Não
encontramos nas Escrituras uma passagem sequer que nos sirva de base para a
aprovação do planejamento familiar. Da mesma maneira não encontramos nenhum
texto que determine um número específico de filhos para cada casal. O mandamento tanto para Adão e Eva, quanto para
Noé e seus filhos de crescer, multiplicar e encher a terra, não é específico e
pessoal, ou seja, não tem em perspectiva apenas o indivíduo, mas sim a
humanidade como um todo (Gn 1.28; 9.1). Podemos usar como exemplo desse
princípio o fato do juízo de Deus ter sido derramado sobre os construtores da
torre de Babel devido ao propósito deles de não povoar a terra (Gn 11.1-8),
ainda que nada seja dito a respeito deles não desejarem ter filhos.
Mesmo
o texto do Salmo 127 que nos mostra claramente como é importante ao homem o
possuir muitos filhos, usa um símile (figura de linguagem) e não uma definição
clara de quantos eles devem ser.
Diante
do exposto, devemos procurar deixar que a Palavra de Deus nos oriente a
respeito deste tema tão importante e controverso e, uma vez orientados por Ela,
busquemos a graça de Deus para que nos conformemos à Sua orientação.
I. PORQUE DEVEMOS DESEJAR TER FILHOS?
Nos
tempos bíblicos, principalmente os do Antigo Testamento, a falta de filhos era
uma vergonha para o casal (Gn 16.1, 2; 25.20, 21). Podemos ver esta verdade
ilustrada nitidamente no clamor desesperado de Raquel a Jacó (Gn 30.1) e na
oração angustiada de Ana ao Senhor (I Sm 1.9-11). Era muito comum a
esterilidade da mulher ser atribuída a uma ação ou maldição do Senhor (Gn
20.17, 18; 30.2; Dt 7.14; I Sm 1.5). Portanto, a idéia de ter filhos era a
coisa mais natural possível. As Escrituras nos dão várias razões pelas quais o
casal que serve ao Senhor deve desejar ter filhos. Entre elas destacam-se as seguintes:
1. Os filhos são dons
de Deus (Gn 4.1; Gn 29.32, 33, 35; 30.17-24).
2. Os filhos são bênçãos de Deus (Sl 127.3-5).
3. Os filhos são um dos
meios pelos quais Deus quer preservar uma semente santa (Ml 2.10-16).
Além das razões
bíblicas citadas acima, podemos citar duas razões emocionais:
1. Os filhos são uma
prova tangível do amor do casal.
2. Os filhos realizam
um desígnio da mente humana.
II. ARGUMENTOS CONTRA O CONTROLE DE NATALIDADE
A
partir da compreensão de que os filhos fazem parte do propósito de Deus para o
casamento, a questão agora é: Quantos filhos um casal cristão deve ter? A
resposta a esta pergunta parece óbvia para muitos cristãos: “Tantos quantos
Deus queira que o casal tenha!”. Aqueles que defendem esta posição costumam
apresentar as seguintes razões:
1.
Controlar
a quantidade de filhos é desobedecer ao mandamento de Deus (Gn 1.28).
2.
O
controle de natalidade é a prática do assassinato incipiente intencional (Dt
32.39).
3.
O
sexo existe exclusivamente para a procriação.
4.
A
Bíblia condena o controle de natalidade (Gn 38.8-10).
III. REFUTAÇÃO DOS ARGUMENTOS CONTRA O CONTROLE DE
NATALIDADE
Compreendemos que a
maioria dos que argumentam contra o controle de natalidade ou o planejamento familiar
o faz com sinceridade e até mesmo como expressão de uma vida piedosa, uma vez
que entendem estarem submetendo-se aos mandamentos da Palavra de Deus.
Não podemos simplesmente ignorar esse ponto de
vista ou considera-lo como ultrapassado. O que devemos fazer é manter a
perspectiva bíblica de que não é agradável diante do Senhor que um casal aceite
o casamento como instituição de Deus e ao mesmo tempo rejeite de forma absoluta
um dos propósitos de Deus para esta instituição. Ao mesmo tempo, devemos analisar
se a Escritura nos fornece base para refutar as argumentações contra o
planejamento familiar e se Elas fornecem princípios que nos conceda fundamento
para estabelecer o equilíbrio entre o desejo de ter filhos e o direito de
planejar quantos filhos ter. Vejamos as refutações e princípios:
1.
