sábado, 29 de novembro de 2014

CRENTES SEM A CONVICÇÃO DE SALVAÇÃO



Tenho vários amigos e irmãos arminianos e em contato com eles percebo que eles possuem pelo menos quatro medos: a não certeza da salvação, o de perder a salvação, de fazer Deus o algoz do pecador e de blasfemar contra o Espírito Santo. É óbvio que nem todos os irmãos arminianos são assim, mas é minoria. Por mais que as literaturas ensinem timidamente algum tipo de segurança nesses assuntos, contudo, o medo esta alojado no subconsciente da maioria. Nesta postagem vamos refletir sobre a não certeza ou convicção da salvação.

É dito pelos irmãos arminianos que não temos como saber se somos salvos ou não. Estar convicto da salvação soa como se fosse arrogância ou autoconfiança. Devemos fazer alguma coisa para ser salvo (por exemplo: se decidir por Cristo). A obra da redenção é meramente potencial, pois apenas possibilita que o homem se salve.  

No entanto, a convicção da salvação é produzida no coração do crente por causa da chamada especial do Espírito Santo. É ele quem persuade o coração e a mente do pecador e muda-os radicalmente (II Coríntios 5:17). No diálogo com o famoso fariseu chamado Nicodemos, o Senhor Jesus afirmou que a regeneração (ou o “nascer de novo”) é uma obra vertical produzida somente pelo poder do Espírito. O Mestre disse que “O vento sopra onde quer, ouves a sua voz, mas não sabes donde vem, nem para onde vai; assim é todo o que é nascido do Espírito”. Nenhum ser humano tem o poder de dizer ao vento para que sopre “aqui” ou “ali”, ou que “faça isso” ou “aquilo”. O vento vem e faz o que tem para fazer a nossa revelia. Ou seja, o Espírito é soberano na salvação.

Em primeiro lugar penso que o medo de não estar salvo (ou a não convicção da salvação) é justamente porque a salvação é colocada sobre o ombro dos pecadores. É dele a responsabilidade de ser salvo ou não. É desta forma que sintetizo o apelo feito nos cultos para os pecadores. Mas basta os dias se passarem e percebemos que muitos dos que foram à frente, motivados pelo apelo de aceitarem a Cristo, não permanecem na igreja e muito menos em Cristo. O fato é que o pecador não pode salvar a si próprio, pois sendo assim quem é produzirá a convicção no seu coração? Ele mesmo?

Em segundo lugar penso que a não convicção da salvação é resultado de uma compreensão muito superficial ou equivocada da “Queda Adâmica”, ou seja, dos graves efeitos do pecado original. Para muitos crentes o pecado de Adão afetou o corpo e alma, mas não o espírito. O que eles querem afirmar é que o pecado de Adão não atingiu plenamente o ser humano, mas resta nele algo que o capacita para aceitar a Cristo por si só. Porém, independente da linha teológica sobre a natureza do ser humano (se dicotômica ou tricotômica) Deus não nos vê repartidos, mas como uma pessoal total. 

O pecado nos atingiu como um todo: sentimento, emoção, razão e moral. Atingiu nossa parte imaterial e material. A Bíblia afirma nossa condição diante de Deus e diz que estávamos mortos: “Ele vos deu vida, estando vós mortos nos vossos delitos e pecados” (Efésios 2:1). Pense em Lázaro morto há quatro dias (João cap. 11). O que ele próprio poderia fazer para voltar a viver? Obviamente nada. Foi somente após ouvir o chamado de Jesus: “Lázaro, vem para fora!” é que ele voltou a viver. Se o pecador não for chamado eficazmente pelo Espírito nem mesmo que ele queira conseguirá ser salvo. Conheço muitas pessoas que tentam “mudar de vida” aceitando Cristo, mas como a salvação não processou na sua mente e no seu coração continuam exatamente iguais.

