Numa conversa com dois jovens missionários mórmons
analisei que para autenticar sua Igreja como detentora do verdadeiro
cristianismo, mencionam sempre dois elementos principais: a perseguição e
restauração do cristianismo. Disseram que nenhum movimento religioso foi, e é
tão perseguido quanto o seu e que todas as denominações se apostataram da fé
cristã, portanto, se julgam os que irão promover a restauração do cristianismo verdadeiro. Para eles estes dois
elementos validam a fé mórmon.
Mas na verdade os elementos mencionados não servem como
instrumento aferidor da verdade cristã no mormonismo. Primeiro, porque na
história da igreja cristã sempre houve
e haverá perseguição; segundo que outros grupos sectários, tais como
Adventistas do Sétimo Dia e Testemunhas de Jeová, também reivindicam os mesmos
elementos como validação. Simplesmente esse teste não é obrigatoriamente
necessário e quase sempre é usado com intenção espúria. Muitos grupos
religiosos contrários ao cristianismo de alguma forma usam o elemento da
perseguição também. Na verdade algumas pessoas, por si só, possuem a “mania de
perseguição”. Mas geralmente as mesmas possuem dilemas psicossociais. Nestes
casos, quase sempre “os perseguidos” são as vítimas e não os causadores de
algum transtorno social.
Os adventistas afirmaram no passado que o papado e os
Estados Unidos (representantes da Besta - Apocalipse 13) se uniriam para impor
às nações a estrita observância do domingo. Declararam o seguinte: “Sendo a
primeira besta o Papado e a segunda, os Estados Unidos, este verso quer dizer
que os Estados Unidos vão obrigar o povo a adorar o Papado. Unicamente
obrigando o povo a guardar o domingo podem os Estados Unidos fazê-lo adorar o
Papado, pois o domingo existe como dia santo por autoridade deste” (O Sinal da Besta e as Sete Pragas do
Apocalipse. Denilson Fonseca de Carvalho, CPB). Estavam dizendo que no
futuro distante os adventistas seriam perseguidos por guardarem o sábado.
Os mórmons se dizem perseguidos desde o início da
fundação de sua Igreja. O que não dizem, abertamente, é que um dos motivos da
“perseguição” foi a prática da poligamia. Segundo afirmação de um artigo
sobre o assunto “Joseph Smith disse que essa seria a doutrina que testaria a fé
dos Mórmons acima de qualquer outra doutrina” (Leia aqui).
Sabemos que entre o povo de Deus esta prática de fato existiu no passado, mas
apenas retrata a decisão humana arbitrária e é fato que sempre trouxe
transtornos às famílias. Contudo, no período da igreja cristã primitiva ela não
existia, pois fora abolida centenas de anos antes. Deus não prescreveu tal
prática como mandamento e a tolerou como ações de homens pecadores. Como uma
igreja pode reclamar ser verdadeira tendo como base uma perseguição motivada
por uma “doutrina” repudiada pelas escrituras sagradas?
Mas, a perseguição como instrumento autenticador da fé
verdadeira não é uma característica apenas das seitas. Grupos evangélicos
também possuem a mesma ideia – mormente seus líderes. Concordo que a verdadeira
fé pode atrair perseguição, mas a perseguição não necessariamente serve para
validar todo e qualquer tipo de fé.
Quem não se lembra o
episódio ocorrido em 9 de janeiro de 2007 onde o “apóstolo” Estevam Hernandez e
sua esposa (Sônia Hernandez) foram detidos em um aeroporto de Miami por “estarem
carregando U$ 56 mil escondidos em meio a bíblias e terem declarado a alfândega
que não carregavam mais de U$10 mil”? (Leia aqui). Foram declarados culpados pela justiça
americana e sentenciados a uma pena de 140 dias de reclusão em regime fechado “em
fases intercaladas pelo motivo de um dos dois ter que cuidar dos filhos durante
a ausência do outro”.
Qual foi a justificativa aos fiéis da denominação?
Perseguição religiosa – neste caso da Rede Globo. Outro apóstolo - Valdomiro
Santiago - afirmou que estava sendo perseguido pela Receita Federal. Silas
Malafaia ‘”de vez em sempre” acusa governos e partidos políticos de
perseguição religiosa. Os evangélicos, de maneira geral, espalham teorias conspiratórias
excêntricas. O pastor Ricardo Gondim escreveu um artigo muito interessante
sobre este assunto (Leia aqui).
Não estou
negando que houve ou que não haverá perseguição contra os servos de Cristo. O
apóstolo Paulo informou que “De fato, todas as pessoas que almejam viver
piedosamente em Cristo Jesus serão perseguidas” (II Timóteo 3:12). Jesus disse
aos seus discípulos: “Recordai-vos das palavras que Eu vos disse: ‘nenhum
escravo é maior do que o seu senhor’. Se me perseguiram, também vos
perseguirão. Se obedeceram à minha Palavra, igualmente obedecerão à vossa
orientação” (João 15:20). No Sermão do Monte Jesus ensinou que é bem-aventurado
“os que sofrem perseguição por causa da justiça” (Mateus 5:10-12). Disse também
que seríamos odiados de todos por causa do seu nome (Mateus 10:22-25). A
história cristã primitiva testemunha a perseguição dos judeus, gentios,
governantes, religiosos, etc, a igreja nascente. Mas, não devemos comparar com
os motivos elencados pelos líderes de seitas e igrejas evangélicas da
atualidade. O sentido não é o mesmo.
Não
adianta invocar certos elementos de autenticação quando os fundamentos do
cristianismo primitivo estão ou são falsificados. O que valida o cristianismo
verdadeiro é a conformidade de sua pregação com os ensinamentos de Jesus e seus
apóstolos, conforme Efésios 2:20: “edificados sobre o fundamento dos apóstolos
e dos profetas, sendo o próprio Cristo Jesus a principal pedra angular desse
alicerce”.
No amor
de Cristo,
Devido ao isolamento e a obsessão por se diferenciarem, as seitas costumam ir desenvolvendo excentricidades ao longo do tempo, até chegarem a exageros e fanatismos. Convido a conhecerem meu canal no Youtube, “O que é uma Seita”, onde estou desenvolvendo vídeos didáticos que procuram explicar este assunto. Abraços! https://www.youtube.com/channel/UCisnj-7zBRYe5E-Ze_Oj96Q
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