sábado, 3 de dezembro de 2011

EXCELÊNCIA NO SERVIÇO MINISTERIAL (Subsidio EBD)

Por Gilson Barbosa


Ética e espiritualidade devem andar sempre juntas. Muitos crentes posando de espirituais faltam com a ética cristã no cotidiano. Promessas não cumpridas, corrupção ativa e passiva, apropriação indébita de dinheiro, tramas ministeriais maldosas às escondidas, nepotismo no governo da igreja, sem falar na corrupção da doutrina. Não dá pra continuar aparentando santidade na teoria e imoralidade na prática. Jesus proferiu palavras duras contra os fariseus nessa questão (Mt 23.13-36).

Tenho notado que o secularismo tem encontrado guarida em muitos corações “evangélicos”. Em certo sentido o crente “está no mundo” (Jo 17.11), faz parte dele, em outro, ele nada tem a ver com este mundo, ou seja, com o sistema maligno que está oculto em muitas coisas (Jo 17.14-16; I Jo 5.19). Jesus orou para que seus discípulos fossem protegidos deste mundo sabedor de que eles não podiam ser retirados dele. Eis o nosso desafio: não sermos influenciados pelo secularismo e muito menos o trazermos para dentro das nossas igrejas. A lição deste domingo trata pelo menos de dois assuntos primordiais na igreja: o zelo com a obra de Deus e o cuidado com a administração dela. Passemos então à exposição bíblica.

Os estrangeiros separados de Israel

“Naquele dia, se leu para o povo no Livro de Moisés; achou-se escrito que os amonitas e os moabitas não entrassem jamais na congregação de Deus”(Ne 13.1).

Ouvindo a leitura de Deuteronômio 23.3-5, os judeus descobriram que os amonitas e os moabitas estavam proibidos de entrar na congregação ou, como anota a NVI (Nova Versao Internacional) ambos “jamais poderia ser admitido no povo de Deus”. A proibição não era de estabelecer habitação em Israel, mas, de participar na assembleia do culto, no santuário do Senhor.    

Para nós, cristãos do século 21, essa prescrição da Lei soa estranha e esquisita: os amonitas e os moabitas não devem entrar na congregação do Senhor. Foram terminantemente proibidos de participar do culto. Mas, à luz do contexto bíblico a intenção de Deus é proteger Seu povo da influencia dos povos vizinhos (Ne 10.28-30). Haveria de ser excluído todo o “elemento misto”. A Bíblia de Estudo de Genebra nos alerta de que “era uma separação religiosa, não racial ou política”.

Esse cuidado de Deus com Seu povo nos lembra da solene advertência que Paulo deu aos coríntios (I Co 5.6): “Lançai fora o velho fermento, para que sejais nova massa, como sois de fato, sem fermento”. O fermento, é utilizado no texto bíblico em pauta, como uma metáfora para alguma influencia corruptora.  Por isso, apesar de estarmos no mundo e convivermos diariamente com pessoas que não professam a mesma fé que professamos, ou aquelas que vivem à margem de Deus, ou ainda as que acreditam na inexistência de Deus, devemos manter certa distancia estratégica a fim de que não sejamos influenciados por seus pensamentos e modo de vida. Não se trata de imaturidade espiritual, mas de evitarmos algo potencialmente capaz de nos comprometer espiritualmente diante de Deus, ainda que seja a mínima coisa.

A pergunta que fazemos então é: Por que Deus proibiu os amonitas e moabitas de participarem do culto judaico?

