sábado, 27 de julho de 2013

DISCIPULANDO OS FILHOS

Por Gilson Barbosa

A igreja é (ou pelo menos deveria ser) o local onde o pecador tem a oportunidade de ao ouvir a proclamação do evangelho ser confrontado em seu pecado pela Palavra de Deus e render-se aos pés de Cristo. Jamais imaginamos que o mesmo caso também se aplica aos nossos filhos. Tendemos a admitir a salvação dos nossos filhos por procriação ou caso hereditário. Porém, o evangelista João (1:12,13) afirmou:

“Mas a todos quantos o receberam, deu-lhes o direito de se tornarem filhos de Deus, ou seja, aos que creem no seu Nome; os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus” [meu grifo].

A nota da Bíblia King James explica que “A expressão grega plural ex haimatõn ‘dos sangues’ indica que o nascimento espiritual é um dom de Deus, concedido a cada crente, em especial, e não pode vir por descendência humana nem pelo cumprimento de qualquer ritual de iniciação à religião”’.

CRIANÇAS SÃO POR NATUREZA PECADORES

Mesmo as crianças não escaparam do efeito da queda. Esse é o principal motivo que lançam aos pais a responsabilidade de educar e discipular seus filhos com o objetivo de que eles amem e sirvam ao Senhor. O Dr John Murray disse o seguinte a esse respeito:

“[...] até as recém nascidas, necessitam de ser limpas do pecado, tanto de sua corrupção quanto de sua culpa. Crianças não ficam pecadoras depois de crescidas ou durante o processo de crescimento. Elas são concebidas em pecado e são conduzidas em iniquidade. Isso remonta ao ventre materno. Ninguém que esteja consciente da realidade do seu pecado se lembra de quando veio se tornar um pecador. Sabe-se que não foi por qualquer decisão ou ato deliberado de sua parte que se tornou pecador. Sabe-se que fora sempre pecador. Certamente que reconhece que essa pecaminosidade inata e intrínseca foi se agravando, e repetidamente se expressando em atos voluntários de pecado. Portanto, é a pecaminosidade inerente e agravada que se expressa em seus atos voluntários de pecado. Além disso, nenhum arguto observador do crescimento e desenvolvimento humano, desde a infância até à fase adulta, vai se lembrar do determinado ponto em que o pecado começou a apossar-se do seu coração, interesses e propósitos”.

AGENTES DE DISCIPULADO

Está claro que tanto a igreja local quanto os pais devem ser os agentes principais de discipulado na vida de seus filhos. O apóstolo Paulo aconselhou os efésios (6:4): “E vós, pais, não provoqueis a ira dos vossos filhos, mas educai-os de acordo com a disciplina e o conselho do Senhor [meu grifo].” O exegeta William Hendriksen comenta que “a disciplina, da qual Paulo trata, pode ser descrita como uma educação mediante regras e normas, recompensas, e se for necessário até mesmo uma repreensão severa. A expressão “conselho” (ou admoestação) é a ação formativa por meio da palavra falada, podendo ser ela de ensino, advertência ou alento. E por fim tanto a disciplina quanto a admoestação deve ser “do Senhor”. Essas ações são de natureza espiritual e não está relacionada à questão de educarmos socialmente ou moralmente nossos filhos. A educação cristã deve ser de tal forma que o próprio Senhor a aprova. 

No entanto, a tarefa de discipular os filhos para que glorifiquem e sirvam ao Senhor não pode ser exclusivo das igrejas locais, pois muitas já não pregam um evangelho autentico e substituíram a simplicidade da proclamação do evangelho por entretenimento e diversas outras atrações que no final das contas não produzirá o efeito correto. Há muitos jovens decepcionados com a igreja e consequentemente deixaram totalmente de praticar a sua fé. Urge, então, que tanto os pais quanto a igreja atentem ao fato de que nossas crianças devem ser discipuladas e educadas nos caminhos do Senhor. E quem tem a melhor oportunidade para influenciá-los para o reino de Deus são seus pais. 

AS DIFICULDADES

No processo de discipular os filhos nós encontraremos muitas dificuldades. Sentiremos que somos imperfeitos, e, portanto, que somos incapazes de exigir deles alguma coisa. É necessário reconhecermos que somos pecadores e que estamos num processo de aprendizagem e amadurecimento. O apóstolo Paulo nos remete ao fato de que em certo momento da nossa vida vamos abandonar o nosso jeito infantil de pensar e agir (I Coríntios 13:11-13). Mas mesmo assim temos de admitir que somos falhos e carecemos da bendita graça do Senhor para discipularmos nossos filhos com amor. Nossa intenção não deve ser a de educar nossos filhos para nós mesmos, mas para que eles sirvam ao Senhor de todo o coração.      
   
Com a responsabilidade de discipular seus filhos os pais precisam primeiro aprender para depois ensinar. Ensinarão o quê aos filhos se não sabem nem mesmo para si? É necessário que os pais saibam conversar com seus filhos sobre:

- o evangelho verdadeiro e bíblico. Informe que infelizmente há muitos evangelhos falsos. Porém, cuidado para não enfatizar demais o aspecto negativo. Não poupe dizer ao seu filho que 1) Deus é Soberano sobre todas as coisas, que o evangelho pertence a Deus e que a salvação é proveniente Dele (Apocalipse 7:10; Efésios 1:3,4); 2) o ser humano rejeitou o governo soberano e santo de Deus (Romanos 3:10-12); 3) Jesus, o eterno Filho de Deus, veio salvar os pecadores (I Timóteo 1:15; Apocalipse 5:9,10); 4) para seguir a Cristo é necessário abandonar os pecados, aceitar a lei de Cristo e confiar Nele completamente para o perdão de pecados.

- a história bíblica aponta para Deus e não meramente seus personagens. Ler a Bíblia para extrair suas “lições de vida” põe muito em foco o leitor. Todavia a verdadeira história da Bíblia tem a ver com seu Autor.

- as grandes verdades sistemáticas da Bíblia. Os teólogos dividiram o ensino da Bíblia em classes gerais de verdade que são: a Palavra de Deus; o caráter de Deus; a natureza humana e o pecado; a pessoa de Jesus;  a obra e o ministério de Jesus; a pessoa e a obra do Espírito Santo; a salvação; a igreja; as ultimas coisas.

- A grande comissão. É importante que nossos filhos vejam o coração missionário de Deus para com o mundo, e entendam que Deus é glorificado por meio de nosso testemunho fiel. Deus quer nos usar para alcançar os eleitos.

- As disciplinas espirituais. Deus não salvou para “ficarmos deitados em berços esplêndidos”. Paulo escreveu à Timóteo: “Exercita-te, porém, na piedade” (I Timóteo 4.7b). É primordial que ensinemos aos nossos filhos as disciplinas básicas da vida cristã e suas raízes bíblicas. As disciplinas básicas para a vida cristã reúne cinco disciplinas básicas: estudo da Bíblia, oração, adoração, serviço e mordomia cristã.

- a vida cristã. A vida cristã diz respeito à nossa caminhada diária na fé. Alguns temas são: perdão, pureza sexual, criação de filhos, casamento, família e decisões certas.

- a cosmovisão. É a lente por meio da qual interpretamos tudo o que aprendemos e vivenciamos. Ela é importante para ajudar nossos filhos a analisar a informação cultural que absorvem diariamente.

Como se preparar para isso?

- Deve ter conhecimento bíblico. Portanto, comprometa-se a ler a Bíblia inteira no mínimo uma vez.

- Leia bons livros que tragam edificação e conhecimento.

