Por Gilson Barbosa
Conforme afirma o Credo de Atanásio (escrito contra
os arianos), não devemos confundir as pessoas da Trindade nem dividir Sua
substancia, pois uma só é a divindade do Pai e do Filho e do Espírito Santo.
São iguais quanto aos atributos, mas não são uma única pessoa. A definição da
Trindade é: três pessoas distintas em uma só divindade.
Outro fato importante é que na Trindade não há
disputa de poderes, onde um é forçadamente subordinado ao outro. Citando I
Coríntios 13:5 podemos dizer que no relacionamento entre si não há na Trindade ação
por interesse próprio, não se ufanam, não se exasperam, não ardem em ciúmes, não
se portam com soberba.
“Não
existe uma hierarquia de poder, glória, ou autoridade na Trindade ontológica. A
submissão do Filho ao Pai, por exemplo, é a submissão do Filho à sua própria
vontade, porque a vontade divina é uma, mesmo tendo o Pai e o Filho consciência
de uma vontade distinta e pessoal. A essência da vontade de Deus é uma.”[1]
Podemos dizer o mesmo do Espírito Santo em relação a
Cristo. Muitos se esquecem de que cada
pessoa da Trindade tem um papel distinto e um relacionamento distinto. Na
teologia há o termo conhecido como Trindade econômica que distingue seus
papeis:
A
trindade econômica é a Trindade em relação à história humana. Na redenção da
humanidade cada pessoa faz parte de um plano perfeito para salvar o homem. Cada
pessoa faz obras distintas para conseguir essa salvação. O Pai planeja a
salvação, elege os salvos e envia o Filho, o Filho paga o preço do pecado, compra
a salvação pelos eleitos e faz intercessão, e o Espírito aplica a salvação aos
eleitos, regenerando-os e santificando-os.[2]
O Concílio de Constantinopla (381 d.C.) proclamou em
sua confissão de fé que o Espírito Santo deveria ser reconhecidamente “adorado
e glorificado junto com o Pai e o Filho”. O contexto da proclamação foi à controvérsia conhecida como “macedoniana” e ou “pneumatômatos”,
pois negavam a divindade do Espírito Santo.
Os
macedonianos são chamados de “inimigos do Espírito”, por não admitirem o
Espírito como Deus. A heresia parte de
um problema litúrgico. Na doxologia, não admitem dar glória ao Espírito junto
com o Pai e o Filho. O Espírito não é gerado como o Filho, mas criado. Para os
macedônios “espírito” seria mais uma “propriedade” de Deus que necessariamente
uma pessoa divina. Argumentavam que Deus é espírito, porém o Espírito não é
Deus.[3]
A questão que trago na postagem não é se o Espírito pode ser adorado, mas, se com base nas
escrituras sagradas, Ele deve ser amplamente
adorado no ambiente de culto ou mencionado mais do que Cristo. Sobre isso há
dois pontos a ser considerado: 1º) a Bíblia não ordena expressamente adoração
ao Espírito Santo e 2º) o Espírito Santo exalta a pessoa de Cristo.
Dois pontos importantes
Em primeiro
lugar, a Bíblia não ordena expressamente adoração ao Espírito. Ao comentar
sobre plano de Deus para Israel o apóstolo Paulo reconhece a sabedoria divina e
glorifica ao Senhor: “Porque dele e por ele, e para ele, são todas as coisas;
glória, pois, a ele eternamente. Amém.” (Romanos 11:36). O apóstolo Paulo encerra
sua carta aos romanos (cap. 16) saudando diversos irmãos e após falar sobre o
plano de Deus de unir os cristãos judeus e gentios em só corpo, a Igreja,
novamente exalta e glorifica a Deus por isso: “Ao único Deus, sábio, seja dada
glória por Jesus Cristo para todo o sempre. Amém.”
É verdade que em II Coríntios 3:8 o apóstolo fala
sobre a glória do ministério do Espírito Santo, mas a menção visa repudiar a
mistura entre Lei e Graça, realizada pelos judaizantes, e acentuar a glória do
ministério do evangelho da graça de Deus. O contexto deixa claro isso (v.s.
9-11).
Na Galácia os falsos mestres estavam distorcendo a mensagem
do evangelho. Paulo, então, lembra os irmãos que Cristo pagou um alto preço
para alcançar um propósito: livrar os pecadores da escravidão do pecado. Se os
falsos mestres ministravam motivados por uma intenção egoísta, inclusive no que
diz respeito ao proselitismo praticado por eles entre os irmãos dali, a
intenção de Paulo era pura e piedosa; por isso ela exalta a Cristo: “Graça e
paz da parte de Deus e do nosso Senhor Jesus Cristo [...] ao qual seja dada
glória para todo o sempre. Amém.” (Gálatas 1:3, 5).
