quarta-feira, 31 de outubro de 2012

A REFORMA DA IGREJA EM HARMONIA COM AS ESCRITURAS


Johannes G. Vos

A reforma da igreja em harmonia com as Escrituras está sempre incompleta na terra. Ecclesia reformata reformanda est (“a igreja, tendo sido reformada, ainda precisa ser reformada”). Isto resulta do fato de que as Escrituras são um padrão perfeito e absoluto, enquanto a igreja, em qualquer ponto de sua história na terra, ainda é imperfeita, envolvida em pecado e erro.

Este processo de reforma tem de ser contínuo até ao fim do mundo. Em nenhum ponto, a igreja pode parar e dizer: “Cheguei ao final. Até aqui e não mais adiante”. Somente no céu a igreja triunfante poderá dizer isso.

No processo de reforma, existem certos estágios históricos e certos marcos de progresso alcançado. Por exemplo, os importantes credos e confissões históricas são tais marcos de progresso. A Confissão de Fé de Westminster, por exemplo, marca o verdadeiro progresso da reforma da igreja até ao tempo em que a confissão foi elaborada.

Nunca podemos considerar este processo como completo em nossos próprios dias ou em qualquer ponto da História da Igreja na terra. Temos sempre de esquecer as coisas que ficam para trás e avançar para as que estão no futuro. Temos sempre de nos esforçar para conquistar aquilo para o que fomos conquistados por Cristo. A doutrina da igreja, a adoração, o governo, a disciplina, as atividades missionárias, as instituições educacionais, as publicações e a vida prática — todas estas coisas têm de ser progressivamente reformadas em harmonia com as Escrituras.

A reforma sempre tem sido uma realização progressiva e, necessariamente, tem de ser assim. Os zelosos tentam empreender a reforma de uma única vez, mas apenas batem a cabeça contra um muro de pedras. Deus age por meio de um processo histórico — um processo contínuo e gradual. E temos de nos conformar à maneira de agir dEle.

A reforma bíblica da igreja é o fruto de submissão ao Espírito Santo falando nas Escrituras.

Não se exige somente o avanço no estudo das Escrituras, um avanço que sobrepuja os marcos do passado, mas também uma auto-análise perscrutadora por parte da igreja. Os padrões secundários da igreja têm sempre de ser sujeitados à avaliação e reavaliação, à luz das Escrituras. Isto está implícito em nossa confissão de que somente as Escrituras são infalíveis. Se esta confissão é verdadeira, todas as outras coisas têm de ser constantemente examinadas e reexaminadas pelas Escrituras.

Não somente os padrões oficiais da igreja, mas também a sua vida, os seus programas, as suas atividades, as suas instituições e as suas publicações têm de passar pela autocrítica perscrutadora com base nas Escrituras. Estas coisas têm de ser testadas sempre à luz da Palavra de Deus. Essa autocrítica, por parte da igreja, é o correlativo do auto-exame ao qual Deus, em sua Palavra, exorta todo crente.

Essa autocrítica, por parte da igreja, é árdua. Exige esforço, inteligência, aprendizado, sacrifício, muita humildade, auto-renúncia e honestidade absoluta. Requer lealdade às Escrituras, uma lealdade que se dispõe a fazer tudo o que for preciso para ser fiel à Palavra de Deus — uma lealdade verdadeiramente heróica e radical para com as Escrituras.

Essa autocrítica, por parte da igreja, pode ser embaraçadora e dolorosa. Pode significar que a igreja, assim como o Cristão, em O Peregrino, escrito por John Bunyan, pode se achar na Campina do Caminho Errado e ter de refazer seus passos, dolorosa e humildemente, até que esteja de volta ao Caminho do Rei. Essa autocrítica, por parte da igreja, pode ser devastadora para os interesses e projetos especiais de alguns crentes ou grupos da igreja. Pode demonstrar que certas características dos padrões, da vida ou do programa da igreja não estão em completa harmonia com a Palavra de Deus; e, portanto, devem ser reconsiderados e colocados em harmonia com as Escrituras.

Por estas e outras razões similares, a autocrítica, por parte da igreja, é freqüentemente negligenciada e, muitas vezes, resistida com vigor. Aqueles que a defendem ou procuram vê-la realizada provavelmente serão vistos como extremistas, fanáticos, entusiastas, visionários, criadores de problemas e coisas semelhantes. No entanto, foi por meio dessa autocrítica que as reformas do passado se realizaram. Homens como Lutero, Calvino, Knox, Melville, Cameron e Renwick estavam preocupados apenas com a opinião de Deus em sua Palavra. Eles não foram impedidos pelas opiniões e atitudes adversas dos homens.

Quando a igreja ousou realmente contemplar-se no espelho da Palavra de Deus, com sinceridade mortal, ela esteve em seu máximo e influenciou o mundo. Ela seguiu adiante com novo ânimo e vigor. Por outro lado, quando a igreja hesitou ou se recusou a contemplar-se atentamente no espelho da Palavra de Deus, ela se tornou fraca, estagnada, decadente, ineficaz e sem influência.

A autocrítica denominacional constante, com base nas Escrituras, é um dever de toda igreja. Mas isto é realmente levado a sério? Quanto zelo, quanta preocupação — também digo, quanta tolerância — existe hoje em relação à autocrítica?

Em toda igreja, existe uma tendência constante de considerar o presente estado das coisas (o status quo) como normal e correto. Assim, o que, na realidade, é um simples costume passa a ter a força e a influência de um princípio, enquanto os verdadeiros princípios chegam a ser considerados como se fossem meras convenções ou costumes humanos, possuindo apenas autoridade resultante de uso e de aprovação popular. 

A sanção outorgada pelo uso é considerada como suficiente para estabelecer um assunto como legal, correto ou necessário. E, de modo inverso, a falta de uso é considerada como suficiente para provar que um assunto é errado ou impróprio. Este tipo de estagnação, esta atitude de considerar o status quo como normal, fecha a porta contra todo o verdadeiro progresso na reforma da igreja, visto que o status quo é sempre pecaminoso. Sempre fica aquém das exigências da Palavra de Deus. É sempre menor do que aquilo que Deus real mente exige da igreja. Uma vez que o status quo é pecaminoso, ele nunca pode ser considerado com complacência; e, menos ainda, considerado como o ideal para a igreja. É um pecado tornar absoluto o status quo.

Sempre precisamos nos arrepender do status quo. Não importa o quão excelente ele seja, ainda é pecaminoso e precisamos nos arrepender dele. Considerá-locom complacência é um dos maiores pecados da igreja contemporânea — um pecado que entristece o Espírito Santo, um pecado que, com certeza, impede a igreja de realizar seu verdadeiro e correto progresso de reformar-se em harmonia com as Escrituras.

Uma igreja dominada por esta idéia não pode avançar realmente. Na verdade, ela pode até cair em declínio e apostasia. No máximo, ela se moverá em círculo fixo, sempre retornando ao ponto do qual havia partido.

Deus nos chama a buscar a reforma da igreja em nossos dias.

As igrejas, em sua maioria, se moveram em um círculo fixo através de sua história passada. Podemos dizer vigorosamente que elas têm se movido em um ciclo vicioso. O padrão tem sido este: uma dormência seguida por um avivamento, seguido por uma dormência... O verdadeiro progresso ainda não se realizou. Parece que o melhor a ser feito é descobrir como sair de um abismo após outro. Nada é mais prevalecente do que este tipo de estagnação na igreja. Nada é mais difícil do que conseguir realmente avaliar e reformar qualquer aspecto da estrutura e das atividades da igreja à luz da Palavra de Deus.