“Porquanto não tinham saído ao encontro dos filhos de Israel com pão e água; antes, assalariaram contra eles Balaão para os amaldiçoar; mas o nosso Deus converteu a maldição em bênção”(Ne 13.2)

O motivo da proibição deve-se ao fato de que quando Israel subia do Egito, no tempo da escravidão, os moabitas e amonitas não ofereceram nem o mínimo de ajuda (pão e água), mesmo sendo descendentes de Ló (leia Gênesis 19.33-38), portanto, parente dos judeus, pois Ló era sobrinho de Abraão (Gn 11.31). Sobre os moabitas, Balaque (rei dos moabitas) em vez de socorrer Israel, contratou Balaão (um profeta pagão) para maldizer-lhes, e paradoxalmente, mesmo sendo um falso adivinho e profeta mercenário, o Senhor o usou para comunicar Sua palavra (Nm 24.10-24). Segundo Norman Geisler “o relato das atividades de Balaão demonstra que ele estava dividido entre obedecer ao mandamento de Deus e a avareza em seu coração devido às riquezas que Balaque havia prometido”. Conforme Dr Russel Shedd “a doutrina de Balaão era que o povo não podia ser amaldiçoado contra a vontade divina; poderia, entretanto, ser corrompido” (Nm 31.16; Ap 2.14). Todos esses pormenores justifica a solicitação austera do Senhor, quanto a Israel se separarem dos estrangeiros (dos elementos mistos, segundo a tradução Almeida Atualizada).

Neemias expulsa Tobias do Templo

“Ora, antes disto, Eliasibe, sacerdote, encarregado da câmara da casa do nosso Deus, se tinha aparentado com Tobias; e fizera para este uma câmara grande, onde dantes se depositavam as ofertas de manjares, o incenso, os utensílios e os dízimos dos cereais, do vinho e do azeite, que se ordenaram para os levitas, cantores e porteiros, como também contribuições para os sacerdotes” (Ne 13.4,5)



Eliasibe, na ausência de Neemias, alojou Tobias nas dependências do Santo Templo. A expressão antes disto (v.4) significa antes da separação dos amonitas e moabitas (v.2). Essas dependências do Templo são chamadas de câmaras, aposentos ou ainda armazéns. Neemias (10.39) transmitiu uma ordem aos filhos de Israel, que por fim acaba oferecendo informação sobre essas câmaras: “Porque àquelas câmaras os filhos de Israel e os filhos de Levi devem trazer ofertas do cereal, do vinho e do azeite; porquanto se acham ali os vasos do santuário, como também os sacerdotes, e os porteiros, e os cantores; e, assim, não desampararíamos a casa do nosso Deus”.

O sacerdote Eliasibe fazia parte da conspiração de Tobias contra Neemias ou no mínimo foi corrupto e negligente (Ne 6.17-19). Alguns comentaristas dizem que Tobias usou a influencia que exercia sobre vários nobres que lhe deviam favores, por isso conseguiu um grande cômodo no Templo. Tudo isso sob os olhares e consentimento do sacerdote. É muito triste constatar que os que deveriam zelar pela casa de Deus, pelo bom andamento da obra, se envolvem em falcatruas, esquemas mundanos e imorais, em decisões ímpias para prejudicar alguém, em alianças com pessoas que não temem a Deus.

A expressão onde dantes do versículo 5 suspeita-nos de que os judeus haviam deixado de ofertar e dizimar, em contraste com a decisão anterior (12.47). As ofertas e dízimos não estavam sendo mais, mesmo que isso tenha acontecido temporariamente, recebidas no Templo. O entendimento do texto bíblico é a de que os levitas, cantores, porteiros e os sacerdotes eram sustentados pelo dízimo. A menção de cantores e porteiros implica que eram também levitas (11.17,22; 12.8, 24, 25). Porém, como o serviço na casa de Deus seria eficaz e bem estruturado se os judeus negligenciassem os dízimos e as ofertas? Não podemos esquecer que os dízimos deveriam ser entregues aos levitas, pois estes não tinham meio de renda, nem gado, nem herança que lhes assegurasse o sustento (Nm 18.21,24), e eles por sua vez contribuíam com o dízimo dos dízimos para sustentar os sacerdotes em serviço, os porteiros e cantores.

