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afirma que o Racionalismo, em filosofia,
é um sistema de pensamento que acentua o papel da razão na aquisição do
conhecimento. Opõe-se ao empirismo que ressalta o papel da experiência. Na
história da filosofia ocidental, o racionalismo identifica-se, sobretudo, com o
filósofo René Descartes. Os estudiosos debatem se há diferença entre
racionalismo e razão.
Diferenciar racionalismo
de racionalidade pode ser apenas uma questão de semântica. Porém, quando a
razão se torna o supremo juízo das questões ou é priorizada em demasia, pode se
tornar um fator delicado. Não se trata de acentuar o papel da razão na aquisição
do conhecimento, pois isso é normal. Em certa medida é cautelar e legítimo o
uso da razão. A fé cristã não dispensa o uso da razão na verificação dos fatos
históricos ocorridos ou em seus “mistérios” doutrinários. Até aqui tudo bem.
Contudo, quando há dilemas na doutrina bíblica nem sempre o uso da razão, elevado a um grau extremo, é uma
necessidade obrigatória. Por vezes temos que nos contentar simplesmente em não
saber como resolver os tais dilemas, pois o próprio Deus não o fez por nós. Por
exemplo: não há solução satisfatória quando o assunto doutrinário versa sobre a
soberania de Deus e o livre arbítrio humano; predestinação e a reprovação
divina; a onipotência de Deus e a realidade do mal, etc.
Todavia, quando há
dilemas teológicos não devemos fazer uso exacerbado da razão para tentar explicar
as aparentes discrepâncias. Há muitos dilemas teológicos que a própria
Escritura Sagrada não intenciona resolver. O texto de Deuteronômio 29:29 nos
alerta sobre essa questão: “As coisas encobertas pertencem ao Senhor, ao nosso
Deus, mas as reveladas pertencem a nós e aos nossos filhos para sempre, para
que sigamos todas as palavras desta lei”. Fazer da razão humana o supremo
tribunal do juízo não resolve a questão do dilema, e, por fim ilude o
proponente. Não temos respostas para muita questão doutrinária e/ou teológica,
mas devemos nos contentar com aquilo que a Bíblia nos ensina a respeito de
certos temas.
Há um sistema de
teologia que racionaliza sobre os assuntos elencados acima (arminianismo); há
outro que não tem a pretensão de resolver os aparentes dilemas doutrinários
(calvinismo). O sistema racional questiona: como pode o mal existir? Por que
Deus escolheria alguns para salvação, enquanto não escolhe outros? Deus não
seria injusto? Por que não posso [eu mesmo] escolher decidir Deus? Se estou seguramente
salvo posso viver pecar pecando? Por que evangelizar se Deus já predestinou pessoas
para a salvação? Por que Jesus morreria apenas por algumas pessoas? As
perguntas são muitas e diversas. Para todas elas o sistema racional exige coerência e harmonia.
A grande questão é que
há sempre uma explicação bíblica para todas as perguntas listadas acima, porém
ela não pretende satisfazer a curiosidade humana ou a razão humana. O bom
leitor e intérprete da Escritura Sagrada deve ter o saudável hábito de comparar
o texto (que está lendo ou estudando) com outros textos bíblicos. Os segredos
da Bíblia, que não estão revelados, devem permanecer assim, salvo se a própria
Bíblia interpretar os segredos. Não submeta as dificuldades da Escritura à sua
razão. Tal ato é parecido com o ateísmo evangélico. Deixe que o Espírito Santo
ilumine sua mente e quebre a barreira do entendimento: “Nós, porém, não
recebemos o espírito do mundo, mas o Espírito procedente de Deus, para que
entendamos as coisas que Deus nos tem dado gratuitamente” (1 Coríntios 2:12).
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