sábado, 1 de outubro de 2011

VOCÊ TEM CERTEZA QUE É UM LÍDER MESMO? (Subsídio EBD)


Por Gilson Barbosa
As Escolas Bíblicas Dominicais das Igrejas Assembleias de Deus estarão estudando nesse trimestre o livro histórico de Neemias. Se você, prezado leitor, envida esforços para alcançar seus objetivos, precisa se espelhar no método de Neemias. As questões enfrentadas por Neemias são as mesmas dos nossos dias: crítica, fadiga, oposição, motivação, abnegação, humildade, crise, etc. As lições desse trimestre servirão de incentivo às lideranças evangélicas, líderes de grupos nas igrejas, no sentido de empreender esforços que se caracterizem como compromissos com o reino de Deus e com o povo que está sob suas lideranças.
O LIVRO DE NEEMIAS NO CANON JUDAICO
Esdras e Neemias formavam um só livro na Bíblia hebraica antiga, sendo, posteriormente, dividido em dois, conforme conhecemos. Segundo o pastor Esequias Soares da Silva (Visão Panorâmica do Antigo Testamento), eles faziam parte dos Kethuvym e compunham a terceira seção (as outras duas são o Pentateuco e os livros Proféticos). “Estão subdivididos em 3 partes, representadas pelos Livros Poéticos: Salmos, Provérbios e Jó; os Megilloth, “Cinco Rolos”: Rute, Cantares, Eclesiastes, Lamentações e Ester; e, os Livros Históricos: Daniel, Esdras-Neemias e Crônicas”. Quando Jesus disse em Lucas 24.44 que convinha que se cumprisse tudo o que estava escrito dele na Lei de Moisés, nos Profetas e nos Salmos, resumiu todo o Canon Judaico em três partes. Ele denominou a terceira parte (os Escritos ou Hagiógrafos) de Salmos, pois este encabeçam os livros desta seção. Interessante é que o livro das Crônicas é o ultimo das Escrituras Sagradas da época (Leia Mateus 23.35 e compare com II Crônicas 24.20-22).
BREVE CONTEXTO
Neemias, que nasceu no cativeiro, se encontrava em Susã, capital do Império Persa. Nessa época o Império Persa derrotara o Império Babilônico (539 a.C). Apesar de cativo, gozava de uma posição privilegiada no palácio: era copeiro do rei. A Bíblia de Estudo Vida diz que “o cargo de copeiro do rei correspondia de alguma maneira aos serviços secretos que hoje os países mantêm para a proteção do seu presidente. Os planos de assassinato eram preocupação constante para o rei. Era a tarefa de Neemias provar a comida e a bebida servida ao rei, cargo que exigia da pessoa ser da maior confiança”. Aliás, não devemos achar que os israelitas eram maltratados quando estavam cativos. Muitos deles ocuparam importantes funções políticas, outros eram prósperos comerciantes, e, de maneira geral viviam em relativa paz e em bom conforto (tanto que milhares deles não voltaram para Jerusalém). É verdade que em si mesmos eles desejavam estar em Jerusalém – a eterna pátria dos judeus – mas isso era somente porque a amavam, pois ali Deus se encontrava com Eles (Sl 137. 1-6) e não devido aos maus tratos.
Conforme informação do comentarista desta lição (Pr Elinaldo Renovato) a reconstrução do altar de Deus, em Israel, deu-se com Zorobabel (Ed 3.1-3), mas a construção dos alicerces e do Templo aconteceu aproximadamente dois anos depois, aproximadamente no ano 536 a.C (Ed 3.6, 8). Logo, os inimigos do povo de Deus tentaram desanimá-los com seguidas intimidações (Ed 4.4,5) até o ponto de escrever uma carta de acusação ao rei Assuero. O rei acreditou e consentiu no conteúdo da carta, e embargou a construção do Templo (aproximadamente entre 534 a 520 a.C). O trabalho ficou parado até o segundo ano de Dario, rei da Pérsia (Ed 4.24) quando este rei autoriza a reconstrução do Templo (Ed 6.3). Segundo os estudiosos a reconstrução do Templo foi concluída em 515 a.C.
