terça-feira, 14 de outubro de 2014

A REFORMA E OS REFORMADORES (31 DE OUTUBRO - DIA DA REFORMA PROTESTANTE)

Protestant ReformersA intenção inicial dos reformadores não era romper os laços com a Igreja Católica, mas purificar a Igreja da corrupção teológica, doutrinária, administrativa e espiritual. Eles se indignaram com o abuso papal na teologia e na prática. Os papas se tornaram imorais e baratearam a graça de Deus ao comercializá-la através de um complexo sistema de penitencias. O papa reivindicava autoridade apostólica como cabeça da igreja de Cristo. A Escritura tornou-se escrava dos concílios, dos bispos e dos eruditos; sua leitura foi retida aos leigos. Os vocacionados para o caminho da espiritualidade (monges e freiras) eram considerados superiores espiritualmente aos que possuíam vocação secular. A mediação com Deus podia ser feita por meio de Maria e pela intercessão dos santos. As obras possuíam valor salvífico.

Foi contra essa corrupção moral, prática, teológica, doutrinária e eclesiástica que os reformadores se indignaram. No entanto, o sentimento de indignação não começa com Lutero. Movimentos religiosos populares como os lollardos na Inglaterra, os hussitas na Boêmia, os valdenses e os franciscanos espirituais na Itália e França, e homens interessados pela pureza da igreja como John Wycliffe, John Huss, Pedro Valdo, e outros, ansiavam por uma reforma na Igreja Católica - o que não aconteceu e jamais aconteceria. Apenas nesse sentido é que podemos dizer que a Reforma Protestante não aconteceu historicamente. Obviamente, todos os opositores da Igreja Católica de Roma foram "convidados" a se retirar do meio da mesma. A Igreja de Roma definitivamente se afundou na lama da corrupção. Em outras palavras a Igreja de Roma, por meio de sua liderança, não queria se reformar em nada. 

Penso eu que o Senhor Deus, no tempo certo e com a pessoa ideal (Martinho Lutero) estabeleceu o momento em que de fato a cisão ocorreria na Igreja de Roma e a oportunidade de retorno aos padrões da igreja primitiva seria algo concreto. Porém, os reformadores, apesar de todo o labor literário, cometeram equívocos exegéticos e teológicos/doutrinários. Mas isso demonstra a busca por uma interpretação fiel da Escritura. A reforma religiosa não está terminada, concluída, completa. Não devemos esquecer do lema: “Ecclesia reformata, semper reformanda” (igreja reformada, sempre se reformando). Isso não justifica todo o tipo de interpretação bíblica ou movimentos de despertamento espiritual. Mas entende que toda a prática da vida cristã deve ser colocada à luz da Escritura. 

Os reformadores também não eram homens perfeitos. Como todos nós, eles possuíam a natureza humana maculada pela transgressão adâmica. Por isso eles também disseram e fizeram coisas que certamente desagrada a Deus. Lutero nutria aversão muito forte contra os judeus. Calvino pediu a pena de morte para Serveto - ele foi queimado numa estaca, por heresia. Muitos deles se envolveram em guerras, revoltas, e consequentemente em mortes e assassinatos. Há quem prefere não tê-los como expoente legítimo de tratados doutrinários por causa de suas atitudes comprometedoras a fé cristã.   

Porém, busco ver a mão de Deus agindo na história humana por meio de instrumentos fracos, rudes, grosseiros. Se olharmos brevemente nas escrituras sagradas veremos que:

- Noé bebeu do vinho que produzia, embriagou-se e ficou nu dentro da sua tenda; mas o Senhor o tinha como homem justo, íntegro entre o povo da sua época.

- Ló, também embriagado, teve relações com suas duas filhas, e elas engravidaram dele; mas o apóstolo Pedro o chama de justo.

- Moisés matou um egípcio e o escondeu na areia; mas é tido como um dos maiores nomes da história do povo de Deus.

- Davi adulterou, traiu, matou, etc; mas é chamado na Bíblia de “o homem segundo o coração de Deus”.

- Salomão também cometeu assassinato, caiu na idolatria, foi seduzido pelas riquezas e luxuria, explorou pessoas na construção do Templo; mas sua sabedoria ficou registrada nas páginas das escrituras sagradas e fazemos uso dos seus provérbios para a prática de vida.

- Neemias diante da mistura nos casamentos (entre os judeus e mulheres de Moabe, Asdode e Amom) irritou-se chegando ao ponto de bater e arrancar os cabelos de alguns judeus; mas foi instrumento de Deus na reconstrução do Templo.

- Balaão era um falso profeta, um adivinho, mas sua boca foi usada por Deus para proferir palavras proféticas verdadeiras – até mesmo a respeito da vinda do Messias.

- Pedro, o discípulo sanguíneo, quase degolou um dos soldados que fora prender Jesus; por dissimulação foi repreendido por Paulo; mas Jesus o escolheu para apascentar as Suas ovelhas.


Não é que essas pessoas são justificadas de seus erros por serem instrumentos de Deus; mas apesar de seus pecados o Senhor Soberano as usou para seu propósito. Até mesmo Ciro, o rei persa e pagão, foi canal da ação de Deus para libertar os judeus do império babilônico.

As pessoas pendem ou para repudiar os reformadores ou para idolatrá-los. Já eu não sofro nem da luterofobia, nem da luterolatria; não sofro nem da calvinofobia, nem da calvinolatria. Como Calvino afirmou: “toda a verdade é verdade de Deus”. Mesmo um herege, “pode” dizer a verdade de Deus. Até mesmo Satanás falou a verdade quando afirmou que Paulo e Silas eram servos do Deus Altíssimo. Porém, isso não diviniza pessoas ou entidades. O fato dos reformadores serem supervalorizados pelos evangélicos em geral não nos deve cegar para a importância que tiveram como “instrumentos de Deus”.


Com amor, 

 
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3 comentários:

  1. Excelente síntese Gilson estarei recomendando com toda certeza...
    Abraços

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  2. Olá amado irmão Orlando! Obrigado por acessar o blog e recomendar as demais pessoas.
    Grande abraço.

    E-mail: gb-barbosa@hotmail.com

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