O verdadeiro progresso significa edificar sobre os alicerces estabelecidos no passado; mas não significa ser dominado pelas mãos letais do erro e das imperfeições do passado. Existe somente um critério legítimo para avaliarmos o verdadeiro progresso; este critério é a própria Palavra de Deus. A verdadeira reforma da igreja é uma reforma alicerçada nas Escrituras. É uma reforma que ocorre dentro dos limites das Escrituras, não uma reforma que vai além das Escrituras.

As instituições, as agências, as publicações da igreja refletem opiniões diferentes, daquelas que ocorrem em nossos dias na igreja? Ou elas têm de assumir sua posição junto aos padrões oficiais da igreja e manter essa postura ao confrontar o público? Ou devem ser os pioneiros na autocrítica denominacional com base nas Escrituras? Elas têm de abrir um novo caminho e seguir para um novo território à luz da Palavra de Deus?

Estas são perguntas sérias e difíceis. A tendência é deixá-las de lado e ignorá-las. Elas raramente são enfrentadas. A tendência é considerarmos o status quo como normal. Ou, se não pensamos assim sobre o status quo do presente, consideramos como normais, em algum grau, as realizações do passado. Se pudéssemos tão-somente retornar às coisas como elas eram nos “excelentes dias de outrora” e manter aquele padrão, dizem alguns, tudo seria ótimo.

Seria ótimo realmente? O que aconteceu? Não estamos naquela época. Como podemos nos desculpar por havermos falhado em ir além de nossos antepassados no entendimento das Escrituras? Como podemos dizer que a reforma da igreja foi completada em 1560, em 1638 ou, ainda, em 1950? O que temos feito? Nosso talento foi escondido em um guardanapo?

Não é difícil admitir que na igreja existem alguns males que precisam de correção. A tendência, porém, é dizermos que, se pudéssemos apenas retornar aos fundamentos corretos de uma ou duas gerações passadas, tudo seria como realmente deve ser. O que mais alguém perguntaria? Poderíamos manter aquela posição por todo o tempo vindouro. Mas isso não seria cumprir os deveres que Deus nos outorgou. Nossos antepassados reformaram a igreja em seu tempo; Deus nos chama a reformá-la em nosso tempo. Não podemos descansar em nossos lauréis. Temos de agir por nós mesmos, pela fé, alicerçados na Palavra de Deus.


A verdadeira reforma busca a verdade e a honra de Deus acima de todas as outras considerações.

Vivemos em uma era pragmática, impaciente com a verdade, bastante interessada em resultados práticos. É uma época de impaciência com aqueles que consideram a verdade acima dos resultados. Nossa era quer resultados e está bastante disposta a crer que figos nascem em cardos, se é que pensa ver algum figo.


Quando alguém procura trazer alguma característica da igreja ao julgamento crítico da Palavra de Deus, já ouvi a objeção de que o tempo não é oportuno. “Você está certo”, alguns dizem, “mas este é o tempo oportuno para você trazer este assunto à baila?” Devemos compreender que a verdade é sempre oportuna e correta; e, se esperarmos um tempo oportuno para a trazermos à baila, esse tempo pode nunca chegar. Essa época mais conveniente pode nunca chegar. Sempre haverá uma razão para sermos instados a não realizarmos a reforma da igreja em harmonia com as Escrituras. Deus é o Deus da verdade. Deus é luz, e não há nEle treva nenhuma. Cristo é o Rei do reino da verdade. Para isto Ele veio ao mundo: para dar testemunho da verdade. Todo aquele que é nascido da verdade ouve a voz de Cristo.

A excessiva prontidão de aceitar o status quo como normal é um dos grandes obstáculos no caminho da verdadeira reforma e progresso da igreja em nossos dias. Esta atitude é pecaminosa porque está cega para a verdadeira pecaminosidade do status quo. Falha em reconhecer que o status quo é algo do que sempre temos de nos arrepender, algo que sempre precisa ser perdoado pela graça divina e sempre precisa ser reformado pela igreja, na terra. Esta atitude falha em compreender a verdade da afirmação de Agostinho: “Todo bem inferior envolve um elemento de pecado”.

No fundo, esta aceitação complacente do status quo como normal procede de uma idéia errada a respeito de Deus, uma idéia que falha em reconhecer a santidade e a pureza de Deus, que falha em compreender o absoluto caráter das Escrituras como o padrão da igreja.

Colocar a honra e a verdade de Deus em primeiro lugar, acima de quaisquer outras considerações, exige grande consagração moral. Neste assunto, aquilo que é verdadeiro para um indivíduo também é verdadeiro para a igreja: quem perder a sua vida por amor a Cristo, esse a achará.

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POR OCASIÃO DOS 495 ANOS DA REFORMA PROTESTANTE


Martinho Lutero

Muitas referências atuais à Reforma do Século 16 distorcem o que realmente ocorreu naquela ocasião. Os livros de história contemporâneos, por exemplo, introjetam anacronicamente uma linguagem marxista ultrapassada para descrever os acontecimentos da época. Para esses autores, o que houve foi uma luta econômica da burguesia contra os senhores feudais. O trabalho de Calvino é apresentado como sendo uma valorização sócio-econômica de alguns, que seriam definidos como "os predestinados". Para outros, a revolta de Lutero foi uma questão meramente pessoal, contra os líderes da época; ou, no máximo, uma cruzada contra a corrupção.

Não podemos compreender a Reforma assimilando esse revisionismo histórico. A ação de Lutero foi uma revolta contra uma estrutura errada e uma doutrina errada de uma igreja que distorcia a Salvação. Não foi um movimento sociológico, apesar de ter tido consequências sociológicas. Lutero não pretendia ensinar a salvação do homem pela reforma da sociedade, mas compreendia que a sociedade era reformada pelas ações do homem resgatado por Deus. Na realidade, a Reforma do Século XVI foi um grande reavivamento espiritual, operado por Deus, que começou com a experiência pessoal de conversão de Lutero.

Nunca é demais frisar que Lutero não formulou novas doutrinas, ou novas verdades, mas apenas redescobriu a Bíblia em sua pureza e singularidade. As 95 Teses, pregadas na porta da catedral de Wittenberg, em 31.10.1517, representam coragem, desprendimento e uma preocupação legítima com o estado decadente da igreja e com a procura dos verdadeiros ensinamentos da Palavra. É, portanto, um erro acharmos que a Reforma marca a aparição de várias doutrinas nunca dantes formuladas. A Palavra de Deus, cujas doutrinas estavam soterradas sob o entulho da tradição, é que foi resgatada.

Uma das características comuns das seitas é a apresentação de supostas verdades que nunca haviam sido compreendidas, até a aparição ou revelação destas a algum líder. Estas “verdades” passam a ser determinantes da interpretação das demais e ponto central dos ensinamentos empreendidos. A Reforma coloca-se em completa oposição a esta característica. Nenhum dos reformadores declarou ter “descoberto” qualquer verdade oculta, mas tão somente apresentou em toda singeleza os ensinamentos das Escrituras. Seus comentários e controvérsias versaram sempre sobre a clara exposição da Palavra de Deus, abstraindo dela os ensinamentos meramente humanos.