Não querendo enfadá-los com as mesmas interpretações,
mas sugiro que leiam os seguintes textos: Efésios 3:21; Filipenses 4:20; I
Timóteo 1:17; II Timóteo 4:18; Hebreus 2:7; 13:21; I Pedro 5:11; II Pedro 3:18;
Judas 1:25; Apocalipse 1:6; 4:9, 11; 5:12,13; 11:13; 14:7; 19:1, 7.
Todos os textos bíblicos ordena que tanto o Pai
quanto o Filho sejam adorados, mas não faz menção do Espírito Santo. Isso
significa que ele não pode ser adorado? Não é bem isso. Ainda que não tenha
mandamentos específicos, geralmente aplicamos os princípios (a questão de o
Espírito ser essencialmente Deus em seus atributos, por exemplo) na adoração ao
Espírito. Mas, falamos acima que cada pessoa na Trindade possui um objetivo e
propósito nas suas atividades; e a do Espírito não é glorificar a si próprio,
mas a Cristo.
Em segundo
lugar, a função do Espírito é exaltar a Cristo. Os irmãos em Corinto queriam
saber como identificar se a pessoa que fazia uso dos dons estava realmente
falando pelo Espírito. Paulo responde afirmando que o Espírito sempre busca
exaltar a Cristo: “Portanto, vos quero fazer compreender que ninguém que fala
pelo Espírito de Deus diz: Jesus é anátema, e ninguém pode dizer que Jesus é o
SENHOR, senão pelo Espírito Santo.” (I Coríntios 12:3). Ou seja, o Espírito sempre
conduz as pessoas à presença Cristo. Conforme afirmou o pastor Augustus
Nicodemus Lopes (O Culto Espiritual, p. 75, Ed: Cultura Cristã):
Se
Jesus não for o centro e não receber a glória e a honra que lhe são devidas
como Cabeça da Igreja, como o Filho único de Deus e o Senhor de tudo e de
todos, então tais coisas não procedem do Espírito Santo; podem proceder do
homem ou de espíritos malignos, mas não de Deus.
O Senhor Jesus ao instruir seus discípulos sobre a
vinda do Espírito Santo para que estivesse para sempre com o povo de Deus (João
14:16, 17) lhes orientou também sobre o que o Espírito faria: “Mas aquele
Consolador, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, esse vos ensinará
todas as coisas, e vos fará lembrar de tudo quanto vos tenho dito.” (João
14:26). Em outras palavras o Espírito não traria nada diferente ou inusitado,
mas apenas aquilo que Cristo já tinha ensinado aos discípulos.
O Espírito também tem a responsabilidade de não
confundir as pessoas, pois seu objetivo é guiar os crentes em toda verdade. Não
vejo com bons olhos tanta confusão em torno da pessoa do Espírito se ele nos
conduziria às verdades de Deus. O Espírito também não exige nem reivindica
glória para si mesmo nem fala de si próprio. Ele não traz confusão, novas revelações,
nem contradiz o que Cristo ensinou: “Mas, quando vier aquele, o Espírito de
verdade, ele vos guiará em toda a verdade; porque não falará de si mesmo, mas
dirá tudo o que tiver ouvido, e vos anunciará o que há de vir. Ele me
glorificará, porque há de receber do que é meu, e vo-lo há de anunciar.” (João
16:13, 14). Receio de que muitos crentes hoje em dias estão passando por cima
das orientações de Cristo com respeito à pessoa do Espírito em suas funções.
O Espírito Santo tudo realiza tendo em visto a
exaltação de Cristo: “Todavia digo-vos a verdade, que vos convém que eu vá;
porque, se eu não for, o Consolador não virá a vós; mas, quando eu for, vo-lo
enviarei. E, quando ele vier, convencerá o mundo do pecado, e da justiça e do
juízo. Do pecado, porque não crêem em mim; da justiça, porque vou para meu Pai,
e não me vereis mais; e do juízo, porque já o príncipe deste mundo está julgado.”
(João 16:7-11).
Apenas o que a
Bíblia prescreve
Quais as reais implicações negativas de se adorar o
Espírito? Muito provavelmente nenhuma. Mas, corre-se o risco de fazer algo não prescrito
pela Bíblia; o que fatalmente gerará confusão doutrinária e mais divisão no
Corpo de Cristo. É bom não ir além do que está escrito na Bíblia Sagrada.
Que o Senhor nos ajude a compreender as funções de
cada pessoa da Trindade.
Com amor, em Cristo.
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ResponderExcluirCLUBE DA TEOLOGIA
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