por Gilson Barbosa
A ordem do apóstolo Paulo para
que os irmãos efésios fossem cheios do
Espírito era muito pertinente (Efésios 5:18). A cidade de Éfeso estava
comprometida com a idolatria (Atos 19:24). Uma das sete maravilhas do mundo
antigo, o templo da deusa Diana, ficava nesta importante província romana da
Ásia (Atos 19:27). Seus cidadãos viviam uma vida moralmente desregrada e eram
indiferentes a respeito do conhecimento de Deus (Efésios 4:17-5:12). O
misticismo era praticado pelos efésios por meio de artes mágicas aprendido pela
leitura de livros esotéricos (Atos 19:19).
Os irmãos efésios, tanto judeus
quanto gentios, antes de receberem a Cristo como Salvador haviam vivido esse
tipo de vida idólatra, mística e autônoma (Efésios 2:1-3). Mas graças ao Senhor
foram alcançados pelo evangelho que liberta. Agora os efésios eram povo de
Deus, receberam a paz de Cristo e foram selados com o Espírito Santo da
promessa (Efésios 2:11-14; 1:13,14). Contudo, Paulo os exorta a crescerem em
santidade, isso porque a maneira de vida de um salvo em Cristo é oposto a uma
vida dissoluta de um não salvo (4:17-32).
Já que foram regenerados em
Cristo não deveriam se tornar insensatos, mas deviam procurar compreender qual
a vontade do Senhor. É neste contexto todo que Paulo ordena: “E não vos
embriagueis com vinho, no qual há dissolução, mas enchei-vos do Espírito”
(Efésios 5:18). Os estudiosos entendem a proibição de não se embriagar com vinho não como uma mera proibição da
embriaguez, mas trata-se de uma referencia a uma forma orgiástica de adoração,
tal como praticada no culto a Dioniso (Baco), o deus do vinho. O ritual a
Dioniso seguia vários estágios de embriaguez, tidos como incorporações da
divindade nos participantes, inspirando profecia, dança frenética e música
(Bíblia de Estudo de Genebra, p. 1407).
Os irmãos deveriam ser enchidos pelo Espírito Santo
continuamente durante toda a vida cristã. Não se trata de um enchimento
momentâneo ou súbito, resultado de manifestações carismáticas, principalmente
com os sinais das línguas estranhas, muito comum nos cultos pentecostais. Todos devem ser cheios do Espírito,
segundo a ordem de Paulo, e com certeza isso não é prerrogativa apenas de
irmãos pentecostais. Não se trata de você buscar o Espírito Santo para ser
cheio, mas na medida em que o crente se “despoja do velho homem e se reveste do
novo homem” (Efésios 4:22-24) o próprio
Espírito é que o domina completamente. Trata-se da ação do Espírito no homem
independentemente da denominação evangélica que pertence.
Infelizmente muitos crentes entendem
que a expressão “cheios do Espírito” refere-se apenas a alguém que profetiza,
fala em línguas, expulsa demônios, prega com eloquência ou que possui os dons
espirituais. Nada poderia estar mais equivocado do que esse tipo de pensamento.
São muitas pessoas hoje dia que realizam todas essas coisas, porém biblicamente
não são cheias do Espírito, pois praticam pecados como se fossem pessoas
carnais, ou seja, agem como pessoas não regeneradas. Você pode até negar isso,
mas é que está pensando em pecados como o adultério, roubo, corrupção,
assassinatos. Aí você me diz: “Alguém usado por Deus não comete estes
pecados!”. Então quero que você abra sua Bíblia e leia os pecados listados em
Efésios 4:25-5:12. A conclusão é a seguinte: Posso ser “poderoso” como quiser,
as pessoas podem até dizer que sou um homem de Deus, porém se cometo um só que
seja dos pecados listados nesses versículos definitivamente não sou cheio do
Espírito Santo. Isto tem a ver com santidade cristã.
Há passagens bíblicas onde os
irmãos receberam a presença dinâmica do Espírito e falaram línguas desconhecidas
(Atos 2:4; 8:14-17; 10:44-48; 19:1-7). Porém, foram casos sui generis e não podemos toma-los como padrão, e sim exceção.
Nenhum dos envolvidos nesses acontecimentos foi incentivado a buscar uma
experiência subsequente à salvação. Ela aconteceu porque fazia parte da
transição entre a experiência com o Espírito Santo na antiga aliança e a
experiência com o Espírito Santo na nova aliança (Wayne Grudem, T. Sistemática, p. 643).
Uma pessoa cheia do Espírito é
uma pessoa controlada pelo Espírito Santo. Suas ações são dependentes da
dinâmica do Espírito ajudando-o no serviço cristão. Os resultados de ser cheio
do Espírito Santo manifesta o poder do Espírito. Exemplos: Jesus recebeu poder
do Espírito para vencer as tentações de Satanás no deserto (Lucas 4:1); Isabel
foi cheia do Espírito e proferiu palavras de bênção à Maria (Lucas 1:42-45); os
discípulos receberam ousadia para pregarem com poder o evangelho (Atos 4:31);
Estêvão foi cheio do Espírito no momento em que estava padecendo como mártir e
teve uma visão do céu (Atos 7:55), etc.
Não podemos reivindicar
sermos cheios do Espírito e vivermos uma vida carnal ou não produzirmos o fruto
do Espírito. Deus não é Deus de confusão. O uso dos meios da graça (oração,
jejum, leitura da Bíblia, culto doméstico, adoração, santificação) não deve ser
um fim em si mesmo nem visar interesses pessoais. Ser cheio do Espírito é
revestir-se da nova natureza em Cristo. No contexto de Efésios 5:19-6:9 a
presença dinâmica do Espírito deveria produzir comunhão entre os irmãos (v.19),
gratidão e adoração ao Senhor (v.19, 20) e sujeição mútua (v.21), tanto entre marido
e mulher (v.22-33) como dos filhos aos pais (6:1-4) quanto entre patrão e
empregado (6:5-9).
Que o Senhor
nos dê graça para que tenhamos entendimento e equilíbrio. Do lado dos irmãos
tradicionais ou reformados deve haver mais liberdade ao Espírito e menos medo
da sua presença dinâmica. Do lado dos irmãos pentecostais deve-se se evitar a
má compreensão do que é ser cheio do Espírito e mais preocupação em seguir
fielmente as prescrições bíblicas no uso dos dons do Espírito. Que o Senhor nos
ajude.
No amor de
Cristo,
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