sexta-feira, 29 de junho de 2012

NO MUNDO TEREIS AFLIÇÕES (Subsídio EBD)


Por Gilson Barbosa

As aflições da qual registra João 16:33 “tem referência a sofrimentos devido à pressão das circunstâncias ou ao antagonismo das pessoas”.[1] Na verdade tem o sentido de “pressão”, “aperto”. No Antigo Testamento o sentido é de qualquer coisa que é estreita, como em I Reis 6.1: “Disseram os discípulos dos profetas a Eliseu: Eis que o lugar em que habitamos contigo é estreito demais para nós”. Nesse caso o lugar onde morava o grupo de profetas sob a liderança de Eliseu tornou-se pequeno demais devido ao aumento dos discípulos. É um agente externo que proporciona o “aperto” e este gera aflição, angústia.  

Outro sentido ainda no AT é o de um povo sendo sitiado por um inimigo: “Ah! Que grande é aquele dia, e não há outro semelhante! É tempo de angústia para Jacó; ele, porém, será livre dela” (Jeremias 30:7). Mas, também pode indicar uma imensa angústia que uma pessoa possa enfrentar em circunstâncias adversas, como por exemplo, a morte de uma pessoa muito querida: “Angustiado estou por ti, meu irmão Jônatas; tu eras amabilíssimo para comigo! Excepcional era o teu amor, ultrapassando o amor de mulheres” (II Samuel 1:26).

O autor da lição que ora comentamos conduziu a interpretação do versículo bíblico (chave da lição) para o entendimento de aflição no sentido da ordem natural, ordem econômica e ordem física. No entanto, não é essa interpretação que deve ser dado ao texto que estudaremos. Se lermos atentamente o contexto do capítulo 16 notaremos que as aflições, ditas por Jesus e registradas por João neste versículo, são as perseguições que os discípulos sofreriam por servirem fielmente a Cristo e que todos os que servem verdadeiramente ao Senhor Jesus sofrerão. Os falsos crentes não passarão por nenhuma aflição, neste sentido, pois não são fiéis a Cristo nem aos ensinamentos bíblicos.  
   
No Novo Testamento a palavra grega que expressa “tribulação”, “aflição” ou “angústia” é thilipsis. “O termo português se deriva do latim tribulum, o instrumento de desterroar o rastelo, mediante o qual o lavrador romano separava a espiga da sua palha. Embora a tribulação possa esmagar-nos e ferir-nos, separa nossa palha do trigo, para que fiquemos separados para o celeiro do céu”.[2] Ela é uma realidade da qual, por fim, sempre resulta num bem maior, ainda que não queiramos sua presença. Os que dizem que o verdadeiro servo de Deus não pode sofrer angústia, aflição ou tribulação desconsidera a soberania de Deus nos Seus planos, na vida existencial da Sua Igreja e na de cada um de nós em particular.  

É verdade que muitas pessoas que estão aflitas, em aperto, são culpadas de sua própria conduta negativa e insensata, e por isso sua postura deve ser a de humilhar-se diante de Deus, dos homens e da situação. Muitos que hoje sofrem estão simplesmente “pagando” o preço das suas escolhas erradas. O próprio Deus não os eximirá do sofrimento, pois em sua Palavra está registrado: “Não vos enganeis: de Deus não se zomba; pois aquilo que o homem semear, isso também ceifará. Porque o que semeia para a sua própria carne da carne colherá corrupção; mas o que semeia para o Espírito do Espírito colherá vida eterna” (Gálatas 6:7). O trabalho do líder espiritual é aconselhar e ajudar as pessoas nesta situação, mas, nunca  tentar reconsiderar, reinterpretar ou anular os desígnios de Deus.    

Há três perícopes no texto de João 16. Primeiro são os versículos 1-15; o segundo 16-24; e o terceiro os versículos 25-33. Quando o evangelista João, em 16:33, escreve “No mundo, passais por aflições; mas tende bom ânimo; eu venci o mundo” referia as situações informadas por Jesus desde o primeiro versículo. O Senhor não escondeu dos seus discípulos que seriam expulsos da sinagoga e que até mesmo seriam mortos: “Eles vos expulsarão das sinagogas; mas vem a hora em que todo o que vos matar julgará com isso tributar culto a Deus” (v.2). Está aqui uma confissão negativa vindo da boca do próprio Jesus. No entanto, Ele não era desleal com seus amigos por isso os avisou sobre as aflições que passariam após Sua morte: “Tenho-vos dito estas coisas para que não vos escandalizeis” (v.1); “Ora, estas coisas vos tenho dito para que, quando a hora chegar, vos recordeis de que eu vo-las disse. Não vo-las disse desde o princípio, porque eu estava convosco” (v.4). Vejo a Teologia da Prosperidade como desleal, pois mostra apenas “um lado da moeda”.

Jesus não disse que não teríamos aflições ou que possivelmente elas não existiriam, pelo contrário, afirmou que seus servos passariam por muitas circunstâncias adversas. Mas, no versículo 33 não tem haver com alimento, trabalho, roupa, dificuldades materiais em geral, mas, com as aflições advindas por conta da fidelidade aos ensinos de Cristo e por sermos seus seguidores.

O versículo principia: “Estas coisas vos tenho dito”. Que coisas são essas? Refere-se a tudo o que Jesus disse na noite em que deu aos seus discípulos as ultimas instruções (estão nos capítulos 14, 15 e 16). Por exemplo: que enviaria o Consolador, portanto, não ficariam como órfãos (14:16); que saber sobre as aflições que viria lhes proporcionaria confiança (16:1,4); que não poderiam nada se não permanecessem em Cristo (15:5); que através da confiança nas palavras de Cristo obteriam paz (16:33a).

Ter paz em momentos de dificuldades é a promessa de Jesus aos seus seguidores, e, é justamente isso o que muitos que se dizem servos de Deus não possuem quando se deparam com as aflições da vida cristã. A paz, nesse versículo, deve ser interpretada como subjetiva, ou seja, a tranquilidade e segurança promovida pela justificação e adoção em Cristo: “O próprio Espírito testifica com o nosso espírito que somos filhos de Deus. Ora, se somos filhos, somos também herdeiros, herdeiros de Deus e co-herdeiros com Cristo; se com ele sofremos, também com ele seremos glorificados. Porque para mim tenho por certo que os sofrimentos do tempo presente não podem ser comparados com a glória a ser revelada em nós” (Romanos 8:16-18). Parece que hoje em dia muitos crentes não sentem o gozo de serem salvos e adotados por Deus em Cristo Jesus. Precisam sempre de mais alguma coisa, e sempre material. Não basta serem “herdeiros de Deus”, das bênçãos espirituais. Não querem sofrer com e por Cristo.