A remuneração financeira de presbíteros e pastores

Sou favorável de que aqueles que prestam serviço na casa do Senhor como os pastores de igrejas (no mínimo), por exemplo, deveriam ser todos remunerados. Os levitas eram responsáveis pela organização e estrutura do Templo, desta forma não faziam outra coisa a não ser o serviço religioso. Como poderia fazer um serviço com qualidade se fizesse outras atividades paralelas? Este principio, encontra respaldo pelo apóstolo Paulo quando disse à Timóteo (I Tm 5.17,18): “Devem ser considerados merecedores de dobrados honorários os presbíteros que presidem bem, com especialidade os que se afadigam na palavra e no ensino. Pois a Escritura declara: Não amordaces ao boi, quando pisa o trigo. E ainda: O trabalhador é digno do seu salário”  

A tarefa de ensinar e instruir a igreja do Senhor demanda muito tempo e esforço, por isso o apóstolo Paulo diz aquelas palavras. Fico pensando como um pastor que trabalha secularmente, cumprindo as cargas horárias do seu trabalho e todas as implicações advindas dele, arranjará tempo para ler a Bíblia, ler um bom livro paralelo à Bíblia, estar atualizado nas notícias, orar e interceder pelos irmãos da igreja, visitar os crentes e ainda ter tempo para passar com a família. Alguma coisa não dará para fazer, isso é fato. E o que me entristece é que quase sempre a exposição (ensino) da palavra de Deus à igreja tem sido negligenciada por conta do tempo escasso para o serviço sagrado.  Os dízimos e ofertas também deveriam ser empregados neste sentido – a remuneração de pastores e presbíteros que presidem sobre a obra do Senhor.

O Comentário Bíblico Beacon informa que devido às ofertas ocasionalmente não serem recebidas no Templo “consequentemente, os levitas e até os cantores tinham sido obrigados a voltar ao campo e ganhar a vida na agricultura. Isso significa que, apesar das cuidadosas providencias que haviam sido tomadas por Neemias há muito pouco tempo (12.44-47), os serviços do Templo haviam sido negligenciados”.

Eliasibe, um sacerdote incapaz

Mas, quando isso aconteceu, não estive em Jerusalém, porque no trigésimo segundo ano de Artaxerxes, rei da Babilônia, eu fora ter com ele; mas ao cabo de certo tempo pedi licença ao rei e voltei para Jerusalém. (Ne 13.6).

O Dr Russel Shedd diz que provavelmente Neemias deve ter ido prestar contas administrativas ao rei Artaxerxes e “é possível que nesta visita a Susã, tenha empregado mais de um ano, pois na sua ausência surgiram os abusos cometidos nos vv 4,5, e no resto do capítulo 13”. O Dr Charles Caldwell Ryrie assinala que, Artaxerxes provavelmente estava em Babilônia naquela ocasião, já que ali ficava um centro administrativo do império persa. Doze anos havia passado, entre o retorno de Neemias e sua saída da fortaleza de Susã.

O sacerdote Eliasibe não foi capaz de manter a ordem religiosa em Judá durante a ausência de Neemias. Isso lembra muito o episodio em que Arão não conseguiu conter o povo durante a estadia de Moisés por 40 dias no monte. Não podemos negociar no serviço sagrado nem ceder à pressão de pessoas “poderosas”. Eliasibe cedeu diante de Tobias, já Arão diante da multidão. Ambos estavam errados e isso ficou claro depois. Existem muitas pessoas influentes (socioeconômico) na igreja, mas, a igreja do Senhor não depende delas para sobreviver aos ataques de Satanás nem aos seus desafios. Apesar de alguma forma necessitarmos de pessoas influentes na igreja, devemos nos atentar para os seus limites. O povo também não pode determinar o governo da igreja, pois, se este (povo) descambar para o secularismo e heresias levará seu pastor junto.

“Então, soube do mal que Eliasibe fizera para beneficiar a Tobias, fazendo-lhe uma câmara nos pátios da Casa de Deus” (Ne 13.7).

A presença de Tobias nos aposentos da Casa de Deus era um mal terrível, pois era amonita, inimigo do povo de Deus, e dominado por influências pagãs. As nomeações para os encarregados de tomar conta das câmaras do Templo (Ne 12.44-47) não teve o resultado esperado. Até mesmo o sacerdote havia se corrompido. Não podemos culpar Neemias dessa atitude dos seus liderados.