O grande escritor Martin Lloyd-Jones nos indica “que a maior lição que a Reforma Protestante tem a nos ensinar é justamente que o segredo do sucesso, na esfera da Igreja e das coisas do Espírito é olhar para trás” (Rememorando a Reforma, p. 8). Lutero e Calvino, diz ele no mesmo local, “foram descobrindo que estiveram redescobrindo o que Agostinho já tinha descoberto e que eles tinham esquecido”.


Assim, as mensagens proclamadas pela Reforma continuam sendo pertinentes aos nossos dias. Da mesma forma como a Palavra de Deus sempre é atual e representa a Sua vontade ao homem, em todas as ocasiões, a Reforma do Século 16, com a doutrina proclamada extraída e baseada nesta Palavra, transborda em atualidade à cena contemporânea da igreja evangélica, quando nela ocorrem tantas distorções e tantos ensinamentos meramente humanos. Celebremos os feitos de Deus na história e, neste 31 de outubro, vamos dar graças a ele por ter levantado homens valorosos que não tiveram receio de se colocar ao lado da Sua Palavra.

Texto de Solano Portela


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terça-feira, 23 de outubro de 2012

FALSOS FUNDAMENTOS DA VERDADE


Análise de alguns critérios estabelecidos por lideranças evangélicas para autenticar sua pessoa e o grupo sob sua supervisão.

Por Gilson Barbosa

Essa postagem é uma adaptação de um artigo escrito pelo consultor teológico do Instituto Cristão de Pesquisas, pastor Hélio de Souza, intitulado Falsos fundamentos da verdade. Nele o apologista analisa oito fundamentos em que as seitas se apoiam com o objetivo de autenticar e dar relevância ao seu grupo. Entendo que para os sectários não são meras características, mas servem como afirmações da verdade. Segundo Hélio de Souza “as pessoas buscam apoio para suas convicções em fontes turvas e se apoiam em alicerces frágeis, envenenando seu espírito e enveredando por caminhos que não pertencem ao Deus vivo”. O curioso é que os mesmos fundamentos são requisitos buscados pelas lideranças evangélicas da atualidade com a finalidade de firmar sua exclusividade dentro do universo evangélico. Vejamos alguns desses falsos fundamentos.  

1 – Quantidade

É falsa a sensação de espiritualidade tendo em vista exclusivamente os números de membros e congregados de uma igreja. Fundamentar-se na quantidade de pessoas que frequentam determinada igreja é um grande equívoco. Pior ainda é imaginar que a reunião, numa igreja ou determinado local, de centenas ou milhares de pessoas em torno de Deus ou da fé cristã é eficaz e suficiente para dar aos mesmos o status de detentores da verdade.

É inegável que a igreja primitiva crescia em números conforme atesta Atos 1.12-14; 1.15; 2.41; 2.47; 4.4; 5.14; 6.1, etc. No entanto observamos que eram pessoas que se convertiam a fé genuína por meio da pregação apostólica. E esta nada tinha a ver com métodos humanos ou administrativos. Ou seja, o conteúdo da pregação eram doutrinas sadias da Escritura Sagrada e não as besteiras que ouvimos hoje em dia que não produz genuíno arrependimento nem conversão. Também não se incluía no crescimento, crentes de outras igrejas que haviam sido evangelizados. Hoje há liderança evangélica que se gaba de “abrir” igrejas, porém o fazem com crentes de outras denominações e não com pessoas que estão distantes da salvação. Não que isso seja totalmente errado, mas, deveriam pelo menos conter a euforia e ficarem calados.

Não será a quantidade de crentes numa igreja que determinará se o grupo está certo ou errado, se é falso ou verdadeiro. Neste sentido, uma igreja pequena também não pode imaginar que por isso possui fundamento sólido e servem fielmente a Cristo. É fútil e ingênuo fundamentar-se na questão da quantidade e afirmar com isso estar sendo fiel ao Senhor. Nem sempre é assim.

 2 – Antiguidade

Há pessoas que afirmam ser sua igreja verdadeira e confiável por ela ter dezenas ou centenas de anos de existência. Não percebem que muitas vezes estão vivendo um cristianismo débil e doente por se conformarem com o ritualismo, formalismo e até mesmo o mundanismo dentro da igreja. Não podemos jamais esquecer que o fato de algo ser antigo não o torna verdadeiro. Alguns céticos afirmam que o politeísmo é a mais antiga forma de adoração de uma divindade, nem por isso aceitaremos esta forma de compreender a divindade. Nem tudo que é novo é errado, nem tudo que é antigo é certo ou verdadeiro. É certo que algo antigo pode ser mais confiável, porém, na perspectiva evangélica isso não é absoluto. Criticar aquela igreja evangélica nova que “abriu” em determinado local revela falta de maturidade, amor pelas pessoas dali, medo da “concorrência” ou falta de segurança do opositor no trabalho que desempenha na igreja sob sua administração.

3 – Sucesso

Esse fundamento tem servido para alimentar a ilusão da liderança evangélica atual. O critério para algum líder ou igreja se consolidar como verdadeiro (a) não é mais a simplicidade e fidelidade na pregação bíblica, mas se está alcançando sucesso. O fato de ser bem sucedido no que faz tem inflamado o ego de muitos líderes evangélicos e imperceptivelmente passaram a depender das suas próprias habilidades naturais.

Já ouvi um grande líder no Brasil dizer que os seus críticos não produzem o mesmo que ele, e por isso é que o criticam. Mas, na verdade o que foi criticado respalda-se nas várias mudanças doutrinárias dele e não nos “benefícios” que ele produz através de seu programa televisivo.  

Há várias definições para a palavra sucesso, porém todas elas têm a ver com os objetivos alcançados. Estes nem sempre são corretos. Há muitos líderes evangélicos atuais utilizando o principio de Nicolau Maquiavel: os fins justificam os meios. Muitos não importam mais sobre o que se deve fazer ou como fazer, contanto que se alcance o resultado desejado e esperado. Tornaram-se egoístas, e tudo quanto fazem, bem lá no fundo, visam sua própria pessoa ou sucesso. Lembra bem o que Paulo escreveu a Timóteo: “Sabe, porém, isto: que nos últimos dias sobrevirão tempos trabalhosos. Porque haverá homens amantes de si mesmos, avarentos, presunçosos, soberbos...” (2 Timóteo 3:1-2). Pessoas de sucesso podem estar avançando por caminhos que não pertencem a Deus.

Como afirmou o pastor Hélio Souza “a verdade pode tornar alguém bem sucedido. Mas isto não significa que alguém bem sucedido pode tornar qualquer coisa verdadeira”. Contrariando o conceito moderno de sucesso o apóstolo Paulo descreve acontecimentos e formula conceitos que nem passam pela cabeça de muitas pessoas de sucesso na atualidade: “Porque tenho para mim, que Deus a nós, apóstolos, nos pôs por últimos, como condenados à morte; pois somos feitos espetáculo ao mundo, aos anjos, e aos homens. Nós somos loucos por amor de Cristo, e vós sábios em Cristo; nós fracos, e vós fortes; vós ilustres, e nós vis. Até esta presente hora sofremos fome, e sede, e estamos nus, e recebemos bofetadas, e não temos pousada certa, e nos afadigamos, trabalhando com nossas próprias mãos. Somos injuriados, e bendizemos; somos perseguidos, e sofremos; somos blasfemados, e rogamos; até ao presente temos chegado a ser como o lixo deste mundo, e como a escória de todos” (1 Coríntios 4:9-13).