AS PREOCUPAÇÕES DE NEEMIAS
Enquanto Zorobabel se preocupa em reconstruir o Templo, Esdras em reconstruir a condição espiritual do povo de Judá, Neemias se preocupa basicamente na restauração política e geográfica de Judá. A primeira preocupação de Neemias foi com a condição social dos judeus. Pelo contexto (Ne 7.2) concluímos que o Hanani, do versículo 2, é seu irmão sanguíneo e não um dos patrícios judeus. Ao ouvir de seu irmão que as coisas em Jerusalém não estavam nada boas; que os muros da cidade ainda estavam derrubados e as portas queimadas, ele sentou, chorou e não tinha fome para se alimentar (1.4). Todo o conforto palaciano não lhe roubou o amor por Jerusalém e por seu povo. Que exemplo de líder! Que os nossos líderes espirituais não se trancafiem nos seus “palácios” e de camarote assistam o “navio afundar”, mas que possam amar as ovelhas sob seu cuidado e as pessoas em geral. O apóstolo Paulo pedindo aos irmãos tessalonicenses (I Ts 5.12) que honrassem sua liderança, fala-lhes que deveriam acatar com apreço os que trabalhavam entre eles e os presidiam no Senhor. Quero “furtar” as palavras de um pastor, meu amigo, e dizer que os que mereciam honram e prestígio eram os que trabalhavam incansavelmente entre os irmãos tessalonicenses. Fica claro que se tratava dos líderes que conviviam com eles, que os visitavam, que comiam com eles, que conversavam com eles, que oravam com eles, e não os que os evitavam, os que os tratavam como objetos descartáveis, os que não “tinham tempo” para atender o chamado dos irmãos, os que possuíam posturas de ditadores em relação aos irmãos. 
A segunda preocupação de Neemias foi por em ordem um projeto, um plano para reconstruir os muros caídos da cidade e conclamar seus compatriotas para ajuda-los na reconstrução. Dois detalhes me chamam a atenção na liderança de Neemias: sua visão e sua capacidade de influenciar. Deus deu a Neemias a visão do que deveria ser feito e colocou no coração dele o desejo de reconstruir os muros da cidade. Há líder que, infelizmente, não possui visão aguçada da obra do Senhor; não sabem como efetivar as mudanças ministeriais, não tratam seus liderados como convém, destroem os departamentos da igreja em vez de consolidá-los, uns estão com a visão tão tapadas por seu eruditismos que deveriam abdicar do seu cargo na igreja e dar lugar a outros. Outros há que não possuem capacidade de influenciar pessoas, pois essencialmente não são líderes, não possuem carismas. Essa é uma qualidade que muito me agrada em pessoas que são líderes natos. Eles pedem e as pessoas automaticamente obedecem, enquanto alguns se impõem com “violência”, com truculência, pelo poder, pela intelectualidade, pela fama, pois, se dependesse apenas de suas qualidades naturais ninguém os seguiria.  
Por que Neemias se preocupou pelo estado de Jerusalém se nem mesmo a conhecia? Por que se preocupou com os muros da cidade? Segundo os comentaristas bíblicos os muros simbolizavam o poder, a segurança, a proteção e a beleza da cidade de Jerusalém. A Bíblia de Aplicação pessoal informa que: “Neemias estava preocupado com Jerusalém, por ser a Cidade Santa dos judeus. Como capital de Judá, ela representava a identidade nacional dos judeus, e era abençoada com a presença especial de Deus no Templo. A história judaica estava centralizada em torno da cidade desde os tempos em que Abraão presenteou Melquisedeque, rei de Salém (Gn 14.17-20), até os dias em que Salomão construiu o glorioso Templo (1 Rs 7.51), prosseguindo através da história dos reis. Neemias amava sua terra, embora tenha passado toda a sua vida na Babilônia. Ele queria voltar para Jerusalém  a fim de reunir os judeus e tirar a vergonha que sentiam devido à destruição dos muros da cidade. Isto traria glória para Deus e restauraria a realidade e o poder da presença do Senhor entre seu povo”.
