Por Gilson
Barbosa
Recebi de um adepto do
unicismo[1]
um link com o título 70 Razões Porque Não
Cremos na Trindade. A princípio fiquei até impressionado, porém, analisando
atentamente avaliei como um grande exagero, a começar pela quantidade de razões
(70), depois pela interpretação das passagens bíblicas. Após avaliar as “70
razões”, percebi que muitas delas se repetem (constantemente) com outras
nuanças; portanto, elas poderiam ser absorvidas em pontos mais condensados, o
que cairia, talvez, pela metade de razões. Conclusão: as sete dezenas de razões
são mais para impressionar; um exagero hiperbólico. É como se os trinitarianos
contra-atacassem com suas 70 Razões
Porque Cremos na Trindade. Não há necessidade disso.
Como são “muitas as razões”
do unicismo me esforçarei para responder a medida do pouco tempo que disponho.
Não tenho um método lógico para as respostas, mas podemos começar respondendo as
próprias afirmações do movimento unicista:
OS
PRIMEIROS CRISTÃOS DESCONHECIAM A DOUTRINA DA TRINDADE
A primeira razão unicista para
não se crer na trindade é porque tal
doutrina surgiu no ano 325 depois de Cristo. Se essa ideia for válida, com
base no mesmo argumento, poderemos negar outras doutrinas também. Por exemplo: o
batismo com o Espírito Santo tendo as línguas estranhas como evidência. Segundo
o Dicionário de Religiões, Crenças e
Ocultismo (Editora Vida, página 357):
O movimento cresceu a partir das
igrejas Assembleias de Deus (AD), um movimento pentecostal que surgira em 1906,
na rua Azusa, Los Angeles.
O movimento a que se refere à citação acima é o unicismo. Significa,
então, que o unicismo é fundamentalmente pentecostal, e, todos sabem que a base
do pentecostalismo são as línguas estranhas e os dons espirituais. Na mesma
linha de pensamento diríamos que as manifestações pentecostais também não podem
ser admitidas nem buscadas pelos pentecostais unicistas, pois, tal doutrina surgiu no ano 1906 depois de
Cristo.
É bom saber que a doutrina
da Trindade não surgiu no ano de 325.
Ela teve
de ser discutida pelos teólogos da época no Concílio de Nicéia realizado
em 325 depois de Cristo para afirmação de uma doutrina que até então era plena
e totalmente aceita pelos cristãos da Igreja Primitiva e pelos denominados “pais
apostólicos ou eclesiásticos”. A obrigatoriedade da discussão aconteceu por
causa da controvérsia ariana, conhecida também como arianismo.
O termo arianismo vem de Ário, bispo
de Alexandria, cujas opiniões foram condenadas no Concílio de Niceia em 325
d.C., e que morreu em 336 d.C. Ário pregava que Deus Filho foi em dado momento
criado por Deus Pai e que antes desse momento o Filho não existia, nem o
Espírito Santo, mas somente o Pai. Assim, embora o Filho seja um ser celeste
anterior ao resto da criação e bem maior do que todo o resto da criação, ele
não se iguala ao Pai em todos os seus atributos – pode-se até dizer que é “igual
ao Pai” ou “semelhante ao Pai” na sua natureza, mas não se pode dizer que é “da
mesma natureza” do Pai.[2]
Este ensino arianista é predecessor
ao idêntico ensino das Testemunhas de Jeová. Para Ário Cristo não possuía a
mesma natureza do Pai. Posto assim Jesus não era plenamente Deus, não era
eterno, e, era uma espécie de segundo Deus inferior ao Pai. Portanto, foi
elaborada uma pedagógica instrução a fim de que todos os cristãos pudessem
brevemente mentalizar a Divindade de Cristo. O documento ficou conhecido como
Credo de Niceia. Diz assim este Credo:
Cremos em um só Deus, Pai onipotente,
criador de todas as coisas visíveis e invisíveis; e em um só senhor, Jesus
Cristo, gerado pelo Pai, unigênito, isto é, sendo da mesma substancia do Pai,
Deus de Deus, Luz da Luz, Deus verdadeiro do Deus verdadeiro, gerado, não
feito, de uma só substância com o Pai, pelo qual foram feitas todas as coisas,
as que estão no céu e as que estão na terra; o qual, por nós homens e por nossa
salvação, desceu, encarnou-se e se fez homem. Sofreu, ressuscitou ao terceiro
dia, subiu ao céu, e novamente virá para julgar os vivos e os mortos.
