sábado, 15 de setembro de 2012

AS DORES DO ABANDONO (Subsidio EBD)

Por Gilson Barbosa

Casos de abandono são comuns, infelizmente. Hoje em dia é normal, por exemplo, pais abandonarem filhos ou vice-versa. Basta acompanhar as noticias nos jornais e nos depararemos com essa situação lamentável. Esse fato tem trazido amargura, rancor e muita tristeza nas vítimas. O Dicionário Aulete define abandono como a condição de algo ou alguém que está sem amparo, ajuda ou cuidado.  

Nesta postagem o tema é visto sob o aspecto negativo, pois, há abandonos que podem ser positivos. Quando alguém abandona os vícios maléficos a saúde isso é bom. Na perspectiva religiosa e teológica quando o pecador abandona o pecado, isso é melhor ainda - é claro que só acontece o abandono do pecado por meio da graça de  Deus. No entanto, quando somos pessoalmente vítimas do abandono de alguém à situação é extremamente desconfortável.

Sentir-se abandonado nem sempre significa literalmente estar só. Jesus experimentou uma momentânea  separação de Deus na cruz do Calvário quando bradou: “Meu Deus, Meu Deus! Por que me abandonaste?” (Mateus 27:46).  Contudo, lemos na sequencia dos versículos que havia mais pessoas naquele espaço (v.47-49, 54-56). A meu ver este é um dos mais severos momentos de abandono: rodeado de pessoas, mas fisicamente, psicologicamente ou espiritualmente sozinho para enfrentar as adversidades que a vida nos acomete.  

E na vida cotidiana é quase certo que enfrentaremos momentos difíceis. Não é porque somos “crentes” que somos blindados de situações adversas. Aliás, se assim fosse poderíamos dizer que Jesus de alguma maneira fracassou em sua missão. Há crentes que abandonam seus filhos? Com certeza sim. Há pastores que abandonam membros da igreja que estão sob sua responsabilidade? Certamente sim.

Jesus censurou a atitude dos fariseus e escribas de se livrarem da responsabilidade judaica de cuidar dos pais idosos ao fazerem uma declaração falsa de que haviam doado seus bens ao templo: “Porque Moisés disse: Honra a teu pai e a tua mãe e: Quem maldisser ou o pai ou a mãe deve ser punido com a morte. Porém vós dizeis: Se um homem disser ao pai ou à mãe: Aquilo que poderias aproveitar de mim é Corbã, isto é, oferta ao Senhor, nada mais lhe deixais fazer por seu pai ou por sua mãe, invalidando, assim, a palavra de Deus pela vossa tradição, que vós ordenastes. E muitas coisas fazeis semelhantes a estas” (Marcos 7: 11-13). A nota da Bíblia King James explica de maneira interessante esse procedimento:

Corbã é a transliteração de uma palavra hebraica que significa oferta. Muitos judeus religiosos estavam afirmando que haviam feito “corbã” com seus bens, ou seja, doado o dinheiro de aposentadoria dos pais para Deus (mais propriamente para os sacerdotes do Templo) e, por isso, não tinham como ajudá-los. Ocorre que a lei não prescrevia que todo o dinheiro devia ser doado. Além disso, muitos jovens judeus estabeleciam um acordo com os sacerdotes e recebiam parte da “oferta” de volta.   

Em outras palavras esses religiosos abandonavam seus pais idosos justamente no momento da vida em que eles mais precisavam deles. E o pior de tudo é que faziam isso com aparência de piedade e em nome da fé. De forma alguma podemos abandonar os que estão em idade avançada. Segundo a Bíblia o que procede desta forma sinaliza negar sua fé e tornou-se pior do que o descrente: “Se alguém não cuida dos seus, especialmente dos de sua própria família, este tem negado a fé e se tornou pior do que o descrente” (I Timóteo 5:8).

Encontram-se na mesma situação os que abandonaram o apóstolo Paulo no momento mais difícil da sua vida. Segundo historiadores e estudiosos, o apóstolo Paulo foi liberto da prisão domiciliar que tivera em Roma - narrativas finais de Atos 28. Entretanto, por ordens do imperador Nero voltou a ser perseguido e preso, porém agora não gozava mais de nenhum tipo de privilégio (Atos 28:30), mas desta vez padecia numa masmorra fria e úmida (II Timóteo 4:13) considerado como criminoso (II Timóteo 2:9).

No pior momento da sua vida foi abandonado por muitos que diziam serem seus amigos. Ele reclama disso quando escreveu sua segunda carta à Timóteo (1:15): “Estás bem ciente de que todos os que estão na província da Ásia me abandonaram, até mesmo Fígelo e Hermógenes”. Estes dois pareciam ser da confiança de Paulo, mas, por alguma razão entristeceram o apóstolo quando não permaneceram mais leais a ele. Uma das razões do abandono era a ilusão capitulada por meio das pregações dos falsos mestres e heréticos: “Eles [Himeneu e Fileto] se desviaram da verdade, proclamando que a ressurreição já aconteceu, e com isso corromperam a fé de alguns” (II Timóteo 2:18). Obviamente o apóstolo Paulo não transigiria com os heréticos e seus falsos ensinos. 

O apóstolo Paulo reclama também de Demas, que outrora havia sido cooperador dele, mas desviou-se da sã doutrina e abandonou o apóstolo: “Procura vir ao meu encontro o mais depressa possível. Porquanto Demas, havendo amado mais o mundo secular, me abandonou e foi para a Tessalônica” (II Timóteo 4: 9,10). Aqui está uma prova de que os que possuem tendências heréticas abandonam tanto a verdade como os que pregam a verdade. Ainda bem que o apóstolo Paulo podia ainda contar com obreiros leais a verdade da Escritura Sagrada.

Ainda que nos sintamos abandonados a providência de Deus é sempre real em nosso viver diário. Ele não nos abandona nunca. Presenciamos a providência e o cuidado de Deus na vida de José, quando estava no Egito. Lá José passou por tudo o que deveria passar - sob a perspectiva de Deus. Teve momentos bons no Egito, mas até ser alçado a posição de governador, foram muito mais os momentos tensos e desagradáveis. Todavia, Deus era presente na história de José. Se você, caro leitor, está se sentindo abandonado não desanime, há propósito de Deus nisso. Ainda que pareça estranho dizer isso, mas é uma verdade bíblica.   
     
Se pelo contrário, temos negligenciado o amor e o cuidado com os idosos, familiares e amigos, este momento é uma oportunidade de revermos nossa atitude. É imperativo socorrer os que estão passando por lutas, privações, tribulações ou provações. Desta forma estaremos cumprindo o que Jesus recomendou aos judeus, mediante a um juiz que o indagou: “Asseverou-lhe Jesus: ‘Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma e com toda a tua inteligência’. Este é o primeiro e maior dos mandamentos. O segundo, semelhante a este, é: ‘Amarás o teu próximo como a ti mesmo”’ (Mateus 22: 37-39).   

Em Cristo,
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