Por Elvis Brassaroto
“A partir
deste momento, você vai começar a relaxar. A cada número que eu disser, você
deverá abrir e fechar os olhos, sem forçar a abertura ou o fechamento,
lentamente e com naturalidade. Cada vez que abrir os olhos, dirija-os a um
ponto à sua frente. Sempre ao mesmo ponto. Durante a contagem, você irá sentir
os olhos cansados, muito cansados. Suas pálpebras ficarão pesadas, muito
pesadas, coladas. Você terá muita dificuldade para abri-las. Quando sentir
isso, permaneça com os olhos fechados. Então, vamos começar: 1, abra e feche os
olhos, 2, 3, ...1
Quantos já presenciaram, ouviram falar ou leram acerca dos
fenômenos notáveis produzidos pela hipnose. Sua influência na ciência, através
da medicina, vem sendo utilizada no combate às doenças e aos vícios (fumantes e
alcoólatras). E também na recuperação de dependentes, contra as fobias, a
timidez, a depressão e até no esclarecimento de crimes, por meio de
investigações. São esses alguns dos meios pelos quais a hipnose tem sido
explorada, satisfazendo, em alguns casos, os objetivos propostos.
O assunto que trata da indução de
indivíduos ao estado da hipnose é abrangente. Procuraremos abordar os
principais fatores.
Etimologicamente, a palavra
hipnose tem origem no grego húpnos,
e significa sono, dormir. Os antigos pensavam que as pessoas hipnotizadas
estavam apenas dormindo2 . Hoje, no entanto, o conceito que se tem é o de
uma pessoa numa condição elevada de concentração mental que chega ao estado de
transe ou de consciência alterada. Essa alteração se dá por indução do
hipnotizador, que leva o paciente a vivenciar alucinações sugestionadas,
como, por exemplo: “diga-lhe que uma cebola é uma maça e ele sentirá exatamente
o sabor pretendido”. 3
É possível, ainda, atingir
estados hipnóticos sem a ajuda do hipnólogo. A meditação profunda e a força de
vontade são capazes de levar o indivíduo ao transe. A hipnoterapia intitula isto como
“auto-hipnose”.
Histórico
Na literatura antiga pouco se
fala sobre o tema. Sabe-se, porém, que a hipnose foi utilizada, pela primeira
vez, pelo médico e hipnotizador James Braid como alternativa para os termos
“mesmerismo” e “magnetismo” animal.
Mesmerismo
Esse termo é derivado do nome do
médico austríaco Freidch Anton Mesmer (1733-1815).4 Mesmer era dado à
prática da hipnose e realizou experiências com muitas pessoas. Referia-se à
humanidade como seres dotados de certa sensibilidade que os capacita a estar em
sintonia mental com aqueles que estão em volta e mesmo em distâncias maiores.
Magnetismo animal
Termo usado por Mesmer para
explicar a existência de um fluído rarefeito. Ele acreditava que quando as
pessoas eram submetidas ao estado de hipnose, esse estado era capaz de
controlar tal fluído, influenciando a saúde das pessoas para melhor.5
Graus de hipnose
Leve: Sensação de leveza e
entorpecimento geral dos olhos e membros. Alto grau de relaxação e inibição de
movimentos voluntários. Neste
estágio, a sugestão é manter os olhos fechados e não se mexer.
Intermediário: Sensação de leveza
aumentada.
Neste estágio, a condição é
de catalepsia; enrijecimento de alguns membros do corpo e posturas normalmente
impossíveis de serem mantidas por um longo período de tempo podem ser sugeridas
sem qualquer desconforto. Os sentidos podem ser inibidos. Amnésia referente aos
fatos decorridos durante a hipnose.
Profundo: Estado de sonambulismo e
amnésia total após o término da sessão.