Cremos no Espírito Santo. E a todos
que dizem: “Ele era quando não era, e antes de nascer, Ele não era, ou que foi
feito do não existente”, bem como aqueles que alegam ser o Filho de Deus de
outra substancia ou essência, ou feito, ou mutável, ou alterável a todos esses
a Igreja católica e apostólica anatematiza.
Historicamente não é
verdade, então, que a doutrina da trindade “surgiu” no ano 325 depois de Cristo
e que os primeiros cristãos a desconheciam. Nem mesmo é certo dizer que eles
não acreditavam nela, como veremos em outra postagem.
A
TRINDADE É DOUTRINA DA IGREJA CATÓLICA ROMANA
Não há nada teologicamente
errado com a definição do Credo de Niceia, mas, os insistentes unicistas dizem
que não se deve crer na doutrina da trindade porque é doutrina romana,
pois surgiu da reunião de 318 bispos, liderada pelo imperador Romano
Constantino. Pois bem, alguém disse que a verdade é sempre a verdade
não importa sua procedência. O Diabo sim é o “pai da mentira”, mas, as verdades
existentes universalmente são verdades de Deus. Foi o que Jesus disse aos que
não criam Nele (João 8:44):
Vós tendes por pai ao diabo, e quereis
satisfazer os desejos de vosso pai. Ele foi homicida desde o princípio, e não
se firmou na verdade, porque não há verdade nele. Quando ele profere mentira,
fala do que lhe é próprio, porque é mentiroso, e pai da mentira.
Deixando de lado a
controvérsia se a Igreja católica nesta época era totalmente romana ou não
(leia-se pagã), o que foi resolvido está em conformidade com a ortodoxia
teológica.
Um fato não informado
publicamente (o que configura desonestidade) pelos que acusam os trinitários de
pagãos é a mudança de opinião do imperador Constantino a respeito da doutrina
da trindade. Isso significa dizer que a igreja de Cristo não foi favorável à
doutrina trinitária imposta pelo imperador Constantino tanto quanto a igreja
não deveria acatar sua decisão a favor do arianismo. A solução trinitária imposta
pelo imperador teve outro sentido.
Na realidade, Constantino inverteu sua
opinião em 332 d.C., sete anos depois do Concilio de Nicéia, e passou a apoiar
Ário. Durante 45 anos dos 49 que se seguiram, os arianos gozavam o favor dos
imperadores romanos.[3]
Aos acusadores de que a
doutrina da trindade é pagã porque é doutrina romana deveriam atentar para o
fato de que o ensino ariano era mais atraente aos imperadores do que o ensino
trinitário, no entanto a doutrina trinitária subjugou os ensinos de Ário:
No auge da controvérsia ariana, entre
325 e 381, o arianismo era geralmente reconhecido pelos imperadores como um
sistema religioso mais atraente do que o trinitarismo. O motivo disso era que o
arianismo ensinava que Jesus era uma criatura divina, dava a entender que uma
criatura podia ser um Deus, podia ficar altamente exaltada e conseguir a obediência
incondicional dos homens. Essa idéia era atraente aos imperadores, pois seus
antecessores pagãos frequentemente exigiam a adoração dos súditos, e achavam
mais fácil governar se o povo os considerassem divinos, nalgum sentido. O
trinitarismo, por outro lado, mantinha que a totalidade da divindade pertencia
ao Deus trino e uno, e mantinha uma distinção mais nítida entre o Criador e a
criatura; assim, deixa subentendido que o imperador era mero homem comum. Que um
imperador romano declarasse o cristianismo trinitário como religião oficial do
seu império é, portanto, surpreendente, e sugere que a preocupação com a
verdade pesou na balança mais do que a conveniência política.[4]
Os unicistas não creem na
doutrina da trindade por ser oriunda da Igreja Católica Romana, dizem. Então não
deveriam aceitar ou admitir também o cânon bíblico do Novo Testamento, pois,
foram reconhecidos como a inspirada e inerrante Palavra de Deus por volta do
século 4 depois de Cristo e por pessoas que eles afirmam estarem dominadas pelo
paganismo desta Igreja.
