Por Gilson Barbosa
Muitos crentes se ofendem quando
afirmamos que Cristo não morreu na cruz por cada pessoa individualmente. Em outras
palavras, seu sangue foi derramado a fim de salvar muitas pessoas, mas não cada pessoa. Nem todos serão salvos. Se Cristo tivesse
morrido por cada pessoa, com muita certeza, cada uma dessas pessoas seria salva.
Porém, sabemos que nem todos serão salvos. Entender o porquê é a dúvida que
paira sobre nossas cabeças.
Cristo não derramou seu sangue em
vão. Seu sangue não foi desperdiçado. Há uma frase interessante sobre esse
fato: “O sangue de Cristo é totalmente suficiente como expiação dos pecados do
mundo todo, mas eficaz apenas aos seus eleitos”. O apóstolo escreveu que Cristo
“que não conheceu pecado, ele o fez pecado por nós; para que, nele, fôssemos
feitos justiça de Deus” (II Coríntios 5:21). Nossos pecados foram trocados pela
justiça de Cristo. Isso não significa que Cristo se tornou pecaminoso ou
pecador, mas que foi oferecido como oferta pelo pecado. Deus aceitou o sacrifício
de Cristo pelos pecadores, ou, por aqueles que o Pai mesmo escolheu, como João (6:44)
afirma: “Ninguém pode vir a mim se o Pai, que me enviou, não o trouxer”. Esse texto
deixa claro que sempre é o Deus Pai que toma a iniciativa para a salvação dos
homens.
É interessante que a Bíblia
afirma que não fomos nós escolhemos a Cristo, mas que Ele nos escolheu: “Não
fostes vós que me escolhestes a mim; pelo contrário, eu vos escolhi a vós
outros e vos designei para que vades e deis fruto, e o vosso fruto permaneça; a
fim de que tudo quanto pedirdes ao Pai em meu nome, ele vo-lo conceda” (João
15:16). Não fomos nós que o amamos primeiro, mas Ele nos amou antes mesmo que tivéssemos
qualquer intenção de amá-lo: “Nós o amamos porque ele nos amou primeiro” (I
João 5:19). A nossa salvação não aconteceu porque Cristo previu que o
aceitaríamos. Essa é a conclusão que chegam alguns amados irmãos ao lerem
Romanos 8:29: “Porquanto aos que de antemão conheceu, também os predestinou
para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito
entre muitos irmãos”. O teólogo Franklin Ferreira (Teologia Sistemática, p.
233) oferece quatro respostas opostas ao ensino de que Deus apenas previu os
que o aceitariam Cristo como Salvador:
1ª) A presciência de Deus
refere-se a um povo, e não a qualquer ação desenvolvida pelo povo.
2ª) Deus não nos elegeu por ver
algo que faríamos, isto é, aceitar a Cristo, mas somos escolhidos para que possamos
“aceita-lo”.
3ª) Nossa
eleição não se fundamenta no fato de que Deus previu os que acreditariam, mas
nossa crença resulta de sermos eleitos (Atos 13:48).
4ª) A afirmação
de que exercitamos fé ao aceitar a Cristo e que Deus previu essa fé nos leva a
perguntar onde encontramos a fé para exercitar. A Bíblia assevera que a nossa
fé é dádiva de Deus, não de nós mesmos (Efésios 2:8; Tito 1:1).
É com esse pano
de fundo que devemos entender as palavras do apóstolo Paulo em II Coríntios 2:15,16:
“Porque nós somos para com Deus o bom perfume de Cristo, tanto nos que são
salvos como nos que se perdem. Para com estes, cheiro de morte para morte; para
com aqueles, aroma de vida para vida. Quem, porém, é suficiente para estas
coisas?”.
Paulo denota
estar muito preocupado com as contingencias em seu ministério, mas encontra
regozijo no Senhor e sabe que Ele tem conduzido sabiamente os eventos de sua
vida: “Graças, porém, a Deus, que, em Cristo, sempre nos conduz em triunfo e,
por meio de nós, manifesta em todo lugar a fragrância do seu conhecimento”
(v.14). Os comentaristas bíblicos afirmam que Paulo extraiu a imagem do triunfo
em Cristo (vs. 14-11) do costume romano de comemorar as vitórias travadas nas guerras, quando ocorria um cortejo triunfal em homenagem ao general romano que regressa
à capital depois de uma campanha vitoriosa:
Paulo aqui tinha em mente um cortejo triunfal tipicamente romano.
Sempre que um general romano regressava à capital após uma campanha vitoriosa,
ele recebia uma celebração por parte do Senado. Armava-se uma grande procissão
pelas ruas de Roma, em que se exibiam os cativos aprisionados na batalha. A
carruagem em que ia o general vencedor era precedida por pessoas que carregavam
guirlandas de flores e vasilhas com incenso perfumado. Estes eram os
prisioneiros que iriam retornar à sua terra, agora conquistada por Roma, a fim
de governá-la sob a direção do império. Após a carruagem, vinham outros
prisioneiros, arrastando pesadas correntes nos pés e nas mãos. Esses deveriam
ser executados, pois os romanos criam que não poderiam confiar neles. Quando o
cortejo passava entre as multidões que soltavam brados de triunfo, aquele
incenso e flores perfumadas eram, para o primeiro grupo, “aroma de vida para vida”,
e para o segundo grupo, o mesmo cheiro era “cheiro de morte para morte”.
(A dinâmica
de uma vida autentica - Ray Stedman).
É Cristo quem
triunfou sobre as potestades malignas e os expôs a vergonha pública: “e, despojando
os principados e as potestades, publicamente os expôs ao desprezo, triunfando
deles na cruz” (Colossenses 2:15). Entretanto, o resultado do triunfo de Cristo
é duplo sobre as pessoas. Um negativo, e outro positivo. Atingem duas classes
de pessoas: os que são salvos e os que se perdem. Aos salvos, o triunfo de
Cristo possui “cheiro de vida”, aos perdidos tem “cheiro de morte”. Conforme
observou João Calvino “sejam quais forem os resultados da nossa pregação, isso
é agradável a Deus, contanto que o evangelho seja pregado, e nossa obediência lhe
seja aceitável” (Comentário a II Coríntios, p.75).
Não jogamos fora
nossa pregação quando pecadores não vêm a Cristo. Para estes o evangelho não
produzirá o efeito exigido para a salvação, pois como dissemos acima, o Senhor
não os destinou à salvação. Se Deus os tivesse escolhido certamente seriam
alcançados pela expiação de Cristo e seriam salvos: “Todo aquele que o Pai me
dá, esse virá a mim; e o que vem a mim, de modo nenhum o lançarei fora” (João
6:37). Isso nos impede de orarmos pela salvação das pessoas ou evangeliza-las? De
maneira alguma, somente nos lembra de que a salvação vem do Senhor.
No amor de
Cristo,
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