Como
vimos no início, o mandamento é geral, não específico (Mt 19.10-12; I Co 7.27,
28).
2.
O
Controle de natalidade não é obrigatoriamente um assassinato incipiente (II Co
12.14; I Tm 5.8).
3.
A
procriação não é o único propósito para o sexo (Pv 5.15-20; Cantares; I Co
7.1-5).
4.
A
Bíblia não condena o controle de natalidade (Gn 38.8-10; Dt 25.5-10).
IV. OS PROBLEMAS DOS ANTICONCEPCIONAIS QUÍMICOS
O fato de
encontrarmos princípios que apoiem o planejamento familiar não resolve
definitivamente a questão. Ainda temos diante de nós um grande dilema. Este
dilema baseia-se na necessidade que temos de responder a seguinte pergunta: “Se
o planejamento familiar é aceitável, quais métodos anticoncepcionais devem ser
usados?”. A princípio, podemos responder que as pesquisas científicas e também
os princípios morais e éticos sobre os quais se fundamenta a medicina indicam alto
nível de reprovação aos anticoncepcionais químicos:
1.
O
problema da insegurança e temor quanto à sua eficácia.
2.
O
problema de que a grande maioria dos anticoncepcionais é abortiva.
3.
O
problema dos efeitos colaterais.
4.
O
problema da inversão do propósito da medicina.
O Padre Tadeusz Pacholczyk, diretor de educação do Centro Católico
Nacional de Bioética, disse: “A medicina é direcionada para restaurar funções
perdidas ou em situação difícil, A pílula, quando usada para propósitos
contraceptivos, não constitui medicina no devido sentido do termo; em vez
disso, representa uma decisão por parte da comunidade médica de conspirar
juntamente com os pacientes na busca de fins não médicos e agendas de estilos
de vida moralmente problemáticos que ameaçam o casamento, a fidelidade e a
castidade dos jovens”.
V. A “TABELINHA” E OS
ANTICONCEPCIONAIS DE BARREIRA
Muitos cristãos não consideram apropriado o uso de qualquer método para
evitar a concepção. Na realidade, porém, muitas dessas pessoas mantêm um
calendário rigoroso do ciclo menstrual para “abster-se” durante o período
fértil da mulher.
Tal atitude não deixa de ser um método contraceptivo. É necessário fazer
uma tabela das temperaturas da mulher para determinar o dia da ovulação. Ele
também exige que se observem indicadores corporais, como mudanças no corrimento
vaginal e na abertura cervical. Em geral, o tempo que vai de uma semana antes
da menstruação até cinco dias após a menstruação é considerado um período
seguro. (Alguns afirmam que no período em que a mulher está
amamentando, existe uma redução considerável quanto à possibilidade dela ficar
grávida) Não é um método absolutamente eficiente para prevenção da gravidez e pode até mesmo
violar o princípio da convicção de tais pessoas (Rm 14.22,23), também violam as
diretrizes bíblicas para a abstinência dadas em I Coríntios 7, em que Paulo
escreve que um casal só pode abster-se de relações sexuais:
1.
Por consentimento mútuo.
2.
Por um curto período de tempo.
3.
Com um propósito devocional e de oração.
As três condições devem ser atendidas; não se trata de “múltiplas
escolhas”.
Quanto aos anticoncepcionais de barreiras, ou seja, o diafragma, o capuz
cervical, a esponja e as camisinhas tanto masculinas quanto femininas, existem
a vantagem de não causarem efeitos colaterais, como os anticoncepcionais
químicos, e a desvantagem de que muitos os consideram desagradáveis no que diz
respeito à falta de liberdade, de conforto e de segurança no intercurso sexual.
CONCLUSÃO:
Sem a pretensão de criar regras, mas levando-se em perspectiva o ensino
bíblico de que todo casal cristão deve desejar ter filhos, entendemos que, no
caso de se julgar necessário o planejamento familiar, o método mais adequado,
por sua praticidade e relativa segurança (as estimativas variam de 3 a 12% na
estimativa de falha no seu uso), considerar a camisinha como o contraceptivo
mais indicado. Neste caso, o casal deve manter-se submisso à soberana vontade
de Deus quanto à possibilidade de haver falha exatamente no período fértil da
mulher e ela venha a engravidar-se.
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