líder planeja, organiza, não é amador, não improvisa. Os detalhes do diálogo e o consentimento indicam que Neemias era estimado por Artaxerxes; ele exige de Neemias um prazo para retornar: “Quanto durará a tua viagem, e quando voltarás? E aprouve ao rei enviar-me, apontando-lhe eu um certo tempo”. (Ne 2.6). Era bom ter Neemias por perto, sua companhia era agradável, trabalhava (era copeiro) com excelência. Será que as pessoas pensam coisas boas a nosso respeito (principalmente os que não professa a mesma fé que nós)? Será que faríamos falta a alguém se nos ausentássemos um tempo da igreja? Será que os liderados sentiriam que nossa ausência nos projetos da igreja faz falta? Será que os liderados têm receio e medo de conversarem (dialogarem) conosco, pois somos austeros demais? Façamos essa reflexão!
Ainda que o apoio de Artaxerxes e sua liberação à Neemias contenham elementos políticos, pois era interessante reconstruir Jerusalém e preservá-la de ataques de outras nações, Neemias atribuiu a decisão do rei como o favor de Deus em resposta às suas orações: “Então lhes declarei como a mão do meu Deus me fora favorável, como também as palavras do rei, que ele me tinha dito” Ne 2.18. Neemias tinha convicção que o apoio do rei ao seu pedido era proveniente da soberania de Deus para com Seu povo. O estilo da fé que Neemias depositava em Deus comportava usar dos meios legais e humanos no estabelecimento das promessas que Ele [Deus) tinha para Israel como um todo. Por exemplo, não obstante saber que Deus estava no controle da situação não abriu mão do salvo conduto emitido por Artaxerxes (2. 7); utilizou oficiais e tropas do exército (2.9); não hesitou em aproveitar seu posto no governo persa e sua influência para conseguir seus intentos. Em outras palavras, tomou as devidas precauções legais para não incorrer num pedido formal dos opositores na região (Sambalate, Tobias, Gésem), ao rei.
Os opositores de Neemias
Sambalate era governador da província persa de Samaria – norte de Judá. Os estudiosos dizem que provavelmente era descendente de uma família oriunda da Babilônia que fora transportada à Israel pelos assírios depois da deportação israelita no ano 722 a.C. Sua religião ou profissão de fé era um mescla sincrética entre os deuses vizinhos e o Deus de Israel (Ed 4.2,3). Neemias o chama de horonita e pode ser porque era proveniente da Baixa ou Alta Bete-Horom (Js 16.3, 5). Já Tobias era de linhagem israelita, pois seu nome é hebreu e significa Jeová é bom (Ne 7.62). Os estudiosos dizem que há fortes evidencias de que a família de Tobias estivera em eminência em Amom, por longos anos. Caso Amom fosse uma província persa, provavelmente Tobias era seu governador. A menção de que Tobias era amonita parece tratar-se de um motejo, pois isso faria dele membro de um povo excluído (amonitas) do povo de Jeová (Ne 13.1). Outra teoria é que Tobias seria subordinado de Sambalate e era de família amonita, que adorava ao Senhor Jeová de forma sincrética. Gesém, segundo estudiosos, foi rei de Quedar, uma cidade no norte da Arábia e liderou uma confederação de tribos árabes para dominar Moabe, Edom, parte da Arábia e alguns caminhos de acesso ao Egito. Esses três personagens indicavam que a oposição à Neemias e ao povo de Deus era proveniente de três lados: Sambalate, ao norte de Samaria; Tobías, ao oriente de Amom e Gesém, pelo lado sul.
Um líder que estabelecia parcerias
Não devemos subestimar a posição social de Neemias e pensar que não tinha certo “poder” e influencia na sociedade. Após viajar cerca de 1800 km descansou uns três dias onde ficaria hospedado, ou na sua casa, e pessoas de influência naquela sociedade foram vê-lo (2.11; Ed 8.32, 33). Quando Neemias “arregaçou as mangas” e trabalhou junto com os demais, demonstrou que sua nobre posição não era justificativa para ficar inerte diante da triste situação, mas se esforçou para “arrumar a casa”, ou reconstruir os muros caídos. Hoje é muito comum, tanto na igreja quanto nas empresas ou em outras Instituições, pessoas que ocupam postos nobres esquivar-se de juntar aos liderados e trabalhar em prol da Instituição. Muitos dizem “não é minha função isso” ou “esse serviço é desvio de função pra mim, não farei”. Como diz o comentarista da nossa lição (Pr Elinaldo) “Ele [Neemias] não usou sua posição para dominar seus conterrâneos. Para dar exemplo de austeridade, veio a renunciar até mesmo ao sustento a que tinha direito (Ne 5.14-18)”. Faço uma pergunta provocativa: “Algum pastor-presidente, bispo, reverendo, apóstolo, se habilita a abrir mão de alguns meses de seus altos salários para investi-lo na obra do Senhor?”. Posso ouvir um sonoro e uníssono améeeemmmmm????