As autoridades da Igreja
nesta época não estavam debaixo da soberania de Deus e de alguma forma dirigidos
pelo Espírito Santo na coleta e seleção dos livros do Novo Testamento? Os
unicistas não crerão mais na inspiração e autoridade do Novo Testamento por
causa disso?
NÃO
EXISTE A PALAVRA TRINDADE NA BÍBLIA
A terceira razão unicista
para não se crer na doutrina da trindade é porque
a palavra Trindade não é encontrada na Bíblia. Que argumento tolo! O
unicismo ensina que há apenas um Deus
e que Ele aparece em três modos (monarquianismo modal). Outro nome para esta
unidade de Deus é monoteísmo. Pergunto aos unicistas: a palavra monoteísmo é
encontrada na Bíblia? Já que o termo está ausente na Bíblia não deveriam
repudiar o conceito singular e único de Deus? Porque isso não é válido na
questão da doutrina da trindade? Os unicistas boicotam o fiel da balança quando a doutrina da
trindade é pesada nela?
Penso que os mentores do
movimento unicista deveriam ser pelo menos honestos e mostrar os dois lados da
moeda e não só o que lhes interessa.
Na verdade, há várias
expressões que são técnicas, teológicas, mas que expressam o conceito bíblico,
mesmo estando ausente nos textos bíblicos. O teólogo Myer Pearlman disse o
seguinte sobre isso:
É verdade que a palavra trindade não
aparece no Novo Testamento; é uma expressão teológica, que surgiu no segundo
século para descrever a Divindade. Mas, o planeta Júpiter existiu antes de
receber este nome; e a doutrina da Trindade encontrava-se a Bíblia antes que
fosse tecnicamente chamada a Trindade.[5]
Prezados leitores, os
pouparei de estender mais este assunto para que não fique cansativo e
enfadonho. Penso que o que foi escrito aqui é suficiente para começarmos a
clarear este importante tema e doutrina. Assim que puder voltarei a falar do
unicismo, mas, desta vez focando as passagens bíblicas usadas como “prova” de que
não se deve crer na trindade. Até breve.
Em Cristo,
[1][1]
Basicamente o unicismo é um movimento que tem por fundamento a unicidade ou
unidade de Deus, portanto, não admite em hipótese alguma a doutrina da trindade.
[2]
GRUDEM, Wayne. Teologia Sistemática. Ed:
Vida, p. 178.
[3]
JR, Robert M. Bowman. Por que devo crer
na Trindade. Ed: Candeia, p. 40.
[4]
IBIDEM.
[5]
PEARLMAN, Myer. Conhecendo as Doutrinas
da Bíblia. Ed: Vida, p. 51.
Caro irmão Pb. Gilson,
ResponderExcluirParabéns pelo excelente blog apologético,bem como pelo artigo em tela.
Estou seguindo, assim como já inclui no Point Rhema, meu singelo blog.
Grato pela indicação!
Seu conservo em Cristo,
Pr. Carlos Roberto
wwww.pointrhema.blogspot.com
Prezado pastor Carlos Roberto,
ResponderExcluirÉ uma grande honra tê-lo como leitor do meu blog. Agradeço muito por incluí-lo no seu blog. Grande abraço.
Seu irmão em Cristo,
Pb Gilson Barbosa
Olá irmão Gilson, saudações em Cristo!
ResponderExcluirParabens por sua refutação sensata e absolutamente convincente para os que amam a verdade.
Lamento muito o fato de haver várias denominações que afirmam crer na trindade, mas apoiam os unicistas. cantam suas músicas nos cultos e oferecem os púlpitos de suas igrejas para eles pregarem.
