Por Gilson Barbosa
É extremamente relevante que cada
cristão compreenda as crenças da sua denominação religiosa. A compreensão, contudo,
deve ser a etapa mínima, pois não é bom que o servo de Cristo se satisfaça
apenas em saber ou entender aquilo em que crê. Apesar de eu não ter nenhuma
estatística em mãos não tenho nenhuma dúvida de que inúmeros irmãos simplesmente
não sabem qual teologia (ou que tipo de teologia) sua denominação evangélica
está comprometida.
No ótimo livro Hermenêutica fácil e descomplicada (CPAD)
o teólogo Esdras Bentho ao expor as acepções do étimo teologia afirma o
seguinte:
O termo teologia a partir do conceito
escolástico medieval e das rupturas surgidas por meio das principais
controvérsias cristãs tornou-se termo elástico e inclusivo para reconhecer o
expoente pragmático de um sistema teológico, combinando o nome do indivíduo ao
vocábulo teologia. Assim temos:
Teologia Agostiniana, Teologia Arminiana, Teologia Wesleiana, Teologia Paulina,
Teologia Joanina, e muitas outras.
O tipo de teologia que desejo que
estudem com profundidade poderia ser designada de Teologia Calvinista. Porém,
historicamente é conhecida como Teologia Reformada. Em certo sentido ela não foi
introduzida por e com Calvino. Como bem escreveu James Montgomery Boice
Os crentes na
tradição reformada têm em alta consideração as contribuições específicas como
as de Martinho Lutero, Jonh Knox e, particularmente, de João Calvino, mas eles
também encontram suas fortes distinções nos gigantes da fé que os antecederam,
tais como Anselmo e Agostinho e principalmente nas cartas de Paulo e nos
ensinamentos de Jesus Cristo.
As quatro tradições teológicas do cristianismo
Parte do entendimento da teologia deve-se as diversas tradições dentro das quais ela é praticada. No desenvolvimento histórico há quatro principais tradições teológicas do cristianismo: a teologia das igrejas ortodoxas orientais, a teologia da Igreja Católica Romana, a Teologia Protestante e a Teologia Liberal. Os teólogos Stanley Grenz e Roger Olson (Iniciação à Teologia, Ed:Vida) faz um resumo histórico sobre a Teologia Reformada nos seguintes termos:
Parte do entendimento da teologia deve-se as diversas tradições dentro das quais ela é praticada. No desenvolvimento histórico há quatro principais tradições teológicas do cristianismo: a teologia das igrejas ortodoxas orientais, a teologia da Igreja Católica Romana, a Teologia Protestante e a Teologia Liberal. Os teólogos Stanley Grenz e Roger Olson (Iniciação à Teologia, Ed:Vida) faz um resumo histórico sobre a Teologia Reformada nos seguintes termos:
A história da
teologia protestante começa com a Reforma, no século XVI. Em 1517, o monge católico
alemão Martinho Lutero deu inicio a uma controvérsia ao pregar suas 95 teses –
ou pontos de debate – na porta da catedral de Wittenberger. Nas décadas
seguintes, desabrochou o terceiro ramo da teologia cristã. Nós a chamamos “protestante”
porque protestou contra a ênfase da teologia católica romana à autoridade do
papa e dos concílios e contra certas crenças e práticas comuns da Igreja.
Além de
Lutero, destacaram-se entre os primeiros teólogos protestantes Ulrico Zuinglio
e João Calvino, da Suiça, Thomas Cranmer, da Inglaterra, e Menno Simons, da
Holanda. Todos haviam sido católicos romanos, porém se voltaram para o caminho
da reflexão protestante. Esses líderes estabeleceram várias tradições dentro do
protestantismo. Lutero obviamente fundou o luteranismo, Zuinglio e Calvino
foram os pais da ala reformada (principalmente presbiteriana, na Inglaterra e
nos Estados Unidos). Cranmer ajudou a estabelecer a teologia da Igreja Anglicana.
Simons foi um dos primeiros líderes anabatistas, cujo maior grupo hoje é
conhecido como menonitas.
Estes primeiros irmãos
protestantes apesar de serem falíveis e suscetíveis a erros, buscaram entender
as Escrituras com seriedade e honestidade. Houve tanto divergências quanto concordâncias.
Podemos mencionar quatro pensamentos em comum: 1) a rejeição da tradição (os
pronunciamentos do papa e concílios) como de igual valor ao do testemunho
bíblico; 2) a rejeição da teologia natural como guia para o verdadeiro
conhecimento de Deus; 3) a afirmação de que todo o cristão tem o direito de ler
e interpretar a Bíblia e 4) a afirmação da natureza contínua da reflexão
teológica como esforço cooperativo do povo de Deus (“Reformando e sempre em
reforma”).