- Comprometendo-se com uma igreja fiel na pregação expositiva e sólido ensino teológico.

- Recicle sua aprendizagem sempre. 

ÁREAS NO DISCIPULADO DA FAMÍLIA

A tarefa de discipular os filhos consistem em repetição e rotina. Moisés exortou o povo de Israel: “Que todas estas palavras que hoje lhe ordeno estejam em  quando estiver sentado em casa, quando estiver andando pelo caminho, quando se deitar e quando se levantar. Amarre-as como um sinal nos braços e prenda-as na testa. Escreva-as nos batentes das portas de sua casa e em seus portões”. O discipulado é mais eficaz quando a prática é integrada ao ritmo da vida diária. Por isso temos de aplicar a Palavra de Deus a todos os aspectos da vida de nossos filhos, aproveitando cada oportunidade para transmitir à eles a sabedoria e a cosmovisão da Bíblia. Isso pode ser aplicado nas três áreas principais:

- Primeira área: o lar. O lar certamente é o lugar mais importante para a maioria das famílias e onde passamos o maior tempo juntos, por isso, pode e deve ser um lugar seguro para discutirmos verdades espirituais profundas. Algumas situações domésticas que oferecem oportunidades de discipulado são:

            - as refeições; o momento de disciplinar os filhos; na hora de dormir; no culto doméstico.

- Segunda área: a sociedade. Muitos cristãos professos não tem relacionamentos verdadeiros com não crentes. Se queremos discipular nossos filhos, não podemos afastá-lo da realidade de um mundo perdido. Muitos de nós achamos que isolar nossos filhos do mundo secular é essencial para a pureza moral e espiritual deles. No entanto, a Bíblia não nos orienta a criarmos os filhos trancados em comunidades cristãs

- Terceira área: a igreja. A Igreja local e os pais no lar devem ser parceiros no discipulado dos filhos. Os pais podem fazer isso...

            - assumindo compromisso com sua igreja local; participando junto com os filhos no culto; ame sua igreja e evite certos comentários em casa.

É NECESSÁRIO DISCIPULAR

No Antigo Testamento os filhos dos fiéis eram inclusos na aliança de Deus com seu povo. Deus fez um pacto com Abraão, envolveu seus filhos na aliança e ordenou que fossem circuncidados (Gênesis 17:9-14). A circuncisão era o sinal da fé que Abraão tinha e uma prática que deveria ser obedecida (Romanos 4:3-11; Gênesis 15:6; Gênesis 17:23-27). A persuasão que a igreja de hoje é a continuação da Igreja do Antigo Testamento faz com que algumas delas substituam a prática da circuncisão pelo batismo infantil. Trata-se de um compromisso dos pais com a aliança e do desejo de verem seus filhos crescerem nos caminhos do Senhor. Conforme afirmou o pastor Augustus Nicodemus Lopes:

Símbolos e rituais mudaram, mas é a mesma Igreja, o mesmo povo. O Sábado tomou-se em Domingo, a Páscoa, em Ceia, e a circuncisão, em batismo. Os crentes são chamados de “filhos de Abraão” (Gl 3.7,29) e a Igreja de “o Israel de Deus” (Gl 6.16). Não é de se admirar que Paulo chame o batismo de “a circuncisão de Cristo” (Cl 2.11-11).

É necessário consagrar nossos lares para a obra do Senhor, dar prioridade ao Senhor, dedicar-se a árdua tarefa de discipular os filhos e assim colhermos alegremente os frutos como resultado: “Agora temam o Senhor e sirvam-no com integridade e fidelidade. Joguem fora os deuses que os seus antepassados adoraram além do Eufrates e no Egito, e sirvam ao Senhor. Se, porém, não lhes agrada servir ao Senhor, escolham hoje a quem irão servir, se aos deuses que os seus antepassados serviram além do Eufrates, ou aos deuses dos amorreus, em cuja terra vocês estão vivendo. Mas, eu e a minha família serviremos ao Senhor”.

Que o Senhor dê graça aos pais na educação dos filhos. Precisamos ajuda-los no desenvolvimento das disciplinas espirituais (II Timóteo 1:5). O mundo não precisa de pessoas de bom comportamento, mas de gente que ame ao Senhor, que o glorifique e entenda que não há tesouro mais precioso que Ele (Mateus 13:44). Não há alternativas aos pais, o discipulado possui implicações eternas. 


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terça-feira, 23 de julho de 2013

CALVINO, ARMINIO OU A BÍBLIA?

Por Gilson Barbosa

O título acima, desta postagem, consta como subtítulo em um dos livros da CPAD (Evangelhos que Paulo jamais pregaria, p. 102). Não acredito que o autor do livro tenha em mente que tanto a teologia calvinista quanto a arminiana não são bíblicas, porém é isso que soa. Entretanto, ainda que não tenha sido Calvino ou Armínio que tenham estabelecido suas estruturas teológicas, contudo, as mesmas se fundamentam em passagens bíblicas.

A respeito de se inclinar a uma ou a outra estrutura teológica algumas coisas devem ser ditas. Em primeiro lugar é necessário que a pessoa decida livremente de que lado teológico vai ficar. A princípio isso não é nem negativo nem positivo. Em segundo lugar dependerá muito do livre exame e total dedicação no estudo das escrituras sagradas e literaturas. Menciono o livre exame, pois muitos crentes são constrangidos por seus líderes a não lerem literatura de teologia reformada, por exemplo. É necessário que se estude particularmente os sistemas calvinistas ou arminianas com profundidade para que não os julguemos precipitadamente. Em terceiro lugar não é a quantidade de defensores dos dois sistemas que estabelecem suas verdades. O número de defensores ou dos que professam as doutrinas arminianas supera ao calvinismo, mas nem por isso deve ser tida como verdadeira, ou vice-versa. Em quarto lugar dificilmente os dois estão certos no mesmo sentido, um ou outro não se sustenta biblicamente.

Mas, é necessário ter a consciência de que há pessoas tementes ao Senhor e piedosas nos dois sistemas teológicos. Até certo ponto o fato de não entendermos exatamente as doutrinas bíblicas ou de termos dificuldades para interpretar uma passagem bíblica não anula nenhum dos dois sistemas. Porém temos de admitir que um dos dois lados teológicos interpreta com mais coerência a Bíblia Sagrada, com respeito às suas estruturas teológicas.

Os teólogos formularam seus entendimentos das doutrinas em cinco pontos principais. Ficaram conhecidos como Os Cinco Pontos do Calvinismo ou Os Cinco Pontos do Arminianismo. Uma forma pedagógica para apresentar as “doutrinas calvinistas” é o acróstico TULIP (Total Depravity, Unconditional Election, Limited Atonement, Irrestitible Grace, Perseverance of Saints). Na mesma ordem e em português assim se traduz: Depravação Total, Eleição Incondicional, Expiação Limitada, Graça Irresistível, Perseverança dos Santos.

Para que o leitor entenda o que significa esses pontos transcrevo abaixo alguns contrastes entre as duas estruturas teológicas (do livro TULIP Os Cinco Pontos do Calvinismo à Luz das Escrituras, Edições Parakletos).

CONTRASTE ENTRE ARMINIANISMO E CALVINISMO

Quando contrastamos estes Cinco Pontos do Arminianismo com o acróstico TULIP, que forma os Cinco Pontos do Calvinismo, torna-se claro que os cinco pontos deste são diametralmente opostos aos daquele. Para que possamos ver claramente as “linhas de batalha” traçadas pelas afiadas mentes de ambos os lados, comecemos por fazer um breve contraste entre as duas posições à base de ponto por ponto.

