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Antigamente eu ficava surpreso e
escandalizado com as heresias que iam surgindo no meio evangélico, hoje não
mais. As características naturais de algumas igrejas facilitam a fabricação ou
produção de heresias. São potenciais produtoras de distorções doutrinárias.
Apesar de todas as igrejas, em certo sentido, estarem vulneráveis as heresias,
a meu ver, o movimento neopentecostal e o pentecostalismo (um tanto mais
distante) são suscetíveis a se conformarem com as distorções teológicas ou
doutrinárias.
O movimento pentecostal clássico
(especialmente as Assembleias de Deus mais tradicionais) só não se lança de vez
em distorções doutrinárias e teológicas por causa de alguns líderes que ainda
valorizam a apologética e a teologia sadia – essas duas disciplinas estão
contidas na Santa Escritura. São homens e mulheres que temem ao Senhor e sabem
fazer uso adequado da hermenêutica sagrada. Ainda que seja incrível, esses
líderes encontram oposição dentro da própria denominação, mas continuam firmes
na aplicação da exegese bíblica. Que o Senhor seja louvado por isso.
Já o movimento neopentecostal não
possui nenhum freio doutrinário, pois seus próprios líderes não se preocupam com
a teologia nem dão a devida atenção à exegese dos textos bíblicos. A mais
recente heresia no cenário neopentecostal brasileiro é a transferência de poder às gerações. O "ato profético" aconteceu por ocasião do 15º Congresso Internacional de Adoração e Intercessão - promovido pelo Ministério de Louvor Diante do Trono. Refere-se ao ato de transmitir
ou passar o poder espiritual (ou unção) de determinadas pessoas, a outras pessoas
nascidas em períodos históricos diferentes. Trata-se de uma transferência virtual.
Por si só isso já é muita pretensão. Essa heresia é uma distorção de, pelos
menos, dois pensamentos bíblicos. Vamos lá então.
Transmissão real e não transferência virtual
Em primeiro lugar, a
Bíblia não menciona nenhuma experiência como transferência mística de poderes espirituais. Não existe tal transferência.
Mesmo o pentecostalismo clássico, entende que o recebimento de poder (como no
dia de Pentecoste) não é uma transferência virtual ou subjetiva do mesmo e que
pode ser passada a outra geração, mas, uma busca individual e constante pelo
poder do alto.
Ao contrário disso, a Bíblia incentiva os pais a transmitirem a seus filhos, ou as futuras gerações, o conhecimento a respeito do Senhor bem como dos seus atos poderosos de forma real por meio da prática de ensinamentos. Então biblicamente temos uma transmissão e não transferência. Esta transmissão não diz a respeito às habilidades naturais ou espirituais de quem quer que seja, mas refere-se aos atos poderosos do próprio Deus.
Ao contrário disso, a Bíblia incentiva os pais a transmitirem a seus filhos, ou as futuras gerações, o conhecimento a respeito do Senhor bem como dos seus atos poderosos de forma real por meio da prática de ensinamentos. Então biblicamente temos uma transmissão e não transferência. Esta transmissão não diz a respeito às habilidades naturais ou espirituais de quem quer que seja, mas refere-se aos atos poderosos do próprio Deus.
Podemos comprovar isso
biblicamente, por exemplo, na instituição da Páscoa. Para que o Senhor não
ferisse com morte os primogênitos dos hebreus eles deveriam matar um cordeiro e molhar
seu sangue nos umbrais da porta de cada casa (Êxodo 12:21-23). O ato de
celebrar a Páscoa, bem com seus detalhes, deveria ser guardado como Lei
perpétua e obrigatoriamente transmitida às gerações posteriores: “Guardai,
pois, isto por estatuto para vós outros e para vossos filhos, para sempre. E,
uma vez dentro na terra que o SENHOR vos dará, como tem dito, observai este
rito. Quando vossos filhos vos perguntarem: Que rito é este? Respondereis: É o
sacrifício da Páscoa ao SENHOR, que passou por cima das casas dos filhos de
Israel no Egito, quando feriu os egípcios e livrou as nossas casas. Então, o
povo se inclinou e adorou”.
