Não há somente uma visão teológico-escatológica
a respeito da figura do Anticristo. Uns acreditam que o anticristo é algo
impessoal tal como um movimento corrente,
ou seja, não é nada mais do que o “espírito” do mundo que se opõe as
doutrinas cristãs e a Cristo; a outros ele é uma pessoal real, e talvez, até
mesmo já esteja presente no mundo atuando por meio da política e da religião,
por exemplo.
John W. Robbins informa o
sentido do termo “anticristo”:
O prefixo grego anti significa “no
lugar de”, ou “na posição de”. Ele pode conter também a ideia de substituição.
Por exemplo, quando Paulo diz que Cristo “deu-se a si mesmo em resgate por
todos (I Timóteo 2:6), ele não usa a palavra ordinária que significa resgate
(grego, lutron), mas ele usa o prefixo anti (grego, antilutron). Girdlestone,
bem como outros linguistas, aponta que a palavra significa literalmente resgate
substitutivo.
Anticristo, portanto, refere-se a
alguma figura que coloca a si mesma no lugar de Jesus Cristo. Ele é um
substituto de Cristo. Para usar o latim, ao invés do grego, ele reivindica ser
o vigário de Cristo.
A expressão “anticristo”
aparece somente quatro vezes em toda a Escritura. No livro profético do Apocalipse (sendo o autor o
mesmo da carta mencionada nos versículos abaixo) não aparece nenhuma vez o
termo:
Filhinhos, é já a última hora: e, como
ouvistes que vem o anticristo, também agora muitos se têm feito anticristos:
por onde conhecemos que é já a última hora. (1 João 2.18)
Segundo alguns nesse texto
o apóstolo João está corrigindo um falso ensino corrente na época (“como
ouvistes que vem”). Ouviram de quem? João não nos informa, mas deixa claro que
se trata de algo improvável.
Quem é o mentiroso, senão aquele que
nega que Jesus é o Cristo? É o anticristo esse mesmo que nega o Pai e o Filho.
(1 João 2:22)
Aqui, segundo os que negam
a pessoa física do anticristo, o que está em evidência são pessoas que na época
ensinavam algo contrário a Escritura: negavam que Jesus era o Cristo (como os
gnósticos) e também negavam a distinção entre o Pai e o Filho (algo similar ao
movimento unicista-modalista).
E todo o espírito que não confessa que
Jesus Cristo veio em carne não é de Deus; mas este é o espírito do anticristo,
do qual já ouvistes que há de vir, e eis que está já no mundo. (1 João 4:3)
Porque já muitos enganadores entraram
no mundo, os quais não confessam que Jesus Cristo veio em carne. Este tal é o
enganador e o anticristo. (2 João 1:7)
Esses (enganadores)
negavam a humanidade e encarnação de Jesus Cristo; inclusive esses
“anticristos” já estavam presentes naqueles dias. Esses versículos, então, se
referem 1) a um entendimento inadequado sobre o quê seria o anticristo; 2) a
falsos conceitos sobre a pessoa de Jesus Cristo e 3) sobre sua natureza. Essa é
a posição do renomado apologista norte-americano Hank Hannegraf (The Apocalypse Code, Nashville: W Publishing Group, 2007):
Além do mais, João ensinou que todos
os que negam a encarnação, o papel messiânico e a divindade de Jesus são
exemplos de anticristo. Como tal, o termo
anticristo não somente refere-se à apostasia de indivíduos, mas à
apostasia de instituições e ideologias também. Nesse sentido, instituições tais
como as seitas modernas e as religiões do mundo, além de ideologias como o evolucionismo e o comunismo, podem ser
corretamente consideradas anticristos.
Para os reformadores do
século 16 a Igreja Católica Romana, por se opor a grande doutrina da Reforma
Protestante (a justificação pela fé somente), foi tida como o Anticristo. Note
que nesse sentido o anticristo não é uma pessoa, mas, é identificado como algo
que se opõem as doutrinas cristãs (no caso dos reformadores a justificação pela
fé somente). John W. Robbins aponta que não podemos apreciar essa convicção dos
reformadores (que a Igreja Católica era o Anticristo), devido à extrema
importância que os reformadores davam a esta doutrina na época. Há ala do
protestantismo que remete a figura do Anticristo a um passado histórico vista
em homens tais como Nero, Constantino, Napoleão, Mussolini, Hitler, Kissinger e
Stalin (O Anticristo 2006 – John Robbins). Em outras palavras, nessa ala, não
existe nem existirá um pessoa que seja identificada como um agente do próprio
Satanás num futuro próximo ou distante, que regerá a política e a religião.
João Calvino denominava esse esquema
escatológico de “sonhos judaicos”.