PONTO 1 - Depravação Total

O arminianismo diz que a vontade do homem é “livre” para escolher, ou a Palavra de Deus, ou a palavra de Satanás. A salvação, portanto, depende da obra de sua fé.

O calvinismo responde que o homem não regenerado é absolutamente escravo de Satanás, e, por isso, é totalmente incapaz de exercer sua própria vontade livremente (para salvar-se), dependendo, portanto, da obra de Deus, que deve vivificar o homem, antes que este possa crer em Cristo.

PONTO 2 - Eleição Incondicional

Arminius sustentava que a “eleição” é condicional, enquanto os reformadores sustentavam que ela é incondicional. Os arminianos acreditam que Deus elegeu àqueles a quem “pré-conheceu”, sabendo que aceitariam a salvação, de modo que o pré-conhecimento [de Deus] estava baseado na condição estabelecida pelo homem.

Os calvinistas sustentam que o pré-conhecimento de Deus está baseado no propósito ou no plano de Deus, de modo que a eleição não está baseada em alguma condição imaginária inventada pelo homem, mas resulta da livre vontade do Criador à parte de qualquer obra de fé do homem espiritualmente morto.

Dever-se-á notar ainda que a segunda posição de cada um destes partidos (arminianos e calvinistas) é expressão natural de suas respectivas doutrinas a respeito do homem. Se o homem tem “vontade livre”, e não é escravo nem de Satanás nem do pecado, então ele é capaz de criar a condição pela qual Deus pode elegê-lo e salvá-lo. Contudo, se o homem não tem vontade livre, mas, em sua atual situação, é escravo de Satanás e do pecado, então sua única esperança é que Deus o tenha escolhido por sua livre vontade e o tenha elegido para a salvação.

PONTO 3 - Expiação Limitada

Os arminianos insistem em que a expiação (e, por esta palavra, eles significam “redenção”) é universal. Os calvinistas, por sua vez, insistem em que a Redenção é parcial, isto é, a Expiação Limitada é feita por Cristo na cruz.

Segundo o arminianismo, Cristo morreu para salvar não um em particular, porém somente àqueles que exercem sua vontade livre e aceitam o oferecimento de vida eterna. Daí, a morte de Cristo foi um fracasso parcial, uma vez que os que têm volição negativa, isto é, os que não a querem aceitar, irão para o inferno.
Para o calvinismo, Cristo morreu para salvar pessoas determinadas, que lhe foram dadas pelo Pai desde toda a eternidade. Sua morte, portanto, foi cem por cento bem sucedida, porque todos aqueles pelos quais ele não morreu receberão a “justiça” de Deus, quando forem lançados no inferno.

PONTO 4 - Graça Irresistível

Os arminianos afirmam que, ainda que o Espírito Santo procure levar todos os homens a Cristo (uma vez que Deus ama a toda a humanidade e deseja salvar a todos os homens), ainda assim, como a vontade de Deus está amarrada à vontade do homem, o Espírito [de Deus] pode ser resistido pelo homem, se o homem assim o quiser. Desde que só o homem pode determinar se quer ou não ser salvo, é evidente que Deus, pelo menos, “permite” ao homem obstruir sua santa vontade. Assim, Deus se mostra impotente em face da vontade do homem, de modo que a criatura pode ser como Deus, exatamente como Satanás prometeu a Eva, no jardim [do Éden].

Os calvinistas respondem que a graça de Deus não pode ser obstruída, visto que sua graça é irresistível. Os calvinistas não querem significar com isso que Deus esmaga a vontade obstinada do homem como um gigantesco rolo compressor! A graça irresistível não está baseada na onipotência de Deus, ainda que poderia ser assim, se Deus o quisesse, mas está baseada mais no dom da vida, conhecido como regeneração. Desde que todos os espíritos mortos (alienados de Deus) são levados a Satanás, o deus dos mortos, e todos os espíritos vivos (regenerados) são guiados irresistivelmente para Deus (o Deus dos vivos), nosso Senhor, simplesmente, dá a seus escolhidos o Espírito de Vida.

No momento em que Deus age nos eleitos, a polaridade espiritual deles é mudada: Antes estavam mortos em delitos e pecados, e orientados para Satanás; agora são vivificados em Cristo, e orientados para Deus.
É neste ponto que aparece outra grande diferença entre a teologia arminiana e a teologia calvinista. Para os calvinistas, a ordem é: primeiro o dom da vida, por parte de Deus; e, depois, a fé salvadora, por parte do homem.

PONTO 5 - Perseverança dos Santos

Os arminianos concluem, muito logicamente, que o homem, sendo salvo por um ato de sua própria vontade livremente exercida, aceitando a Cristo por sua própria decisão, pode também perder-se depois de ter sido salvo, se resolver mudar de atitude para com Cristo, rejeitando-o! (Alguns arminianos acrescentariam que o homem pode perder, subsequentemente, sua salvação, cometendo algum pecado, uma vez que a teologia arminiana é uma “teologia de obras” — pelo menos no sentido e na extensão em que o homem precisa exercer sua própria vontade para ser salvo.) Esta possibilidade de perder-se, depois de ter sido salvo, é chamada de “queda (ou perda) da graça”, pelos seguidores de Arminius. Ainda, se depois de ter sido salva, a pessoa pode perder-se, ela pode tornar-se livremente a Cristo outra vez e, arrependendo-se de seus pecados, “pode ser salva de novo”. Tudo depende de sua contínua volição positiva até à morte!

Os calvinistas sustentam muito simplesmente que a salvação, desde que é obra realizada inteiramente pelo Senhor — e que o homem nada tem a fazer antes, absolutamente, “para ser salvo” —, é óbvio que o “permanecer salvo” é, também, obra de Deus, à parte de qualquer bem ou mal que o eleito possa praticar. Os eleitos “perseverarão” pela simples razão de que Deus prometeu completar, em nós, a obra que ele começou.

Análise dos Cinco Pontos 

Se um dos lados da disputa teológica deve, com certeza, ser mais coerente que o outro se faz necessário assumir uma posição. Apesar da formatação estrutural dos [cinco] pontos teológicos, convido o leitor a analisar cada ponto comparando-os com as escrituras sagradas. Os textos bíblicos obscuros e isolados devem ser trocados pelos mais claros e em conjunto com outros. 


No amor de Cristo,

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terça-feira, 16 de julho de 2013

MUITOS PROFETAS, NENHUMA MENSAGEM

Por Gilson Barbosa


O pentecostalismo leva a pecha de ser um movimento de experiência em busca de uma teologia. Para os adversários isto significa que os argumentos para defender suas doutrinas são ad extra, ou seja, a teologia pentecostal se fundamentaria, então, numa eisegese bíblica. Esta, pode também partir de uma impressão equivocada na interpretação dos textos que “respaldam” o movimento.

Sei que há uma busca sincera e séria para corroborar os argumentos pentecostais invocando bases e textos bíblicos. Porém, parece que o tempo está demonstrando que o movimento pentecostal tem ainda muitos desafios a vencer. Um deles é estabelecer limites para a manifestação carismática no âmbito do culto público. Outro desafio é o cumprimento do que o apóstolo Paulo ensinou em sua primeira carta aos coríntios (capítulo 14) sobre o uso dos dons espirituais.

O dom da profecia, por exemplo, está eivado de confusão e o problema parece não ter mais solução. Há “profetas” misturando profecia com palavra de conhecimento e revelação com adivinhação. Um dos fatos que mais depreciam o movimento pentecostal atualmente tem sido a “qualidade” com que os dons têm sido utilizados.