Observa-se, neste estágio, maior
intimidade entre o hipnotizador e o paciente. Sensações como alucinações
vívidas e bizarras podem ser induzidas.6 Ocorrem “fenômenos maiores”, como:
Clarividência:
Habilidade de se perceber coisas que estão além da realidade física. Capacidade
psíquica de se ver e descrever eventos futuros;7
Telecinese:
Movimentação de objetos físicos ou materiais sem qualquer causa observável ou
que possa ser verificada empiricamente;8
Telepatia:
Comunicação de uma mente para outra sem a utilização da verbalização e outros
meios práticos podem ocorrer. 9
A auto-hipnose
Os hipnólogos dizem que a
“auto-hipnose tem possibilidades ilimitadas, permite-lhe descobrir e
desenvolver o seu novo eu, o ajudará a gozar melhor a saúde, o levará à
maturidade e pode melhorar
sua vida afetiva” 10. Esses são alguns dos temas abordados
pelo livro “Ajuda-te pela auto-hipnose”.
Acreditam os autores que as
técnicas da auto-hipnose ocuparão lugar importante na sociedade, num futuro não
muito distante. Segundo eles, é uma nova maneira de solucionar os problemas
comuns de todos os dias.
O livro diz:
A auto hipnose o capacitará a:
a- Afastar o
medo doentio por meio do pensamento;
b- Atingir
plenamente uma vida mais rica;
c- Adquirir
auto-suficiência;
d- Planejar
com sabedoria;
e- Adquirir
compreensão mais profunda do seu eu interior.11
A Bíblia diz:
a- 2 Tm 1.7: “Porque Deus não nos deu o
espírito de temor, mas de fortaleza, e de amor e de moderação”.
b- Tg 2.5:
“Porventura não escolheu Deus os pobres deste
mundo para serem ricos na fé, e herdeiros do reino que prometeu aos que o
amam?”.
c- Jo 5.15:
“Eu sou a videira, vós as varas; quem está em mim, e eu nele, esse dá muito
fruto; porque sem mim nada podeis fazer”.
d- Sl
111.10: “O temor do Senhor é o princípio da sabedoria...”
e- Pv 20.27:
“O espírito do homem é a lâmpada do Senhor, que esquadrinha todo o interior até
o mais íntimo do ventre”.
Somente Deus conhece o interior
do homem na sua plenitude, pois o homem é obra das suas mãos (Gn 1.26). O
desenvolvimento do “eu interior” é
uma das práticas da Nova Era, movimento que ensina ser o homem divino e com
poderes psíquicos. O homem é criatura, Deus é o Criador: “ele conhece a nossa
estrutura e lembra-se de que somos pó” (Sl 103.14). A Bíblia recomenda:
“Deixai-vos do homem, cujo fôlego está nas suas narinas; pois em que se deve
ele estimar?” (Is 2.22).
Hipnose e medicina
Médicos e pacientes testemunham o
sucesso da hipnose na cura e alívio de certas doenças. A partir de 1950,
associações médicas inglesas e norte-americanas aprovaram formalmente o uso do
hipnotismo. A cadeira do dentista e a anestesia são alguns dos motivos que
levam os pacientes a optar por esse tipo de “consulta”. O tratamento ocorre através do
estímulo verbal, que utiliza nada mais do que a força da imaginação. Alguns
médicos alegam que a hipnose é uma ferramenta que não possui efeitos
colaterais, portanto torna-se conveniente.
Esse método controvertido de
avaliação é hoje desacreditado por muitos, mas ainda encontra lugar em
consultórios de especialistas conceituados.
Alguns especialistas da medicina
acham que o hipnotismo é neutro. Outros concluem que é benéfico. E há aqueles
que o consideram perigoso, porque se constitui um ataque à psique do indivíduo.
Comentando sobre a importância da
hipnose na psicologia, a dra. Rosemeire Lopes de Souza (psicóloga clínica)
explica:
“A hipnose influenciou o
desenvolvimento do movimento psicanálitico: escola da psicologia que estuda o
inconsciente. A psiquiatria usa da hipnose em alguns casos, através do processo
de regressão, para resolver os problemas do paciente. Experiências mostraram que
adultos entre 20 e 40 anos podem ser induzidos a relembrar eventos, nomes e
lugares da infância que não recordariam em estado não hipnotizado.