A leitura de um link lhe incomodou, e pela graça de Deus, você tratou de refutar as idéias unicistas. Porque será que boa parte dos líderes não se incomodam e deixam suas igrejas à mercê desses hereges?
Continue firme! Um grande abraço!
Pr. Rosivaldo Sales
Caro pastor Rosivaldo,
ExcluirObrigado pela leitura da postagem bem como seu comentário. O senhor lembrou muito bem: há várias denominações que franqueiam seus púlpitos, cultos, para que a "palavra de Deus" seja pregada e suas músicas cantadas.
Ou é desconhecimento da doutrina da trindade, desleixo ou omissão proposital mesmo.
Que o Senhor guarde sua Igreja.
Abraço,
Prezado irmão Gilson, parabéns pelo texto. A síntese perfeita de uma refutação cada vez mais necessárias aos nossos dias.
ResponderExcluirBrilhante.
É o meu mestre!
Meu mestre Marinho,
ExcluirObrigado por ler a postagem. Sabedor da sua capacidade teológica fico feliz por seu comentário. Obrigado mesmo.
Grande abraço.
Caro Gilson seu blog sempre cuidando da sã doutrina, parabens. Vagner Lopes
ResponderExcluirCaro Vagner,
ExcluirObrigado pela leitura da postagem. Me preocupo muito com a sã doutrina da igreja. Chego até mesmo a ser adjetivado por alguns de chato. O que posso fazer. Usando as palavras de alguém digo: minha mente está cativa a Cristo, portanto, não serei infiel a Ele e seus ensinamentos.
Grande abraço,
Olá Gilson.Li o seu Perfil.Ótimo.Foi assembleiano por 20 anos.A pouco tempo conclui o ensino médio, tenho 46 anos.Assisto os cultos na igreja tabernáculo da fé(Unicista) Gostaria que vc. me citasse um passagem bíblica que por si só fechasse a doutrina da trindade, quero dizer uma passagem que não dependesse de outra passagem para completar a outra.A maioria dos livro que defende a trindade usam um triangulo equilátero, sem misticismo é claro, para representar a trindade. Só que nas passagens citadas, este triangulo sempre falta uma ponta. Por favor me envie a melhor que vc conhece, mas com as trés pontas.Obrigado.Deus te abençoe.Meu e-mail e lucasfch.lucas@gmail.com
ResponderExcluirgostei
ResponderExcluirBreve histórico
ResponderExcluirNo final do 1º século a Igreja travou forte batalha apologética contra o gnosticismo. Quem mais se destacou foi o Apóstolo João, como pode notar através de suas cartas e do Evangelho que escreveu o qual foi o último dos quatro Evangelhos e cujo propósito foi justamente combater a doutrina dos nicolaítas. A Igreja batalhou pela fé que uma vez foi dada aos santos e saiu vitoriosa. Mas, de resto, ficou os ebionitas de onde surgiram os monarquianistas modais, que criam num Deus de unidade absoluta (yachidh) e que se manifesta de diferentes modos. Também conhecidos como modalistas ou sabelianistas, pois o Bispo Sabélio foi quem mais se destacou na pregação desta heresia. Em 263 A.D., Dionísio de Alexandria enfrentou o próprio Sabélio, derrotando o sabelianismo. Em 1913 John Schepp fundou a seita “Só Jesus” trazendo à tona esta mentira hoje conhecida como unicismo. Daí veio a Igreja Pentecostal Unida do Brasil, Palavra Original e o grupo “Voz da Verdade” da Igreja Voz da Verdade, entre outros. O unicismo não faz parte do movimento evangélico, pois nega uma doutrina fundamental do cristianismo: A Santíssima Trindade.
Quando Tertuliano, escritor cristão de língua latina, criou a expressão “Trinitas”, que significa Trindade, ele não estava criando a doutrina da Santíssima Trindade, pois esta doutrina é bíblica e está provada no contexto bíblico desde o Pentateuco que data de cerca de 1400 a. C. e em toda a Bíblia.