Mesmo que partíssemos do pressuposto de que há profetas hoje, exatamente igual aos profetas do Antigo Testamento ou dos apóstolos e profetas no período do Novo Testamento (o que é um absurdo), o que temos presenciado é um profetismo que nos entristece profundamente. A maneira como a revelação de Deus chegou aos profetas e apóstolos são inigualáveis e temporais. O apóstolo Pedro ao tratar da superioridade da palavra de Deus afirmou que “...a profecia nunca foi produzida por vontade de homem algum, mas os homens santos de Deus falaram inspirados pelo Espírito Santo.” (II Pedro 1:21). Dizer que os “profetas” modernos possuem a mesma inspiração no mesmo sentido que os autores bíblicos, é heresia pura. Tanto os profetas do Antigo Testamento quanto os apóstolos no Novo Testamento receberam revelação direta de Deus. A necessidade profética deles, bem como de suas profecias, coincidiu providencialmente com a formação do cânon bíblico. 

Como mencionei acima, a qualidade dos dons espirituais utilizados por alguns crentes pentecostais tem descido há um nível bem superficial de entendimento. Quando o apóstolo Paulo tratou da superioridade do dom de profecia sobre ao de línguas apresentou as funções da mensagem dos profetas: edificar, exortar e consolar a igreja local. Hoje em dia a profecia é individual e desconsidera a coerência e santidade Divina, pois, é sabido que muitos que recebem uma mensagem profética de consolação e conforto quando na verdade deveriam ser exortados ou admoestados.

Profetas nas Igrejas locais do Novo Testamento

SEGUI o amor, e procurai com zelo os dons espirituais, mas principalmente o de profetizar. Porque o que fala em língua desconhecida não fala aos homens, senão a Deus; porque ninguém o entende, e em espírito fala mistérios. Mas o que profetiza fala aos homens, para edificação, exortação e consolação. (I Coríntios 14:1-3)

O texto acima não estabelece a legitimidade das profecias carismáticas. Apenas informa (implicitamente) que havia na igreja primitiva um grupo de pessoas com potencial para exercer o ministério profético: “E ele mesmo deu uns para apóstolos, e outros para profetas, e outros para evangelistas, e outros para pastores e doutores” (Efésios 4:11). Ainda que se fale em dom de profecia, porem, sua natureza é diferente. Por exemplo, a ênfase desses profetas não era mais revelacional e sim de proclamação das verdades existentes do Antigo e Novo Testamento.

Não tenho plena certeza de como esses profetas se comportavam no culto público e não faço ideia de como exerceriam o dom profético. O certo é que não eram oficiais nas Igrejas locais e que sua função primordial não era predizer ou revelar algo oculto – ainda que isso tenha acontecido raramente com alguns deles. Heber Carlos de Campos informa que

“... havia somente dois ofícios nas igrejas locais do Novo Testamento: presbíteros e diáconos. Somente eles recebiam a ordenação pública, que os autorizava a exercer o seu ofício. Os demais exerciam seus dons conforme o Senhor lhes concedia. Assim era com os que possuíam o dom profético. Eles não eram vocacionados como os profetas do Antigo Testamento, nem recebiam o ofício para exercerem a função, como acontecia com os profetas do Antigo Testamento. Não havia nenhuma cerimonia especial que os autenticasse e os designasse profetas, como a unção com óleo, que os autorizasse publicamente para exercerem o ofício. Simplesmente, eles eram dotados pelo Espírito Santo para serem intérpretes da Palavra de Deus e podiam ser julgados no exercício do seu mistério quanto ao conteúdo de sua mensagem, mas não falavam inspiradamente.” (Fé Cristã e Misticismo, p. 89)

O pastor Antônio Gilberto (teólogo respeitado no meio pentecostal), embora admita a profecia como um dom do Espírito, também reconhece a existência do dom ministerial de profeta à Igreja local:

“O ministério profético é exercido através de um ministro dado por Deus à Igreja... O profeta é um pregador especial, com mensagem especial. Sua mensagem apela à consciência da pessoa em relação a Deus, a si própria, ao pecado e à santidade.” (Mensageiro da Paz, Agosto de 2008)

De opinião diferente do pastor Antonio Gilberto, o pastor Augustus Nicodemus Lopes afirma que não há mais profetas como os do Antigo Testamento e nem apóstolos como os Doze e Paulo:

“Eles foram veículos inspirados e infalíveis da revelação divina. Com o desaparecimento deles, cessou o processo revelatório, por meio do qual Deus, infalivelmente fez registrar a sua vontade nas Escrituras. Não entendo que os profetas do Novo Testamento (como os da igreja de Corinto) eram veículos desse tipo de revelação e nem que suas profecias eram revelatórias e infalíveis como as dos antigos profetas e apóstolos”. (O culto espiritual, Ed: Cultura Cristã, p. 130).

É necessário enfatizar a realidade e a natureza dos profetas das Igrejas locais do Novo Testamento, pois o texto bíblico de Efésios afirma que o Senhor “mesmo deu uns para apóstolos, e outros para profetas, e outros para evangelistas, e outros para pastores e doutores. Querendo o aperfeiçoamento dos santos, para a obra do ministério, para edificação do corpo de Cristo; até que todos cheguemos à unidade da fé, e ao conhecimento do Filho de Deus, a homem perfeito, à medida da estatura completa de Cristo.” Entretanto nada indica que estes profetas traziam palavras inspiradas direta de Deus (idêntica aos profetas do Antigo Testamento ou os apóstolos do Novo Testamento) ou revelações por meio de sonhos e visões, ou ainda predições sobre a vida das pessoas.  

Os estudiosos pentecostais entendem haver diferença entre o dom de profecia e o ministério profético. Podemos até dizer que os profetas das Igrejas locais do Novo Testamento possuíam em certa medida o dom de profecia, mas não devemos afirmar categoricamente que qualquer crente por sua própria vontade se levantaria no culto e diria uma mensagem sobrenaturalmente inspirada ou revelada da parte de Deus. Quando Paulo diz que todos os irmãos coríntios poderiam profetizar (I Coríntios 14:31) o faz tendo como base de que é o Senhor que graciosamente concederia esse dom a algumas e não todas as pessoas (I Coríntios 12:29).

Alguns não pentecostais veem o dom profético (não a profecia preditiva) como uma necessidade para o tempo presente, apesar de aceitarem apenas os dois ofícios de presbíteros e diáconos. Caberia por parte destes uma explicação de como eles exerceriam seu ministério no culto público. Outros não veem como necessário o ministério profético atualmente, pois a tarefa de exortar, consolar e edificar pode ser realizada pelo pastor e mestre.  

Alguém pode perguntar: “E quanto aos ‘profetas’ que revelam fatos cotidianos ocultos, tais como nomes de pessoas, datas de nascimentos, números de documentos e telefones?”. Destes não digo nada, pois, como cumpriremos a ordem de avaliar a mensagem profética (I Coríntios 14:29) se o que é revelado não possui em si nenhuma mensagem?


No amor de Cristo,
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segunda-feira, 8 de julho de 2013

IDOLATRIA EVANGÉLICA

Por Gilson Barbosa


A grande maioria dos evangélicos entende o termo idolatria apenas em sua definição etimológica, e não em seu conceito teológico. Sendo assim, definem e assimilam a ideia de que a idolatria está relacionada apenas com a adoração de ídolos confeccionados de madeira, gesso, pedra, ou outros materiais. Mas, para que haja coerência no entendimento a respeito deste tema, é necessário ampliar seu sentido e complementar com seu conceito teológico. Conforme os léxicos de teologia qualquer apego excessivo a pessoa, objeto, instituição, ambição, elemento, em detrimento da pessoa de Deus, se constitui idolatria. É preciso que esse conceito seja levado a sério.

