Na Bíblia há dois grupos de termos hebraicos para os nomes
de Deus. O primeiro é o grupo dos nomes específicos e exclusivos de Deus
(El-Shadday, Adhonay, Yahweh e Yahweh Tsebhaoth). O segundo é o grupo dos nomes
genéricos de Deus (El, El Elyon e Eloah – cujo plural é Elohim). Segundo os
estudiosos são genéricos os nomes de Deus que podem ser aplicados, também, a
divindades falsas, anjos, homens (como por exemplo, os governantes e juízes).
Tanto é assim que as Testemunhas de Jeová na tentativa de
depreciar ou negar a divindade de Jesus Cristo diz que ele é um deus, da mesma
forma que Satanás (II Coríntios 4:4), anjos e juízes são chamados de deus [es].
As autoridades religiosas das Testemunhas de Jeová (chamada de Corpo
Governante) editaram uma brochura com o título Deve-se Crer na Trindade? onde dizem o seguinte: “Visto que a
Bíblia chama humanos, anjos e até mesmo Satanás de ‘deus [es]’, ou poderoso
[s], o superior Jesus no céu pode corretamente se chamado de ‘deus’”.
Justificam esse absurdo justamente com o termo hebraico Elohim.
Pois bem: eu disse numa postagem anterior que, tanto o Salmo 82:1-8 quanto João 10:34,35 não apoia a heresia de que os crentes são
deuses, por serem filhos de Deus. Isso por vários motivos; entre eles:
1 – O contexto. Nunca
se esqueça de que em alguns casos consultar somente as línguas originais pode ser
insuficiente para uma boa exegese. O contexto não pode ser preterido JAMAIS.
Por exemplo, é verdade que o salmista afirma: “Vos sois deuses” (v.6). Mas isso
não deve ser interpretado com base apenas no nome Elohim. Isso porque temos inúmeros textos bíblicos que afirma que o
homem não é Deus nem Deus um ser humano (Leia, por favor, Ezequiel 34:31;
Números 23:19; Oseias 11:9).
Não bastasse o contexto geral das escrituras temos o
contexto específico do Salmo 82 (leia o Salmo inteiro). Se você prestar bem
atenção nas palavras dos versos, verá que o sentido da expressão “vós sois
deuses” é negativo e não positivo. O salmista está utilizando uma figura de
linguagem conhecida como ironia.
2 – Figura de
linguagem. Louis Berkhof afirma que figura de linguagem é quando “uma
palavra ou expressão é usada em sentido diferente daquele que lhe é próprio”.
Por exemplo: metáfora, metonímia, sinédoque, ironia, eufemismo, antítese,
aliteração, etc, são chamadas de figuras de linguagem.
No Salmo 82 é usada à ironia como figura de linguagem. Em
certo sentido os juízes eram os representantes de Deus na terra e por isso são
chamados de deuses. Eles deveriam fazer ou agir com justiça (leia Êxodo 22:8, 9;
Deuteronômio 19:17) assim como Deus é justo. Acontece que os juízes julgavam
injustamente (v.2) prejudicando o pobre e o necessitado (v.3) agindo em favor
dos ímpios. Consideravam-se “poderosos” (v.1) eram “deuses”, mas não
representavam os verdadeiros interesses de Deus. Por isso eles andavam em
trevas, sem conhecimento nem entendimento do que é essencialmente julgar
segundo os padrões de Deus (v.5).
Contudo, não obstante o egoísmo,
arrogância, vaidade e presunção (v.6), para o Deus Soberano e Onipotente eles
não passavam de meros mortais. Alguém que pretenda ser Deus deve ser imortal,
mas eles morreriam como os demais homens, e cairiam como qualquer dos príncipes
(v.7). Ademais, os judeus são monoteístas, portanto não interpretavam que os
juízes fossem deuses ou Deus. É necessário descobrir em que sentido se aplica a
expressão Filho de Deus para o cristão regenerado por Cristo.
3 – Filhos de Deus. Novamente a máxima da Confissão Positiva de que
filho de alguém é algo ou alguém em miniaturinha, não procede. A Bíblia afirma
que somos feitos filhos de Deus a partir do instante em que recebemos Cristo
como nosso Salvador crendo no seu nome (João 1:12). Somos filhos de Deus pela
fé em Cristo Jesus (Gálatas 3:26). Os anjos também são chamados de filhos de
Deus (Jó 38:7). Na verdade precisamos saber em quê sentido tanto os seres
humanos quanto os anjos são chamado de filhos de Deus.
O fato é que em certo sentido
somos similares a Deus, pois fomos criados a sua imagem e semelhança. Dispomos
das qualidades comunicáveis de Deus tais como justiça, bondade, ira, amor,
retidão, etc. Contudo, foi Ele quem compartilhou essas qualidades conosco. Similaridade não é identidade. Não somos exatas
cópias de Deus nem possuímos sua identidade ou natureza.
Os anjos são filhos de Deus por
criação (Colossenses 1:16) e os seres humanos por adoção (Gálatas 4:5-7). Nós
não possuímos a natureza de Deus.
4 – Jesus como Filho de Deus. No texto de João 10:34,35 Jesus está reivindicando
sua unidade e divindade com o Yahweh do Antigo Testamento sob risco de ser
lapidado. Jesus se apropria da aceitação escriturística da lei (v.34) por parte
dos judeus fanáticos para legitimar sua reivindicação de autoproclamar-se Filho
de Deus. Donald Carson no seu livro sobre o Comentário
de João interpreta essa passagem assim: “Se há outros a quem Deus (o autor
das Escrituras) pode se dirigir como ‘deus’ e ‘filhos do Altíssimo’ (isto é,
filhos de Deus), em que base bíblica alguém poderia censurar quando Jesus diz:
Sou Filho de Deus?”.
Não somos Deus
Quem diria que pregadores famosos
e que outrora foram corretos teologicamente seriam seduzidos pela teologia da
Confissão Positiva e Teologia da Prosperidade? Pois é, estão bem diante dos
nossos olhos. Devemos nos recordar das sábias e inspiradas palavras do apóstolo
Paulo: “Aquele, pois, que cuida estar em pé, olhe não caia” (I Coríntios
10:12). Seguimos em frente, na defesa do verdadeiro evangelho.
Abraço a todos!
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