É o Espírito Santo quem inclina o coração do pecador para aceitar a oferta do evangelho e obedecer aos seus mandamentos. O profeta Jeremias tinha convicção disso ao afirmar o seguinte: “Eu sei, ó SENHOR, que não cabe ao homem determinar o seu caminho, nem ao que caminha o dirigir os seus passos” (Jeremias 10:23). Por isso é uma grande bobagem que certos pregadores se orgulhem de que após sua pregação dezenas ou centenas de pessoas aceitaram a Cristo. Se estivesse no homem o poder de aceitar a Cristo creio que ele não faria isso. O evangelista João (3:19,20) afirma nas palavras de Jesus: “O julgamento é este: que a luz veio ao mundo, e os homens amaram mais as trevas do que a luz; porque as suas obras eram más. Pois todo aquele que pratica o mal aborrece a luz e não se chega para a luz, a fim de não serem argüidas as suas obras”. É necessário que o Espírito convença o homem do pecado, da justiça e do juízo.

Há duas chamadas diferentes do evangelho: a externa ou geral e a interna ou particular. Todos são convidados a vir a Cristo: “Vinde a mim, todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei” (Mateus 11:25) ou ainda Apocalipse 22:17 “O Espírito e a noiva dizem: Vem! Aquele que ouve, diga: Vem! Aquele que tem sede venha, e quem quiser receba de graça a água da vida”. Esta é a chamada geral ou externa do evangelho. Mas nem todos de fato vêm a Cristo ou crêem em Cristo para a salvação. Esta é a chamada interna ou particular. E por que é assim? Biblicamente é por causa do que Cristo disse em João 6:37,44: “Todo aquele que o Pai me dá, esse virá a mim; e o que vem a mim, de modo nenhum o lançarei fora”; “Ninguém pode vir a mim se o Pai, que me enviou, não o trouxer”.  

Enfim, o homem não consegue nem pode produzir sua própria salvação. Se fosse assim, ele teria méritos em sua salvação. Mas nem mesmo a fé que o ser humano produz para crer em Cristo é originada dele próprio. O apóstolo disse aos efésios: “Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós; é dom de Deus; não de obras, para que ninguém se glorie” (Efésios 2:8,9).

A evidência principal da salvação é a união e o amor a Cristo, a vontade e o desejo de lhe obedecer e fazer a Sua vontade e ainda a produção do fruto do Espírito. Se possuir esses elementos você é um salvo em Cristo. Tenha convicção da sua salvação e não tenha medo. Não há condenação para os que estão em Cristo: “Agora, pois, já nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus” (Romanos 8:1).       



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quinta-feira, 20 de novembro de 2014

A DIGNIDADE HUMANA (DIA DA CONSCIÊNCIA NEGRA)



A discriminação e o preconceito racial é fruto de um entendimento inadequado sobre o conceito do que é raça. A discussão acadêmica atual está evoluindo sua ideia para considerar a inexistência de diferenças raciais. Entretanto, no imaginário social e/ou popular a existência de diversas raças permanece como uma realidade.

Sempre houve tendências etnocentristas e discriminações baseadas em diferenças físicas, porém, enquanto a tese da teoria monogenista era majoritária não havia ainda a ideia de inferioridade racial, como presenciamos hoje em dia. A tese monogenista afirma a existência de uma única raça humana descendente do primeiro casal criado por Deus.

O apóstolo Paulo há milhares de anos já dizia que Deus “de um só fez toda a raça humana para habitar sobre toda a face da terra” (Atos dos Apóstolos 17:26). O verdadeiro cristianismo atenta para o fato de que no princípio Deus criou o homem segundo a imagem Dele. É assim que informa Genesis 1:27: “Criou Deus, pois, o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou”. O ser humano independente da etnia que pertence, possui a imagem e a semelhança de Deus. Sua dignidade humana deve ser respeitada.