É essa a continuação e a ideia do versículo 33 “No mundo tereis aflições”, ou tribulações. A causa da aflição é o fato de sermos servos fiéis a Cristo e não negarmos seu Nome diante da pressão “do mundo, da carne e do Diabo”. Estes elementos opõem-se contra Deus e Jesus Cristo. Muitos dizem que estão passando por aflições, mas, não é por defenderem a verdade do evangelho, nem a ortodoxia doutrinária, muito menos por serem fiéis seguidores de Jesus Cristo.

A expressão no mundo, neste versículo, deve ser entendida como os que perseguem a Igreja de Cristo, os opositores de Cristo, é mais uma antítese marcada dos ensinos do Senhor Jesus. É o espírito do anticristo. A ética e a moral deste mundo desafiam os autênticos servos de Cristo. Quantos líderes evangélicos têm sido escravos da corrupção financeira, ganância, ambição descontrolada, das malandragens, mentiras, imoralidades, meias-verdades, e por aí afora! Estes não podem dizer que passam por aflições, como a Bíblia diz que os servos do Senhor passariam. Na verdade tenho analisado que são os crentes mais simples, humildes, pobres de espírito, é que tem permanecido fiéis a Deus e aos ensinamentos da Sua Palavra. Tem gente falando pelos cantos da boca. Diz uma e outra coisa no mesmo instante, quase sempre suas palavras são contraditórias. Sugiro que não deixe de ler a postagem do pastor Augustus Nicodemus Afinal, o que está errado com a teologia da prosperidade? (Leia aqui)

No final da sua predição Jesus diz para que os discípulos tivessem ânimo, pois Ele havia vencido o mundo. Isso significa dizer que Cristo venceu o mundo no sentido de que combateu as heresias, o legalismo, a opressão satânica sobre as pessoas, a injustiça na aplicação das leis e não de que não haverá mais dificuldades para seus servos. Ele venceu “armado” com a verdade, justiça, firmeza, honestidade, franqueza, abnegação, moralidade e principalmente no cumprimento do projeto Divino pelo qual veio a este mundo: morrer vicariamente pelos pecadores.

Se Cristo venceu o mundo, por princípio e lógica, seus servos também vencerão se forem seus imitadores. Estêvão estava sendo apedrejado, mas, numa visão que teve, viu “a glória de Deus e Jesus, que estava à sua direita”. O apóstolo Paulo podia dizer: “Mas o que, para mim, era lucro, isto considerei perda por causa de Cristo” (Filipenses 3:7). Ser vencedor, segundo Jesus, não deve ser entendido no sentido físico ou material, mas, que apesar das muitas aflições dos justos o que nos aguarda é incomparável: “Porque para mim tenho por certo que as aflições deste tempo presente não são para comparar com a glória que em nós há de ser revelada” (Romanos 8:18).

O apóstolo Pedro sintetiza, em suas palavras, o tema desta lição: “Amados, não estranheis o fogo ardente que surge no meio de vós, destinado a provar-vos, como se alguma coisa extraordinária vos estivesse acontecendo; pelo contrário, alegrai-vos na medida em que sois co-participantes dos sofrimentos de Cristo, para que também, na revelação de sua glória, vos alegreis exultando. Se, pelo nome de Cristo, sois injuriados, bem-aventurados sois, porque sobre vós repousa o Espírito da glória e de Deus. Não sofra, porém, nenhum de vós como assassino, ou ladrão, ou malfeitor, ou como quem se intromete em negócios de outrem; mas, se sofrer como cristão, não se envergonhe disso; antes, glorifique a Deus com esse nome” (I Pedro 4.12-16).

Engraçado! Eu nunca ouvi um pregador triunfalista, em seu sermão, dizer que é um enorme privilégio sofrer por Cristo, pelo evangelho e suas verdades, como Pedro atesta. Até parece que é mentira as notícias das agências missionárias que informam sobre perseguições às igrejas da China, Índia, Oriente Médio, Ásia, etc. Parece mentira que diariamente muitos missionários são perseguidos e mortos por pregarem o evangelho. Parece mentira que o evangelho da prosperidade tem sido defendido por aqueles que outrora pregavam a Palavra de Deus ortodoxamente. Parece mentira que estão pregando nos púlpitos de muitas igrejas evangélicas mensagens psicológicas, de autoajuda. Parece mentira que a mentira predomina nas mensagens de sermões encomendados e enlatados. Que Deus nos ajude!

Em Cristo,      



[1] WINE. W.E. Dicionário Vine. Ed: CPAD, p. 377.
[2] DOUGLAS, J.D. O Novo Dicionário da Bíblia. Ed: Vida Nova, p. 1630. 

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sábado, 23 de junho de 2012

CÉU


Apocalipse 21:1: “Vi novo céu e nova terra, pois o primeiro céu e a primeira terra passaram, e o mar já não existe”.

“Céu” é o termo bíblico para designar o lugar de habitação de Deus (Sl 33.13-14; Mt 6.9), o lugar de sua presença para onde o Cristo glorificado retornou (At 1.11). A Igreja militante e a Igreja triunfante se unem ali para o culto (Hb 12.22-25), e, um dia, o povo de Deus estará ali com Cristo para sempre (Jo 17.5,24; 1Ts 4.16-17). O céu é o lugar de descanso de Deus (Jo 14.2). É descrito como uma cidade (Hb 11.10) e uma pátria (Hb 11.16.

Pensar no céu como um “lugar” é mais correto do que errado, ainda que a palavra (lugar) possa enganar. As Escrituras descrevem o céu como uma realidade espacial que toca e interpenetra o espaço criado. Segundo a Carta aos Efésios, o trono de Cristo à direita do Pai (Ef 1.20) e a vida dos cristãos em Cristo estão ambos nos “lugares celestiais” (Ef 1.3,20; 2.6). Paulo alude à sua experiência no “terceiro céu” ou “paraíso” (2Co 12.2,4). Um corpo ressurreto, adaptado à vida do céu, nos espera (2Co 5.1-8). Enquanto estamos em nosso corpo atual, as realidades do céu são invisíveis para nós, e só as conhecemos pela fé (2Co 4.18; 5.7). A esperança fundada sobre o que a fé vê dá-nos coragem para perseverar (Rm 8.25; conforme Gl 5.5; 1Jo 3.3).