Outro exemplo está inserido no
contexto da construção de um altar grande e vistoso junto ao rio Jordão (em
Gileade) pelas tribos de Ruben, Gade e a meia tribo de Manassés, por ocasião
das heranças de terras distribuídas por Moisés às tribos de Israel (para
entender leia Josué 22:10-34). As tribos
a oeste do Jordão questionaram a construção deste altar entendendo o ato como
uma espécie de rebelião, pois o Tabernáculo do Senhor ficava em Canaã. Ou seja,
não deveria haver outro centro de adoração. Ao justificar a construção do altar
em Gileade, as duas tribos e meia disseram que a única preocupação era que seus
filhos tivessem o altar como um lembrete e testemunho de que serviam o mesmo
Deus dos israelitas que haviam ficado do outro lado do Jordão:
Pelo
contrário, fizemos por causa da seguinte preocupação: amanhã vossos filhos
talvez dirão a nossos filhos: Que tendes vós com o SENHOR, Deus de Israel? Pois
o SENHOR pôs o Jordão por limite entre nós e vós, ó filhos de Rúben e filhos de
Gade; não tendes parte no SENHOR; e, assim, bem poderiam os vossos filhos
apartar os nossos do temor do SENHOR. Pelo que dissemos: preparemo-nos,
edifiquemos um altar, não para holocausto, nem para sacrifício, mas, para que
entre nós e vós e entre as nossas gerações depois de nós, nos seja testemunho,
e possamos servir ao SENHOR diante dele com os nossos holocaustos, e os nossos
sacrifícios, e as nossas ofertas pacíficas; e para que vossos filhos não digam
amanhã a nossos filhos: Não tendes parte no SENHOR. Pelo que dissemos: quando
suceder que, amanhã, assim nos digam a nós e às nossas gerações, então,
responderemos: vede o modelo do altar do SENHOR que fizeram nossos pais, não
para holocausto, nem para sacrifício, mas para testemunho entre nós e vós.
Josué
22:24-28
Devemos repassar aos nossos
filhos e futuras gerações não algo místico e virtual, mas os mandamentos do
Senhor para que eles O temam e o obedeçam.
As duas únicas passagens bíblicas
que “poderiam” respaldar o procedimento de transferência
de poder está em Números 11:16-30 onde Deus designa setenta anciãos para
ajudarem Moisés e Lucas 10:19 onde o Senhor Jesus designa outros setenta para
uma missão específica. Mas lendo atentamente o contexto observaremos que foram
acontecimentos singulares, únicos, e com pessoas dotadas de autoridade
espiritual fora do comum. No caso de Moisés não partiu dele a decisão de
outorgar o poder do Espírito aos setenta anciãos, mas do Senhor. No caso de
Jesus ele é o Emanuel, Deus conosco. Não carecia de receber permissão do Pai,
nessa questão. Portanto, essas duas passagens não parece autorizar a transferência de poder.
Elementos objetivos e não subjetivos
Em segundo lugar, o
cristianismo é uma religião de fatos objetivos e não comporta proposições
subjetivas. Como alguém pode atestar que de fato recebeu o poder transferido por outra pessoa? Isso mais parece um procedimento de bluetooth
tecnológico do que verdadeira manifestação de poder.
Os evangelistas registraram que Jesus
ao curar um paralítico em Cafarnaum se deparou com uma questão subjetiva, mas
logo solucionou objetivamente o problema que surgiu com a indagação dos
fariseus (leia Mateus 9:1-8). Ao deparar com o paralítico o Senhor disse que
seus pecados estavam perdoados. Os fariseus entenderam isso como uma blasfêmia e
responderam que somente Deus pode perdoar pecados. Jesus não tinha nenhum
direito nem autoridade para tal ato, segundo eles. O Senhor Jesus porem lhes
respondeu: “Pois qual é mais fácil? Dizer: Estão perdoados os teus pecados, ou
dizer: Levanta-te e anda?”. É óbvio que era mais simples e fácil dizer que os
pecados do paralitico estavam perdoados por Jesus, porém isso era subjetivo.
Como aferir essa experiência e avalia-la como real e verdadeira? Então Jesus
para clarificar sua autoridade divina diante dos homens disse aos fariseus: “Ora,
para que saibais que o Filho do Homem tem sobre a terra autoridade para perdoar
pecados — disse, então, ao paralítico: Levanta-te, toma o teu leito e vai para
tua casa. E, levantando-se, partiu para sua casa”. O que era subjetivo Jesus
comprovou operando um milagre objetivo. A regra divina é trabalhar com
elementos objetivos e não subjetivos.
Artimanhas evangélicas
É fácil dizer que mediante ritual
e invocação ao Senhor um suposto poder espiritual de pessoas estão sendo
transferidas a outras. O difícil e impossível é provar isso. Que o povo do
Senhor medite na Lei do Senhor (Salmos 1:2; 119:15; 119:48; 119:97, 98). O
poder do Senhor em nossas vidas não visa satisfazer nosso ego espiritual, nem é
secreto ou esotérico. Não está à disposição de pessoas específicas ou números
específicos de pessoas (leia aqui: O que significa ser cheio do Espírito Santo?). Esse entendimento se parece muito com um tipo de gnosticismo
cristão e não com o verdadeiro cristianismo. O povo do Senhor deve ler a Bíblia
e estuda-la com afinco, caso contrário alguns serão agitados de um lado para
outro e levados constantemente por todo o vento de doutrinas e pelas artimanhas
dos homens (Efésios 4:14). Que o Senhor nos guarde disso.
Com amor,
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