Numa época em que têm ocorrido
falsas conversões em massa, em que predomina as doutrinas espúrias do triunfalismo e confissão positiva, e impera o pragmatismo religioso, fazer
qualquer menção sobre a humilhação de Cristo pode ser tido como antiquado e
vergonhoso. Muitos crentes parecem estar vivendo a fé com base numa literatura
de conto de fadas, e por sustentar tais doutrinas e métodos espúrios estão se
afastando mais e mais do modelo bíblico para a vida cristã. Porém a doutrina da
humilhação de Cristo é bíblica.
Na igreja filipense alguns irmãos
estavam se desentendendo por conta de disputas, invejas, exaltação e egoísmo. Foi
necessário o apóstolo Paulo exortá-los quanto a isso. O problema gerou desunião
entre eles e isso não era nada bom. Deveriam abrir mão de suas prerrogativas e privilégios,
posição e status, e viverem harmoniosamente tanto nos sentimentos quanto nas
demais obrigações.
Completai o meu gozo,
para que sintais o mesmo, tendo o mesmo amor, o mesmo ânimo, sentindo uma mesma
coisa.
Nada façais por
contenda ou por vanglória, mas por
humildade; cada um considere os outros superiores a si mesmo.
Não atente cada um para
o que é propriamente seu, mas cada qual também para o que é dos outros.
Filipenses
2:2-4
Portanto, a partir do versículo 5
o apóstolo demonstra aos filipenses a necessidade de viverem em harmonia e
informa-os que havia um exemplo elevadíssimo a ser seguido: o de Cristo Jesus.
De sorte que haja em
vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus,
Que, sendo em forma de
Deus, não teve por usurpação ser igual a Deus,
Mas esvaziou-se a si
mesmo, tomando a forma de servo, fazendo-se semelhante aos homens;
E, achado na forma de
homem, humilhou-se a si mesmo, sendo obediente até à morte, e morte de cruz.
Filipenses
2:5-8
A expressão “sendo em forma de
Deus” trata da Divindade de Jesus Cristo. Algumas versões da Bíblia trazem “subsistindo
em forma de Deus”. Jesus na ocasião da sua encarnação não perdeu nem se
esvaziou da sua Divindade. Na terra ele foi plenamente Deus e plenamente ser
humano. Se Cristo não possuísse atributos de uma Divindade pareceria que
sofresse de algum distúrbio psicológico. Ele poderia muito bem ser tido como
louco. Ele fez e anunciou muitas coisas sobre si muito graves. Perdoou pecados,
afirmou que Nele cumpria-se o que Moisés, os Profetas e os Salmos vaticinaram,
ressuscitou mortos, andou sobre as águas, e afirmou que veio para salvar a
humanidade da culpa e da condenação do pecado. Se Cristo não fosse plenamente
Deus eu teria dúvida sobre a eficácia do seu sacrifício na cruz do Calvário.
Que poder há na morte de um simples homem? Nenhum. Pessoas morrem fanaticamente
por outros, mas nem por isso os pode livrar da condenação eterna. Mas porque Jesus era Deus entre os homens seu
sacrifício possui poder para redimir o mais vil pecador.
Não obstante possuir igualdade
com Deus Pai em termos de seus atributos Ele “não teve por usurpação ser igual
a Deus”, ou seja, seus privilégios ou status celestial não impediu que deixasse
a glória do céu e encarnasse entre os homens. Ele não se agarrou ao fato de ser
da mesma essência do Pai, mas abriu mão de toda a glória que possuía para viver
entre nós. Note, ele não abriu mão da sua Divindade, mas da glória que tinha no
céu: “E agora glorifica-me tu, ó Pai, junto de ti
mesmo, com aquela glória que tinha
contigo antes que o mundo existisse”
(João 17:5). Muitos crentes estão tão apegados aos seus privilégios e
posição que possuem numa determinada situação ou igreja local que não conseguem
nem por um momento se desprender daquilo. Com isso vão pisoteando os demais
irmãos e vivendo egoisticamente. Cristo nos deu exemplo ao abrir mão da sua posição,
ao assumir a fragilidade humana, e morrer sacrificialmente pelos pecadores. Ao
agir assim ele se “esvazia” voluntariamente.