Podemos formar uma idéia da perfeita vida do céu baseados naquilo que conhecemos imperfeitamente agora (1Co 13.12). Nossa comunhão com Deus e com outros cristãos jamais se quebrará (Sl 23.6). Segundo o Apocalipse, lá não haverá lágrimas, tristeza ou morte (Ap 21.4). Segundo a Carta aos Romanos, a própria terra, com a vida sobre ela, “está sujeita à vaidade” por causa do pecado (Rm 8.20). Através do Espírito, sabemos que esta corrupção será destruída, e as possibilidades vagamente percebidas na criação decaída serão realizadas na “liberdade da glória dos filhos de Deus” (Rm 8.21).

Segundo o Breve Catecismo , fomos criados “para glorificar a Deus e gozá-lo para sempre”. As coroas, festas e celebrações da vitória descritas nas Escrituras colocam um aspecto dessa alegria diante dos nossos olhos. O triunfo do Cordeiro que foi morto e de seus santos com ele (Ap 5.6; 14.1) é outro aspecto. No centro está a união de Deus com seu povo (Ap 22.4). Esta era a promessa da aliança (Jr 30.22), e está destinada a ser realizada de um modo que vai além da nossa imaginação (Ef 2.7; 3.9; conforme 1Co 2.9).

Fonte: Bíblia de Estudo de Genebra, Nota Teológica, página 1548.
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terça-feira, 19 de junho de 2012

O SINAL DA CRUZ

por Kevin Reed

É apropriado para nós oferecermos uns poucos comentários sobre a colocação de cruzes nos locais de adoração. Quando falamos de cruz, ou cruzes, estamos nos referindo ao símbolo visível chamado cruz, não aos sofrimentos do Salvador. Quando o apóstolo Paulo exclamou: “Longe esteja de mim gloriar-me, a não ser na cruz do nosso Senhor Jesus Cristo” (Gl 6:14), ele proferiu uma verdade preciosa.

Mas a expressão do apóstolo é obviamente uma metonímia, pela qual ele exalta a obra salvífica de Cristo. A afirmação de Paulo não faz referência ao símbolo visível, conhecido entre nós como cruz.

A direta adoração ou culto a cruzes é claramente proibida pelas Escrituras, no primeiro e segundo mandamentos, que proíbem o culto de qualquer outra coisa ou pessoa que não o Senhor. Historicamente, os protestantes condenaram a adoração de cruzes; por exemplo, a Confissão Escocesa de 1580 lista especificamente a “adoração de imagens, relíquias e cruzes”, entre as deploráveis práticas do “Anticristo romano” (Essa condenação foi estendida ao gesto supersticioso da “cruz”, que é também empregado entre os ritos e cerimônias romanistas).

Muitos protestantes ainda reconhecem que a adoração direta de cruzes é pecaminosa. Mas há uma disputa quando muitos cristãos protestantes professos defendem o uso da cruz como um sinal.

Ora, o que é um símbolo? É uma representação visível de algo. Se eles dizem que a cruz é um símbolo da deidade, então eles novamente violam o segundo mandamento, que proíbe fazer ou usar representações do Senhor (cf. Dt. 4:15, 16; At. 17:29).

Obviamente, muitos protestantes não diriam que a cruz é uma representação de Deus. Portanto, os adeptos da cruz devem explicá-la como um símbolo de qualquer outra coisa; assim eles mudam o argumento para dizer que uma cruz é um símbolo de redenção, ou da obra de Cristo. Neste caso, a cruz agora se torna uma construção humana rival dos sacramentos. Como temos observado, o batismo e a Santa Ceia servem como sinais visíveis e selos da obra redentora de Cristo; os sacramentos são uma palavra visível para testificar da redenção. “Porque todas as vezes que comerdes deste pão e beberdes deste cálice, anunciais a morte do Senhor até que ele venha” (1 Co. 11:26).

Os adeptos da cruz implicitamente se opõem à sabedoria de Cristo suplementando os sacramentos com a cruz como um sinal acessório. É uma implicação inescapável que a cruz, empregada como um símbolo ou como um auxílio à devoção, adquira a característica sacramental de um sinal.

Alguns irão alegar que pôr uma cruz em casa, ou na igreja, é algo casual, tal como a arrumação das cadeiras, o tapete, e a pintura. Mas estes elementos casuais da decoração não possuem o caráter simbólico da cruz.

Os adeptos da cruz têm de lidar com o fato inegável de que a colocação de uma cruz em um edifício de adoração não é aspecto sem importância no desenho arquitetônico. A única casualidade em um local de adoração são aquelas “circunstâncias quanto ao culto de Deus, e ao governo da Igreja, comuns às ações e sociedades humanas, as quais têm de ser ordenadas pela luz da natureza e pela prudência cristã, segundo as regras gerais da palavra, as quais devem sempre ser observadas” (CFW, I.6).

Deve-se também considerar as más associações da cruz. A cruz, como um símbolo ou gesto, não é encontrada nas Escrituras. Por séculos, a cruz tem sido e continua sendo um proeminente implemento da adoração e superstição papista. Nenhum homem são pode negar estes fatos. Uma vez que a cruz não possui nenhuma autorização bíblica para seu uso, por que ela deveria ter espaço entre aqueles que adoram “em espírito e em verdade”? (João 4:23-24). O povo de Deus tem sido ordenado a retirar de seu meio os implementos do culto corrupto usados pelas falsas religiões (Dt. 12:2-3, 30-31).

Além disso, mesmo se a cruz possuísse uma origem nobre, a superstição agora associada a ela seria motivo para sua abolição. Considere o exemplo de Ezequias com relação à serpente de bronze. A serpente de bronze foi originalmente construída por mandamento de Deus, contudo ela foi destruída quando se tornou uma armadilha para o povo de Deus (2 Reis 18:4). Quanto mais rapidamente, então, deveríamos descartar um símbolo artificial que continua a ser uma bandeira do Anticristo romano?

Em suma, não há nenhuma autorização bíblica para designar a cruz como um símbolo (ou gesto) para adornar as assembleias do povo de Deus. Até que os adeptos da cruz possam mostrar tal autorização, o uso das cruzes permanece condenado por si só, uma vez que o princípio regulador do culto proíbe e toda adição humana aos símbolos e ritos apontados por Deus no culto. Além do mais, a superstição criada pelas cruzes demanda que elas sejam retiradas de entre o povo de Deus.

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segunda-feira, 18 de junho de 2012

SIMBOLISMO NO LIVRO DO APOCALIPSE

Por Gilson Barbosa

Prezado leitor, você estaria disposto a mudar de opinião caso fosse convencido de que seu ponto de vista em algum assunto pode não ser o correto ou conter equívoco? Este é exatamente o desafio proposto pela leitura e estudo do livro de Apocalipse, aos pastores, líderes de estudos, mestres, estudantes da Escritura Sagrada e teólogos.  