Apesar da proibição divina no Antigo Testamento (“Não terás outros deuses diante de mim” – Êxodo 20:3) temos vários casos em que o povo de Deus (Israel) pecou contra o Senhor quando se envolveu em manifestações idólatras. Quem não se lembra do bezerro de ouro, “fabricado” por Arão? (Êxodo 32:1-20).  Substituindo o Deus vivo por uma imagem esculpida o povo cometeu o abominável pecado da idolatria adorando um ídolo na forma de um bezerro de ouro. Transgrediram o segundo mandamento que diz:

Não farás para ti imagem de escultura, nem semelhança alguma do que há em cima no céu, nem em baixo na terra, nem nas águas debaixo da terra; não te encurvarás a elas, nem as servirás; porque eu, o SENHOR teu Deus, sou Deus zeloso, que visito a iniquidade dos pais nos filhos, até à terceira e quarta geração daqueles que me odeiam. (Deuteronômio 5:8-9)

Como “um abismo chama outro abismo” os adoradores do bezerro de ouro se entregaram completamente aos ritos pagãos numa refeição sacramental e danças, que degenerou em libertinagem sexual: “E no dia seguinte madrugaram, e ofereceram holocaustos, e trouxeram ofertas pacíficas; e o povo assentou-se a comer e a beber; depois levantou-se a folgar.” (Êxodo 32:6).  O volume e o ritmo da música produziu no povo um frenesi louco e desenfreado. No versículo 18 Moisés comenta com Josué que ouvia “o alarido dos que cantam” e no versículo 25 há a menção de que “o povo estava despido, porque Arão o havia deixado despir-se.” Que derrota! Que vergonha para o povo de Deus! Cansados de andar pela fé o povo exigiu um sinal tangível da presença de Deus.

No Novo Testamento os mandamentos vetero-testamentários permanecem vigentes. O apóstolo João em sua primeira carta (5:21) escreveu que os irmãos devem se guardar da idolatria: “Filhinhos, guardai-vos dos ídolos. Amém.” Paulo disse aos coríntios: “Portanto, meus amados, fujam da idolatria”. O conselho paulino reflete a tendência de alguns irmãos que se consideravam “fortes” espiritualmente e de alguma forma não se preocupavam em se alimentarem junto com os gentios num templo pagão. (Leia I Coríntios 10:19, 20; 8:4,10).  

Você pode estar pensando: “Mas qual a relação deste assunto com os evangélicos atuais?”. É que está acontecendo entre “o povo de Deus” uma adoração idolátrica sorrateira, subliminar, disfarçada. Os ídolos atuais e a idolatria moderna possuem outro formato, mas seu poder de destruição é o mesmo que levou o povo de Israel ao cativeiro. Algumas atitudes idolátricas que percebemos hoje: o amor ao dinheiro (Mamom); o endeusamento do ego (autolatria); os pecados sexuais, tais como pornografia, fantasias sexuais, infidelidade conjugal, diversões carnais (Baal Peor – Êxodo 25:1); crentes que confiam nos signos do zodíaco (astrologia); os que cultuam e adoram os anjos (Angelolatria); o culto do e com entretenimento (o bezerro de ouro); os desleixos moral, social e principalmente espiritual com a educação dos nossos filhos (deus Moloque).        

São muitos que se empenham em tirar Deus do trono e se esforçam por sentar em seu lugar. Muitos têm ignorado e até mesmo questionado a soberania de Deus. Outros têm zombado dos santos mandamentos do Senhor e ensinado seus “próprios mandamentos” como se fossem melhores e mais corretos. E ainda outros falam pelos dois cantos da boca – de um lado falam como profetas, do outro defendem e pregam veementemente a malfadada teologia da prosperidade e o triunfalismo evangélico.

Eu não sei onde tudo isso “vai dar”. O povo de Israel foi parar no cativeiro!!! Quem vai parar esses “santos” doidos? Que o Senhor tenha misericórdia de nós.

Se dissermos que não temos pecado, enganamo-nos a nós mesmos, e não há verdade em nós. Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados, e nos purificar de toda a injustiça. (1 João 1:8-9).    

Em Cristo,     
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quarta-feira, 26 de junho de 2013

TENDÊNCIAS CATÓLICAS ENTRE OS EVANGÉLICOS

Por Gilson Barbosa
 
Estou cada vez mais convencido de que o evangelicalismo moderno está a "cara" da Igreja Católica Romana medieval. Há uma semelhança sutil e ao mesmo tempo descarada. Alguns nem sabem que estão parecidissimos com a Igreja Católica Romana, outros querem mesmo praticar uma espécie de indulgência evangélica. O pastor Augustus Nicodemus Lopes escreveu um artigo interessantíssimo sobre isso, com o título "A alma católica dos evangélicos no Brasil". O artigo destaca cinco tendências entre os evangélicos atuais:

1 - O gosto por bispos e apóstolos;
2) A idéia de que pastores são mediadores entre Deus e os homens;
3) O misticismo supersticioso no apego a objetos sagrados;
4) A separação entre sagrado e profano;
5) Somente pecados sexuais são realmente graves.

A conclusão que chegamos é a de que necessitamos urgente de um avivamento. Aqui também temos problemas, pois o conceito de avivamento foi terrivelmente afetado e perdeu seu sentido original. Muitos não compreendem o que é um real avivamento e confundiram o mesmo com shows gospel, transito livre nas emissoras televisivas, pentecostalismo e neopentecostalismo, avivalismo, sucesso, igrejas lotadas, pregações eloquentes, visibilidade na mídia e política, etc. Todos os meios e modelos tem se mostrado ineficientes. Creio piamente que somente um retorno aos cinco solas da Reforma (somente a Escritura, somente a Graça, somente a Fé, somente Cristo, somente Glória a Deus) serão eficientes e suficientes para colocar a igreja evangélica no prumo. A pergunta que se deve fazer é: "Quem está interessado nisso?"

Uma das tendências atuais que me deixa curioso é a sacralização de objetos, elementos e ações. Na sacralização de objetos e elementos temos: copo de água em cima do rádio, toalhinha santa, sal grosso, água do rio Jordão, lascas da arca de Noé, pregos da cruz, manto de Elias, a sacralização do templo (principalmente do púlpito), a consubstanciação e sacralização dos elementos da ceia (pão e vinho), etc. Os principais resultados disto é promover o misticismo e subtrair a glória devida somente a Deus.