A terceira preocupação de Neemias foi buscar a face de Deus em oração. Ele orou depois de recebido as más notícias sobre o estado dos muros de Jerusalém. Ele se compadeceu dos seus compatriotas, entendeu o estado de sofrimento, humilhação e angustia deles e foi interceder por eles a Deus. Ele passou pelo menos quatro meses buscando o favor de Deus em oração para que o coração do rei estivesse aberto a deixa-lo ir à Jerusalém reconstruir os muros da cidade. O livro A História de Israel no Antigo Testamento (Ed. Vida Nova) registra que “a oração registrada em Ne 1.5-11 representa a essência da intercessão de Neemias durante este período de luto e choro. Reflete sua familiaridade com a história de Israel, a aliança do monte Sinai, a lei dada a Moisés que tinha sido quebrantada por Israel, e a promessa da restauração pelos migrantes arrependidos. Neemias reconheceu o Deus da aliança como ao Deus de Israel e dos céus, apelando a ele para que fosse misericordioso com Israel. Em conclusão, pediu que Deus pudesse concede-lhe o favor do rei da Pérsia, seu dono”. Quantos líderes estão agindo com “a cabeça quente” diante de situações adversas que envolvem seu ministério como um todo, a sua vida pessoal, os obreiros sob seu cuidado, e já não buscam a orientação divina em oração, não tem mais paciência com nada e estão agindo como o ímpio age (manipulações, engodos, fraudes, embustes, táticas, estratagemas, técnicas, etc).
Na oração de Neemias podemos vislumbrar seu terno coração e sua devoção a Deus. Era uma pessoa preocupada com as injustiças sociais de seu tempo e colocou no seu coração que, de alguma maneira iria ajudar seus compatriotas que estavam em Jerusalém. Líder é isso, ele chora com os que choram e, dar alegria aos outros é o que importa. Infelizmente muitos líderes hoje são egoístas, só pensam no seu bem estar e da sua família, o resto.... É tempo de desejarmos aos outros, o que desejamos para nossas famílias, ministério, vida pessoal, etc.  Outra qualidade que agrada em Neemias é que ele orou para que o coração do rei foi bondoso para com ele a fim de “botar a mão na massa”, juntamente com seus “irmãos” na reconstrução dos muros. Neemias exemplifica o líder que age e faz junto com os seus liderados, não importa se é serviço de pedreiro, carpinteiro ou outro de ordem espiritual, tal como sair pelo bairro para evangelizar junto. Tem muito líder que “adora” mandar, não são humildes como Neemias para trabalharem lado a lado no projeto de algo.  
LÍDER NATO x LÍDER IMPOSTO
O autor do livro registra, após a oração de Neemias, sua função diante do rei: “Nesse tempo eu era copeiro do rei”. Era uma função muito importante, significava prestígio e influencia na corte, contudo ele não acalentou isso no seu coração, mas deixou todo o conforto para atender as necessidades da sua terra e dos seus patrícios. Um líder que está junto com seus liderados, que não apenas manda, mas compartilha com os outros a tarefa. Se sua liderança não é semelhante à de Neemias temo que não seja um líder nato, mas alguém imposto por outro no poder. Esse fato, no futuro te trará angustia e sofrimento. Por outro lado, acredito que mesmo pessoas que não são naturalmente líderes podem aprender com as diversas situações decorrentes das experiências. O difícil é quando não se quer aprender ou não se aprende nunca. Este tipo de liderança destituída de sentimentos, bom senso, impositiva, me faz lembrar o dito do ex-técnico da Seleção Brasileira de Futebol, Mário Lobo Zagalo: “Vocês vão ter que me engolir!”. Deus nos guarde de um líder destes.
Em Cristo,

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