A
crença de muitas pessoas é que Deus designou determinado anjo para velar,
cuidar, amparar e proteger cada uma delas. Essa missão dura até o fim da vida. É
possível se comunicar, por conversa, com o anjo protetor e, saber qual seu nome
pessoal é algo relevantíssimo. Ou seja, há uma relação bem próxima entre o anjo
guardião e a pessoa. Ainda que até mesmo crentes salvos em Jesus Cristo simpatizem
com essa ideia, contudo, ela revela o lado místico e oculto do ser humano. De
fato, esse procedimento trata-se de paganismo puro e não cristianismo; é uma
crença popular. Dois textos bíblicos são evocados na tentativa de respaldar
essa teoria: Mateus 18:10 e Atos 12:15.
No
caso de Mateus, precisamos primeiro tentar responder quem são os “pequeninos”. Ao
ler o primeiro versículo (Mateus 18:1) perceberemos que aponta para os verdadeiros
discípulos de Jesus; são pessoas que se tornam como crianças. A elas é dado o
direito de entrar no “reino dos céus”. O assunto do texto não é estritamente sobre
os doze apóstolos, crianças ou necessariamente “anjo da guarda”. O versículo 6
aponta que levar um discípulo (seguidor) de Cristo a pecar é um grave delito. Novamente,
os “pequeninos” são aqueles que creem em Cristo. A expressão “pequeninos”
também é usada em Mateus 10:42: “E se alguém der mesmo que seja apenas um copo
de água fria a um destes pequeninos, porque ele é meu discípulo, eu lhes
asseguro que não perderá a sua recompensa”. Não são crianças, mas seguidores ou
discípulos de Cristo. No mesmo sentido deve ser entendido o texto de Mateus
25:40: “o que vocês fizeram a algum dos meus menores irmãos, a mim o fizeram”
(NVI - Mateus 25:40). Outras traduções da Bíblia usam o termo “pequeninos”.
Certa vez Jesus afirmou que seus verdadeiros irmãos são aqueles que fazem a vontade
de Deus (Mateus 12:50) e são estes que entrarão no “reino dos céus” (Mateus
7:21).
Talvez
a ideia mais expressiva que cada pessoa tem um anjo da guarda advém de uma
leitura de Atos 12:15: “Eles porém lhe disseram: ‘Você está fora de si!’ Insistindo
ela em afirmar que era Pedro, disseram-lhe: ‘Deve ser o anjo dele”’. Que um
anjo foi enviando por Deus para libertar Pedro da prisão isso a Bíblia
corrobora (Atos 11:11). A nota da Bíblia de Genebra sobre o texto lucano afirma
que os discípulos “pensaram que era o guardião angélico pessoal dele (Mt 18.10;
Hb 1.14). O conceito popular era que tal guardião poderia assumir a aparência da
pessoa humana protegida”. Não podemos esquecer que havia muitas crenças
equivocadas entre os discípulos de Jesus. As Escrituras apenas insere o
registro, sem chancelar ou legitimar crenças pessoais ou coletivas, mormente as
crenças lendárias.
Voltando
ao texto de Mateus 18:10 a expressão “seus anjos no céu” pode ser entendida no
sentido ordinário e comum de que os crentes possuem numerosos e diversos anjos
designados por Deus para atende-los em determinados momentos, e não apenas um
especificamente (Salmo 37:4). Que os anjos trabalham ativamente em prol do povo
de Deus podemos perceber desde o Antigo Testamento (Gênesis 28:12; Juízes 13:3;
Salmo 91:11; Daniel 6:22). O texto direto mais expressivo sobre o tema no Novo
Testamento é registrado aos Hebreus 1:14: “Os anjos não são, todos eles,
espíritos ministradores enviados para servir aqueles que hão de herdar a
salvação?”. Podemos sintetizar o texto da seguinte forma: todos os anjos, para
todos os cristãos, em todo o tempo da história. Os anjos cumprem a promessa de
Deus ao trabalharem para o bem de todos os cristãos.
O
texto de Mateus 18:10 nos informa que os anjos servem aos outros. Depreendemos
desse fato a conduta inferior dos discípulos ao buscarem o status e a
superioridade social ou espiritual (v.1): “Cuidado para não desprezarem um só
destes pequeninos”. E porque não deveriam
tratar de maneira depreciativa os que pretendiam seguir a Jesus? A resposta é
que “os anjos deles nos céus estão sempre vendo a face de meu Pai celeste”. A
ideia pode ser resumida da seguinte maneira: se os anjos que são seres
incríveis e fantásticos, que estão sempre diante da presença de Deus, trabalham
ativamente para os servos de Deus, desta forma atestam e confirmam a importância
das pessoas fora do círculo dos discípulos íntimos de Jesus. Obviamente isso não
exalta a posição dos anjos em relação à Trindade Santíssima, mas apenas considera
sua superioridade em relação aos seres humanos.
O
fato é que a comitiva angélica, enviada por Deus a cada crente, deveria manter
o respeito e a consideração por cada simples seguidor de Jesus. Ela enaltece a
posição de cada crente como filho de Deus. Os anjos de Deus sempre veem o Seu
rosto no céu, contudo este mesmo batalhão celestial está a serviço de pessoas mortais e
simples que são servas deste Deus. A interpretação do texto é que devemos
considerar e respeitar todas as pessoas igualmente, por servirem a Deus e por serem
servidas pelos anjos, e não que cada criança, pessoa ou seguidor de Jesus tenha
um anjo da guarda.
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