quinta-feira, 22 de setembro de 2011

CORRENTES DA ESCATOLOGIA PROTESTANTE (Subsidio EBD)

Por Elias Medeiros
Nós, evangélicos protestantes, cremos que a Bíblia responde às questões básicas levantadas em todas as épocas e em todos os lugares. Entretanto, a questão que está sempre presente na mente e no coração de todos os seres humanos é a questão relacionada com o futuro. “O passado a gente conta, o presente a gente curte, e o futuro a gente tenta adivinhar”. Esta parece ser a filosofia da maioria das pessoas e de várias religiões.
Historicamente falando, a igreja protestante tem passado por épocas nas quais pode-se detectar a falta de um balanço escatológico. Algumas vezes, a igreja se mostrava tão apegada ao presente, que dava pouca atenção ao futuro. Outras, a igreja se apegava tanto ao passado, que chegava a esquecer de sua relevância para o presente e de seu destino futuro.
A história da escatologia cristã em geral reflete essa batalha entre o passado, o presente e o futuro. Vários teólogos evangélicos protestantes têm escrito sobre o assunto. A história da igreja tem revelado que, durante os primeiros cinco séculos, os cristãos não se preocupavam muito em desenvolver uma doutrina escatológica. É bom ressaltar, entretanto, que a ausência de um dogma sistematicamente formulado nunca significou a ausência de crenças e esperanças escatológicas. Pelo contrário, durante os primeiros cinco séculos os cristãos criam na vida após a morte, na segunda vinda do Senhor Jesus, na ressurreição dos mortos, no julgamento final, em tribulações e na criação de um novo céu e de uma nova terra. Mas a escatologia, como doutrina sistematizada, tal qual nós a temos hoje, não foi desenvolvida durante aquele período. Basta lermos o credo apostólico para percebermos essas crenças, porém sem um desenvolvimento cronológico ou sistemático da doutrina.
Mesmo durante a Idade Média, até o início da Reforma Protestante, os cristãos daquela época também criam nesses ensinos, mas havia “pouca reflexão sobre a maneira pela qual” os fatos se desenvolveriam, especialmente sobre o aspecto cronológico da escatologia bíblica.
Já os reformadores protestantes sem dúvida refletiram mais sobre a questão escatológica. Em parte, foram motivados pela disputa teológica com a Igreja Católica, que ensinava o purgatório, por exemplo. Os teólogos reformados, portanto, fizeram muita ligação entre a escatologia, a soteriologia (a glorificação dos salvos) e a eclesiologia (a igreja triufante etc).
Na atualidade, o racionalismo, o evolucionismo, o existencialismo, juntamente com o liberalismo teológico, provocaram uma reflexão mais profunda por parte dos protestantes ortodoxos, já que todos aqueles ismos atacavam todo tipo de ensino sobre a certeza de alguma realidade futura. Berkhof e outros protestantes reformados reconheciam que o liberalismo teológico ignorava totalmente os ensinos escatológicos do próprio Jesus Cristo, colocando toda a ênfase simplesmente nos preceitos éticos do Senhor. O racionalismo, o evolucionismo e o existencialismo filosófico, por sua vez, desconsideram qualquer ensino escatológico: na melhor das hipóteses, a escatologia bíblica não passa de uma utopia mitológica.
Os protestantes evangélicos, entretanto, baseados no ensino da Palavra de Deus, crêem na vida após a morte, na segunda vinda do Senhor Jesus, na ressurreição dos mortos, no julgamento final, na criação de um novo céu e de uma nova terra. Em outras palavras, os protestantes conservam as mesmas crenças que os demais cristãos que aceitam as Escrituras Sagradas como única e última regra infalível de fé e prática. Mas o fato de crerem nessas doutrinas não significa que todos os protestantes as aceitem do mesmo modo, em relação à forma como elas se cumprirão. Assim, há uma variada divergência hermenêutica no meio protestante, com pelo menos três escolas de interpretação: aminelista, posmilenista e premilenista.
