Por Gilson Barbosa
Perdoar não é tarefa fácil. Todos nós (ou quase todos) estivemos ou estamos envolvidos em alguma situação tensa em nossos relacionamentos interpessoais. Pode ser uma discussão com um colega de serviço, com um parente próximo, com o líder de grupo na igreja onde congrega, com o pastor da igreja, em casa com a esposa ou filhos, etc. Essas discussões e desentendimentos quase sempre deixam marcas que levaremos por boa parte das nossas vidas e alguns a vida inteira. Para que essa situação não perdure e traga angústias na alma e reflexo em nossa saúde física, deve prevalecer o diálogo, o bom senso, a maturidade mental e espiritual. Em certos casos mais graves é necessário renunciarmos o nosso “eu”, nossa “justiça”, nossa “razão” e pedirmos perdão a alguém que ofendemos.
O que é o perdão? No âmbito humano o perdão é o ato de anularmos a dívida de cometimento de falas, ofensas, erros e pecados que alguém, ou nosso irmão, contraiu de nós, sem jamais lançar isso em rosto, ou ficar lembrando (Pr Elienai Cabral). Pregamos muito sobre perdão, mas como acontece em outras áreas da vida cristã, muitas vezes não perdoamos alguém que de alguma maneira (direta ou indireta) nos tenha magoado. Em certos casos nem houve ofensa da outra parte, em outros a “vítima” tende a exagerar os fatos. Somos como os mestres fariseus nos dias de Jesus: falamos, ensinamos, pregamos, ordenamos, mas não vivemos, no dia a dia, os “pequenos” mandamentos de nosso Senhor Jesus. É fácil mandarmos os outros se perdoarem, até que somos nós os ofendidos, aí as coisas mudam de figura.
Isso me lembra a atitude do irmão mais velho na parábola do filho pródigo, descrito pelo historiador Lucas (capítulo 15). A Bíblia relata que ele não se importou, não deu a mínima, pelo retorno do seu irmão. Quando seu irmão voltou ele estava trabalhando. Ao ouvir as músicas, as danças, ele perguntou a um dos empregados o que estava acontecendo. Ao saber que toda aquela festa acontecia por conta do retorno do seu irmão, ele ficou enfurecido e se negou a participar.
É certo que sua indignação era direcionada primeiramente a seu pai, mas, nas entrelinhas do texto bíblico notamos também sua recusa em perdoar as atitudes imorais do seu irmão. Isso está claro quando ele faz a seguinte reclamação à seu pai: “Eis que te sirvo há tantos anos, sem nunca transgredir o teu mandamento, e nunca me deste um cabrito para alegrar-me com os meus amigos; Vindo, porém, este teu filho, que desperdiçou os teus bens com as meretrizes, mataste-lhe o bezerro cevado” (Lc 15.29, 30). Pode ter sido esse o momento do teste prático para esse moço, e, no caso, diríamos que ele foi reprovado numa hora especialmente decisiva. Na mesma condição desse moço estão muitos dentro das igrejas, que não conseguem perdoar ou até mesmos aceitar o seu semelhante por perto, só porque algo aconteceu no passado (se é que aconteceu) que fez com que a pessoa se tornasse depreciável, ou uma persona non grata.
Para informar e comprovar o perdão de Deus em favor da humanidade caída em pecado e condenado eternamente (Rm 6.23) Jesus contou a parábola do credor incompassível em Mateus 18. 23-35: “O Reino dos Céus pode ser comparado a um rei que decidiu pôr em ordem suas contas com os criados. E quando estava fazendo isso, foi-lhe trazido um dos seus devedores que lhe devia 10.000 talentos! Ele não podia pagar; então, o rei ordenou que fosse vendido para pagar a dívida, bem como sua esposa e seus filhos, e tudo que ele tinha. Mas o homem prostrou-se diante do rei, com o rosto em terra, disse: ‘Oh, senhor, tenha paciência comigo, e eu pagarei tudo’. Então o rei ficou cheio de pena dele, o soltou, e perdoou sua dívida”.
A dívida desse servo era altíssima. Alguns estudiosos dizem que correspondem atualmente a dezenas de milhões de reais (um deles chega a dizer que seria atualmente uns 30 milhões de reais). O texto bíblico (v. 25) diz que ele não podia pagar aquela dívida. Embora fosse muito alta, após insistente pedido de paciência seu patrão lhe perdoou a dívida (v. 27). Seu patrão teve compaixão, porém ele não agiu da mesma maneira (Mateus 18.28-30): “Mas quando o homem saiu da presença do rei, foi a um homem que lhe devia 100 denários, o agarrou pela garganta, e exigia que lhes pagasse na hora. O homem prostrou-se diante dele, suplicava que ele lhe desse um pouquinho mais de tempo. ‘Tenha paciência, que eu pagarei’, implorava ele. Mas o seu credor não queria esperar. Mandou prender e encarcerar o homem, até que a dívida estivesse totalmente paga”.
Saindo dali ele cobrou, de maneira imprópria, uma pessoa que lhe devia. O valor monetário do devedor nem se compara com sua dívida – 100 dinheiros. No entanto esqueceu-se da compaixão de seu senhor e não mediu as conseqüências de seus atos. Foi cruel, desumano, iracundo e violento. O monarca ao saber da crueldade indignou-se e o chamou a fim de retribuir-lhe conforme a incomplacência demonstrada condenando-a pagar toda a dívida (v. 32-34).
A lição que fica dessa parábola é que assim como Deus nos perdoou devemos perdoar as faltas dos nossos semelhantes contra nós. Jesus na oração do Pai nosso não deixa alternativa com respeito a perdoar ou não nossos transgressores, mas diz à Deus que nos perdoe, porque perdoamos os outros também (Mt 6.12).
Sei de líderes espirituais (alguns são pastores) que há anos alimentam o ódio no seu coração contra certos irmãos, e por isso estão sofrendo fisicamente, psicologicamente e espiritualmente. A ausência do perdão traz resultados terríveis. O pastor Elinaldo Renovato infroma que quando uma pessoa não perdoa, seu coração é inundado por toda a sorte de sentimentos ruins. Isso tem um preço muito alto: tensão emocional. Ele continua dizendo que segundo o Dr. McMillen tende a causar úlceras do estômago e intestinos, colite, pressão alta, problemas no coração, apoplexia, arteriosclerose, distúrbios mentais, papeira, doenças renais, cefalalgia, diabetes, artrites e outras. A Bíblia (Hebreus 12.15) nos orienta à vigilância para não deixarmos nenhuma raiz de amargura brotar em nossos corações, pois quando ela brota, causa profunda perturbação, prejudicando a vida espiritual.
Perdoar não significa necessariamente esquecer tudo (só se sofrêssemos de amnésia), mas vivermos de maneira como se a pessoa nunca tivesse nos ofendido, mesmo lembrando da ofensa. Devemos perdoar os nossos desafetos, pois não somos perfeitos, erramos, falhamos, decepcionamos pessoas e as magoamos de vez em quando, ou não? Alguns líderes espirituais não se esforçam em pedir perdão quando erram (alías, alguém precisa sempre lembrar a estes que eles erram) devido a sua fama, posição, status e egoísmo. Essa atitude ímpia quase resultará em desamor e o apóstolo João deixa claro o que isso significa (I Jo 4.20): “Se alguém disser: ‘Eu amo a Deus’, porém continua odiando a seu irmão, é um mentiroso; porque se não ama a seu irmão que está bem diante dele, como pode amar a Deus, a quem nunca viu?”
Em Cristo,
Em Cristo,
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