Tudo na vida deve ser pautado
pelo equilíbrio. Parece tão fácil dizer isso, mas na prática quase sempre nos
inclinamos a pender para um lado ou outro de forma impensada e até mesmo
irresponsável. Na fé cristã também devemos manter o mesmo entendimento. Nos últimos
tempos percebemos a tendência dos crentes de desprezarem todo o conselho das escrituras sagradas nos diversos temas do
cristianismo passando a fundamentar a fé evangélica somente nas experiências espirituais.
Isso não é tratado de forma
diferente no entendimento sobre certo tipo de batalha espiritual que enfrentamos. As experiências pessoais têm
pautado e fundamentado o tema. Não devemos agir assim, mas analisar o que a
Bíblia ensina sobre esse assunto.
Encontramos respaldo bíblico para
esse assunto em Efésios 6:10-18. Há sim, principados e potestades malignas que
lutam contra o povo de Deus. O apóstolo Paulo informa os efésios que os crentes
em geral estão numa luta renhida contra esses principados e potestades (Ef 6:12).
Não é diferente também no mundo espiritual. A Bíblia descreve a luta
cósmica entre o arcanjo Miguel contra Satanás e suas hostes malignas em
Apocalipse 12:7-12. Segundo alguns estudiosos esse fato aconteceu por ocasião
da morte e ressurreição de Cristo.
Alguns crentes que caíram em
pecado afirmam que pecaram somente devido
à atuação maligna em sua vida. Entretanto, Satanás não coage os crentes a
pecarem à força, mas usa a sedução como arma. Tanto que ser tentado não se
configura em pecado. Todos nós somos tentados pelo Diabo. Ele possui ciladas e
estratégias. A orientação paulina é que não devemos dar lugar, ou ceder às tentativas
do nosso adversário. O apóstolo Pedro disse que ele “anda em derredor, como
leão que ruge procurando alguém para devorar” (I Pe 5:8).
Ao lermos as escrituras sagradas
devemos ter o cuidado para não fazermos de casos isolados um padrão para a toda
a experiência espiritual. Quero dizer com isso que para muitos crentes todo o
mal que acontece é proveniente das forças espirituais do mal. Tudo o que
acontece de mal é “culpa” do Diabo. Por exemplo: é verdade que certas
enfermidades podem ter como fonte a atuação maligna. O evangelista Lucas
informa que Jesus curou uma mulher que “estava possessa de um espírito de
enfermidade, havia já dezoito anos; andava ela encurvada, sem de modo algum
poder endireitar-se” (Lc 13:11). Indagado pelo chefe que era dia de sábado a
efetuação da cura, Jesus respondeu: “Por que motivo não se devia livrar deste
cativeiro, em dia de sábado, esta filha de Abraão, a quem Satanás trazia presa
há dezoito anos?” (Lc 13:16). Podemos depreender desse fato que todas as
enfermidades são resultados de ação diabólica? Não, não podemos.
Outro caso é a confusão em
associar obras da carne com influencias espirituais malignas na vida do crente.
Os proponentes da batalha espiritual ensinam que adultério, imoralidade,
prostituição, roubos, e todos os tipos de pecados são efeitos de espíritos
malignos alojados na vida de pessoas. Mas o ensino bíblico é que esses pecados
são obras da carne e não atuações diretas de demônios. O apóstolo Paulo afirma
que “as obras da carne são conhecidas e são: prostituição, impureza, lascívia,
idolatria, feitiçarias, inimizades, porfias, ciúmes, iras, discórdias,
dissensões, facções, invejas, bebedices, glutonarias e coisas semelhantes a
estas” (Gl 5:19-21). Dizem mais, se determinado crente possui certas fraquezas
em algumas áreas de sua vida ele precisa expulsar esses espíritos por meio de “declaração
ou ordem profética”. Por isso é muito comum em certos cultos ouvir pregadores
expulsando o “espírito da mentira, do adultério, da frieza, etc”. Na verdade
deveriam advertir os pecadores ao arrependimento de seus pecados. As pessoas
precisam de regeneração que resultará simultaneamente em libertação e não o
oposto. Nesse sentido sou contrário aos “cultos de libertação” que acontecem em
algumas igrejas evangélicas.
Há até mesmo orações ordenando
que demônios deixem de agir em certas ruas, bairros, cidades, etc – esses demônios
são denominados de “espíritos territoriais”. Que certos demônios atuem
diretamente em ruas, bairros, cidades ou nas instituições como a política,
educação, cultura ou governo induzido pessoas a corrupção, crime, violência,
drogas, sexo, é apenas um entendimento isolado de certas passagens bíblicas. Satanás não age em coisas, mas sim em pessoas. O
apóstolo Paulo informa os crentes efésios que outrora todos nós andávamos “segundo
as inclinações da nossa carne, fazendo a vontade da carne e dos pensamentos; e
éramos, por natureza, filhos da ira, como também os demais” (Ef 2:3). O padrão
de pecar é que pecamos por conta da nossa própria natureza adâmica, inclinada
ao pecado. O Diabo apenas nos tenta. É verdade que em certo sentido ele
controla este mundo (I Jo 5:19), mas é limitado pela soberania e poder de Deus (Jó
2:6) e não detém o poder da morte eterna: “Visto, pois, que os filhos têm
participação comum de carne e sangue, destes também ele, igualmente, participou,
para que, por sua morte, destruísse aquele que tem o poder da morte, a saber, o
diabo” (Hb 2:14).
O ser humano não pode fugir da
sua responsabilidade ao atribuir todo o acontecimento ruim em sua vida ou no
mundo a atuação direta do Diabo e seus anjos. Existem acontecimentos ruins em
nossa vida que são frutos do nosso próprio pecado, condutas e escolhas (mal
moral). Outros “podem” ter a ação direta do Diabo em “algumas” ocasiões (males
circunstanciais). A regra é não ultrapassar o limite imposto pelas escrituras
sagradas (I Co 4:6). O que preciso que você entenda é que tudo o que podemos
saber sobre principados e potestades do mal e da atuação do Diabo no mundo deve
ser proveniente da Bíblia e não de experiências pessoais.
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