4 – O Padrão: a Palavra de Deus

A natureza dos elementos descritos (quantidade, antiguidade e sucesso) acima não são essencialmente errados, mas podem conduzir ao erro. Podem levar a um falso entendimento da verdade, quando não, alguns buscarão apoiarem-se neles para enganar as pessoas que adentram no culto com o sincero desejo de servir ao Senhor.

Não existem apenas esses elementos como condutores de falsos fundamentos.  Poderia ser escrito sobre o carisma e o bom comportamento (moralidade) de determinado líder, sua intelectualidade e erudição, suas qualidades comunicativas e sua convicção. Aliás, há líderes que mentem com tanta convicção que acabam crendo nas suas próprias mentiras, não apenas crendo, mas se convencendo de que elas são verdades. Nunca esqueça de que alguém pode estar convictamente errado.

Quero chegar com isso à solução final para se fundamentar a verdade da fé cristã. Ela deve estar obrigatoriamente fundamentada simplesmente na Bíblia Sagrada. Mas não basta ter a Bíblia como único livro de regra e fé, devemos ser francos, sinceros e honestos na sua interpretação e aplicação. Nenhum dos elementos descritos precedentemente possui qualquer fundamento absolutamente verdadeiro. A Escritura Sagrada (Antigo e Novo Testamento) é o padrão para nossa fé e conduta. Tem muita gente aplicando para igreja conceitos extraídos de livros. Em si não é errado, mas temos de tomar cuidado.

Temos de conhecer os verdadeiros fundamentos da nossa fé e esperança, e sobre esses construir os alicerces de nossa existência (Hélio de Souza). “A lei e ao testemunho! Se eles não falarem segundo esta palavra, é porque não há luz neles” (Isaías 8:20).

Obrigado pela leitura e um caloroso abraço. 

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sexta-feira, 12 de outubro de 2012

OS CINCO PONTOS DO CALVINISMO


(Tradução livre e adaptada do livro The Five Points of Calvinism - Defined, Defended, Documented, de David N. Steele e Curtis C. Thomas, Partes I e II, [Presbyterian & Reformed Publishing Co, Phillipsburg, NJ, USA.], feita por João Alves dos Santos)

I.   A ORIGEM DOS “CINCO PONTOS”  

                                             

A.  O PROTESTO DO PARTIDO ARMINIANO, NA HOLANDA


Os Cinco Pontos do Calvinismo tiveram sua origem a partir de um protesto que os seguidores de James Arminius (um professor de seminário holandês) apresentaram ao “Estado da Holanda” em 1610, um ano após a morte de seu líder. O protesto consistia de  “cinco artigos de fé”, baseados nos ensinos de Armínio, e ficou conhecido na história como a “Remonstrance”, ou seja, “O Protesto”. O partido arminiano insistia que os símbolos oficiais de doutrina das Igrejas da Holanda (Confissão Belga e Catecismo de Heidelberg) fossem mudados para se conformar com os pontos de vista doutrinários contidos no Protesto. As doutrinas às quais os arminianos fizeram objeção eram as relacionadas com a soberania divina, a inabilidade humana, a eleição incondicional ou predestinação, a redenção particular (ou expiação limitada), a graça irresistível (chamada eficaz) e a perseverança dos santos. Essas são doutrinas ensinadas nesses símbolos da Igreja Holandesa, e os arminianos queriam que elas fossem revistas.

BOS “CINCO PONTOS DO ARMINIANISMO”


Os cinco artigos de fé contidos na “Remonstrance” podem ser resumidos no seguinte:

1.  Deus elege ou reprova na base da fé prevista ou da incredulidade.
2.  Cristo morreu por todos os homens, em geral, e em favor de cada um, em particular, embora somente os que crêem sejam salvos.
3.  Devido à depravação do homem, a graça divina é necessária para a fé ou qualquer boa obra.
4.  Essa graça pode ser resistida.
5.  Se todos os que são verdadeiramente regenerados vão seguramente perseverar na fé é um ponto que necessita de maior investigação.

Esse último ponto foi depois alterado para ensinar definitivamente a possibilidade de os realmente regenerados perderem sua fé, e, por conseguinte, a sua salvação. Todavia, nem todos os arminianos estão de acordo, nesse ponto. Há muitos que acreditam que os verdadeiramente regenerados não podem perder a salvação e estão eternamente salvos.

C.  A BASE FILOSÓFICA DO ARMINIANISMO


Conforme expõe J.I.Packer (O “Antigo” Evangelho, pp. 5, 6) a teologia contida nessa “Remonstrance” (ou Representação) “originou-se de dois princípios filosóficos: primeiro, que a soberania de Deus é incompatível com a liberdade humana, e, portanto, também com a responsabilidade humana; em segundo lugar, que habilidade é algo que limita a obrigação... Com bases nesses princípios, os arminianos extraíram duas deduções: primeira, visto que a Bíblia considera a fé como um ato humano livre e responsável, ela não pode ser causada por Deus, mas é exercida independentemente dEle; segunda, visto que a Bíblia considera a fé como obrigatória da parte de todos quantos ouvem o Evangelho, a capacidade de crer deve ser universal. Portanto, eles afirmam, as Escrituras devem ser interpretadas como ensinando as seguintes posições:
      
1. O homem nunca é de tal modo corrompido pelo pecado que não possa crer salvaticiamente (salvificamente) no Evangelho, uma vez que este lhe seja apresentado;
2.  O homem nunca é de tal modo controlado por Deus que não possa rejeitá-lo;
3.  A eleição divina daqueles que serão salvos alicerça-se sobre o fato da previsão divina de que eles haverão de crer, por sua própria deliberação;
4.  A morte de Cristo não garantiu a salvação para ninguém, pois não garantiu o dom da fé para ninguém (e nem mesmo existe tal dom); o que ela fez foi criar a possibilidade de salvação para todo aquele que crê;
5.  Depende inteiramente dos crentes manterem-se em um estado de graça, conservando a sua fé; aqueles que falham nesse ponto, desviam-se e se perdem.

Dessa maneira, o arminianismo faz a salvação do indivíduo depender, em última análise, do próprio homem, pois a fé salvadora é encarada, do princípio ao fim, como obra do homem, pertencente ao homem e nunca a Deus”.

D.  A REJEIÇÃO DO ARMINIANISMO PELO SÍNODO DE DORT E A FORMULACÃO DOS CINCO PONTOS DO CALVINISMO


Em 1618 foi convocado um Sínodo nacional para reunir-se em Dort, a fim de examinar os pontos de vista de Armínio à luz das Escrituras. Essa convocação foi feita pelos Estados Gerais da Holanda para o dia 13 de novembro de 1618. Constou de 84 membros e 18 representantes seculares. Entre esses estavam 27 delegados da Alemanha, Suíça, Inglaterra e de outros países da Europa. Durante os sete meses de duração do Sínodo houve 154 sessões para tratar desses artigos.
Após um exame minucioso e detalhado de cada ponto, feito pelos maiores teólogos da época, representando a maioria das Igrejas Reformadas da Europa, o Sínodo concluiu que, à luz do ensino claro das Escrituras, esses artigos tinham que ser rejeitados como não bíblicos. Isso foi feito por unanimidade. Não somente isso, mas o Concílio impôs censura eclesiástica aos “remonstrantes”, - depondo-os de seus cargos, e a autoridade civil (governo) os baniu do país por cerca de seis anos. Além de rejeitar os cinco artigos de fé dos arminianos, o Sínodo formulou o ensino bíblico a respeito desse assunto na forma de cinco capítulos que têm sido, desde então, conhecidos como “os cinco pontos do Calvinismo”, pelo fato de Calvino ter sido grande defensor e expositor desse assunto.
Embora cause estranheza a muitos essa posição, devido à mudança teológica que as igrejas têm sofrido desde vários séculos, os reformadores eram unânimes em condenar o arminianismo como uma heresia ou quase isso. A salvação era vista como uma obra da graça de Deus, do começo ao fim, sem qualquer contribuição do homem. Essa posição pode ser resumida na seguinte proposição: Deus salva pecadores.


