por Gilson Barbosa
A doença faz parte do sofrimento
humano e é um dos efeitos do pecado. A condição para que Adão não enfrentasse a
realidade da morte física era manter uma atitude de obediência. Uma vez que
desobedeceu a ordem divina de não se alimentar da árvore do conhecimento do bem
e do mal (a única proibição) o Senhor o puniu com a morte física (Genesis
3:19). O casal inicia o processo de degeneração física após o ato do pecado. O
Senhor havia dito que no dia em que desobedecesse suas ordens Adão certamente morreria (Genesis 2:17). Que
tipo de morte afetou Adão e Eva? Resposta: física e espiritual.
Se as doenças são consequências do
pecado original, contudo, não significa necessariamente que cada doença é
diretamente causada por um pecado pessoal. Ao ver um homem cego de nascença os
discípulos de Jesus perguntaram se fora seus pais ou ele próprio que havia
cometido algum pecado para que nascesse cego (João 9:1-7). A crença de muitos
judeus era que cada má sorte temporal era punição de Deus por algum pecado
específico (Bíblia de Estudo de Genebra, p. 1246). Jesus responde negativamente a pergunta dos
discípulos oferecendo uma terceira opção: foi assim para que se manifestassem
nele as obras de Deus.
Há porem sofrimentos, mortes e
doenças, que são provações ordenadas por Deus para punição e correção de certos
pecados específico. O apóstolo Paulo alertou os irmãos da Igreja de Corinto a
não participarem da Ceia do Senhor (ou dos Sacramentos) de maneira indigna sem
discernir o corpo do Senhor; não se trata do corpo físico do Senhor Jesus, e
sim, seu corpo místico – a Igreja. Quem não discerne o corpo, diz Paulo, come e
bebe sob juízo para si. Discernir o corpo, no contexto da igreja de Corinto,
refere-se à falha dos irmãos em não manter a unidade da Igreja como corpo de
Cristo. O apóstolo Paulo continua dizendo que essa quebra da unidade fraternal
causaria (ou já estava causando) nos irmãos a morte, fraquezas e doenças (I
Coríntios 11:28-32). A Igreja de Corinto, em virtude de pecados não tratados,
tinha pessoas fracas, doentes, e algumas que haviam morrido (Comentário de I Coríntios, Hernandes
Lopes).
Por sua vez o movimento
neopentecostal afirma que toda a doença é fruto da ação direta de Satanás. Deus
e o Diabo travam uma batalha espiritual intensa. É uma luta cósmica entre o bem
e o mal. Para eles a dor, o sofrimento, a doença, a morte, são sempre vistos nessa perspectiva. Há duas
justificativas básicas para esse tipo de ensino: 1º) a enfermidade não existe
no mundo bom de Deus; seus sintomas são apenas uma sugestão enganosa de
Satanás, e precisa ser rejeitada firmemente pela fé; 2º) todas as enfermidades
são consequência do pecado e, por isso, não podem atingir aquele que crê no
sacrifício expiador de Cristo, que já pagou pelos seus pecados (Revista Palavra
Viva, p. 44).
Em primeiro lugar, negar
a realidade do sofrimento, doença e morte na vida daqueles que servem ao Senhor
é um engano satânico. Mary Baker Eddy, fundadora da seita Ciência Cristã,
escreveu o livro Ciência e Saúde onde
uma das suas teorias é negar a realidade do sofrimento, pecado, doenças e
morte. Para ela a matéria não existe, é má, e Deus não a criou. Se alguém está
doente, segundo a Ciência Cristã, pode mudar essa realidade por meio do
pensamento positivo. Muitos líderes do Movimento Neopentecostal adota a ideia
de que seus adeptos devem negar até mesmo os sintomas físicos das doenças. Quantas
vidas poderiam ser poupadas se procurassem a medicina, o tratamento de saúde, e
não confiassem em doutrinas heréticas pregadas pelos falsos mestres.
