Por Gilson
Barbosa
Casos de abandono são comuns, infelizmente. Hoje em
dia é normal, por exemplo, pais abandonarem filhos ou vice-versa. Basta
acompanhar as noticias nos jornais e nos depararemos com essa situação lamentável.
Esse fato tem trazido amargura, rancor e muita tristeza nas vítimas. O Dicionário
Aulete define abandono como a condição de
algo ou alguém que está sem amparo, ajuda ou cuidado.
Nesta postagem o tema é visto sob
o aspecto negativo, pois, há abandonos que podem ser positivos. Quando alguém
abandona os vícios maléficos a saúde isso é bom. Na perspectiva religiosa e
teológica quando o pecador abandona o pecado, isso é melhor ainda - é claro que
só acontece o abandono do pecado por meio da graça de Deus. No entanto, quando somos pessoalmente vítimas
do abandono de alguém à situação é extremamente desconfortável.
Sentir-se abandonado nem sempre
significa literalmente estar só. Jesus
experimentou uma momentânea separação de
Deus na cruz do Calvário quando bradou: “Meu Deus, Meu Deus! Por que me abandonaste?”
(Mateus 27:46). Contudo, lemos na
sequencia dos versículos que havia mais pessoas naquele espaço (v.47-49,
54-56). A meu ver este é um dos mais severos momentos de abandono: rodeado de
pessoas, mas fisicamente, psicologicamente ou espiritualmente sozinho para
enfrentar as adversidades que a vida nos acomete.
E na vida cotidiana é quase certo
que enfrentaremos momentos difíceis. Não é porque somos “crentes” que somos
blindados de situações adversas. Aliás, se assim fosse poderíamos dizer que
Jesus de alguma maneira fracassou em sua missão. Há crentes que abandonam seus
filhos? Com certeza sim. Há pastores que abandonam membros da igreja que estão sob
sua responsabilidade? Certamente sim.
Jesus censurou a atitude dos fariseus
e escribas de se livrarem da responsabilidade judaica de cuidar dos pais idosos
ao fazerem uma declaração falsa de que haviam doado seus bens ao templo: “Porque
Moisés disse: Honra a teu pai e a tua mãe e: Quem maldisser ou o pai ou a mãe
deve ser punido com a morte. Porém vós dizeis: Se um homem disser ao pai ou à
mãe: Aquilo que poderias aproveitar de mim é Corbã, isto é, oferta ao Senhor, nada
mais lhe deixais fazer por seu pai ou por sua mãe, invalidando, assim, a
palavra de Deus pela vossa tradição, que vós ordenastes. E muitas coisas fazeis
semelhantes a estas” (Marcos 7: 11-13). A nota da Bíblia King James explica de maneira
interessante esse procedimento:
Corbã é a transliteração de uma palavra
hebraica que significa oferta. Muitos judeus religiosos estavam afirmando que
haviam feito “corbã” com seus bens, ou seja, doado o dinheiro de aposentadoria
dos pais para Deus (mais propriamente para os sacerdotes do Templo) e, por
isso, não tinham como ajudá-los. Ocorre que a lei não prescrevia que todo o
dinheiro devia ser doado. Além disso, muitos jovens judeus estabeleciam um
acordo com os sacerdotes e recebiam parte da “oferta” de volta.
Em outras palavras esses
religiosos abandonavam seus pais idosos justamente no momento da vida em que
eles mais precisavam deles. E o pior de tudo é que faziam isso com aparência de
piedade e em nome da fé. De forma alguma podemos abandonar os que estão em
idade avançada. Segundo a Bíblia o que procede desta forma sinaliza negar sua fé
e tornou-se pior do que o descrente: “Se alguém não cuida dos seus, especialmente
dos de sua própria família, este tem negado a fé e se tornou pior do que o
descrente” (I Timóteo 5:8).
Encontram-se na mesma situação os
que abandonaram o apóstolo Paulo no momento mais difícil da sua vida. Segundo historiadores
e estudiosos, o apóstolo Paulo foi liberto da prisão domiciliar que tivera em
Roma - narrativas finais de Atos 28. Entretanto, por ordens do imperador Nero
voltou a ser perseguido e preso, porém agora não gozava mais de nenhum tipo de
privilégio (Atos 28:30), mas desta vez padecia numa masmorra fria e úmida (II
Timóteo 4:13) considerado como criminoso (II Timóteo 2:9).
No pior momento da sua vida foi
abandonado por muitos que diziam serem seus amigos. Ele reclama disso quando escreveu
sua segunda carta à Timóteo (1:15): “Estás bem ciente de que todos os que estão
na província da Ásia me abandonaram, até mesmo Fígelo e Hermógenes”. Estes dois
pareciam ser da confiança de Paulo, mas, por alguma razão entristeceram o apóstolo
quando não permaneceram mais leais a ele. Uma das razões do abandono era a ilusão
capitulada por meio das pregações dos falsos mestres e heréticos: “Eles [Himeneu
e Fileto] se desviaram da verdade, proclamando que a ressurreição já aconteceu,
e com isso corromperam a fé de alguns” (II Timóteo 2:18). Obviamente o apóstolo
Paulo não transigiria com os heréticos e seus falsos ensinos.
O apóstolo Paulo reclama também
de Demas, que outrora havia sido cooperador dele, mas desviou-se da sã doutrina
e abandonou o apóstolo: “Procura vir ao meu encontro o mais depressa possível. Porquanto
Demas, havendo amado mais o mundo secular, me abandonou e foi para a Tessalônica”
(II Timóteo 4: 9,10). Aqui está uma prova de que os que possuem tendências heréticas
abandonam tanto a verdade como os que pregam a verdade. Ainda bem que o apóstolo
Paulo podia ainda contar com obreiros leais a verdade da Escritura Sagrada.
Ainda que nos sintamos abandonados a providência de Deus é sempre real em nosso viver diário. Ele não
nos abandona nunca. Presenciamos a providência e o cuidado de Deus na vida de
José, quando estava no Egito. Lá José passou por tudo o que deveria passar - sob
a perspectiva de Deus. Teve momentos bons no Egito, mas até ser alçado a posição
de governador, foram muito mais os momentos tensos e desagradáveis. Todavia, Deus
era presente na história de José. Se você, caro leitor, está se sentindo
abandonado não desanime, há propósito de Deus nisso. Ainda que pareça estranho
dizer isso, mas é uma verdade bíblica.
Se pelo contrário, temos negligenciado
o amor e o cuidado com os idosos, familiares e amigos, este momento é uma
oportunidade de revermos nossa atitude. É imperativo socorrer os que estão
passando por lutas, privações, tribulações ou provações. Desta forma estaremos
cumprindo o que Jesus recomendou aos judeus, mediante a um juiz que o indagou: “Asseverou-lhe
Jesus: ‘Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma e
com toda a tua inteligência’. Este é o primeiro e maior dos mandamentos. O segundo,
semelhante a este, é: ‘Amarás o teu próximo como a ti mesmo”’ (Mateus 22:
37-39).
Em Cristo,
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