Todo o estudante de teologia deveria saber que há muito simbolismo no livro do Apocalipse. Penso que a linha dispensacionalista, orgulhosa de interpretar o livro em seu sentido literal, deveria rever este entendimento hermenêutico. Não atentar para esse fato pode trazer dificuldades textuais de nível infantil, descabido e até mesmo contraditório.

Tomemos como exemplo os números na Bíblia, que são muito usados no Apocalipse de modo simbólico. Voltando ao Antigo Testamento nos deparamos com a história de Ana, a mãe do profeta, sacerdote e juiz em Israel, Samuel. O autor bíblico, do livro de Samuel, em 2.21 afirma que ela teve cinco filhos - três meninos e duas meninas:

O Senhor foi bondoso com Ana; ela engravidou e deu à luz três filhos e duas filhas. Enquanto isso, o menino Samuel crescia na presença do Senhor.

No entanto, no seu cântico (oração) de louvor ao Senhor Ana menciona ter sete filhos, mesmo o leitor entendendo que nessa época ela tinha apenas a Samuel:

Os que tinham muito, agora trabalham por comida, mas os que estavam famintos, agora não passam fome. A que era estéril deu à luz sete filhos, mas a que tinha muitos filhos ficou sem vigor.


1 Samuel 2:5 

Se esse “impasse” não for solucionado a Bíblia não é inerrante, pois, parece haver contradição entre o que Ana disse em sua oração e o que o autor do livro mencionou. A solução está em entender a importância e o conceito que a Bíblia dá aos números. Não que se trata de misticismo numérico, mas, temos de admitir que neles haja certos conceitos, como é o caso dos números três, seis, sete, doze. Temos de analisá-los à luz da ortodoxia teológico-doutrinária e dos textos bíblicos paralelos.

A solução para essa aparente discrepância bíblica é saber que o número sete na Bíblia tem o sentido de plenitude, contentamento, satisfação, completude. Deus concluiu a criação no sétimo dia e o abençoou. O texto bíblico abaixo trata da satisfação Divina pela realização e concretização da Sua obra:

            Assim foram concluídos os céus e a terra, e tudo o que neles há.

No sétimo dia Deus já havia concluído a obra que realizara, e nesse dia descansou.

Abençoou Deus o sétimo dia e o santificou, porque nele descansou de toda a obra que realizara na criação.


Gênesis 2:1-3

Concluímos que Ana ao mencionar em sua oração ser mãe de “sete” filhos, está afirmando a sua alegria, realização, completude, sua plena satisfação com o Senhor, em ter tido um filho (Samuel) mesmo sabendo que era fisicamente incapacitada para tal. Eis aí uma solução hermeneuticamente correta, ortodoxa e bíblica. É assim que devem ser entendidos os números no Apocalipse, pois, de outra forma teremos problemas e contradições.

Pensemos brevemente nos 144 mil descritos em Apocalipse 7. O dispensacionalismo entende que serão judeus salvos no período da grande tribulação com a responsabilidade de pregar o evangelho aos que estiverem presentes neste período. No capítulo 14: 4 diz que eles são virgens:

Estes são os que não estão contaminados com mulheres; porque são virgens. Estes são os que seguem o Cordeiro para onde quer que vá. Estes são os que dentre os homens foram comprados como primícias para Deus e para o Cordeiro.


Apocalipse 14:4

Até mesmo a linha dispensacionalista entende que o texto deve ser interpretado simbolicamente. Como não entender essa expressão como símbolo da santidade, piedade e devoção total ao Senhor? Seria um absurdo se não interpretássemos como um símbolo. O problema é que sem nenhuma explicação satisfatória o número (144 mil) e a nacionalidade se tornam literais.

E ouvi o número dos assinalados, e eram cento e quarenta e quatro mil assinalados, de todas as tribos dos filhos de Israel.

           Apocalipse 7:4

Os dispensacionalistas são arminianos, portanto, como crer que Deus predestina um número exato de salvos judeus para a salvação? Esse entendimento não contradiz o ensino do livre arbítrio para a salvação? Outro detalhe é que as tribos listadas não são literalmente as tribos de Israel. Temos pelo menos algumas indicações disto. A lista apocalíptica inicia-se com Judá, a do Israel literal com Rúben. As tribos de Dã e Efraim não aparecem na listagem. José aparece como sendo tribo. Dez tribos desapareceram e seu destino é incerto. Desta forma a interpretação literal fica comprometida. O entendimento simbólico é mais coerente:

É bem claro, portanto, que a multidão dos selados de Apocalipse 7 simboliza a totalidade da Igreja da antiga e da nova dispensações. A fim de enfatizar o fato de que não é pequena a referida porção da Igreja, mas toda a Igreja militante, esse número 144 é multiplicado por mil. Um mil é 10x10x10, que indica um cubo perfeito, isto é, uma completa reduplicação. (Ver Apocalipse 21:16) Os 144.000 indivíduos selados das doze tribos de Israel literal simbolizam o Israel espiritual, a Igreja de Deus na terra. 

                                                                                                        William Hendriksen

A interpretação sugerida pelos dispensacionalistas ou pré-milenistas clássicos ao capítulo 20 de Apocalipse apresenta uma aparente incoerência – deixo para que os leitores julguem.

E vi descer do céu um anjo, que tinha a chave do abismo, e uma grande cadeia na sua mão.

Ele prendeu o dragão, a antiga serpente, que é o Diabo e Satanás, e amarrou-o por mil anos.

E lançou-o no abismo, e ali o encerrou, e pôs selo sobre ele, para que não mais engane as nações, até que os mil anos se acabem. E depois importa que seja solto por um pouco de tempo.

      Apocalipse 20:1-3

Interpretam que as expressões chave do abismo, a grande cadeia, o dragão, o amarrar Satanás e o colocar selo sobre ele devem ser entendidos simbolicamente. Entendem que os símbolos de chave, corrente e selo querem significar que “por intervenção angélica” a “liberdade de Satanás é restringida e sua esfera de operações, diminuída”. Porém, numa mudança brusca e arbitrária o simbolismo nos versículos 1 a 3 é abandonado para empregar a literalidade de que os “mil anos” significa exatamente um período onde o Senhor reinará com seus santos, em pessoa e publicamente reconhecido.  

