As doutrinas da eleição e
reprovação divinas são bíblicas. Estão contidas em um corpo maior da Teologia
Sistemática: a doutrina da providencia de Deus. A grande maioria dos
evangélicos na intenção de “livrar Deus da culpa de lançar pecadores no inferno”
costumam afirmar que essas doutrinas estão fundamentadas na presciência de
Deus. Ou seja, Deus elege ou reprova com base na futura escolha do pecador.
Primeiro o pecador aceita ou escolhe a salvação, em seguida Deus o predestina.
Obviamente esse entendimento não tem nenhuma base bíblica. Vejamos.
1 – Os planos de Deus, chamado
também de Decretos, são fundamentados a) em sua sabedoria, bem como
afirmou o salmista (104:24): “Que variedade, SENHOR, nas tuas obras! Todas com
sabedoria as fizeste; cheia está a terra das tuas riquezas”; b) em sua
soberania, pois ele não precisa da nossa opinião humana para a realização de
sua vontade: “Quem, pois, conheceu a mente do Senhor? Ou quem foi o seu
conselheiro?” (Romanos 11:34); c) são realizados no tempo histórico; d) são
incondicionais, ainda que o Senhor não dispense os meios para a realização do
seu plano.
2 – Desde o início a raça humana
foi dividida em dois grupos. Os descendentes da semente piedosa e
temente ao Senhor – proveniente de Sete: “Tornou Adão a coabitar com sua
mulher; e ela deu à luz um filho, a quem pôs o nome de Sete; porque, disse ela,
Deus me concedeu outro descendente em lugar de Abel, que Caim matou. A Sete
nasceu-lhe também um filho, ao qual pôs o nome de Enos; daí se começou a
invocar o nome do SENHOR” (Genesis 4:25,26). E os descendentes de Caim (leia
Genesis 4:17-24).
3 – Deus escolheu a nação de
Israel para ser sua propriedade exclusiva. Sabemos que havia outras
nações naquele tempo, mas o Senhor em seu infinito poder e soberania elegeu
Israel para ser seu povo: “Porque tu és povo santo ao SENHOR, teu Deus; o
SENHOR, teu Deus, te escolheu, para que lhe fosses o seu povo próprio, de todos
os povos que há sobre a terra” (Deuteronômio 7:6). A escolha do Senhor por Israel
não aconteceu por algum mérito desta nação: “Não vos teve o SENHOR afeição, nem
vos escolheu porque fôsseis mais numerosos do que qualquer povo, pois éreis o
menor de todos os povos” (Deuteronômio 7:7). Mas, o Senhor a escolheu com base
em seu amor e sua aliança feita com os patriarcas: “mas porque o SENHOR vos
amava e, para guardar o juramento que fizera a vossos pais” (Deuteronômio 7:8).
4 – Indivíduos da linhagem
piedosa foram escolhidos para realizar a obra do Senhor. Fundamentado em quê, Deus escolheu Abrão ainda
em Ur dos Caldeus? “Então, Josué disse a todo o povo: Assim diz o SENHOR, Deus
de Israel: Antigamente, vossos pais, Tera, pai de Abraão e de Naor, habitaram
dalém do Eufrates e serviram a outros deuses. Eu, porém, tomei Abraão, vosso
pai, dalém do rio e o fiz percorrer toda a terra de Canaã” (Josué 24:2,3). Por que
o Senhor não escolheu Ismael como filho da promessa? “Deus lhe respondeu: De
fato, Sara, tua mulher, te dará um filho, e lhe chamarás Isaque; estabelecerei
com ele a minha aliança, aliança perpétua para a sua descendência. Quanto a
Ismael, eu te ouvi: abençoá-lo-ei, fá-lo-ei fecundo e o multiplicarei extraordinariamente;
gerará doze príncipes, e dele farei uma grande nação. A minha aliança, porém,
estabelecê-la-ei com Isaque, o qual Sara te dará à luz, neste mesmo tempo,
daqui a um ano” (Genesis 17:19-21).
Por que, dos filhos de Isaque,
Deus escolheu Jacó? “E ainda não eram os gêmeos nascidos, nem tinham praticado
o bem ou o mal (para que o propósito de Deus, quanto à eleição, prevalecesse,
não por obras, mas por aquele que chama), já fora dito a ela: O mais velho será
servo do mais moço. Como está escrito: Amei Jacó, porém me aborreci de Esaú”
(Romanos 9: 11-13).
Notamos ainda que Deus escolheu a
tribo de Judá, de onde viria o Messias (Genesis 49:10). José como governador do
Egito para preservar o povo do Senhor (Genesis 45:7). Moises para ser o
mediador da velha aliança (Êxodo 3:10). Levi para o sacerdócio (Deuteronômio
18:1,5). Saul e Davi para o trono em Israel (I Samuel 10:24; II Samuel 6:21). Paulo
como apóstolo e missionário (Gálatas 1:15). Profetas, tais com Isaías (capítulo
6) e Jeremias (capítulo 1).
5 – O Senhor escolhe indivíduos
para serem abençoados. Jesus comentou sobre o fato de que o Senhor, por
meio do profeta Elias, providenciou alimento apenas para a viúva de Sarepta de
Sidom (Lucas 4:25,26) e curou apenas Naamã de Lepra (Lucas 4:27). Dentre muitos
outros que precisavam de cura no tanque de Betesda, o Senhor curou apenas um
paralítico (João 5: 2-9).
Católicos romanos e arminianos juntos numa mesma antropologia
Em todos esses exemplos Deus é
soberano e poderoso em seus decretos. Não temos o direito de questionar os
planos do Senhor, por mais que pareça humanamente ilógicos ou absurdos: “Quem
és tu, ó homem, para discutires com Deus?! Porventura, pode o objeto perguntar
a quem o fez: Por que me fizeste assim? Ou não tem o oleiro direito sobre a
massa, para do mesmo barro fazer um vaso para honra e outro, para desonra?”
(Romanos 9:20,21).
Percebemos também nesses exemplos
que não há nenhuma condição imposta externamente para que o Senhor eleja ou
reprove indivíduos ou nações. Isso por si desconstrói a tese de que a eleição ou
rejeição (também conhecida como preterição)
sejam baseadas na presciência de Deus. Em Deus não há contradição nem confusão
de seus atributos. Arminianos e católicos romanos enfatizam não uma teologia
bíblica, na questão do tratamento de Deus com os homens, mas uma antropologia
humanista. Que o Senhor nos ajude para darmos somente a Ele a devida glória.
Com amor,
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