Os amilenistas como L.Berkhof, O.T.Allis, G.C.Berkhouwer e outros crêem que as Escrituras Sagradas não fazem nenhuma distinção cronológica entre a segunda vinda de Cristo, o arrebatamento da igreja, e a participação do crente no novo céu e na nova terra. Para os amilenistas haverá apenas uma ressurreição geral dos crentes e dos incrédulos, a qual ocorrerá durante a segunda vinda de Cristo. O julgamento final será para todos os povos. A tribulação é algo que experimentamos na presente era. O milênio referido nas Escrituras (Apocalipse 20) não significa um milênio literal, pois o reino de Deus, inaugurado visivelmente com a primeira vinda do Senhor Jesus, continua espiritualmente presente, embora invisível (invisibilidade não é sinônimo de inexistência), e será consumado com a segunda vinda visível do Rei da Glória. Entramos neste reino pela fé (João 3). Para os amilenistas as Escrituras não fazem distinção entre a igreja no Velho Testamento (Israel)e a igreja do Novo Testamento ("o novo Israel", composta de circuncisos e incircuncisos).
Os posmilenistas, como Charles Hodge, B.B.Warfield, W.G.T. Shedd, e A.H.Strong, crêem que a segunda vinda de Cristo ocorrerá após o milênio (não literal). A era presente se misturará com o milênio de acordo com o progresso do evangelho no mundo. Em geral, os posmilenistas assumem a mesma postura amilenista com relação ao ensino da ressurreição, do julgamento final, da tribulação e da posição sobre Israel e igreja.
Os premilenistas se dividem em dois grupos principais: os premilenistas históricos (como G.E.Ladd, A.Reese e M.J.Erickson) e os premilenistas dispensacionalistas (como L.S.Chafer, J.D.Pentecost, C.C.Ryrie, J.F.Walvoord e Scofield).
Os premilenistas históricos crêem que a segunda vinda de Cristo para reinar nesta terra e o arrebatamento da igreja acontecerão simultaneamente; haverá a ressurreição dos salvos no início do milênio (a primeira ressurreição) e a ressurreição dos incrédulos no final do milênio. O milênio, entretanto, na posição premilenista histórica, é tanto presente como futuro. No presente, Cristo reina nos céus. No futuro, Cristo reinará na terra, embora os premilenistas históricos em geral não considerem o período da tribulação e façam uma certa distinção entre Israel e igreja (o Israel espiritual).
Os premilenistas dispensacionalistas ensinam que a segunda vinda do Senhor Jesus acontecerá em duas fases: na primeira, o Senhor Jesus se encontrará com a igreja nos ares, levará os salvos para participar das bodas do Cordeiro nas regiões celestiais; e, após sete anos de tribulação na terra sem a presença da igreja, regressará com ela para reinar neste mundo por mil anos. Eles fazem uma distinção entre a ressurreição para a igreja, na ocasião do arrebatamento, a ressurreição para aqueles que virão a crer durante a tribulação de sete anos (ressurreição esta que ocorrerá na segunda vinda do Senhor, no final da tribulação) e a ressurreição dos incrédulos no final do milênio.
Os premilenistas dispensacionalistas fazem, também, uma distinção entre o julgamento dos crentes após o arrebatamento, o julgamento de judeus e gentios convertidos no final da tribulação de sete anos e o julgamento dos incrédulos no final do milênio. Sem dúvida, para os membros desta escola de interpretação, os sete anos de tribulação será literal, mas a igreja neo-testamentária será arrebatada antes dessa tribulação. O milênio será inaugurado e estabelecido com a segunda vinda do Senhor Jesus, após a tribulação e durará, literalmente, 1.000 anos. Sem dúvida, esta posição distingue completamente Israel e igreja.
De todas essas perspectivas protestantes, a meu ver, a que mais se coaduna com a exegese bíblica é a posição amilenista. Pessoalmente creio que esta posição é a mais condizente com o ensino dos profetas, do Senhor Jesus e dos apóstolos, tanto hermenêutica quanto exegeticamente falando (Mateus 24-25).
Se o leitor estudar com mais afinco essas posições escatológicas, poderá perceber suas implicações imediatas no que tange à evangelização mundial e ao envolvimento da igreja nas questões sociais e políticas de nossa era. A posição escatológica mais fraca, em termos hermenêuticos e exegéticos, é a posição premilenista, devido à sua grade cronológica pré-estabelecida. Os premilenistas, em geral, começam com um quadro cronológico pré-estabelecido e passam a fazer uma “cirurgia textual” nas Escrituras, de acordo com o quadro já pré-desenhado por eles.
FONTE: Revista Ultimato.

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