“A primeira sugestão é esvaziar a
mente, sem a qual o hipnotizador não pode conduzir a pessoa ao transe. Nesse
estado, os sentidos são enganados e as percepções, radicalmente alteradas. É
prejudicial à saúde mental, principalmente no que tange à sugestão pós
hipnótica, quando o paciente, depois das sessões, realiza tarefas que tenta
explicar de maneira racional por não se lembrar que fora induzido. Por exemplo:
durante a sessão o paciente é sugestionado a usar um casaco num dia específico da
semana. Quando chega a data, a pessoa usa o casaco mesmo sendo um dia de calor,
e se justifica de maneira racional dizendo que ouviu da meteorologia que o dia
iria esfriar”.
“O cristão não deve expor sua
mente a manipulações humanas, antes deve sujeitar-se a Deus, que conservará em
paz aquele cuja mente está firme e nele confia” (Is 26.3).
A hipnose nem sempre funciona,
mas, considerado sua eficácia em alguns casos específicos, devemos analisar
mais profundamente os aspectos ocultistas que envolvem essa prática e que nos
impedem de aceitá-la, como cristãos.
A clarevidência
“É verdadeiro: diga a uma pessoa
que ela possui faculdades clarividentes e ela descreverá algo - e o fará de
maneira tão convincente que será quase impossível duvidar de sua boa fé” 12.
O que há de verdadeiro
nisso?
Ao ser humano não cabe a ousadia
de buscar conhecer o futuro. As adivinhações de quaisquer espécies são
expressamente proibidas pelo Senhor, que ordena em Levítico 19.26: “Não agourareis, nem
adivinhareis”. E em
Deuteronômio 18.10 condena até mesmo a comunhão com pessoas que tais obras
praticam: “Entre ti não se
achará quem faça passar pelo fogo a seu filho ou a sua filha, nem adivinhador,
nem prognisticador, nem agoureiro, nem feiticeiro”. Nas palavras de Jesus também
encontramos sua reprovação quanto à ansiedade em se conhecer o futuro: “Não vos
inquieteis, pois, pelo dia de amanhã, porque o dia de amanhã cuidará de si
mesmo. Basta a cada dia o seu mal” (Mt 6.34).
A reencarnação
Alguns pacientes no estado de
transe passam a relatar experiências de vidas passadas. Esse ensino é um dos
fundamentos do espiritismo e é expressamente condenado pelas Escrituras, que
dizem: “E, como aos homens está ordenado morrer uma só vez, vindo depois disso
o juízo” (Hb 9.27). Paulo
nunca pregou tal ensino, antes, seu desejo era estar com Cristo depois de sua
morte: “Porque para mim o viver é Cristo, e o morrer é ganho. Mas de ambos os
lados estou em aperto, tendo desejo de partir, e estar com Cristo, porque isto
é ainda melhor” (Fp
1.21,23).
Além de tudo isso, a reencarnação
agride a doutrina bíblica da expiação de Jesus Cristo pelos nossos pecados (Jo
3.16, Hb 9.28, 10.14).
Psicografia e psicometria
Fenômenos do espiritismo em que
um médium escreve sem estar consciente. Ocorre através da leitura de objetos,
desenhos, pinturas e mensagens faladas. Acredita-se que a inspiração para tais
proezas seja dada pelos mortos.13
A Bíblia é clara ao enfatizar que
os mortos estão impossibilitados de qualquer ação a favor dos vivos. Vejamos o
que diz o texto de Lucas 16.22-26:
“E aconteceu que o mendigo
morreu, e foi levado pelos anjos para o seio de Abraão; e morreu também o rico,
e foi sepultado. E no inferno, ergueu os olhos, estando em tormentos, e viu ao
longe Abraão, e Lázaro no seu seio. E, clamando, disse: Pai Abraão, tem
misericórdia de mim, e manda a Lázaro que molhe na água a ponta do seu dedo e
me refresque a língua, porque estou atormentado nesta chama. Disse, porém,
Abraão: Filho, lembra-te de que recebestes os teus bens em tua vida, e Lázaro
somente males; agora este é consolado e
tu atormentado. E, além disso, está posto um grande abismo entre nós e vós, de
sorte que os que quisessem passar daqui para vós não poderiam, nem tampouco os
de lá passar para cá”.
A capacidade de pintar, desenhar
ou falar por inspiração dos mortos nada mais é do que um engano do maligno, que
usa de disfarces para iludir as pessoas: “E não é maravilha, porque o próprio
Satanás se transfigura em anjo de luz” (2Co
11.4).