A Declaração de Cambridge e os 5 Solas
As crenças que fundamentam a Teologia Reformada são as que seguem abaixo. As mesmas constam no documento denominado de Declaração de Cambridge – Aliança de Evangélicos Confessionais - e estão em forma de teses:
A Declaração de Cambridge e os 5 Solas
As crenças que fundamentam a Teologia Reformada são as que seguem abaixo. As mesmas constam no documento denominado de Declaração de Cambridge – Aliança de Evangélicos Confessionais - e estão em forma de teses:
1) Sola Scriptura – “Reafirmamos
a Escritura inerrante como fonte única de revelação divina escrita, única para
constranger a consciência. A Bíblia sozinha ensina tudo o que é necessário para
nossa salvação do pecado, e é o padrão pelo qual todo comportamento cristão
deve ser avaliado. Negamos que qualquer credo, concílio ou indivíduo possa
constranger a consciência de um crente, que o Espírito Santo fale
independentemente de, ou contrariando, o que está exposto na Bíblia, ou que a
experiência pessoal possa ser veículo de revelação”.
2) Sola Fide – “Reafirmamos
que a justificação é somente pela graça, somente por intermédio da fé e somente
por causa de Cristo. Na justificação a retidão de Cristo nos é imputada como o
único meio possível de satisfazer a perfeita justiça de Deus. Negamos que a
justificação se baseie em qualquer mérito que em nós possa ser achado, ou com
base numa infusão da justiça de Cristo em nós; ou que uma instituição que
reivindique ser igreja mas negue ou condene o princípio da sola fide possa ser reconhecida
como igreja legítima”.
3) Sola Christus – “Reafirmamos
que nossa salvação é realizada unicamente pela obra mediatoria do Cristo
histórico. Sua vida sem pecado e sua expiação por si só são suficientes para
nossa justificação e reconciliação com o Pai. Negamos que o evangelho esteja
sendo pregado se a obra substitutiva de Cristo não estiver sendo declarada e a
fé em Cristo e sua obra não estiver sendo invocada”.
4) Sola Gratia – “Reafirmamos
que na salvação somos resgatados da ira de Deus unicamente pela sua graça. A
obra sobrenatural do Espírito Santo é que nos leva a Cristo, soltando-nos de nossa
servidão ao pecado e erguendo-nos da morte espiritual à vida espiritual.
Negamos que a salvação seja em qualquer sentido obra humana. Os métodos,
técnicas ou estratégias humanas por si só não podem realizar essa
transformação. A fé não é produzida pela nossa natureza não-regenerada”.
5) Soli Deo Gloria – “Reafirmamos
que, como a salvação é de Deus e realizada por Deus, ela é para a glória de
Deus e devemos glorificá-lo sempre. Devemos viver nossa vida inteira perante a
face de Deus, sob a autoridade de Deus, e para sua glória somente. Negamos que
possamos apropriadamente glorificar a Deus se nosso culto for confundido com
entretenimento, se negligenciarmos o Evangelho em nossa pregação, ou se
permitirmos que o afeiçoamento próprio, a autoestima e a autorrealização se
tornem opções alternativas ao evangelho”.
Um chamado ao arrependimento e à Reforma
São muitos grupos evangélicos e
pessoas que reivindicam uma segunda
Reforma. Até mesmo o atual papa (Papa Francisco) tem comentado sobre o
tema. O lema “Ecclesia Reformata et
Semper Reformanda Est” (Igreja Reformada Sempre se Reformando), de autoria
do reformado holandês Gisbertus Voetius (1589-1676), não deve ser aplicado a
qualquer momento crucial da igreja e ou para estabelecer doutrinas que não
estão claras nas escrituras sagradas. A expressão “sempre se reformando” não deve
ser interpretada como sendo adaptadas as práticas atuais, tais como: misticismo,
novas revelações, crentes gnósticos, neopentecostalismo, pentecostalismo, entre
outros. É necessário nos arrependermos e pedirmos perdão ao Senhor, devido ao profundo
distanciamento quanto aos fundamentos da Teologia Protestante ou Reformada.
Voltar-se à Reforma não tem nada a ver com promover
outra Reforma, mas, simplesmente nos apegarmos confiantemente aos próprios fundamentos
desta teologia que mudou o pensamento religioso de todos os tempos, trazendo
muitos à salvação, para a glória de Deus.
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