E vi tronos; e assentaram-se sobre eles, e foi-lhes dado o poder de julgar; e vi as almas daqueles que foram degolados pelo testemunho de Jesus, e pela palavra de Deus, e que não adoraram a besta, nem a sua imagem, e não receberam o sinal em suas testas nem em suas mãos; e viveram, e reinaram com Cristo durante mil anos.

Mas os outros mortos não reviveram, até que os mil anos se acabaram. Esta é a primeira ressurreição.

Bem-aventurado e santo aquele que tem parte na primeira ressurreição; sobre estes não tem poder a segunda morte; mas serão sacerdotes de Deus e de Cristo, e reinarão com ele mil anos.

E, acabando-se os mil anos, Satanás será solto da sua prisão,

    Apocalipse 20:4-7

Segundo a corrente denominada amilenista os “mil anos” são simbólicos e trata-se do tempo histórico que se estende desde a morte e ressurreição de Cristo até Sua segunda vinda. Aos que objetam que Cristo não pode estar reinando num mundo eivado de enganos, heresias e tantas coisas ruins, devem entender que Satanás tem certo “poder” de atuação nestas esferas, mas está limitado pelo poder de Cristo – especialmente após a morte e ressurreição de Cristo.

E, despojando os principados e potestades, os expôs publicamente e deles triunfou em si mesmo.

       Colossenses 2:15

E, chegando-se Jesus, falou-lhes, dizendo: É-me dado todo o poder no céu e na terra.

Mateus 28:18

Que manifestou em Cristo, ressuscitando-o dentre os mortos, e pondo-o à sua direita nos céus.

Acima de todo o principado, e poder, e potestade, e domínio, e de todo o nome que se nomeia, não só neste século, mas também no vindouro;

E sujeitou todas as coisas a seus pés, e sobre todas as coisas o constituiu como cabeça da igreja,

          Efésios 1:20-22

            Agora é o juízo deste mundo; agora será expulso o príncipe deste mundo.

                                                                                                                            João 12:31

O Deus de nossos pais ressuscitou a Jesus, ao qual vós matastes, suspendendo-o no madeiro.

Deus com a sua destra o elevou a Príncipe e Salvador, para dar a Israel o arrependimento e a remissão dos pecados.

  Atos 5:30, 31

Prezados leitores, não pretendo fazer confusão nem busco inovação, mas, apenas provocá-los a uma discussão saudável que possa levá-los a compreender que talvez o que a Escritura sempre ensinou a respeito da escatologia amilenista possa não ser o que aprendemos em nossa histórica denominação.  Você tem coragem de seguir as Escrituras em detrimento da tradição denominacional?

Em Cristo,

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terça-feira, 12 de junho de 2012

RAZÕES [?] PARA NÃO SE CRER NA DOUTRINA DA TRINDADE


Por Gilson Barbosa

Recebi de um adepto do unicismo[1] um link com o título 70 Razões Porque Não Cremos na Trindade. A princípio fiquei até impressionado, porém, analisando atentamente avaliei como um grande exagero, a começar pela quantidade de razões (70), depois pela interpretação das passagens bíblicas. Após avaliar as “70 razões”, percebi que muitas delas se repetem (constantemente) com outras nuanças; portanto, elas poderiam ser absorvidas em pontos mais condensados, o que cairia, talvez, pela metade de razões. Conclusão: as sete dezenas de razões são mais para impressionar; um exagero hiperbólico. É como se os trinitarianos contra-atacassem com suas 70 Razões Porque Cremos na Trindade. Não há necessidade disso.

Como são “muitas as razões” do unicismo me esforçarei para responder a medida do pouco tempo que disponho. Não tenho um método lógico para as respostas, mas podemos começar respondendo as próprias afirmações do movimento unicista:

OS PRIMEIROS CRISTÃOS DESCONHECIAM A DOUTRINA DA TRINDADE

A primeira razão unicista para não se crer na trindade é porque tal doutrina surgiu no ano 325 depois de Cristo. Se essa ideia for válida, com base no mesmo argumento, poderemos negar outras doutrinas também. Por exemplo: o batismo com o Espírito Santo tendo as línguas estranhas como evidência. Segundo o Dicionário de Religiões, Crenças e Ocultismo (Editora Vida, página 357):

O movimento cresceu a partir das igrejas Assembleias de Deus (AD), um movimento pentecostal que surgira em 1906, na rua Azusa, Los Angeles. 
  
O movimento a que se refere à citação acima é o unicismo. Significa, então, que o unicismo é fundamentalmente pentecostal, e, todos sabem que a base do pentecostalismo são as línguas estranhas e os dons espirituais. Na mesma linha de pensamento diríamos que as manifestações pentecostais também não podem ser admitidas nem buscadas pelos pentecostais unicistas, pois, tal doutrina surgiu no ano 1906 depois de Cristo.

É bom saber que a doutrina da Trindade não surgiu no ano de 325. Ela teve de ser discutida pelos teólogos da época no Concílio de Nicéia realizado em 325 depois de Cristo para afirmação de uma doutrina que até então era plena e totalmente aceita pelos cristãos da Igreja Primitiva e pelos denominados “pais apostólicos ou eclesiásticos”. A obrigatoriedade da discussão aconteceu por causa da controvérsia ariana, conhecida também como arianismo.

O termo arianismo vem de Ário, bispo de Alexandria, cujas opiniões foram condenadas no Concílio de Niceia em 325 d.C., e que morreu em 336 d.C. Ário pregava que Deus Filho foi em dado momento criado por Deus Pai e que antes desse momento o Filho não existia, nem o Espírito Santo, mas somente o Pai. Assim, embora o Filho seja um ser celeste anterior ao resto da criação e bem maior do que todo o resto da criação, ele não se iguala ao Pai em todos os seus atributos – pode-se até dizer que é “igual ao Pai” ou “semelhante ao Pai” na sua natureza, mas não se pode dizer que é “da mesma natureza” do Pai.[2] 

Este ensino arianista é predecessor ao idêntico ensino das Testemunhas de Jeová. Para Ário Cristo não possuía a mesma natureza do Pai. Posto assim Jesus não era plenamente Deus, não era eterno, e, era uma espécie de segundo Deus inferior ao Pai. Portanto, foi elaborada uma pedagógica instrução a fim de que todos os cristãos pudessem brevemente mentalizar a Divindade de Cristo. O documento ficou conhecido como Credo de Niceia. Diz assim este Credo:

Cremos em um só Deus, Pai onipotente, criador de todas as coisas visíveis e invisíveis; e em um só senhor, Jesus Cristo, gerado pelo Pai, unigênito, isto é, sendo da mesma substancia do Pai, Deus de Deus, Luz da Luz, Deus verdadeiro do Deus verdadeiro, gerado, não feito, de uma só substância com o Pai, pelo qual foram feitas todas as coisas, as que estão no céu e as que estão na terra; o qual, por nós homens e por nossa salvação, desceu, encarnou-se e se fez homem. Sofreu, ressuscitou ao terceiro dia, subiu ao céu, e novamente virá para julgar os vivos e os mortos.  
Cremos no Espírito Santo. E a todos que dizem: “Ele era quando não era, e antes de nascer, Ele não era, ou que foi feito do não existente”, bem como aqueles que alegam ser o Filho de Deus de outra substancia ou essência, ou feito, ou mutável, ou alterável a todos esses a Igreja católica e apostólica anatematiza.

