terça-feira, 23 de julho de 2013

CALVINO, ARMINIO OU A BÍBLIA?

Por Gilson Barbosa

O título acima, desta postagem, consta como subtítulo em um dos livros da CPAD (Evangelhos que Paulo jamais pregaria, p. 102). Não acredito que o autor do livro tenha em mente que tanto a teologia calvinista quanto a arminiana não são bíblicas, porém é isso que soa. Entretanto, ainda que não tenha sido Calvino ou Armínio que tenham estabelecido suas estruturas teológicas, contudo, as mesmas se fundamentam em passagens bíblicas.

A respeito de se inclinar a uma ou a outra estrutura teológica algumas coisas devem ser ditas. Em primeiro lugar é necessário que a pessoa decida livremente de que lado teológico vai ficar. A princípio isso não é nem negativo nem positivo. Em segundo lugar dependerá muito do livre exame e total dedicação no estudo das escrituras sagradas e literaturas. Menciono o livre exame, pois muitos crentes são constrangidos por seus líderes a não lerem literatura de teologia reformada, por exemplo. É necessário que se estude particularmente os sistemas calvinistas ou arminianas com profundidade para que não os julguemos precipitadamente. Em terceiro lugar não é a quantidade de defensores dos dois sistemas que estabelecem suas verdades. O número de defensores ou dos que professam as doutrinas arminianas supera ao calvinismo, mas nem por isso deve ser tida como verdadeira, ou vice-versa. Em quarto lugar dificilmente os dois estão certos no mesmo sentido, um ou outro não se sustenta biblicamente.

Mas, é necessário ter a consciência de que há pessoas tementes ao Senhor e piedosas nos dois sistemas teológicos. Até certo ponto o fato de não entendermos exatamente as doutrinas bíblicas ou de termos dificuldades para interpretar uma passagem bíblica não anula nenhum dos dois sistemas. Porém temos de admitir que um dos dois lados teológicos interpreta com mais coerência a Bíblia Sagrada, com respeito às suas estruturas teológicas.

Os teólogos formularam seus entendimentos das doutrinas em cinco pontos principais. Ficaram conhecidos como Os Cinco Pontos do Calvinismo ou Os Cinco Pontos do Arminianismo. Uma forma pedagógica para apresentar as “doutrinas calvinistas” é o acróstico TULIP (Total Depravity, Unconditional Election, Limited Atonement, Irrestitible Grace, Perseverance of Saints). Na mesma ordem e em português assim se traduz: Depravação Total, Eleição Incondicional, Expiação Limitada, Graça Irresistível, Perseverança dos Santos.

Para que o leitor entenda o que significa esses pontos transcrevo abaixo alguns contrastes entre as duas estruturas teológicas (do livro TULIP Os Cinco Pontos do Calvinismo à Luz das Escrituras, Edições Parakletos).

CONTRASTE ENTRE ARMINIANISMO E CALVINISMO

Quando contrastamos estes Cinco Pontos do Arminianismo com o acróstico TULIP, que forma os Cinco Pontos do Calvinismo, torna-se claro que os cinco pontos deste são diametralmente opostos aos daquele. Para que possamos ver claramente as “linhas de batalha” traçadas pelas afiadas mentes de ambos os lados, comecemos por fazer um breve contraste entre as duas posições à base de ponto por ponto.

PONTO 1 - Depravação Total

O arminianismo diz que a vontade do homem é “livre” para escolher, ou a Palavra de Deus, ou a palavra de Satanás. A salvação, portanto, depende da obra de sua fé.

O calvinismo responde que o homem não regenerado é absolutamente escravo de Satanás, e, por isso, é totalmente incapaz de exercer sua própria vontade livremente (para salvar-se), dependendo, portanto, da obra de Deus, que deve vivificar o homem, antes que este possa crer em Cristo.

PONTO 2 - Eleição Incondicional

Arminius sustentava que a “eleição” é condicional, enquanto os reformadores sustentavam que ela é incondicional. Os arminianos acreditam que Deus elegeu àqueles a quem “pré-conheceu”, sabendo que aceitariam a salvação, de modo que o pré-conhecimento [de Deus] estava baseado na condição estabelecida pelo homem.

Os calvinistas sustentam que o pré-conhecimento de Deus está baseado no propósito ou no plano de Deus, de modo que a eleição não está baseada em alguma condição imaginária inventada pelo homem, mas resulta da livre vontade do Criador à parte de qualquer obra de fé do homem espiritualmente morto.