O fato é que mesmo sendo um fiel
servo do Senhor não estamos imunes às doenças e sofrimentos. O apóstolo Paulo
tinha um companheiro de trabalho missionário muito dedicado à obra do Senhor. O
nome dele era Epafrodito. Tinha vindo à Roma, enviado pela igreja filipense, para
estar com Paulo na prisão e supri-lo em suas necessidades. Ocorre que ele
adoeceu mortalmente, chegou às portes da morte, mas o Senhor teve misericórdia
dele e restabeleceu sua saúde (Filipenses 2:25-30). Em algumas ocasiões Deus
até mesmo não nos livra do sofrimento. Tendo em vista sua soberania devemos nos
submeter a sua vontade, sabendo que deve ter um propósito maior em sua
negativa. O Senhor não ouviu a solicitação de Paulo e disse que a graça Dele lhe
bastava, pois Seu poder se aperfeiçoa na fraqueza. Paulo não declarou,
decretou, murmurou, blasfemou contra o Senhor, mas via seus sofrimentos como
razão para regozijar-se (II Coríntios 12:7-10). Concluindo: a doença e o
sofrimento existem realmente no mundo bom de Deus, ainda que não aceitemos sua
realidade.
Em segundo lugar, conforme
mencionei acima ainda que a doença seja uma das consequências do pecado nem toda
a doença na vida de alguém é resultado de um pecado pessoal. Qual era o pecado específico
e pontual na vida de Epafrodito ou de Paulo? Nenhum, todavia eles adoeceram e
sofreram na causa do Evangelho. Isso desfaz o segundo erro dos neopentecostais quando
dizem que a morte de Cristo na cruz também teve como objetivo alcançar a cura
física. Eles citam os textos bíblicos de Isaías 53:4 e I Pedro 2: 24 como
respaldo de suas doutrinas.
Porém, o contexto tanto de Isaías
53:4 e I Pedro 2:24 não está tratando da cura física, e sim espiritual. As
referencias de Isaías ao Messias tomando sobre si as nossas enfermidades e as
nossas dores não devem ser interpretadas literalmente; feridas, contusões e
chagas inflamadas são figuras de linguagem do profeta para se referir ao estado
lamentável de Judá, após ser castigado pelo Senhor pela desobediência, sem chegar
ao arrependimento (Revista Palavra Viva, p. 44).
Note que a citação de Isaías é o
texto original, já Mateus 8:17 e I Pedro 2:24 são meras citações de Isaías.
Significa que devem ser entendidos conjuntamente sendo que a citação do profeta
deve ter prioridade. O escritor Mateus afirma que no momento em que Jesus
curava os que estavam doentes ou expulsava os demônios se cumpria o que fora
dito por intermédio do profeta Isaías (isto é, antes de morrer na cruz para
expiar nossos pecados). Com isso não estou dizendo ou negando que segundo a sua
soberania e providencia o Senhor não cure ou liberte os endemoninhados nos dias
de hoje (Tiago 5:14).
Também não precisamos ver a medicina
como algo ruim e que serve apenas para pessoas que não tem fé para ser curado
por meio da oração. A medicina é uma bênção de Deus e podemos alcançar a cura
por meio dela. Não é errado lançarmos mão da medicina para sermos curados
enquanto oramos pedindo ao Senhor que nos cure (Isaías 20:5-7).
Muitas doenças podem também ser resultados
da negligencia com os exercícios físicos, descuido com a alimentação saudável,
uso de drogas, bebidas, fumo, etc. Crentes que repudiam a ingestão de bebidas
alcoólicas, por exemplo, mas que abusam da carne gordurosa ou frituras, são hipócritas nas suas avaliações. Não é exagero querer ter boa
saúde (III João 2). Temos a obrigação de sermos mordomos da nossa saúde (Mateus
25:14-29).
Em Cristo,
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