II.  OS CINCO PONTOS DO ARMINIANISMO CONTRASTADOS COM OS CINCO PONTOS DO  CALVINISMO


A.  O LIVRE ARBÍTRIO OU HABILIDADE HUMANA CONTRASTADO COM A INABILIDADE TOTAL OU DEPRAVAÇÃO TOTAL


Arminianismo: Embora a natureza humana tenha sido seriamente afetada pela queda, o homem não ficou reduzido a um estado de incapacidade total. Deus, graciosamente, capacita todo e qualquer pecador a arrepender-se e crer, mas o faz sem interferir na liberdade do homem. Todo pecador possui uma vontade livre (livre arbítrio), e seu destino eterno depende do modo como ele usa esse livre arbítrio. A liberdade do homem consiste em sua habilidade de escolher entre o bem e o mal, em assuntos espirituais. Sua vontade não está escravizada pela sua natureza pecaminosa.. O pecador tem o poder de cooperar com o Espírito de Deus e ser regenerado ou resistir à graça de Deus e perecer. O pecador perdido precisa da assistência do Espírito, mas não precisa ser regenerado pelo Espírito antes de poder crer, pois a fé é um ato deliberado do homem e precede o novo nascimento. A fé é o dom do pecador a Deus, é a contribuição do homem para a salvação.
Calvinismo: Devido à queda, o homem é incapaz de, por si mesmo, crer de modo salvador no Evangelho. O pecador está morto, cego e surdo para as coisas de Deus. Seu coração é enganoso e desesperadamente corrupto. Sua vontade não é livre, pois está escravizada à sua natureza má; por isso ele não irá - e não poderá jamais - escolher o bem e não o mal em assuntos espirituais. Por conseguinte, é preciso mais do que simples assistência do Espírito para se trazer um pecador a Cristo. É preciso a regeneração, pela qual o Espírito vivifica o pecador e lhe dá uma nova natureza. A fé não é algo que o homem dá (contribui) para a salvação, mas é ela própria parte do dom divino da salvação. É o dom de Deus para o pecador e não o dom do pecador para Deus.

B.  A ELEIÇÃO CONDICIONAL CONTRASTADA COM A ELEIÇÃO INCONDICIONAL


Arminianismo: A escolha divina de certos indivíduos para a salvação, antes da fundação do mundo, foi baseada na Sua previsão (presciência) de que eles responderiam à Sua chamada (fé prevista). Deus selecionou apenas aqueles que Ele sabia que iriam, livremente e por si mesmos, crer no Evangelho. A eleição, portanto, foi determinada ou condicionada pelo que o homem iria fazer. A fé que Deus previu e sobre a qual Ele baseou a Sua escolha não foi dada ao pecador por Deus (não foi criada pelo poder regenerador do Espírito Santo), mas resultou tão somente da vontade do homem. Foi deixado inteiramente ao arbítrio do homem o decidir quem creria e, por conseguinte, quem seria eleito para a salvação. Deus escolheu aqueles que Ele sabia que iriam, de sua livre vontade, escolher a Cristo. Assim, a causa última da salvação não é a escolha que Deus faz do pecador, mas a escolha que o pecador faz de Cristo.
Calvinismo: A escolha divina de certos indivíduos para a salvação, antes da fundação do mundo, repousou tão somente na Sua soberana vontade. A escolha de determinados pecadores feita por Deus não foi baseada em qualquer resposta ou obediência prevista da parte destes, tal como fé ou arrependimento. Pelo contrário, é Deus quem dá a fé e o arrependimento a cada pessoa a quem Ele escolheu. Esses atos são o resultado e não a causa da escolha divina. A eleição, portanto, não foi determinada nem condicionada por qualquer qualidade ou ato previsto no homem. Aqueles a quem Deus soberanamente elegeu, Ele os traz, através do poder do Espírito, a uma voluntária aceitação de Cristo. Desta forma, a causa última da salvação não é a escolha que o pecador faz de Cristo, mas a escolha que Deus faz do pecador.

C.  A REDENÇÃO UNIVERSAL OU EXPIAÇÃO GERAL CONTRASTADA COM A REDENÇÃO PARTICULAR OU EXPIAÇÃO LIMITADA


Arminianismo: A obra redentora de Cristo tornou possível a salvação de todos, mas na verdade não assegurou a salvação de ninguém. Embora Cristo tenha morrido por todos os homens, em geral, e em favor de cada um, em particular, somente aqueles que crêem nEle são salvos. A morte de Cristo capacitou a Deus a perdoar pecadores na condição de que creiam, mas na verdade não removeu (expiou) o pecado de ninguém. A redenção de Cristo só se torna efetiva se o homem escolhe aceitá-la.
Calvinismo: A obra redentora de Cristo foi intencionada para salvar somente os eleitos e, de fato, assegurou a salvação destes. Sua morte foi um sofrimento substitucionário da penalidade do pecado no lugar de certos pecadores específicos. Além de remover o pecado do Seu povo, a redenção de Cristo assegurou tudo que é necessário para a sua salvação, incluindo a fé que os une a Ele. O dom da fé é infalivelmente aplicado pelo Espírito a todos por quem Cristo morreu, deste modo, garantindo a sua salvação.

D.  A POSSIBILIDADE DE SE RESISTIR À OBRA DO ESPIRITO SANTO CONTRASTADA COM A CHAMADA EFICAZ DO ESPÍRITO OU GRAÇA IRRESISTÍVEL


Arminianismo: O Espírito chama internamente todos aqueles que são externamente chamados pelo convite do Evangelho. Ele faz tudo que pode para trazer cada pecador à salvação. Sendo o homem livre, pode resistir de modo efetivo a essa chamada do Espírito. O Espírito não pode regenerar o pecador antes que ele creia. A fé (que é a contribuição do homem para a salvação) precede e torna possível o novo nascimento. Desta forma, o livre arbítrio limita o Espírito na aplicação da obra salvadora de Cristo. O Espírito Santo só pode atrair a Cristo aqueles que O permitem atuar neles. Até que o pecador responda, o Espírito não pode dar a vida. A graça de Deus, portanto, não é invencível; ela pode ser, e de fato é, freqüentemente, resistida e impedida pelo homem.
Calvinismo: Além da chamada externa à salvação, que é feita de modo geral a todos que ouvem o evangelho, o Espírito Santo estende aos eleitos uma chamada especial interna, a qual inevitavelmente os traz à salvação. A chamada externa (que é feita indistintamente a todos) pode ser, e, freqüentemente é, rejeitada; ao passo que a chamada interna (que é feita somente aos eleitos) não pode ser rejeitada. Ela sempre resulta na conversão. Por meio desta chamada especial o Espírito atrai irresistivelmente pecadores a Cristo. Ele não é limitado em Sua obra de aplicação da salvação pela vontade do homem, nem depende, para o Seu sucesso, da cooperação humana. O Espírito graciosamente leva o pecador eleito a cooperar, a crer, a arrepender-se, a vir livre e voluntariamente a Cristo. A graça de Deus, portanto, é invencível. Nunca deixa de resultar na salvação daqueles a quem ela é estendida.