Dever-se-á notar ainda que a segunda posição de cada um destes partidos (arminianos e calvinistas) é expressão natural de suas respectivas doutrinas a respeito do homem. Se o homem tem “vontade livre”, e não é escravo nem de Satanás nem do pecado, então ele é capaz de criar a condição pela qual Deus pode elegê-lo e salvá-lo. Contudo, se o homem não tem vontade livre, mas, em sua atual situação, é escravo de Satanás e do pecado, então sua única esperança é que Deus o tenha escolhido por sua livre vontade e o tenha elegido para a salvação.

PONTO 3 - Expiação Limitada

Os arminianos insistem em que a expiação (e, por esta palavra, eles significam “redenção”) é universal. Os calvinistas, por sua vez, insistem em que a Redenção é parcial, isto é, a Expiação Limitada é feita por Cristo na cruz.

Segundo o arminianismo, Cristo morreu para salvar não um em particular, porém somente àqueles que exercem sua vontade livre e aceitam o oferecimento de vida eterna. Daí, a morte de Cristo foi um fracasso parcial, uma vez que os que têm volição negativa, isto é, os que não a querem aceitar, irão para o inferno.
Para o calvinismo, Cristo morreu para salvar pessoas determinadas, que lhe foram dadas pelo Pai desde toda a eternidade. Sua morte, portanto, foi cem por cento bem sucedida, porque todos aqueles pelos quais ele não morreu receberão a “justiça” de Deus, quando forem lançados no inferno.

PONTO 4 - Graça Irresistível

Os arminianos afirmam que, ainda que o Espírito Santo procure levar todos os homens a Cristo (uma vez que Deus ama a toda a humanidade e deseja salvar a todos os homens), ainda assim, como a vontade de Deus está amarrada à vontade do homem, o Espírito [de Deus] pode ser resistido pelo homem, se o homem assim o quiser. Desde que só o homem pode determinar se quer ou não ser salvo, é evidente que Deus, pelo menos, “permite” ao homem obstruir sua santa vontade. Assim, Deus se mostra impotente em face da vontade do homem, de modo que a criatura pode ser como Deus, exatamente como Satanás prometeu a Eva, no jardim [do Éden].

Os calvinistas respondem que a graça de Deus não pode ser obstruída, visto que sua graça é irresistível. Os calvinistas não querem significar com isso que Deus esmaga a vontade obstinada do homem como um gigantesco rolo compressor! A graça irresistível não está baseada na onipotência de Deus, ainda que poderia ser assim, se Deus o quisesse, mas está baseada mais no dom da vida, conhecido como regeneração. Desde que todos os espíritos mortos (alienados de Deus) são levados a Satanás, o deus dos mortos, e todos os espíritos vivos (regenerados) são guiados irresistivelmente para Deus (o Deus dos vivos), nosso Senhor, simplesmente, dá a seus escolhidos o Espírito de Vida.

No momento em que Deus age nos eleitos, a polaridade espiritual deles é mudada: Antes estavam mortos em delitos e pecados, e orientados para Satanás; agora são vivificados em Cristo, e orientados para Deus.
É neste ponto que aparece outra grande diferença entre a teologia arminiana e a teologia calvinista. Para os calvinistas, a ordem é: primeiro o dom da vida, por parte de Deus; e, depois, a fé salvadora, por parte do homem.

PONTO 5 - Perseverança dos Santos

Os arminianos concluem, muito logicamente, que o homem, sendo salvo por um ato de sua própria vontade livremente exercida, aceitando a Cristo por sua própria decisão, pode também perder-se depois de ter sido salvo, se resolver mudar de atitude para com Cristo, rejeitando-o! (Alguns arminianos acrescentariam que o homem pode perder, subsequentemente, sua salvação, cometendo algum pecado, uma vez que a teologia arminiana é uma “teologia de obras” — pelo menos no sentido e na extensão em que o homem precisa exercer sua própria vontade para ser salvo.) Esta possibilidade de perder-se, depois de ter sido salvo, é chamada de “queda (ou perda) da graça”, pelos seguidores de Arminius. Ainda, se depois de ter sido salva, a pessoa pode perder-se, ela pode tornar-se livremente a Cristo outra vez e, arrependendo-se de seus pecados, “pode ser salva de novo”. Tudo depende de sua contínua volição positiva até à morte!