Um líder que tinha planos, metas, projetos
Na noite do terceiro dia Neemias saiu a fazer uma inspeção secreta ou reconhecimento do estado dos muros e das portas (2.12-16). Em primeiro lugar ele não divulgou a ninguém nem aos magistrados ou nobres sua meta, mas agiu com “discrição e prudência” (2.16). Esses magistrados ou nobres eram governantes judeus, poderosos econômica e socialmente (5.7; 6.17; 7.5). Em segundo lugar, ele não espiritualizou a situação momentânea no sentido da não organização. Ele podia muito bem dizer “bom, Deus me mandou aqui e então mãos à obra imediatamente” ou “vamos orar, o Senhor vai dar um jeito”. Não foi assim! Antes ele queria ver in loccu e se informar da condição dos muros e portas para somente depois anunciar [aos seus liderados) como seria o procedimento da construção e iniciar seu projeto. Muito diferente do amadorismo que “reina” em alguns líderes na atualidade. Não possuem plano, projetos, metas, e assim vão “aos trancos e barrancos” fazendo “o melhor para obra de Deus”. Alguns ousam até mesmo a pensar e dizer que projetar, pesquisar, estudar a situação, estabelecer metas, é inibir a atuação do Espírito Santo. Pra mim isso é mais uma desculpa para “deixar tudo como está mesmo” ou porque o líder não tem competência para tal tarefa delegada a ele.
Um líder que influencia
Quando Neemias anunciou aos seus liderados o projeto (2.17,18) não o fez na posição de um alto funcionário persa, mas como um dos seus irmãos, pois ele diz “reedifiquemos os muros”, “deixemos de ser opróbrio”. Portas queimadas e muros derrubados era sinal do estado vergonhoso que se encontrava a cidade (1.3; 2.3, 13, 17). Sua influência sobre os liderados é mais destacada ainda porque quando os conclama a reedificar os muros e portas pesavam sobre eles o decreto de Artaxerxes que havia proibido reconstruir os muros (Ed 4.21), no entanto, seus liderados não se amedrontaram, mas responderam com ânimo e disposição: “Disponhamos-nos e edifiquemos. E fortaleceram as mãos para a boa obra” (2.18). Segundo James I. Packer “todo líder verdadeiro é um mestre da motivação”. O pastor Elinaldo Renovato diz que “arrancar o povo da apatia não era tarefa fácil. Entretanto Neemias soube como motivar seus liderados, levando-os a se comprometerem de tal forma com a obra que ‘o coração do povo se inclinava a trabalhar”’ (Ne 4.6). Há líder que não sabe motivar e nem influenciar para o bem seus liderados, pois deixam transparecer seu lado temperamental, “suas razões”, seu individualismo, predominando sua decisão em detrimento de um diálogo. Outros não se importam com as pessoas e preferem que estas fiquem distantes, pois é como se Deus estivesse “limpando a igreja” quando elas vão embora para não mais voltar. Deve ser por isso que alguns líderes amargam constantes “derrotas” em suas lideranças e seus ministérios.
Um líder corajoso e dependente de Deus
Como sempre acontece, quando os opositores (Sambalate, Tobias e Gesém) souberam do audacioso e benigno projeto, do plano, estabeleceram uma guerra psicológica (2.19). A intenção era desestabilizar, desanimar e amedrontar. Porém, Neemias estava convicto de que a boa mão de Deus estava com ele (2.18), não se abalou diante dos seus opositores e partiu “pra cima”, pois tinha confiança em Deus: “O Deus dos céus é quem nos dará êxito; nós, seus servos, nos disporemos e reedificaremos”. Glórias a Deus! Não percamos tempo com nossos opositores, pois como diz um ditado: “Enquanto os cães ladram, a caravana passa”. Deus é contigo, é comigo, é conosco; não pare seu projeto por conta de oposições, pois estas sempre teremos a nossa volta e necessitamos delas para fortalecer nossa fé, ou demonstrar que somos dependentes da força que provém de Deus. Tem muito líder corajoso, temperamental, briguento, “sangue quente”, mas, esses tipos de personalidades não representam eficazmente a coragem de Neemias; antes, ela estava fundamentada em Deus.
Em Cristo,
Excelente subsídio à Lição.
ResponderExcluirO exemplo de Neemias é um desafio para todos nós, pois temos o dever de cumprir uma missão nobre num mundo que está em ruínas. Como soldados em território estrangeiro, temos que ser vigilantes, termos uma mão na arma (A Palavra) e outra na ferramenta de trabalho (meios de ofício providos por Deus), sabendo que fiel é Aquele que nos alistou para a batalha.
Pois é, meu amado.
ResponderExcluirHá muito o que consertarmos nesse mundo em ruínas. Deus espera de nós fidelidade, precisão e coragem para cumprirmos nossa missão.
Grande abraço