Historicamente não é verdade, então, que a doutrina da trindade “surgiu” no ano 325 depois de Cristo e que os primeiros cristãos a desconheciam. Nem mesmo é certo dizer que eles não acreditavam nela, como veremos em outra postagem. 

A TRINDADE É DOUTRINA DA IGREJA CATÓLICA ROMANA

Não há nada teologicamente errado com a definição do Credo de Niceia, mas, os insistentes unicistas dizem que não se deve crer na doutrina da trindade porque é doutrina romana, pois surgiu da reunião de 318 bispos, liderada pelo imperador Romano Constantino. Pois bem, alguém disse que a verdade é sempre a verdade não importa sua procedência. O Diabo sim é o “pai da mentira”, mas, as verdades existentes universalmente são verdades de Deus. Foi o que Jesus disse aos que não criam Nele (João 8:44): 

Vós tendes por pai ao diabo, e quereis satisfazer os desejos de vosso pai. Ele foi homicida desde o princípio, e não se firmou na verdade, porque não há verdade nele. Quando ele profere mentira, fala do que lhe é próprio, porque é mentiroso, e pai da mentira.

Deixando de lado a controvérsia se a Igreja católica nesta época era totalmente romana ou não (leia-se pagã), o que foi resolvido está em conformidade com a ortodoxia teológica.

Um fato não informado publicamente (o que configura desonestidade) pelos que acusam os trinitários de pagãos é a mudança de opinião do imperador Constantino a respeito da doutrina da trindade. Isso significa dizer que a igreja de Cristo não foi favorável à doutrina trinitária imposta pelo imperador Constantino tanto quanto a igreja não deveria acatar sua decisão a favor do arianismo. A solução trinitária imposta pelo imperador teve outro sentido.  

Na realidade, Constantino inverteu sua opinião em 332 d.C., sete anos depois do Concilio de Nicéia, e passou a apoiar Ário. Durante 45 anos dos 49 que se seguiram, os arianos gozavam o favor dos imperadores romanos.[3]

Aos acusadores de que a doutrina da trindade é pagã porque é doutrina romana deveriam atentar para o fato de que o ensino ariano era mais atraente aos imperadores do que o ensino trinitário, no entanto a doutrina trinitária subjugou  os ensinos de Ário:

No auge da controvérsia ariana, entre 325 e 381, o arianismo era geralmente reconhecido pelos imperadores como um sistema religioso mais atraente do que o trinitarismo. O motivo disso era que o arianismo ensinava que Jesus era uma criatura divina, dava a entender que uma criatura podia ser um Deus, podia ficar altamente exaltada e conseguir a obediência incondicional dos homens. Essa idéia era atraente aos imperadores, pois seus antecessores pagãos frequentemente exigiam a adoração dos súditos, e achavam mais fácil governar se o povo os considerassem divinos, nalgum sentido. O trinitarismo, por outro lado, mantinha que a totalidade da divindade pertencia ao Deus trino e uno, e mantinha uma distinção mais nítida entre o Criador e a criatura; assim, deixa subentendido que o imperador era mero homem comum. Que um imperador romano declarasse o cristianismo trinitário como religião oficial do seu império é, portanto, surpreendente, e sugere que a preocupação com a verdade pesou na balança mais do que a conveniência política.[4] 

Os unicistas não creem na doutrina da trindade por ser oriunda da Igreja Católica Romana, dizem. Então não deveriam aceitar ou admitir também o cânon bíblico do Novo Testamento, pois, foram reconhecidos como a inspirada e inerrante Palavra de Deus por volta do século 4 depois de Cristo e por pessoas que eles afirmam estarem dominadas pelo paganismo desta Igreja.

As autoridades da Igreja nesta época não estavam debaixo da soberania de Deus e de alguma forma dirigidos pelo Espírito Santo na coleta e seleção dos livros do Novo Testamento? Os unicistas não crerão mais na inspiração e autoridade do Novo Testamento por causa disso?   
  
NÃO EXISTE A PALAVRA TRINDADE NA BÍBLIA

A terceira razão unicista para não se crer na doutrina da trindade é porque a palavra Trindade não é encontrada na Bíblia. Que argumento tolo! O unicismo ensina que há apenas um Deus e que Ele aparece em três modos (monarquianismo modal). Outro nome para esta unidade de Deus é monoteísmo. Pergunto aos unicistas: a palavra monoteísmo é encontrada na Bíblia? Já que o termo está ausente na Bíblia não deveriam repudiar o conceito singular e único de Deus? Porque isso não é válido na questão da doutrina da trindade? Os unicistas boicotam  o fiel da balança quando a doutrina da trindade é pesada nela?

Penso que os mentores do movimento unicista deveriam ser pelo menos honestos e mostrar os dois lados da moeda e não só o que lhes interessa.

Na verdade, há várias expressões que são técnicas, teológicas, mas que expressam o conceito bíblico, mesmo estando ausente nos textos bíblicos. O teólogo Myer Pearlman disse o seguinte sobre isso:

É verdade que a palavra trindade não aparece no Novo Testamento; é uma expressão teológica, que surgiu no segundo século para descrever a Divindade. Mas, o planeta Júpiter existiu antes de receber este nome; e a doutrina da Trindade encontrava-se a Bíblia antes que fosse tecnicamente chamada a Trindade.[5]

Prezados leitores, os pouparei de estender mais este assunto para que não fique cansativo e enfadonho. Penso que o que foi escrito aqui é suficiente para começarmos a clarear este importante tema e doutrina. Assim que puder voltarei a falar do unicismo, mas, desta vez focando as passagens bíblicas usadas como “prova” de que não se deve crer na trindade. Até breve.