E.  A QUEDA DA GRAÇA CONTRASTADA COM A PERSEVERANÇA DOS SANTOS


Arminianismo: Aqueles que crêem e são verdadeiramente salvos podem perder sua salvação por não guardar a sua fé. Nem todos os arminianos concordam com este ponto. Alguns sustentam que os crentes estão eternamente seguros em Cristo; que o pecador, uma vez regenerado, nunca pode perder a sua salvação.
Calvinismo: Todos aqueles que são escolhidos por Deus e a quem o Espírito concedeu a fé, são eternamente salvos. São mantidos na fé pelo poder do Deus Todo Poderoso e nela perseveram até o fim.

Sumário dessas Posições:


De acordo com o Arminianismo: A salvação é realizada através da combinação de esforços de Deus (que toma a iniciativa) e do homem (que deve responder a essa iniciativa). A resposta do homem é o fator decisivo (determinante). Deus tem providenciado salvação para todos, mas Sua provisão só se torna efetiva (eficaz) para aqueles que, de sua própria e livre vontade, “escolhem” cooperar com Ele e aceitar Sua oferta de graça. No ponto crucial, a vontade do homem desempenha um papel decisivo. Desta forma é o homem, e não Deus, que determina quem será o recipiente do dom da salvação.
Este era o sistema de doutrina apresentado na “Remonstrance” (Representação) dos Arminianos e rejeitado pelo Sínodo de Dort em 1619, por não ser bíblico.
De acordo com o Calvinismo: A salvação é realizada pelo infinito poder do Deus Triuno. O Pai escolheu um povo, o Filho morreu por ele e o Espírito Santo torna a morte de Cristo eficaz para trazer os eleitos à fé e ao arrependimento; desse modo, fazendo-os obedecer voluntariamente ao evangelho. Todo o processo (eleição, redenção, regeneração, etc.) é obra de Deus e é operado tão somente pela graça. Desta forma, Deus e não o homem, determina quem serão os recipientes do dom da salvação.
Este sistema de teologia foi reafirmado pelo Sínodo de Dort em 1619 como sendo a doutrina da salvação contida nas Escrituras Sagradas. É o sistema apresentado na Confissão de Fé de Westminster e em todas as Confissões Reformadas. Na época do Sínodo de Dort foi formulado em “cinco pontos” (em resposta aos cinco pontos submetidos pelos arminianos à Igreja da Holanda) e têm sido, desde então, conhecidos como “os cinco pontos do Calvinismo”.

III.  A DIFERENÇA ENTRE O CALVINISMO E O ARMINIANISMO


Os assuntos envolvidos nesta controvérsia histórica são, de fato, graves, pois afetam vitalmente o conceito cristão de Deus, do pecado e da salvação. Packer, contrastando esses dois sistemas, afirma:
“A diferença entre eles não é primariamente uma questão de ênfase, mas de conteúdo. Um deles proclama um Deus que salva; o outro alude a um Deus que permite ao homem salvar a si mesmo. O primeiro desses pontos de vista apresenta os três grandes atos da Santa Trindade na recuperação da humanidade perdida - eleição por parte do Pai, redenção por parte do Filho, chamada por parte do Espírito Santo - como sendo dirigidos às mesmas pessoas, garantindo infalivelmente a salvação delas. Mas o outro ponto de vista empresta a cada um desses atos uma referência diferente (o objeto da redenção seria a humanidade inteira, os objetos da chamada seriam aqueles que ouvem o evangelho, e os objetos da eleição seriam aqueles que correspondem a essa chamada), e nega que a salvação de qualquer pessoa seja garantida por qualquer desses atos. Essas duas teologias, assim sendo, concebem o plano da salvação em termos inteiramente diferentes. Uma delas faz a salvação depender da obra de Deus, e a outra faz a salvação depender da obra do homem. Uma delas considera a fé como parte do dom divino da salvação, mas a outra pensa que a fé é a contribuição do homem para a sua salvação. Uma delas atribui a Deus toda a glória pela salvação dos crentes, mas a outra divide as honras entre Deus, que, por assim dizer, construiu o maquinismo da salvação, e o homem, que põe esse maquinismo em funcionamento quando crê. Não há dúvida de que essas diferenças são importantes, e o valor permanente dos ‘cinco pontos’, como um sumário do calvinismo, é que eles deixam claro os pontos em que divergem e a extensão da divergência entre os dois conceitos.” (O “Antigo” Evangelho, p. 7)

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Os Cinco Solas da Reforma Protestante


Sola Scriptura, Sola Christus, Sola Gratia, Sola Fide, Soli Deo Gloria

Declaração de Cambridge[1]
Aliança de Evangélicos Confessionais

Sola Scriptura
Só a Escritura é a regra inerrante da vida da igreja, mas a igreja evangélica atual fez separação entre a Escritura e sua função oficial. Na prática, a igreja é guiada, por vezes demais, pela cultura. Técnicas terapêuticas, estratégias de marketing, e o ritmo do mundo de entretenimento muitas vezes têm mais voz naquilo que a igreja quer, em como funciona, e no que oferece, do que a Palavra de Deus. Os pastores negligenciam a supervisão do culto, que lhes compete, inclusive o conteúdo doutrinário da música. À medida que a autoridade bíblica foi abandonada na prática, que suas verdades se enfraqueceram na consciência cristã, e que suas doutrinas perderam sua proeminência, a igreja tem sido cada vez mais esvaziada de sua integridade, autoridade moral e discernimento.
Em lugar de adaptar a fé cristã para satisfazer as necessidades sentidas dos consumidores, devemos proclamar a Lei como medida única da justiça verdadeira, e o evangelho como a única proclamação da verdade salvadora. A verdade bíblica é indispensável para a compreensão, o desvelo e a disciplina da igreja.
A Escritura deve nos levar além de nossas necessidades percebidas para nossas necessidades reais, e libertar-nos do hábito de nos enxergar por meio das imagens sedutoras, clichês, promessas e prioridades da cultura massificada. É só à luz da verdade de Deus que nós nos entendemos corretamente e abrimos os olhos para a provisão de Deus para a nossa sociedade. A Bíblia, portanto, precisa ser ensinada e pregada na igreja. Os sermões precisam ser exposições da Bíblia e de seus ensinos, não a expressão de opinião ou de idéias da época. Não devemos aceitar menos do que aquilo que Deus nos tem dado.
A obra do Espírito Santo na experiência pessoal não pode ser desvinculada da Escritura. O Espírito não fala em formas que independem da Escritura. À parte da Escritura nunca teríamos conhecido a graça de Deus em Cristo. A Palavra bíblica, e não a experiência espiritual, é o teste da verdade.

Tese 1: Sola Scriptura
Reafirmamos a Escritura inerrante como fonte única de revelação divina escrita, única para constranger a consciência. A Bíblia sozinha ensina tudo o que é necessário para nossa salvação do pecado, e é o padrão pelo qual todo comportamento cristão deve ser avaliado. Negamos que qualquer credo, concílio ou indivíduo possa constranger a consciência de um crente, que o Espírito Santo fale independentemente de, ou contrariando, o que está exposto na Bíblia, ou que a experiência pessoal possa ser veículo de revelação. 