Os calvinistas sustentam muito simplesmente que a salvação, desde que é obra realizada inteiramente pelo Senhor — e que o homem nada tem a fazer antes, absolutamente, “para ser salvo” —, é óbvio que o “permanecer salvo” é, também, obra de Deus, à parte de qualquer bem ou mal que o eleito possa praticar. Os eleitos “perseverarão” pela simples razão de que Deus prometeu completar, em nós, a obra que ele começou.

Análise dos Cinco Pontos 

Se um dos lados da disputa teológica deve, com certeza, ser mais coerente que o outro se faz necessário assumir uma posição. Apesar da formatação estrutural dos [cinco] pontos teológicos, convido o leitor a analisar cada ponto comparando-os com as escrituras sagradas. Os textos bíblicos obscuros e isolados devem ser trocados pelos mais claros e em conjunto com outros. 


No amor de Cristo,

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13 comentários:

  1. a coerencia esta no seu ponto de vista pastor...

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  2. E eu concordo com o Titulo do irmao que escreveu o livro pela CPAD " Calvino, Arminio ou a Biblia? " Sabe, porque temos que escolher um ou outro? Desde quando a interpretação biblica correta esta para um ou outro? Como eu disse pro irmao a coerencia esta para forma de cada hum enchergar a vida, vem de suas vivencias e seus estudos biblicos, doutrinas onde foi ensinado...É claro que existem principios biblicos que sao bem claros e temos que estar debaixo deles, mas outros como o irmao mesmo disse , obscuros... Entao temos que esta fundamentados na biblia nao em Arminio ou Calvino, nao foram eles que inspiraram a biblia... Amém eles trouxeram luz ao entendimento... Mas nao sao detentores da verdade absoluta, só Deus é... ainda bem que tem coisas obscuras ao nosso entendimento na biblia, pois sendo assim nos cristãos ja nos achamos os senhores do saber, imagina se fossenos revelado toda a verdade no sentido de totalidade, sem duvida alguma...

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  3. Graça e paz!

    Em primeiro lugar, obrigado por acessar o blog e ler as postagens.
    Em segundo lugar, a interpretação das Escrituras obedecem regras gramaticais, históricas e culturais. E isso tanto Calvino quanto Armínio buscaram praticar.
    Da maneira que o irmão entende nem mesmo o autor do livro da CPAD merece crédito nas palavras dele, pois é a opinião dele, não é mesmo? Será que ele não é bíblico também?
    Temos que escolher um ou outro porque um dos dois é essencialmente mais bíblico que outro.
    Com certeza, você tem um pastor. Você não confia nos ensinamentos dele? Ou vai dizer que fica com a Bíblia e não com o que seu pastor ensina!!!
    Ninguém é totalmente perfeito nas interpretações bíblicas, mas devo crer no que meu pastor prega sim. Se não for assim por que o Senhor deixou pastores e mestres?
    Um abraço,

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  4. Na minha concepção (em boa convivência com pensamentos díspares), essa "teologização" de Deus, do Deus de Abraão, Isaque e Jacó, é estéril e completamente dispensável. Penso que os cristãos, NA ACEPÇÃO PURA DO VOCÁBULO, não têm de se preocupar em criar "motes", 'TULIPs', "CINCO SOLAS" ou coisas semelhantes. Sem querer ofender, a Palavra de Deus, EMBORA DE UMA PROFUNDIDADE IMENSURÁVEL, revela-se maravilhosamente e misteriosamente SIMPLES, porque ASSIM O QUIS O CRIADOR. A maioria das pessoas que se declara "Calvinista" (A MASSACRANTE MAIORIA) jamais leu a principal obra (assim reputada) do francês Calvino, conhecida como "Institutas da Religião Cristã". Ademais, esse cidadão (Calvino), ao que deixa sem rodeios transparecer em seu livro, considera-se a si mesmo com O MAIOR ENTENDEDOR DA PALAVRA DE DEUS, ao ponto de escrever coisas impensáveis como aquilo que se lê no prefácio à Edição Francesa, quando Calvino RIDICULAMENTE "divide"(sic) a inspiração para a elaboração das "Institutas" com o próprio Deus!! Não fosse isso suficiente, Jean Cauvin ainda dedicou verdadeiro "poema" a todos os homens, equiparando-nos a QUADRÚPEDES, OU MAMÍFEROS EQÜÍDEOS, OU CAVALOS que podem ser "MONTADOS" por DEUS ou pelo diabo...

