Não sou hipócrita. Gosto de
futebol e provavelmente vou assistir alguns jogos da Copa do Mundo. No entanto
entendo que o governo brasileiro deveria priorizar outras ações e ter a mesma
gana e vontade para promover as melhorias sociais que a nação necessita, assim
como tem para a realização da Copa.
Por isso tenho mais preocupação
com o Brasil da Copa do que o desejo de ver a Copa do Mundo no Brasil. Segundo o
IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) 87,64% dos 3.810 entrevistados
da pesquisa Sistema de Indicadores de
Percepção Social (SIPS) – Nossos Brasis: prioridades da população consideram
prioridades as seguintes necessidades:
Uma educação
de qualidade (72,97%), a proteção contra o crime e a violência (61,44%),
melhores oportunidades de trabalho (60,28%), um governo honesto e atuante
(59,85%), além do acesso a alimentos de qualidade vêm na sequência na lista das
escolhas, feitas entre 16 opções ordenadas aleatoriamente.
O Brasil tem mais a fazer do que
realizar uma Copa do Mundo. Os experts
no assunto (que não mantém interesses junto ao poder público) não estão tão
otimistas quanto ao legado que a Copa pode deixar. Os interessados (bancos,
empresas privadas, FIFA, redes de televisão, governo) são só elogios, porém, a
população não tem mais paciência com o pífio serviço público oferecido pelo
governo em contraste com “a grana” investida na Copa. Não há investimento como
deveria em áreas como segurança, transportes, educação, saúde. Os investimentos
promovidos na infraestrutura para a Copa foram catalisadas especialmente por
causa da mesma. Isso significa que se a Copa do mundo não fosse realizada no
Brasil poderíamos duvidar que houvesse investimentos iguais ou similares.
Segundo o site da BBC Brasil os
gastos (investimentos) com a Copa do Mundo chegará aos R$ 28 bilhões (e alguns
milhões) – mais do que os gastos da Copa na África do Sul, Japão e Alemanha. O
pensamento da maioria do povo brasileiro é que as obras da Copa desperdiçam
recursos públicos. Para especialistas o impacto na economia (após a realização
de uma Copa do Mundo) pode ser positivo ou negativo, depende da competência e honestidade
administrativa. Bom, como nossos governos são péssimos administradores e não possuem
as virtudes acima mencionadas, imagine só leitor, que legado nosso país terá
após a Copa!
Alguém pode
pensar que não é tarefa da Igreja se envolver nessas polêmicas. Porém, entendo como
um dever cristão admitir que a Copa não seja prioridade num país com tanta
injustiça social e descaso com os menos favorecidos. Ainda que num contexto
diferente e considerando as ressalvas que devem respeitadas, o profeta Amós condenou
as injustiças sociais do seu tempo.
Enquanto os
abastados podiam decidir entre adquirir uma “casa de inverno ou de verão” ou “mansões
decoradas” (3.15), enquanto as mulheres ricas de Samaria tinham sido criadas e
cuidadas no meio de muito conforto e prazer (4.1), enquanto pesado tributo era
aplicado aos pobres (5.10), enquanto os juízes zombavam da justiça (5.7),
enquanto os ricos dormiam em cama de marfim, bebiam os melhores vinhos e usavam
perfumes caríssimos (6.4,6), os justos (os que temiam e serviam ao Senhor) eram
afligidos (5.12), os necessitados e miseráveis eram destruídos (8.4), o abuso
dos pobres era apenas um meio de vida dos poderosos (6.3), os menos favorecidos
eram vítimas de suborno e desprezados (6.12), o pobre tinha apenas o canto da
cama e parte do leito para dormir (3.12).
Que situação
deplorável! Amós entendia que sua vocação profética e sua chamada pelo Senhor
tinha por objetivo combater esses pecados cometidos contra a população menos
favorecida tanto de Samaria quanto de Judá. O povo estava sendo oprimido. Alguns
formadores de opinião insistem em contrastar a alegria do futebol com a
tristeza dos brasileiros pobres. Porém o que pode com certeza trazer alegria
aos brasileiros é qualidade na educação, segurança, transporte, saúde, cultura, e não o futebol. Que o Senhor tenha misericórdia da nossa nação e dos nossos governantes.
Como mencionei
acima é dever e papel de cada cristão combater pacificamente os descasos do
governo contra a população. Faça isso; seja um profeta de Deus. Não seja um
brasileiro deitado em berços esplendidos. Mova-se e o mundo se moverá.
Em Cristo,
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