Solo Christus
À medida que a fé evangélica se secularizou, seus interesses se confundiram com os da cultura. O resultado é uma perda de valores absolutos, um individualismo permissivo, a substituição da santidade pela integridade, do arrependimento pela recuperação, da verdade pela intuição, da fé pelo sentimento, da providência pelo acaso e da esperança duradoura pela gratificação imediata. Cristo e sua cruz se deslocaram do centro de nossa visão.

Tese 2: Solus Christus
Reafirmamos que nossa salvação é realizada unicamente pela obra mediatória do Cristo histórico. Sua vida sem pecado e sua expiação por si só são suficientes para nossa justificação e reconciliação com o Pai. Negamos que o evangelho esteja sendo pregado se a obra substitutiva de Cristo não estiver sendo declarada e a fé em Cristo e sua obra não estiver sendo invocada.

Sola Gratia
A confiança desmerecida na capacidade humana é um produto da natureza humana decaída. Esta falsa confiança enche hoje o mundo evangélico – desde o evangelho da auto-estima até o evangelho da saúde e da prosperidade, desde aqueles que já transformaram o evangelho num produto vendável e os pecadores em consumidores e aqueles que tratam a fé cristã como verdadeira simplesmente porque funciona. Isso faz calar a doutrina da justificação, a despeito dos compromissos oficiais de nossas igrejas.
A graça de Deus em Cristo não só é necessária como é a única causa eficaz da salvação. Confessamos que os seres humanos nascem espiritualmente mortos e nem mesmo são capazes de cooperar com a graça regeneradora.

Tese 3: Sola Gratia
Reafirmamos que na salvação somos resgatados da ira de Deus unicamente pela sua graça. A obra sobrenatural do Espírito Santo é que nos leva a Cristo, soltando-nos de nossa servidão ao pecado e erguendo-nos da morte espiritual à vida espiritual. Negamos que a salvação seja em qualquer sentido obra humana. Os métodos, técnicas ou estratégias humanas por si só não podem realizar essa transformação. A fé não é produzida pela nossa natureza não-regenerada.

Sola Fide
A justificação é somente pela graça, somente por intermédio da fé, somente por causa de Cristo. Este é o artigo pelo qual a igreja se sustenta ou cai. É um artigo muitas vezes ignorado, distorcido, ou por vezes até negado por líderes, estudiosos e pastores que professam ser evangélicos. Embora a natureza humana decaída sempre tenha recuado de professar sua necessidade da justiça imputada de Cristo, a modernidade alimenta as chamas desse descontentamento com o Evangelho bíblico. Já permitimos que esse descontentamento dite a natureza de nosso ministério e o conteúdo de nossa pregação.
Muitas pessoas ligadas ao movimento do crescimento da igreja acreditam que um entendimento sociológico daqueles que vêm assistir aos cultos é tão importante para o êxito do evangelho como o é a verdade bíblica proclamada. Como resultado, as convicções teológicas freqüentemente desaparecem, pois ficam divorciadas do trabalho do ministério. A orientação publicitária de marketing em muitas igrejas leva isso mais adiante, apegando a distinção entre a Palavra bíblica e o mundo, roubando da cruz de Cristo a sua ofensa e reduzindo a fé cristã aos princípios e métodos que oferecem sucesso às empresas seculares.
Embora possam crer na teologia da cruz, esses movimentos na verdade estão esvaziando essa teologia de seu conteúdo. Não existe evangelho a não ser o da substituição de Cristo em nosso lugar, pela qual Deus lhe imputou o nosso pecado e nos imputou a sua justiça. Por ele ter levado sobre si a punição de nossa culpa, nós agora andamos na sua graça como aqueles que são para sempre perdoados, aceitos e adotados como filhos de Deus. Não há base para nossa aceitação diante de Deus a não ser na obra salvífica de Cristo; a base não é nosso patriotismo, devoção à igreja, ou probidade moral. O evangelho declara o que Deus fez por nós em Cristo. Não é sobre o que nós podemos fazer para alcançar Deus.

Tese 4: Sola Fide
Reafirmamos que a justificação é somente pela graça, somente por intermédio da fé e somente por causa de Cristo. Na justificação a retidão de Cristo nos é imputada como o único meio possível de satisfazer a perfeita justiça de Deus. Negamos que a justificação se baseie em qualquer mérito que em nós possa ser achado, ou com base numa infusão da justiça de Cristo em nós; ou que uma instituição que reivindique ser igreja mas negue ou condene o princípio da sola fide possa ser reconhecida como igreja legítima.

Soli Deo Gloria
Onde quer que, na igreja, se tenha perdido a autoridade da Bíblia, onde Cristo tenha sido colocado de lado, o evangelho tenha sido distorcido ou a fé pervertida, sempre foi por uma mesma razão. Nossos interesses substituíram os de Deus e nós estamos fazendo o trabalho dele a nosso modo. A perda da centralidade de Deus na vida da igreja de hoje é comum e lamentável. É essa perda que nos permite transformar o culto em entretenimento, a pregação do evangelho em marketing, o crer em técnica, o ser bom em sentir-nos bem e a fidelidade em ser bem-sucedido. Como resultado, Deus, Cristo e a Bíblia vêm significando muito pouco para nós e têm um peso irrelevante sobre nós.
Deus não existe para satisfazer as ambições humanas, os desejos, os apetites de consumo, ou nossos interesses espirituais particulares. Precisamos nos focalizar em Deus por meio de nossa adoração, e não em satisfazer nossas próprias necessidades. Deus é soberano no culto, não nós. Nossa preocupação precisa estar no reino de Deus, não em nossos próprios impérios, popularidade ou êxito.

Tese 5: Soli Deo Gloria
Reafirmamos que, como a salvação é de Deus e realizada por Deus, ela é para a glória de Deus e devemos glorificá-lo sempre. Devemos viver nossa vida inteira perante a face de Deus, sob a autoridade de Deus, e para sua glória somente. Negamos que possamos apropriadamente glorificar a Deus se nosso culto for confundido com entretenimento, se negligenciarmos o Evangelho em nossa pregação, ou se permitirmos que o afeiçoamento próprio, a auto-estima e a auto-realização se tornem opções alternativas ao evangelho.

Um chamado ao arrependimento e à Reforma
A fidelidade da igreja evangélica no passado contrasta fortemente com sua infidelidade no presente. No princípio deste mesmo século, as igrejas evangélicas sustentavam um empreendimento missionário admirável e edificaram muitas instituições religiosas para servir a causa da verdade bíblica e do reino de Cristo. Foi uma época em que o comportamento e as expectativas cristãs diferiam sensivelmente daquelas encontradas na cultura. Hoje raramente diferem. O mundo evangélico de hoje está perdendo sua fidelidade bíblica, sua bússola moral e seu zelo missionário.
Arrependamo-nos de nosso mundanismo. Fomos influenciados pelos “evangelhos” de nossa cultura secular, que não são evangelhos. Enfraquecemos a igreja pela nossa própria falta de arrependimento sério, tornamo-nos cegos aos pecados em nós mesmo que vemos tão claramente em outras pessoas, e é indesculpável nosso erro de não falar às pessoas adequadamente sobre a obra salvadora de Deus em Jesus Cristo.
Também apelamos sinceramente a outros evangélicos professos que se tenham desviado da Palavra de Deus nos assuntos discutidos nesta declaração. Incluímos aqueles que declaram haver esperança de vida eterna sem fé explícita em Jesus Cristo, os que asseveram que quem rejeita a Cristo nesta vida será aniquilado em lugar de suportar o juízo justo de Deus pelo sofrimento eterno e os que dizem que os evangélicos e os católicos romanos são um em Jesus Cristo, mesmo quando a doutrina bíblica da justificação não é crida.
A Aliança de Evangélicos Confessionais pede que todos os crentes dêem consideração à implementação desta declaração no culto, ministério, política, vida e evangelismo da igreja.

