Dentro
da perspectiva do relacionamento social, Deus criou o homem para que o contato
com seu semelhante fosse agradável, saudável e puro. No entanto, a Queda do
homem (a transgressão de Adão e Eva ao mandamento de Deus) produziu uma série
de efeitos perniciosos: entre eles o rompimento da comunhão com o próximo. Como
é difícil o relacionamento social! Deparamos com essa dificuldade em todas as
esferas e segmentos. Alguns até mesmo imaginam que no âmbito da igreja não
existe barreiras de relacionamento fraternal, mas, os fatos mostram o
contrário.
Notamos
a falta de comunhão entre pessoas logo após o pecado de Adão. Um detalhe: o
desentendimento não foi entre pessoas desconhecidas (ainda que isso não
justifique), mas entre o casal, Adão e Eva. O marido colocou a culpa da
transgressão na sua própria mulher para se livrar da culpa que era sua: “Então
disse Adão: A mulher que me deste por companheira, ela me deu da árvore, e
comi” (Gênesis 3:12).
Denominações
evangélicas e certos crentes místicos preferem nominar alguns desvios da
conduta humana não por pecado, desobediência, transgressão da Lei Divina, mas, de “espírito de pecado”. Dizem que
se determinada pessoa peca constantemente, ela é possuidora de algum espírito
demoníaco que a faz transgredir o mandamento bíblico de não pecar. Então, do adúltero,
do mentiroso, do invejoso, do alcoólatra, é dito que tem um “espírito de
adultério”, “espírito de mentira”, “espírito de inveja”, “espírito de
alcoolismo”, e assim por diante. Quer dizer, é tudo culpa do Diabo? E a
responsabilidade humana? Como o Senhor julgará essa pessoa se ela não tem culpa
da sua transgressão?
O
apóstolo Paulo, contrariando as expectativas de alguns, ensina que o pecado é
obra da carne, e não algum espírito demoníaco: “Porque as obras da carne são
manifestas, as quais são...” (Gálatas 5:21). Seria muito fácil solucionar esse
mal: expulsando o tal “espírito” o pecador é liberto. No entanto, sabemos que
na Escritura Sagrada o pecador é convidado a arrepender-se dos seus pecados:
“Arrependei-vos e crede no Evangelho” (Marcos 1:15).
Nas
obras da carne elencadas pelo apóstolo Paulo em Gálatas 5:21 encontramos a
inveja, tema desta postagem. Portanto, é necessário definirmos este sentimento
negativo para compreendermos o quão ele é pernicioso nas relações sociais.
Alguém disse que a inveja é pior do que a ambição e os invejosos selecionam o
quê invejar. Por exemplo, não se inveja um casal de velhinhos juntos por tantos
anos em feliz matrimônio a ponto de querer também ter um casamento duradouro.
Mas, inveja-se do carro novo, sucesso, status, beleza e dinheiro do próximo.
Assim, temos algumas curtas definições de inveja:
Querer
que o outro não tenha ou tivesse aquilo que você queria ter.
Malevolência com respeito às vantagens que outros parecem
desfrutar.
Sentimento
de desgosto produzido por testemunhar ou ouvir falar da vantagem ou
prosperidade de outrem. (Dicionário
Vine, p. 720).
Num
texto secular a escritora Vanessa Bauer Ribas disse algo interessante sobre a
inveja:
Esse
sentimento é considerado destrutivo uma vez que surge em decorrência não do
próprio sentimento, mas como uma infelicidade pela posse do outro, o que faz
com que a pessoa fique sempre preocupada com as habilidades e potencialidades
do outro e acaba deixando passar despercebidas as oportunidades que as poderiam
fazer crescer e realizarem suas ambições.
A
autora disse também que nem sempre o objeto da inveja é material, mas pode ser
uma qualidade, habilidade, potencialidade, um jeito de ser, um laço afetivo
entre duas pessoas. Podemos perceber que Caim tinha inveja de seu irmão Abel
não somente por causa do tipo da oferta em si, mas porque algo em Abel agradava mais ao Senhor do que o ato de Caim em trazer
a sua oferta: “E Abel também trouxe dos primogênitos das suas ovelhas, e da sua
gordura: e atentou o Senhor para Abel e para sua oferta, mas para Caim e para a
sua oferta não atentou, e descaiu-lhe o semblante” (Genesis 4:5). O apóstolo João
informa que a causa principal estava na motivação de Caim: “Porque esta é a
mensagem que ouvistes desde o princípio: que nos amemos uns aos outros. Não
como Caim, que era do maligno, e matou a seu irmão. E por que causa o matou?
Porque as suas obras eram más e as de seu irmão justas” (I João 3:12).
Ainda
que gere curiosidade, o mais importante não está na forma como Caim matou seu
irmão, mas no sentimento arraigado dentro do seu coração. A inveja de Caim
levou ao sentimento de ódio e este ao homicídio: “E falou Caim com o seu irmão
Abel: e sucedeu que, estando eles no campo, se levantou Caim contra o seu irmão
Abel, e o matou” (Genesis 4:8). A inveja conduz ao desejo de ver a destruição
da vida do outro tanto quanto sua morte, o fim da sua existência. O invejoso
não somente deseja possuir aquilo que pertence ao outro, como deseja que ele
venha a perder o que tem. Alguns até conseguem disfarçar, mas não conseguem
esconder por muito tempo esse perverso sentimento. Determinados atos serão como
sinais que acabarão por condenar tal pessoa como um invejoso.
A
Bíblia nos adverte a não desejarmos desordenadamente o que não temos e, por
outro lado, nos contentarmos com as designações que o Senhor preparou para cada
um de nós: “O inferno e a perdição nunca se fartam, e os olhos do homem nunca
se satisfazem” (Provérbios 27:20). O apóstolo Tiago (3:16) disse que “onde há
inveja e espírito faccioso aí há perturbação e toda a obra perversa”. Como
prova de que confiamos no Senhor temos de estar sempre preparados para as
adversidades, contentes em Cristo e satisfeitos em tudo: “Sei estar abatido, e
sei também ter abundancia: em toda a maneira, e em todas as coisas estou
instruído, tanto a ter fartura, como a ter fome, tanto a ter abundancia como a
padecer necessidade” (Filipenses 4:12).
Em
Êxodo 20:17 temos um “mandamento que proíbe todo o descontentamento com a nossa
condição, todo o movimento de inveja ou pesar à vista da prosperidade do nosso
próximo e todas as tendências ou afeições desordenadas a alguma coisa que lhe
pertence” (Resposta à pergunta 81 do Breve Catecismo de Westminster): “Não
cobiçarás a casa do teu próximo, não cobiçarás a mulher do teu próximo, nem o
seu servo, nem a sua serva, nem o seu boi, nem o seu jumento, nem cousa alguma
do teu próximo”.
Temos
que deixar claro uma coisa: admirar ou apreciar com sinceridade um objeto ou
qualidades de alguém não se configura necessariamente inveja, mas bem pode ser capacidade
para aceitar o outro sem se ressentir. Que possamos enxergar o nosso próximo
com amor e respeito, e, agindo mutuamente desta forma estaremos contribuindo
para que os relacionamentos pessoais sejam mais harmônicos, saudáveis e
duradouros.
Em
Cristo,
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