Neemias ao regressar de viagem notou que todas as reformas produzidas no primeiro período de governo – as nomeações, as separações dos amonitas, as ofertas para a manutenção do culto, a promessa de observar a guarda do sábado (preceito judaico), a promessa de abster-se de casamentos misto – havia fracassado.

A purificação de Neemias e a de Jesus

Isso muito me indignou a tal ponto, que atirei todos os móveis da casa de Tobias fora da câmara. Então, ordenei que se purificassem as câmaras e tornei a trazer para ali os utensílios da Casa de Deus, com as ofertas de manjares e o incenso (Ne 13.8,9)

Confesso que esse texto bíblico (v.8) é até engraçado, quando por causa da indignação e atitude de Neemias os utensílios de Tobias são jogados no pátio do Templo. Sua ação é semelhante a de Jesus (Mt 21.12,13) quando expulsou do Templo os cambistas e vendedores. No caso neotestamentário, Richard Hoover diz que “No pátio do Templo eram realizadas negociatas, como o cambio de moedas (troca de moedas estrangeiras por siclo do santuário) e vendas de animais para sacrifício, sendo que todo esse comércio era administrado pelo Sumo Sacerdote Anás e sua família, e toda essa negociata era extorsiva. Nem mesmo a casta sacerdotal havia aprendido que o Templo deveria ser um lugar exclusivo de adoração a Deus, não um lugar onde pessoas pudessem lucrar”.

O que Tobias estava fazendo nos aposentos do Templo se não era sacerdote nem levita? Neemias ordenou que os utensílios da Casa de Deus fossem trazidos e recolocados novamente, em lugar dos utensílios de Tobias. A lista das coisas devolvidas não incluem os dízimos e as ofertas para os sacerdotes (v.9,10), o que fortalece a idéia de que os judeus já não contribuíam mais.

As ações empreendidas nesse texto (13.8.9) representam uma repreensão pública ao sacerdote (ou ao sumo sacerdote) e uma invasão em seu domínio (vv 11, 13, 22, 28). Neemias usou seu poder como governador para efetuar reformas que o próprio sumo sacerdote ou sacerdote não desejava fazer. Neemias reinstalou a manutenção dos levitas e dos administradores do Templo e o nome do Senhor foi santificado por essa atitude.  

A ordem restabelecida

Os levitas e os cantores que haviam abandonado o Templo e voltado a trabalhar na agricultura, por falta dos dízimos e ofertas, foram restituídos aos seus postos no trabalho religioso, bem como foram colocados os tesoureiros para a administração dos depósitos. Quanto a essa ordem estabelecida, devemos atinar ao fato de que as finanças da igreja sejam empregadas com fidelidade, sabedoria e transparência na expansão do reino de Deus e no socorro aos mais necessitados (Elinado Renovato). Nesta reflexão duas palavras me chamam atenção: transparência e necessitados. Alguma coisa deve ser feita para que nos negócios da Casa de Deus haja mais visibilidade financeira aos fiéis e quanto aos necessitados, creio que os líderes devem prestar mais atenção neles e não deixa-los na marginalidade, como se fossem pesos administrativos à igreja.

Com a atitude e disposição de Neemias a Casa de Deus já não estava mais abandonada, nem desamparada. A ordem administrativa e religiosa foi restabelecida. Doutrina e administração eclesiástica seguem juntas. Não adianta o pastor ser excelente em teologia e péssimo em administração (não refiro à administração comercial, mas eclesiástica). Agora Neemias podia orar humildemente desta forma: “Por isto, Deus meu, lembra-te de mim e não apagues as beneficências que eu fiz casa de meu Deus e para o seu serviço” (v.14). Que os obreiros da Casa de Deus busquem a excelência! Que o nome de Deus seja exaltado e glorificado por nossas atitudes que devem retratar um santo viver!

Em Cristo,
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