Da mesma maneira que Jesus
subsistia em forma de Deus Ele toma a forma de servo. A palavra “forma” tem a
mesma intensidade de sentido nos dois textos (vs. 5 e 6). Assim como ele era realmente
Deus ele agiu realmente como servo. Quando medito em Cristo como servo a primeira
cena que me vem à mente é quando ele lava os pés empoeirados de seus discípulos
(João 13). Aquilo que para muitos poderia ser motivo de depreciação em razão de
sua função ou posição para Cristo foi algo espontâneo e necessário.
Jesus, sabendo que o
Pai tinha depositado nas suas mãos todas as coisas, e que havia saído de Deus e
ia para Deus,
Levantou-se da ceia,
tirou as vestes, e, tomando uma toalha, cingiu-se.
Depois
deitou água numa bacia, e começou a lavar os pés aos discípulos, e a
enxugar-lhos com a toalha com que estava cingido.
Noutra ocasião (Lucas 22: 25-27) quando
os discípulos disputavam entre si quem deles poderia ser o maior no Reino de
Deus Jesus os repreendeu e se deu como exemplo:
Os reis dos gentios dominam
sobre eles, e os que têm autoridade sobre eles são chamados benfeitores.
Mas não
sereis vós assim; antes o maior entre vós seja como o menor; e quem governa
como quem serve.
Pois qual é
maior: quem está à mesa, ou quem serve? Porventura não é quem está à mesa? Eu,
porém, entre vós sou como aquele que serve.
Muitas pessoas fazem questão de
serem servidos, mas aqui Jesus afirma que entre os seus discípulos ele estava na
posição de quem serve. Que lição estupenda! Você tem vergonha de Cristo por
causa disso?
Cristo se fez semelhante aos
homens (v.7). A expressão “semelhante” tem o sentido de identificação em todas
as coisas com a humanidade. Nosso Cristo era diferente do restante da raça
humana em duas coisas: concepção virginal e natureza imaculada do pecado. Porém
nas demais coisas ele era humanamente como nós. Em sua trajetória de vida nasceu
numa manjedoura, seus pais tiveram de fugir com Ele para não ser morto, foi
rejeitado, tentado pelo vil Diabo, chorou, às vezes ficava sem dormir, foi
desprezado e julgado ilegalmente e por fim sofreu a pior das mortes. Sua vida
foi de muito sofrimento, como profetizou Isaías (53:3)
Era desprezado, e o
mais rejeitado entre os homens, homem de dores, e experimentado nos trabalhos;
e, como um de quem os homens escondiam o rosto, Era desprezado, e não fizemos
dele caso algum.
Em tudo isso está claro sua
humilhação (v.8). O primeiro homem (Adão) que tinha o mandamento divino de
obedecer transgrediu a lei do Senhor e arrastou a humanidade consigo ao pecado
e condenação eterna. Era necessário que Cristo corrigisse o erro de Adão e
fosse obediente aos mandamentos de Deus para reconciliar pecadores com o Pai.
Cristo obedeceu perfeitamente a Lei de Deus sendo “obediente até a morte”. Sua
lealdade ao projeto eterno de salvação, por parte do Pai, rendeu-lhe a morte; a
pior das mortes: morte de cruz (v.8b).
A cruz de Cristo tem sido motivo
de vergonha, loucura e escândalo para muitos (I Coríntios 1:23). Mesmo os que
se dizem convertidos tem vergonha de falar sobre a cruz de Cristo. Preferem
falar sobre prosperidade e declarar que nada de ruim lhe acontecerá. Não
admitem o sofrimento. Pensam que Deus tem a obrigação de desviar deles todo o
sofrimento. Não somos melhores que Cristo! Cristo tornou-se maldito de Deus por
causa de nossos pecados.
Cristo nos resgatou da
maldição da lei, fazendo-se maldição por nós; porque está escrito: Maldito todo
aquele que for pendurado no madeiro. (Gálatas 3: 13).
Que possamos compreender e seguir
o exemplo que Cristo deixou. Somente assim viveremos nossa fé em sólido fundamento
e não em teorias de líderes pragmáticos. Não amaldiçoe sua vida só porque as
coisas não estão indo como desejaria que fosse. O sol e a chuva são para os
bons e os maus. Aprenda com o exemplo de Cristo.
No amor do Mestre!
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