Há pregadores e até mesmo obreiros que no ambiente do culto não sobem no púlpito sem antes dobrar os joelhos e fazer uma oração - como se este compartimento do Templo fosse distinto e "mais sagrado" dos demais. Neste caso lembro-me do episódio em que Moisés teve uma visão no deserto onde a sarça queimava mas não se consumia. Quando Moisés impressionado pelo acontecimento intencionou se aproximar da sarça o Anjo do Senhor bradou:

           "Moisés, Moisés. Respondeu ele: Eis-me aqui. E disse: Não te chegues para cá; tira os sapatos de teus pés; porque o lugar em que tu estás é terra santa". (Êxodo 3:4-5)

Numa passagem bíblica paralela fica claro que para Deus não importa realmente o local aonde ele deve ser adorado. Encontramos em Atos 7 Estevão diante do Sinédrio tendo que responder a acusação de que havia proferido blasfêmias contra o Santo Templo e a Lei de Moisés (Atos 6: 13). Para o judeu devoto o Templo era extremamente sagrado. Porém, em seu discurso Estevão atacou severamente essa ideia dizendo que "o Altíssimo não habita em templos feitos por mãos de homens" (Atos 7:48), no sentido de que a adoração a Deus não se concretiza nem apenas se legitima num Templo. A adoração é algo do espírito/alma e de fórum intimo. Aonde o povo do Senhor se reúne em verdade, ali Deus pode receber a verdadeira adoração. Não há necessidade de mecanismos nem aparatos sofisticados. Encontramos este sentido no diálogo de Jesus com a mulher samaritana:
 
           Nossos pais adoraram neste monte, e vós dizeis que é em Jerusalém o lugar onde se deve adorar. Disse-lhe Jesus: Mulher, crê-me que a hora vem, em que nem neste monte nem em Jerusalém adorareis o Pai. Vós adorais o que não sabeis; nós adoramos o que sabemos porque a salvação vem dos judeus. Mas a hora vem, e agora é, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade; porque o Pai procura a tais que assim o adorem. Deus é Espírito, e importa que os que o adoram o adorem em espírito e em verdade. (João 4:20-24).
 
Outra tendência tem sido a de sacralizar indevidamente os elementos da ceia do Senhor. Semelhante a Lutero, talvez inconscientemente, alguns tem aderido a doutrina da consubstanciação dos elementos. Ao participar do culto de santa ceia, mais precisamente no momento da distribuição dos elementos, você já deve ter ouvido algo como: "enquando você come o pão ou bebe do cálice pode ser curado, batizado em línguas, ter problemas solucionados, etc. O que é esse entendimento senão o de que após a consagração dos elementos na oração os mesmos passam a possuir o poder e a presença magnética de Cristo?
 
A ingestão dos elementos não possuem a propriedade para tais operações extraordinárias. Após a consagração o pão continua pão e o vinho (ou suco de uva) continua o mesmo. O que importa mesmo é o significado e simbolismo: "Porque todas as vezes que comerdes este pão e beberdes este cálice anunciais a morte do Senhor, até que venha. Portanto, qualquer que comer este pão, ou beber o cálice do Senhor indignamente, será culpado do corpo e do sangue do Senhor. Examine-se, pois, o homem a si mesmo, e assim coma deste pão e beba deste cálice." (1 Coríntios 11:26-28). Não há nenhuma alteração ou metamorfose nos elementos. 
 
Uma ação que demonstra a sacralização dos elementos é o fim destinado com as sobras da ceia. O que sabe é que comumente alguns 1) enterram as sobras ou 2) jogam no lixo. A questão principal é que fazem assim motivados por um sentimento fantasioso, supersticioso e místico. Há até "lendas" contando que um cachorro morreu após ingerir sobras do pão da ceia que havia sido enterrado no quintal da igreja. O cálice e o pão estão  sendo reverenciados por muitos, aumentando mais ainda a semelhança supersticiosa e idolátrica com a Igreja Católica Romana. 
 
Se a igreja evangélica não se voltar para os Solas da Reforma Protestante estará cada vez mais se afundando no lamaçal da confusão doutrinária e teológica. Que o Senhor tenha misericórdia de nós e abra os nossos olhos espirituais.
 
Em Cristo,
 
 
 
 
     


    
 
 
 
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quarta-feira, 29 de maio de 2013

A NECESSIDADE DA COMUNHÃO ENTRE OS SANTOS

Por Gilson Barbosa

Há diversos fatores que possuem o potencial de impedir a comunhão entre os seguidores de Cristo. Dentro de um contexto amplo temos o denominacionalismo. Sei de projeto de evangelismo interdenominacional que não deu certo por causa de usos e costumes. Os irmãos da igreja A eram “liberais”, e os irmãos da igreja B eram radicais, e não toleravam quem não fosse adepto dos usos e costumes. Pronto! Estava lançada a intolerância, discórdia e desunião interdenominacional.

Num contexto limitado (no convívio da igreja, por exemplo) temos a questão das personalidades ou temperamentos humano. Não é difícil nos relacionarmos bem com pessoas que se identificam conosco ou que são de temperamento moderado. O difícil mesmo é tolerar aquele que é egoísta, orgulhoso, de opiniões exclusivistas, “pavio curto”, desequilibrado, etc. Mas, como servos de Cristo temos que suportar essas pessoas. O Senhor Jesus ordenou que amássemos a todos. Não é tarefa fácil. 

Outro fator que dificulta a comunhão é quando há cumplicidade entre os membros da igreja. Isso é muito comum, principalmente, entre oficiais de igrejas administrada no sistema episcopal. A cumplicidade quase sempre é resultado de pecado oculto. Isso acontece, por exemplo, quando o ministério (a direção da igreja) resolve agir arbitrariamente em questões administrativas e os demais obreiros não podem nem devem sequer indagar a respeito das decisões tomadas. O certo é, que em determinadas situações não podemos nem devemos ter comunhão com aqueles que se dizem irmãos, mas querem nos englobar nos seus pecados. Lembro-me do axioma profético: Andarão dois juntos, se não houver entre eles acordo?

Afirmei na postagem anterior que pela graça do Senhor estamos em união com Cristo. O apóstolo Paulo disse aos colossenses que “a vida de cada um deles estava escondida com Cristo em Deus” (3:3). E se desfrutamos das graças de Cristo, que são Suas bênçãos espirituais, também gozamos da mesma comunhão com nossos irmãos nos mesmos dons e graças uns dos outros. Portanto, não deveria haver invejas, intrigas ou dissensões em nosso meio, pois devemos estar unidos uns aos outros em amor.

Se os irmãos da igreja de Corinto se aplicassem nisso não haveria divisão nela. Divisão movida por preferencias pessoais. Não se alegravam no fato de que a qualidade na mensagem dos seus pregadores era para deleite deles mesmos. Por isso algum deles afirmava: “Eu sou de Paulo”; o outro “Eu sou de Apolo”; o outro “Eu sou de Pedro”; e ainda outro “Eu sou de Cristo”. O apóstolo Paulo procura corrigir a distorção e afirma que devem usufruir dos privilégios mutuamente.

Portanto, ninguém se glorie nos homens; porque tudo é vosso; Seja Paulo, seja Apolo, seja Cefas, seja o mundo, seja a vida, seja a morte, seja o presente, seja o futuro; tudo é vosso, E vós de Cristo, e Cristo de Deus. (1 Coríntios 3:21-23).

Paulo começa dizendo que seja um pregador ou outro, os irmãos deveriam aproveitar o máximo da mensagem do Senhor por intermédio deles e se recrearem nisso, não preferindo um em desonra ao outro. E mais, seja o que for todos eles sofrem os efeitos das contingencias da vida, tais como a morte, o presente, o futuro, o mundo. Ninguém deve se considerar melhor ou pior que o outro, pois somos todos iguais, enfrentaremos as mesmas adversidades e estamos nos conduzindo ao mesmo final. Assim como somos de Cristo, e Cristo de Deus, todas as coisas são para nosso deleite espiritual. Em outras palavras, é quase uma obrigação termos comunhão uns com os outros e nos alegrarmos nesta realidade.

Na igreja visível de Cristo não deve haver individualidade. Tanto a edificação, consolação e exortação devem ter como objetivo o Corpo de Cristo e não o indivíduo em si; o gozo pela felicidade do outro, a tristeza pelo pecado de um irmão, a gentileza no trato com os mais simples, a ajuda social aos pobres, tudo isso deve ter como perspectiva o coletivo e não a individualidade.