Em Cristo,


[1][1] Basicamente o unicismo é um movimento que tem por fundamento a unicidade ou unidade de Deus, portanto, não admite em hipótese alguma a doutrina da trindade.
[2] GRUDEM, Wayne. Teologia Sistemática. Ed: Vida, p. 178.
[3] JR, Robert M. Bowman. Por que devo crer na Trindade. Ed: Candeia, p. 40.
[4] IBIDEM.
[5] PEARLMAN, Myer. Conhecendo as Doutrinas da Bíblia. Ed: Vida, p. 51.

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COMO POSSO LIVRAR-ME DO VÍCIO EM ENTRETENIMENTO?

Por John Piper

Pastor, eu creio que amo a Cristo de verdade, mas a maior parte do tempo eu prefiro passar entretendo-me do que gastá-lo na Palavra de Deus. Como eu quebro essa influência que o entretenimento tem sobre o meu coração?

Essa é uma pergunta muito boa. E eu penso que ela é especialmente pertinente porque nós vivemos, eu creio, mais agora do que nunca, em dias em que coisas que entretêm estão imediatamente acessíveis.

Eu estava pensando esses dias na diferença entre nossas tentações e, digamos, as tentações de 250 anos atrás, nos dias de Jonathan Edwards. Edwards escreveria sobre a tolice de pessoas jovens que se juntam para ter “conversações frívolas” ou outras coisas ainda piores. (Uma delas chamava-se “Empacotar”: ir juntos para a cama, permanecendo vestidos. Apenas apimentando a vida um pouco. A vida era enfadonha há 250 anos na Nova Inglaterra).

Hoje nós levamos em nossos bolsos, rádio, televisão, internet e jogos e qualquer coisa que seja excitante e cheia de diversão! E “diversão” é uma palavra que é usada hoje na igreja de forma desenfreada! É um adjetivo, é um substantivo, é um verbo, porque nós exercemos o ministério buscando ajustar-nos a essa mentalidade.

Estou profundamente preocupado com isso. Eu quero defender a seriedade a respeito de Deus, em vez de torná-lo palatável fazendo com que Ele pareça “divertido”, transformando-O em mais uma peça de entretenimento.

Assim, a pergunta é: “Como você se livra dessa dependência?”.

1. Reconhecer que ela existe é um enorme passo na direção certa.

2. Busque a Deus seriamente sobre isso. Ore como um louco para que Deus abra seus olhos para ver coisas maravilhosas na Sua lei.

3. Aprofunde-se na Bíblia, até mesmo quando você não tem vontade, suplicando a Deus que abra seus olhos para ver o que realmente está lá.

4. Entre em um grupo onde se conversa sobre coisas sérias.

5. Comece a compartilhar sua fé.

Uma das razões porque nós não somos movidos por nossa própria fé como deveríamos é porque nós quase nunca conversamos sobre ela com os não-crentes. Nossa fé começa a ficar como um tipo de coisa de estufa e então começa a gerar um sentimento de irrealidade sobre si mesma. E então as forças do entretenimento começam a ter maior influência sobre nossas vidas.

Portanto essas seriam algumas das coisas, mas no final das contas é um presente da graça poder sentir a glória de Deus.

Uma última sugestão: pense em sua morte. 

Pense muito em sua morte. Pergunte a si mesmo o que você gostaria de estar fazendo no fim da vida, ou nas horas, ou dias, que antecedem o encontro com Cristo. Eu tenho feito muito isso por esses dias. Eu penso no impacto da morte e o que eu gostaria de estar fazendo e como eu me prepararia para encontrá-lO e prestar contas a Ele.

John Piper. Extraído do site Desiring God. Tradução: Juliano Heyse (mail@bomcaminho.com)

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quinta-feira, 7 de junho de 2012

O “CORPUS CHRISTI” NA CEIA DO SENHOR

Por Gilson Barbosa

Hoje (07/06/2012) é comemorado pelo catolicismo romano o dia de “Corpus Christi”. Nesta postagem abordarei apenas a questão teológica e doutrinária. O leitor poderá saber a origem e demais detalhes dessa comemoração pesquisando o tema na internet ou lendo outra matéria deste assunto no meu blog. (leia aqui).

A Igreja Católica Romana ensina que há sete doutrinas fundamentais, tidas por ela como dogma: o Batismo, a Confirmação ou Crisma, a Eucaristia, a Penitencia, a Unção de Enfermos, a Ordem, e o Matrimônio. “O número dos sacramentos finalmente foram fixados em sete, durante o período medieval (nos concílios de Lyon, 1274; Florença, 1439; e Trento, 1547)”.[1] Os setes são os principais, mas há outros como, por exemplo, a agua batismal, o óleo santo, as cinzas benzidas, velas, palmas, crucifixos e estátuas. Aqueles são necessários à salvação e transmite graça aos seus adeptos.

Os sacramentos destinam-se à santificação dos homens, à edificação do Corpo de Cristo e ainda o culto prestado a Deus. Sendo sinais, destinam-se à instrução. Nao só supõem a fé, mas por palavras e coisas também a alimentam, a fortalecem e a exprimem. Por esta razão são chamados sacramentos  da fé. Conferem certamente a graça, mas sua celebração também prepara os fiéis do melhor modo possível para receberem frutuosamente a graça, cultuarem devidamente a Deus e praticarem a caridade.[2]

Os objetivos dos sacramentos estão claros na citação acima. Importa-nos no momento uma breve análise da Eucaristia. Segundo a Igreja Católica Romana:

A eucaristia é um sacramento que, pela admirável conversão de toda a substancia do pão no Corpo de Cristo, e de toda a substancia do vinho no seu precioso sangue, contém verdadeira, real e substancialmente o Corpo, Sangue, Alma e Divindade do mesmo Jesus Cristo Nosso Senhor, debaixo das espécies de pão e de vinho, para ser nosso alimento espiritual.[3]

Segundo a Enciclopédia Histórico-Teológica da Igreja Cristã, na Eucaristia:

O sacrifício incruento da missa é identificado com o sacrifício de sangue da cruz, sendo que os dois são oferecidos pelos pecados dos vivos e dos mortos. Por isso, Cristo é a mesma Vítima e o mesmo Sacerdote na Eucaristia e na cruz. A transubstanciação, crença de que a substancia do pão e do vinho é transformada no corpo e no sangue de Cristo, foi aludida pela primeira vez no Quarto Concílio Laterano (1215). 
   