Segundo os estudiosos o entendimento da humanidade a partir de raças diferentes aconteceu por volta do século XVI, mais especificamente com os proponentes do Iluminismo. O estudo das diferentes raças é conhecido como “doutrinas racialistas”. O derivado dessa tese originou o conceito da poligenia, ou seja, a existência de diversas raças humanas. O desenvolvimento desse conceito de raça influenciou fortemente as ciências naturais.

Nos séculos XIX e XX a criminalidade era analisada com base na determinação das diferenças biológicas e hereditárias entre as raças. Mas quando o conceito de raça deixou o campo das ciências naturais e alcançou as ciências humanas e sociais a ideia da superioridade de uma raça sobre outra foi aventada. O Dicionário de Conceitos Históricos registra algo importante sobre um movimento nascente na época conhecido como “darwinismo social”:

Em meados do século XIX, o conceito de raça migrou das ciências naturais e alcançou as ciências sociais e humanas. Com a publicação da obra de Charles Darwin, em 1859, e o desenvolvimento da teoria evolucionista a partir daí, o racialismo ganhou novas perspectivas, com o chamado darwinismo social, que lastreada na teoria da evolução e na seleção natural afirmava não só a diferença de raças humanas, mas a superioridade de umas sobre as outras e, ainda, que a tendência das raças superiores era submeter e substituir as outras. A partir da Frenologia e do darwinismo social (muitas vezes chamado de spencerismo, pois a transposição dos argumentos darwinistas para o campo do social não se deveu ao próprio Darwin, mas a Spencer), desenvolveu-se a eugenia, que enaltecia a pureza das raças, a existência de raças superiores e desacreditava a miscigenação. Tais teorias foram a base científica do racismo.

O mesmo Dicionário afirma ainda que nesta época os pensadores entendiam que “cada raça tinha um lugar determinado no mundo, definido pelo grau de importância na escala evolutiva. E a raça superior, eleita pela seleção natural para ordenar o mundo, era a caucasoide, ou seja, a raça branca”. Os que queriam a pureza das raças (“a eugenia”) pensavam que compreender o conceito de raças desta forma seria melhor para a evolução da espécie humana.

Obviamente esse pensamento desembocou em perseguições e atividades sociais e políticas espúrias e asquerosas, tais como as do partido nazista na Alemanha, à limitação dos direitos dos negros no sul dos Estados Unidos, o apartheid na República Sul-Africana e a escravidão dos negros em escala mundial.

Uma das soluções humanas e simples para a solução do racismo, segundo os estudiosos, é a sociedade não admitir a existência de diversas e diferentes raças, pois há apenas uma raça: a raça humana. Mas segundo o entendimento cristão este reconhecimento não é o suficiente para deter o preconceito racial. Entendemos que a humanidade é corrupta e corruptora porque decaiu do padrão de santidade legal exigida por Deus ainda no início da criação de Adão e Eva. O coração da maioria dos seres humanos é mau desde a transgressão de Adão – este era o gérmen seminal da humanidade.  O narrador do Genesis já dizia o seguinte sobre os dias em que Noé vivia: “Viu o SENHOR que a maldade do homem se havia multiplicado na terra e que era continuamente mau todo desígnio do seu coração” (Genesis 6:5).

Deus não faz acepção de classes sociais, cor, povos, tribos e nações. Em Romanos 2:11 o apóstolo Paulo afirma: “Porque para com Deus não há acepção de pessoas”. Uma vez iluminados e atraídos pelo Espírito Santo de Deus o cristão passa a ter a mente de Cristo: “Pois quem conheceu a mente do Senhor, que o possa instruir? Nós, porém, temos a mente de Cristo” (I Coríntios 2:16). Desta forma não deve haver espaço na vida do cristão para qualquer forma e tipo de preconceito. Portanto, devemos agir considerando a dignidade de todos os seres humanos por todos os dias das nossas vidas.


No amor de Cristo,      
        
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