E ele mesmo deu uns para apóstolos, e outros para profetas, e outros para evangelistas, e outros para pastores e doutores, querendo o aperfeiçoamento dos santos, para a obra do ministério, para edificação do corpo de Cristo; até que todos cheguemos à unidade da fé, e ao conhecimento do Filho de Deus, a homem perfeito, à medida da estatura completa de Cristo, para que não sejamos mais meninos inconstantes, levados em roda por todo o vento de doutrina, pelo engano dos homens que com astúcia enganam fraudulosamente. Antes, seguindo a verdade em amor, cresçamos em tudo naquele que é a cabeça, Cristo, do qual todo o corpo, bem ajustado, e ligado pelo auxílio de todas as juntas, segundo a justa operação de cada parte, faz o aumento do corpo, para sua edificação em amor. (Efésios 4:11-16)

O mundo de hoje incentiva o indivíduo na sua individualidade em detrimento da coletividade. Na nossa sociedade não há mais gentileza, cortesia ou educação. É cada um por si. O transito das grandes cidades, por exemplo, reflete este triste sentimento e a dura realidade. Porém, não deve ser assim entre os discípulos de Cristo. Note nos versículos acima que Paulo fala no plural. O desejo de Paulo é que os santos sejam aperfeiçoados, que cheguem à unidade da fé, que não sejam mais meninos inconstantes, que em Cristo cresçam em tudo. Não há espaço para o egoísmo, egocentrismo, exaltação e individualidade. Todos participam juntos e são edificados juntamente em amor.

O mesmo se dá quando um irmão peca. Todos na igreja deveriam sentir tristeza e pesar pelo seu pecado. Não podemos estar indiferente diante de uma situação de calamidade espiritual ou até mesmo social. Quantos que se apartam do irmão que pecou como se o transgressor fosse semelhante aos leprosos em Israel, quando na verdade deveríamos exortá-lo em amor. Outros veem seu irmão em dificuldade social, tais como ausência de veste ou alimentação, e possuindo condições nada fazem para ajuda-lo. O apóstolo Paulo escreveu que...

que, se um membro padece, todos os membros padecem com ele; e, se um membro é honrado, todos os membros se regozijam com ele. (1 Coríntios 12:26)

Não adianta muito uma igreja se vangloriar de possuir todos os dons carismáticos se não há unidade no Corpo. Esta unidade subentende que todos os membros do Corpo de Cristo tenham igual cuidado uns pelos outros (I Coríntios 12:25). A individualidade possui ênfase mais na questão da função ministerial do que na prática acionária dos dons. Por isso o apóstolo continua dizendo:

Ora, vós sois o corpo de Cristo, e seus membros em particular. E a uns pôs Deus na igreja, primeiramente apóstolos, em segundo lugar profetas, em terceiro doutores, depois milagres, depois dons de curar, socorros, governos, variedades de línguas. (1 Coríntios 12:27-28)

Temos o dever de amar uns aos outros, particularmente e publicamente, e contribuirmos para o aproveitamento mútuo nos sentidos imaterial e material do homem – tanto o interior quanto o exterior. O fato é que devo servir de ânimo e conforto ao meu irmão nas suas múltiplas necessidades. É o que Paulo afirmou à igreja romana:

Porque desejo ver-vos, para vos comunicar algum dom espiritual, a fim de que sejais confortados; isto é, para que juntamente convosco eu seja consolado pela fé mútua, assim vossa como minha. Não quero, porém, irmãos, que ignoreis que muitas vezes propus ir ter convosco (mas até agora tenho sido impedido) para também ter entre vós algum fruto, como também entre os demais gentios. (Romanos 1:11-13)

Cada crente também é chamado para a mútua assistência nas questões espirituais, ministeriais, morais e até mesmo sociais. Está em foco, neste caso, o diálogo franco e aberto, feito com amor, sabedoria e muita, mas muita prudência. Por causa da queda do homem esse fator ficou quase totalmente perdido. É comum irmãos ficarem sabendo de questões íntimas de outros e espalharem maldosamente boatos na igreja local publicando os mesmos. As pessoas não são capazes de ouvir as dificuldades alheias e buscar aconselhar e orar pelos faltosos ou os que estão em desatino espiritual. Porém, ainda que estranho para muitos crentes, o conselho apostólico admite que os crentes exortem-se e edifiquem-se entre si dentro do convívio cristão. Isso não significa intrometer-se na vida do outro, mas procurar fortalecê-lo em Cristo, levando-o ao amadurecimento espiritual:

Por isso exortai-vos uns aos outros, e edificai-vos uns aos outros, como também o fazeis. E rogamo-vos, irmãos, que reconheçais os que trabalham entre vós e que presidem sobre vós no Senhor, e vos admoestam; e que os tenhais em grande estima e amor, por causa da sua obra. Tende paz entre vós. Rogamo-vos, também, irmãos, que admoesteis os desordeiros, consoleis os de pouco ânimo, sustenteis os fracos, e sejais pacientes para com todos. Vede que ninguém dê a outrem mal por mal, mas segui sempre o bem, tanto uns para com os outros, como para com todos. (I Tessalonicenses 5: 11-15)

Que o Senhor nos dê da sua graça para nos amarmos, apesar das inúmeras diferenças. A intolerância não é uma questão somente da sociedade não regenerada. Os servos do Senhor também tem se mostrado intolerantes a respeito de doutrinas, teologias, dogmas, hábitos, tradições religiosas, etc. Não significa que compactuo com a perversidade teológica em detrimento da ortodoxia, mas, que não posso depreciar, menosprezar e até mesmo odiar meu irmão só porque ele não pensa, não vive ou não age como eu.

Em Cristo,


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terça-feira, 14 de maio de 2013

A DIFÍCIL COMUNHÃO COM CRISTO

Por Gilson Barbosa

Os psicoterapeutas modernos veem o individualismo positivamente. Dizem que o erro está no egoísmo, que seria um estágio de imaturidade emocional. É certo que em dado momento é bom ficar a só para refletir ou ponderar sobre certas questões. Porém, o cristianismo não incentiva a individualidade. O psicoterapeuta Flávio Gikovate afirmou que “a palavra individualidade tem conotação positiva, como a conquista de um estado de autonomia”. Eis aí o problema para os cristãos: a autonomia humana. A mutualidade é imprescindível no cristianismo.

Minha intenção é desenvolver a postagem em duas partes. Nesta parte pretendo falar da necessidade que temos de ter comunhão com o Deus Triuno.

Definição

Para que definamos corretamente o que é comunhão temos que considerar primeiramente seus dois sentidos: vertical e horizontal. Um depende do outro para ser eficaz em seu resultado. Não acredito que consigamos amar verdadeiramente aqueles irmãos “difíceis” no convívio cristão, se primeiro não tivermos comunhão com o Deus Triuno. Foi exatamente isso que disse o apóstolo João aos seus leitores:

“o que temos visto e ouvido anunciamos também a vós outros, para que vós, igualmente, mantenhais comunhão conosco. Ora, a nossa comunhão é com o Pai e com seu Filho, Jesus Cristo”. (I João 1:2,3).

União e comunhão

Nesse momento é importante distinguir entre a nossa união com Cristo e nossa comunhão com Ele. A união com Cristo significa que fomos dados por Deus à ele desde a eternidade. Nossa união com Cristo é posicional. É denominada de união judicial ou legal. Tem haver com os seguintes aspectos: passado (fomos salvos), presente (estamos sendo salvos) e futuro (estaremos definitivamente salvos).