Box: Tabela

Substituição de valores na igreja contemporânea

Santidade è Integridade


Arrependimento è Recuperação


Verdade è Intuição


Fé è Sentimento


Providência e Esperança è Gratificação Imediata

Deslocamento de Cristo e sua cruz do centro da visão cristã


Nota:


[1] Aliança de Evangélicos Confessionais. Cambridge, Massachusetts, 20 de abril de 1996.

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Mentiras que ouvimos acerca da Bíblia


“Cada dificuldade e suposta discrepância nas Escrituras... têm uma solução justa e razoável”. John W. Haley

Por Ministério Creced
Tradução: Gilson Barbosa

PERGUNTA: Há contradições na Bíblia?
realmente contradições na Bíblia? Como explicar algumas citações que parecem contradizer as outras?
Às vezes, ouvimos acusações de que há muitas contradições na Bíblia. Normalmente, tais acusações são provenientes de pessoas incipientes, que no fundo têm conhecimento superficial da matéria que acusam e, quando não, são totalmente incultas nesta disciplina.
A Bíblia é um livro maravilhosamente compactado, apesar do fato de ter sido escrita por cerca de 40 homens de opiniões e regiões distintas, em espaço de quase 1500 anos. Esta unidade maravilhosa é uma das evidências mais consistente que temos da inspiração divina das Sagradas Escrituras.
No entanto, existem algumas porções das Escrituras que apresentam “problemasquando alguém as pela primeira vez porque representam conceitos opostos dos dados de outros textos. Contudo, os estudantes da Bíblia têm encontrado explicações e soluções a cada uma das supostas contradições.  

Diferentes fontes e explicações
            No excelente livro Alleged Discrepancies of the Bible (“Alegadas discrepâncias da Bíblia”), o autor John W. Haley classifica estas supostas contradições, oferecendo várias fontes e explicações. Vejamos os sete pontos que envolvem o problema:

1. Diferentes pontos de vista em diferentes períodos
Muitas pessoas pensam quecontradições entre Gênesis 1.31 e 6.6. O primeiro texto nos informa que Deus olhou para a criação e viu que tudo era muito bom, a segunda fonte escriturística nos diz que “arrependeu-se o SENHOR de haver feito o homem sobre a terra”.
Observe atentamente que no primeiro texto a referência está na atitude de Deus após a criação do ser humano antes da queda do pecado. Em contra partida, Gênesis 6.6 demonstra a tristeza de Deus muitos anos depois, ao ver que o homem, o qual havia criado, rebelara-se contra Ele. Alguns comentaristas entendem que a frase que se refere ao “arrependimento” de Deus acontece para que o homem entenda o sentimento de Deus (tristeza) somente do ponto de vista humano.
            Há também muitos outros mandamentos para os judeus no Antigo Testamento que não se repetem no Novo Testamento. Como exemplo, lembremos que o Antigo Testamento ordena a circuncisão, enquanto no período neotestamentário não há a exigência restrita. Isso acontece pelo simples fato de que houve diferentes mandamentos, para diferentes pessoas e em diferentes lugares.

2. Diferentes sentidos de palavras
Em Êxodo 20.13 está escritoNão matarás”; porém, em 1Samuel 15, Deus disse a Saul que matasse os amalequitas. A palavra empregada em Êxodo destina-se ao “ato homicida”          (Gesenius, p.779) e não às campanhas militares como a descrita em 1Samuel 15 quando por diversas vezes Deus ordena que as nações iníquas sejam castigadas. Trata-se de duas palavras com distintas definições.
            A Bíblia diz que Deus não pode ser tentado (Tg 1.13), contudo também diz que os israelitas tentaram ao Senhor em Massa (Dt 6.16). Deus condena a ira (Pv 27.4), contudo Ele é Deus, e devido ao seu zelo e dedicação, Ele se ira. Estes tipos de supostas contradições são solucionadas quando analisamos atentamente as respectivas [“iguais”] palavras de um e de outro texto. Deus se ira no sentido de aplicar sua justiça e não como os demais que demonstram zelo, em dadas situações, mas de forma superficial.

3. Diferentes detalhes em diferentes relatos
Algumas notam contradição entre Atos 1.18 ao compará-lo com Mateus 27.5, entendendo que um texto demonstra que Judas sucumbiu no campo que ele mesmo tinha comprado e que outro afirma que ele morreu enforcado. Porém, os dois textos não se contradizem, antes, dão detalhes diferentes do mesmo acontecimento. Esta ocorrência pode ser simplesmente explicada quando observamos que ao se enforcar em uma árvore, o cadáver despencou de certa altura caindo no campo, terreno que tinha adquirido.
            Da mesma maneira, os diferentes relatos, das aparições de Jesus, após a ressurreição, solucionam-se quando entendemos que os evangelistas Mateus, Marcos, Lucas e João dão diferentes detalhes quanto ao acontecimento, cada um do seu ponto de vista.

4. Diferentes cronologias
Certo professor disse que João contradiz Mateus quando este relata a purificação do templo [por Jesus] no início de seu ministério e João o coloca no final. Porém, alguns entendem que talvez Jesus tenha purificado o templo duas vezes e ainda outros opinam a possibilidade de que João relatou o evento sem se importar com o tempo exato da obra ministerial de Cristo. Neste caso, não há contradição, mas antes simples diferenças cronológicas da ação.

5. Problemas com os números hebraicos
Os eruditos são unânimes em dizer que os números em hebraico são complexos e complicados para se copiar. Alguns pensam que estes números foram escritos em forma de palavras por muitos séculos. Por este motivo, encontramos problemas quando comparamos números na Bíblia, principalmente entre os livros de Reis e Crônicas. Estes erros são possivelmente provenientes dos escribas ao fazerem alguma cópia, e, por outro lado [os números] não têm significado objetivo com respeito aos ensinos básicos das Escrituras.

6. Termos orientais
Em todas as línguas existem expressões que denotam particularidades regionais, nacionais, etc. Da mesma maneira se dá com os escritores do oriente médio. Por isso, antes de declarar quecontradições em certas passagens, é prudente estudar a fundo a linguagem do texto para verificar se são termos regionais, nacionais, etc, cuidando para que não atribuamos à expressão o sentido inadequado.

7. Preconceitos
A maior parte das supostas contradições são provenientes de pessoas predispostas a desacreditarem da Bíblia. Se alguém quer encontrar defeito em alguma coisa, encontrará, ainda que não seja de fato verdade, ainda que o defeito não exista. Por fim, a natureza superficial das acusações contra a Bíblia e a facilidade com que tem sido refutadas simplesmente corroboram o fato de a Bíblia ser o livro mais importante do mundo.

RESPOSTA: Não há contradição
            Há várias explicações para as supostas contradições da Bíblia e conforme explicitado neste breve artigo, temos dado algumas demonstrações simples para a busca de soluções. O importante é saber e reconhecer que cada suposta contradição, ao longo dos séculos, teve e continuará tendo explicações convincentes.
Concluímos, assim, com a precisa declaração de John W. Haley: “Cada dificuldade e suposta discrepância nas Escrituras têm uma solução justa e razoável”. Nãocontradição na Bíblia!

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