Controle mental
A submissão da mente à indução
não é aprovada pela Bíblia. Vejamos:
Jó 38.36: “Quem pôs a sabedoria
no íntimo, ou quem deu à mente o entendimento?”.
Deus, em nenhum momento, induziu
sua criação a fazer algo contra a sua vontade. Ou que fizesse alguma coisa e
esquecesse depois, num estado de amnésia.
Efésios 4.23: “E vos renoveis no
espírito da vossa mente”.
A nossa mente deve ser renovada
em Deus. Devemos, com o nosso entendimento, amar o Senhor (Mc 12.30-33), orar e
cantar (1 Co 14.15), obedecer (2 Co 10.5), guardar as suas leis (Hb 8.10).
1 Coríntios 2.16: “Porque, quem
conheceu a mente do Senhor, para que possa instruí-lo? Mas nós temos a mente de
Cristo”.
O que Paulo está querendo dizer
com “nós temos a mente de Cristo” é
que devemos ter a mesma atitude, o mesmo discernimento e o mesmo ponto de vista
que Cristo sobre as coisas. E só possui a mente de Cristo aqueles que desfrutam
de comunhão com Ele (Gl 2.20-21; 3.27; Fp 1.8, Rm 13.14). O apóstolo Paulo
assevera que, por termos a mente de Cristo, somos capazes de discernir e julgar
tudo e, nesse aspecto, somos superiores ao homem carnal e natural.
A pergunta que surge, então, é:
Poderia alguém que possua a mente de Cristo ser manipulado ou enganado pelas
sugestões e práticas ocultistas?
Outros motivos pelos quais a
hipnose deve ser rejeitada pelo cristão são: ela pode resultar em psicose
profunda e desordem mental, além de causar ansiedade, suicídio, perda dos
sentidos e da memória e implicações sexuais maléficas. É importante
considerarmos que, embora tal prática seja maléfica, ela goza de certo
prestígio na mídia, que quase sempre só informa ao público aquilo que lhes
interessa, ocultando o seu lado negativo.
Um desvio da verdade
Como se pode observar, a hipnose
é um desvio da verdade. Existem exemplos de hipnose que levaram muitas pessoas
a um fim trágico, por isso devemos permanecer distantes dessa prática
ocultista, mesmo que ela esteja relacionada ao entretenimento.
A mente humana não deve ser alvo
de brincadeiras, e seu controle não deve ser submetido a ninguém, a não ser ao
Senhor Deus. Devemos nos sujeitar somente a Ele (Tg 4.7).
A hipnose é um dos escapes que o
ser humano procura para resolver seus problemas. Embora esse método, às vezes,
pareça dar certo, o simples fato de constatarmos sua explícita ligação com a
Nova Era, o espiritismo e o ocultismo já é mais do que suficiente para
anatematizarmos tal prática. Está dado o recado. Ou melhor, o conselho!
Notas
1 Revista
Manchete. 17 de agosto de
1991. p. 47.
2 Enciclopédia da
Bíblia teologia e Filosofia. R.
N. Champlin e J. M. Bemtes. CANDEIA. 1997, pp. 121-122.
3Poder psíquico da hipnose. Simeon Edmunds. HEMUS. p.16.
4 Dicionário de
Religiões, Crenças e Ocultismo. George A. Mather e Larry A. Nichols. VIDA. 2000, p.288.
5 Ibidem, p.273.
6 Poder psíquico
da hipnose. Simeon Edmunds.
HEMUS. p.14.
7 Dicionário de
Religiões, Crenças e Ocultismo. George A. Mather e Larry A. Nichols. VIDA. 2000, p.97.
8 Ibidem, p.440.
9 Ibidem, p. 440.
10 Ajuda-te pela
auto-hipnose. Frank S. Caprio
e Joseph R. Berger. PAPEL LIVROS. p.3-8.
11 Ibidem, p.9.
12 Poder psíquico
da hipnose. Simeon Edmunds.
HEMUS. p.48.
13 Dicionário de
Religiões, Crenças e Ocultismo. George A. Mather e Larry A. Nichols. VIDA. 2000, p.368.
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