“As minhas ovelhas ouvem a minha voz; eu as conheço, e elas me seguem. Eu lhes dou a vida eterna; jamais perecerão, e ninguém as arrebatará da minha mão. Aquilo que meu Pai me deu é maior do que tudo; e da mão do Pai ninguém pode arrebatar”. (João 10:27-29);

“Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que nos tem abençoado com toda a sorte de bênçãos espirituais nas regiões celestiais em Cristo, assim como nos escolheu, nele, antes da fundação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis perante ele” (Efésios 1:3,4).

Já a nossa comunhão com Cristo é algo paulatino, progressivo, metódico. A comunhão pode ser definida como “a participação comum em algo”. Se de fato fomos unidos a Cristo por Deus, devemos ter comunhão com Ele em suas graças, sofrimentos, morte, ressurreição e glória.

Elementos da comunhão com Cristo: graças, sofrimentos, morte, ressurreição e glória

As graças de Cristo trata-se das bênçãos espirituais proporcionadas por Ele aos seus escolhidos: “Porque todos temos recebidos da sua plenitude e graça sobre graça” (João 1:16). É o gozo que o fiel deve sentir em ser salvo por Cristo e servi-lo até o fim. Este fato nos obriga humilharmos e deixarmos ser supridos por Cristo em nossas necessidades espirituais. John Charles Ryle (o bispo Ryle), afirmou que está guardado em Cristo

                   “... como na casa do tesouro, um suprimento ilimitado de tudo quanto o pecador necessita, no tempo presente e na eternidade. Sua dádiva especial à igreja é o Espírito de vida, o qual, assim como uma grande raiz, transporta a seiva e o vigor espiritual de Cristo a todos os ramos que nele creem. Jesus Cristo é rico em misericórdia, graça, sabedoria, justiça, santificação e redenção”. (Meditações no Evangelho de João, p. 13).

Recebemos a graça de Cristo em nossas vidas, portanto, temos de estar ligado a Ele, desfrutando e compartilhando de sua graça as demais pessoas. Ter Cristo na vida é como “um grande achado”. Ele é a pérola de valor inestimável.

Se participar das graças ou virtudes de Cristo é o que todos querem, não acontece o mesmo com a participação nos Seus sofrimentos – que diga a teologia da prosperidade e o triunfalismo evangélico.  Ter comunhão com Cristo nos seus sofrimentos, na verdade, trata das implicações negativas em servir a Ele. A praga daninha do evangelho da prosperidade e do triunfalismo não se sustenta diante desta doutrina. Leia os versículos que seguem e reflita se eles deveriam adjetivar seus autores como “fracos”, “covardes”, “não espirituais”, “carnais”, ou se o que escreveram representa a verdade do evangelho de Cristo.

O apóstolo Paulo disse: “Agora, me regozijo nos meus sofrimentos por vós, e preencho o que resta das aflições de Cristo, na minha carne, a favor do seu corpo, que é a igreja (Colossenses 1:24). O apóstolo Pedro disse palavras mais contundentes ainda:

“Amados, não estranheis o fogo ardente que surge no meio de vós, destinado a provar-vos, como se alguma coisa extraordinária vos estivesse acontecendo; pelo contrário, alegrai-vos na medida em que sois co-participantes dos sofrimentos de Cristo, para que também, na revelação de sua glória, vos alegreis exultando. Se, pelo nome de Cristo, sois injuriados, bem-aventurados sois, porque sobre vós repousa o Espirito da glória de Deus. Não sofra, porém, nenhum de vós como assassino, ou ladrão, ou malfeitor, ou como quem se intromete em negócios de outrem; mas, se sofrer como cristão, não se envergonhe disso; antes, glorifique a Deus com esse nome.”  (I Pedro 4:12-16)

É óbvio que nenhum cristão gosta de sofrer, não somos uma espécie de masoquista. Mas, o sofrimento é parte da glória de Deus em nossas vidas. É difícil compreender isso, mas, é assim que Deus trabalha. A obra de Deus sempre avançou nas dificuldades, perseguições ou provações. Padecer por Cristo é uma honra, e não uma vergonha. O apóstolo Paulo, diferente do evangelho triunfalista que presenciamos em nossos dias, sabia que suas prisões, apedrejamentos, naufrágios, surras, fome, frio, enaltecia o evangelho de nosso Senhor Jesus Cristo. Ele encorajou os irmãos filipenses que preservassem a unidade cristã na luta:

“Vivei, acima de tudo, por modo digno do evangelho de Cristo, para que, ou indo ver-vos ou estando ausente, ouça, no tocante a vos outros, que estais firmes em um só espírito, como uma só alma, lutando juntos pela fé evangélica; e que em nada estais intimidados pelos adversários. Pois o que é para eles prova evidente de perdição é, para vos outros, de salvação, e isto da parte de Deus. Porque vos foi concedida a graça de padecerdes por Cristo e não somente de crerdes nele, pois tendes o mesmo combate que vistes em mim e, ainda agora, ouvis que é o meu.” (Filipenses 1:27-30)

O terceiro elemento da comunhão com Cristo forma um par: morte e ressurreição. A morte e ressurreição de Cristo foram extremamente significativas para nós, pois, há relação entre o batismo em água, que é o sinal e selo da união inicial com Cristo, com a morte e ressurreição de nosso Senhor. Note o que Paulo disse aos crentes romanos:

“Ou, porventura, ignorais que todos nós que fomos batizados em Cristo Jesus fomos batizados na sua morte? Fomos, pois, sepultados com ele na morte pelo batismo; para que, como Cristo foi ressuscitado dentre os mortos pela glória do Pai, assim também andemos nós em novidade de vida. Porque, se fomos unidos com ele na semelhança da sua morte, certamente, o seremos também na semelhança da sua ressurreição, sabendo isto: que foi crucificado com ele o nosso velho homem, para que o corpo do pecado seja destruído, e não sirvamos o pecado como escravos; porquanto quem morreu está justificado do pecado.” (Romanos 6:3-7)

A identificação do crente na morte e ressurreição de Cristo com o batismo deve gerar no crente os sinais de regeneração, o fruto do Espírito. Ele deve andar em novidade de vida, pois “como tal, o batismo proclama que aqueles que estão unidos com Cristo morreram para o pecado” (Bíblia de Genebra – nota). Ou seja, se há união com Cristo deve haver também comunhão. Isso acontece mediante a consideração pela morte e ressurreição de Cristo, que nos vem à memória por meio do batismo.

O estágio ultimo e final, da nossa comunhão com Cristo, se dará quando formos glorificados. A glorificação dos escolhidos do Senhor significa a salvação final e completa na nova ordem de Deus – ou o estado eterno.

“Fiel é esta palavra: Se já morremos com ele, também viveremos com ele; se perseveramos, também com ele reinaremos.” (II Timóteo 2:12).

"Ora, se somos filhos, somos também herdeiros, herdeiros de Deus e co-herdeiros com Cristo; se com ele sofremos, também com ele seremos glorificados." (Romanos 8:17)

O primeiro e grande mandamento

É maravilhosa a comunhão que podemos ter com o Senhor. Porém, suas implicações possuem simultaneamente um gosto amargo e doce. Mas isso é apenas a primeira parte do mandamento que Cristo mencionou em Mateus 22.37: “Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todo o teu entendimento. Este é o grande e primeiro mandamento.” Falta a segunda parte, o que pretendo postar assim que der.

Em Cristo,  



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