Um tal “apóstolo” chamado Agenor Duque afirma possuir a “unção
de Manassés”. Esta teria o poder de apagar da memoria das pessoas seus
sofrimentos. Segundo ele, foi o pastor Jerônimo Onofre da Silveira (Templo dos
Anjos) quem o “ungiu” para “ministrar” as pessoas a tal unção. O modo de
aplicar a unção é a seguinte: um pano é colocado na cabeça (ocultando o rosto),
esborrifa-se agua no rosto e cabeça, e depois as “palavras mágicas” da “unção”
são ditas as pessoas. Após esse ato a pessoa, supostamente, não lembra mais
daquilo que a fazia sofrer. É como se ela sofresse um apagão na memória. Creio
que há razão de sobra para afirmarmos que tal procedimento não é bíblico nem
evangélico.
Em primeiro lugar, está à impetração da tal “unção” de uma
pessoa à outra. Não há nenhuma legitimidade, nem a chancela ou aprovação divina
nesse ato moderno. Na Bíblia temos, por exemplo, Moisés ungindo Arão e seus
filhos para o sacerdócio (Êxodo 28:41), Samuel ungindo a Davi como rei (I
Samuel 16:12), o profeta Elias ungindo Jeú como profeta em seu lugar (I Reis:
19:16). Mas em todos os casos a ordem para ungir e a autoridade concedidas aos
seus servos partiu do próprio Deus. No caso dos “apóstolos” atuais tudo não
passa de mero subjetivismo. Aliás, tais “apóstolos” são especialistas em
inventar unções: de Manassés, de Efraim, de Bezaliel, de Anagkazo...
Em segundo lugar, o entendimento de “ungido” ou unção no
Novo Testamento é diferente do Antigo Testamento. Não devemos esquecer que o
ambiente do Antigo Testamento ou o desenvolvimento histórico e revelacional de
Deus à humanidade estavam em progressão e expansão. Portanto, muitos
procedimentos teve seu cumprimento em Cristo. Ele é o detentor primacial dos três
ofícios – sacerdote, profeta e rei. É O Ungido de Deus (Atos 10:38). Em certo
sentido, também, todos os crentes são ungidos, conforme I João 2:27: “E a unção
que vós recebestes dele, fica em vós, e não tendes necessidade de que alguém
vos ensine; mas, como a sua unção vos ensina todas as coisas, e é verdadeira, e
não é mentira, como ela vos ensinou, assim nele permanecereis”. Mas esse texto
tem haver com nossas responsabilidades práticas, e não com algum tipo de revestimento
para operar sinais e prodígios.
Em terceiro lugar os nomes na Bíblia não devem ser
entendidos como poderes místicos com propriedades para abençoar ou amaldiçoar àqueles
a quem são dados. Tome o exemplo do nome Manassés. Após o Senhor engrandecer a
José no Egito, o agraciou com dois filhos: Manassés e Efraim (Gênesis 46:20). Ao
nascer o primogênito José disse: “Deus me fez esquecer de todo o meu trabalho,
e de toda a casa de meu pai” (Gênesis 41:51), portanto colocou o nome de
Manassés. O nome neste caso revela as circunstancias em que José foi submetido,
às suas amargas experiências. Não significa que José esqueceu os seus sofrimentos
no sentido de uma espécie de amnésia ou “apagão” de sua memória. Se fosse assim
teríamos que entender no próprio versículo citado que ele havia esquecido o que
outrora se passara com ele e não se lembrava mais de seus familiares. Isso é
um enorme absurdo. No decorrer da história observaremos que José se recorda de
todos os seus sofrimentos, sim. Mas agora, ao recordar, ele não sofre mais. Ele
possui paz e tranquilidade na alma – até mesmo para perdoar seus irmãos. Não
devemos dogmatizar sobre os significados dos nomes na Bíblia. O próprio José
recebeu um nome pagão (Zafenate-Panéia), contudo isso não o tornou um descrente
no Senhor Deus. Se tudo isso fosse verdade penso que os “apóstolos” deveriam
receber a unção de José e não de Manassés!
Por ultimo, ao observar detalhes da aplicação da “unção de
Manassés” pelo tal “apóstolo” às pessoas, tudo soa estranho, esquisito,
exótico. São práticas que se parecem mais com uma “macumbaria evangélica” do
que com a manifestação do poder de Deus para libertar os oprimidos. Trata-se de
libertação sem regeneração. Biblicamente deve ser o contrário ou simultâneo.
Pra mim os procedimentos são usos de técnicas humanas. Uma espécie de lavagem
cerebral ou quem sabe uma confissão positiva antecipada. Que o Senhor nos livre
destes “apóstolos” modernos.
No amor de Cristo,
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