O reformador alemão Martinho Lutero se opôs a esse ensino dizendo que o pão e o vinho contém o corpo e o sangue físico de Jesus no ato da Ceia. Ele manteve o mesmo entendimento católico romano de que Cristo está fisicamente presente nos elementos da ceia. No entanto, para o catolicismo os elementos transformavam-se substancialmente na carne e sangue de Cristo, ainda que mantendo a aparência exterior natural (doutrina conhecida como “Transubstanciação”); para Lutero “as moléculas não são transformadas em carne e sangue. Mas o corpo e o sangue de Cristo estão presentes ‘em, com, e sob’ o pão e o vinho” (denominada posteriormente pelos historiadores eclesiásticos de “Consubstanciação”).[4] Em si mesmo os elementos permanecem sendo pão e vinho.  

Lutero ensinava que, embora fosse antibiblica a doutrina católica romana da transubstanciação, as palavras de Cristo “este é o meu corpo” na ultima refeição com os discípulos comprova que existe uma “presença real” do corpo de Cristo nos elementos do pão e do vinho [...] Isto é, para Lutero as duas naturezas do alimento físico e do corpo humano glorificado de Cristo se reúnem e alimentam a alma fiel na refeição sacramental.[5]

Alguns obreiros ou até mesmo entre a membresia, da denominação a qual pertenço, cometem sem saber o mesmo equívoco de Lutero quando afirmam que enquanto os participantes comem o pão e bebem o vinho possivelmente serão curados, abençoados, batizados em línguas, etc. Não concordo com esse entendimento, pois, além de ser uma interpretação defeituosa de certas passagens bíblicas, há muita proximidade entre esse ensino de Lutero e o da Igreja Católica Romana. 

Depois temos o entendimento dos elementos da ceia no ponto de vista do reformador suíço Zuínglio. Ele se opôs a Lutero dizendo que os elementos continuam sendo pão e vinho, substancialmente e externamente, e, apenas representam o corpo e sangue de Cristo, servindo apenas de memorial. Zuínglio negava a presença de Cristo real nos elementos e para ele a ceia nada mais era do que a proclamação e relembrança da igreja (o verdadeiro corpo de Cristo) a morte de Cristo. Dizia ele que:

Comer o corpo de Cristo espiritualmente nao é outra coisa senão confiar, de corpo e alma, na misericórdia e na bondade de Deus em Cristo, ou seja, ter a certeza, a fé inabalável, de que Deus perdoará nossos pecados e nos outorgará a alegria da bem-aventurança eterna por causa de seu Filho, que foi feito inteiramente nosso e oferecido em nosso nome para reconciliar a justiça divina para nós. (Citado em História da Teologia Cristã, 417).  

É interessante esse ponto de vista de Zuínglio, pois aparenta concordar com o que o apóstolo Paulo escreveu aos coríntios (11.24-26):

E, tendo dado graças, o partiu e disse: Tomai, comei: isto é o meu corpo que é partido por vós; fazei isto em memória de mim. (v.24)

Semelhantemente também, depois de cear, tomou o cálice, dizendo: Este cálice é o Novo Testamento no meu sangue: fazei isto, todas as vezes que beberdes, em memória de mim. (v.25)

Porque todas as vezes que comerdes este pão e beberdes este cálice anunciais a morte do Senhor, até que venha. (v.26)

Outro ponto de vista interessante é a do reformador francês João Calvino. Este não concordava com o entendimento de Lutero nem de Zuínglio e procurou estabelecer um meio termo sobre o assunto, o que provocou mudança  da maioria das igrejas reformadas quanto ao conceito dos elementos presentes na ceia do Senhor. Para Zuínglio a ceia do Senhor era apenas uma refeição memorial (mantendo-se o entendimento espiritual, cultual e litúrgico) e seus elementos eram símbolos do “alimentar-se de Cristo”. Para Calvino a ceia era mais do que simplesmente isso (se eu estiver equivocado peço que me corrijam, por favor). Para ele Cristo estava de alguma maneira presente corporeamente nos elementos da ceia – mas não no mesmo sentido de Lutero ou da Igreja Católica Romana. Humildemente confesso que não entendi muito bem o que Calvino queria dizer com isso (gostaria de conversar com algum teólogo reformado sobre esse ponto).   

A Bíblia de Estudo de Genebra escreve em pouquíssimas linhas o seguinte sobre o assunto:

Calvino ensinou que, enquanto o pão e o vinho permanecem imutáveis, o Espírito eleva o crente através da fé, para gozar da presença de Cristo de um modo que é glorioso e real, ainda que indescritível.  
  
Não me sinto confortável em pensar que somente simultaneamente a participação nos elementos e mediante a comunicação do Espírito Santo na alma do crente, ele gozará a presença real e gloriosa de Cristo. Preciso entender melhor esse ponto de vista, pois, parece que contraria a onipresença de Cristo na ceia pelo fato Dele estar no céu com um corpo humano (ainda que glorificado) e só se faria presente no culto por meio da participação do crente nos elementos. Será que estou equivocado?

É verdade que a encarnação de Cristo limitou em certo sentido algum atributo da Divindade Nele, (como por exemplo, a onipresença) mas isso por essa simples razão. Não seria o caso agora, em que Ele se encontra exaltado nos céus por sua ressurreição e ascensão. Não há limites impostos para Sua onipresença em culto algum, ou há? Se existe limitação em que sentido deve ser entendido?

O entendimento da Igreja Católica Romana, referente ao “corpo de Cristo” presente substancialmente nos elementos eucarísticos, é mais um de seus absurdos teológicos, contrário e acrescentado ao ensinamento bíblico. É uma grande heresia afirmar que na missa Cristo é sacrificado novamente. Portanto, adorar a eucaristia, por causa da “Transubstanciação”, não passa de “um ato de idolatria”. Cristo morreu vicariamente somente uma vez, e não todas as vezes que nos reunimos para participarmos da ceia.  

Porque nos convinha tal sumo sacerdote, santo, inocente, imaculado, separado dos pecadores, e feito mais sublime do que os céus;

Que não necessitasse, como os sumos sacerdotes, de oferecer cada dia sacrifícios, primeiramente por seus próprios pecados, e depois pelos do povo; porque isto fez ele, uma vez, oferecendo-se a si mesmo. (Hebreus 7.26,27).

Em Cristo,
    
              

[1] ELWELL, Valter A. Enciclopédia Histórico-Teológica da Igreja Cristã. Ed: Vida Nova, 1993, p. 255.
[2] VIER, Frederico. Compendio Vaticano II. Ed: Vozes, 1991, p. 283.
[3] SÉRIE APOLOGÉTICA, Volume 1, 2002, p. 70.
[4] ERICKSON, Millard J. Introdução à Teologia Cristã. Ed: Vida Nova, 1999, p. 469.
[5] OLSON, Roger. História da Teologia Cristã. Ed: Vida. 2001, p. 405. 

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