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  5. Olá J. Rubens,
    Respeito sua opinião. Parece que você já leu as Institutas de Calvino. Pergunto: não extraiu nada de bom dela?
    Um abraço.

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  6. Caro Gilson Barbosa,
    Desculpe pelo atraso da resposta. Ressalvo que, assim como você, respeito todas as opiniões, quaisquer que sejam, por que somos livres para pensar como quisermos. Respondendo sua pergunta: Sim, há muitas coisas coerentes, bem abordadas e indiscutivelmente bíblicas nas "Institutas", e, salvo equívoco, a maioria delas guarda consonância com o pensamento de boa parte das organizações religiosas denominacionais cristãs. Mas, sinceramente, em razão das demais nuanças exegético-doutrinárias de Calvino lá contidas (E NÃO SÃO POUCAS), eu jamais seria calvinista. Aliás, mesmo se concordasse integralmente com os pontos de vista do francês, também não me rotularia de calvinista. Prefiro ser CRISTÃO ou CRENTE. Ressalvo que me abstenho de abordar neste comentário outras controvérsias das "Institutas" para não me alongar em demasia. Todavia, na hipótese de você desejar saber a respeito de algum outro ponto, eu me disponho a exprimir minha opinião.

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  7. Olá amado irmão J. Rubens!
    Calvino foi um pensador cristão do seu tempo; assim como o irmão J. Rubens é do tempo presente. Mas, ele foi sobretudo um exegeta e suas obras são reconhecidas e citadas por amigos, adversários e inimigos.
    Confesso também que não gosto do rótulo CALVINISTA. Mas sou adepto da confissão reformada da fé cristã e a amo profundamente.
    Calvino foi feliz em sistematizar uma ideia que não é menos do que bíblica e ensinada por muitos intelectuais antes dele; daí o mote: Calvino era calvinista? Porém, não quero me estender contigo sobre Calvino, penso que isso não é proveitosos.
    Com seus defeitos ou não, considero Calvino um servo do Senhor, assim como você e eu também somos.
    Apesar de não dispor de muito tempo, se preferir fale comigo no meu e-mail: gb-barbosa@hotmail.com.
    Um forte abraço. "O Senhor te abençoe e te guarde" (Números 6:24).

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  8. Caro irmão Gilson,

    Quando você diz: Calvino foi feliz em sistematizar uma ideia que não é menos do que bíblica e ensinada por muitos intelectuais antes dele.
    Temos a impressão de que esse ensinamento antibíblico foi ensinado antes de Santo Agostinho, ninguem antes dele pensava como calvino, veja: http://www.compiladorcristao.com/blog/dicionario-da-igreja-primitiva/l/livre-arbitrio/ - http://www.cacp.org.br/a-igreja-primitiva-e-o-livre-arbitrio/.

    Vemos que esses aberrações teológicas inciaram em Agostinho (idade média), e foi sistematizada por Calvino.

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  9. Graça e paz irmão Rogério!

    Fico muito agradecido por acessar meu blog e ler as postagens.

    Os links enviados referem-se ao livre arbítrio. Não pretendo entrar nesse mérito por enquanto. Porém, minha postagem refere-se aos cinco pontos da teologia reformada e não ao assunto do livre arbítrio. O arminianismo também possui cinco pontos, em oposição ao calvinismo.

    Insisto que a doutrina calvinista, não é proveniente de J. Calvino. Se estudar com atenção verá que a Bíblia respalda estes ensinamentos.

    Se quiser conversar mais sobre o assunto me mande um e-mail.

    Grande abraço.

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  10. Muitos estudiosos falam que seu dogmas tem respaldo bíblicos , eu concordo plenamente!!! Quero vê se a bíblia vai sustentar essas aberrações.

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  11. Graça e paz a todos os santos, estudo as escrituras e como a maioria das religiões são adeptas de Armínio uma pequena argumentação diferente que seja se torna Calvinista, compreendo que Calvino está mais coerente com as escrituras.

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  12. Todos esses Homens foram importantes e tiveram seu tempo. Mas eles só são referência!!! Mas nós queremos um caminho que nos leva a direção... Eu sou o caminho é a vida. Cristo. César Góes. Estudante dá E.B.D.

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  13. Graça e paz!

    Concordo em partes com o irmão, pois, a maioria desses homens do passado histórico, queriam que o povo entendesse melhor a vida, obra e natureza de Cristo.

    Um abraço.

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