Na teologia
dispensacionalista-pré-tribulacionista o anticristo surge no período de sete
anos, conhecido como Grande Tribulação. Nesse caso, a igreja de Cristo terá
sido arrebatada antes e os que não forem salvos terão segunda chance para se
arrependerem e aceitarem a Cristo durante esses anos. O desenrolar histórico
desse personagem está registrado em Apocalipse 13 – mais especificamente a
“Besta que sobe do mar”.
O Dr Russel Shedd,
conhecido nacionalmente, é um pré-milenista (clássico) pós-tribulacionista; isto
significa que no seu entendimento escatológico Jesus voltará e implantará seu
reino logo após; os salvos eleitos passarão pela Grande Tribulação, porém,
serão livres nela - inclusive o anticristo é uma figura pessoal que surgirá no
fim dos tempos. Confesso me simpatizar com esse pensamento
teológico-escatológico. Avalio o entendimento teológico
pré-milenista-dispensacionalista muito mirabolante e “bonitinho”. Se interessar
leitor, sugiro a leitura do interessante livro A Escatologia do Novo Testamento, Dr. Russel P. Shedd, Editora Vida
Nova. Na conclusão do livro ele diz:
O futuro desvendará maior oposição
satânica contra o evangelho e o Povo de Deus. Perseguição parece ser o meio
menos sutil que a velha serpente tem para persuadir os homens a abandonar a fé
e a comunhão com os fiéis. O Anticristo organizará o mundo para pressionar os
crentes a desistirem de servir a Deus e ele receber toda a adoração.
Consequentemente o amor de muitos esfriará.
Mas ao mesmo tempo em que os falsos mestres, cooperando com a entronização do Anticristo, parecem ganhar notável sucesso, a divulgação mundial do evangelho avança. Destarte o palco é posto em lugar para o conflito mundial entre Satã e Cristo.
Mas ao mesmo tempo em que os falsos mestres, cooperando com a entronização do Anticristo, parecem ganhar notável sucesso, a divulgação mundial do evangelho avança. Destarte o palco é posto em lugar para o conflito mundial entre Satã e Cristo.
Confesso não me sentir
muito confortável com o tema escatologia. Entendo que o assunto escatológico
não é doutrina basilar da fé cristã , exceto a segunda vinda
de Cristo; os demais temas, principalmente após Sua vinda, são extremamente
polêmicos e discutíveis em todas as linhas de teologia-escatológica. Grandes
homens piedosos, servos tementes ao Senhor, defendem um ou outro ponto de
vista, ou seja, não há uniformidade entre os ramos protestantes ou igrejas
evangélicas em geral (local-universal). Por favor, amados leitores, não vamos fazer de
temas obscuros (em certo sentido) um fator de inimizade fraternal.
Que não sejamos preocupados
por esquemas, tabelas, gráficos, a respeito de como será o fim do mundo e seu desdobramento. Penso
que na fé evangélica a prioridade deve ser a pregação do evangelho, a adoração
cristã, uma vida santa e piedosa e aguardar com vigilância a vinda de Cristo, e
isso independe da sua linha escatológica. Se no seu entendimento escatológico a igreja não passará pela Grande Tribulação e, portanto, não
presenciará a figura do anticristo, amém! Se ela passar pela Grande Tribulação
(o que compreende a apostasia individual e coletiva da igreja, a influencia
secularizada e diabólica como um todo no mundo), mas, ser livre dentro dela,
amém também. Se nada disso acontecer ou existir, mas simplesmente Jesus vier e levar os
salvos para a glória celeste e iniciar a eternidade,
amém! Isso não nos interessa muito.
Cuidemos para não nos tornarmos escatologicamente paranoicos, como o pessoal que ensina sobre os Illuminatis, ou criarmos teorias que mais se pareçam com filmes de ficção. Mesmo que os textos escatológicos sejam de difícil interpretação, é relevante manter a fidelidade hermenêutica, teológica e bíblica, o que não faz mal pra nenhum estudioso da Escritura Sagrada.
Cuidemos para não nos tornarmos escatologicamente paranoicos, como o pessoal que ensina sobre os Illuminatis, ou criarmos teorias que mais se pareçam com filmes de ficção. Mesmo que os textos escatológicos sejam de difícil interpretação, é relevante manter a fidelidade hermenêutica, teológica e bíblica, o que não faz mal pra nenhum estudioso da Escritura Sagrada.
Aquele
que testifica estas coisas diz: Certamente cedo venho. Amém. Ora vem, Senhor
Jesus (Apocalipse 22:20).
Em Cristo,
O Sr Russel Shedd em um dia remoto, numa Faculdade Interdenominacional disse que quem fala em linguas estranhas na boca dos Pentecostais seria um "Anjo", estava la ! ouvi isto ! não retruquei só guardei o que aprendi em nossa Denominação, para mim Pré- Milienismo misturado com MIdi-Tribulaionismo é um "coquetel molotov" perigoso de confeccionar perigoso ao lançar, mas é só minha opinião !
ResponderExcluirProf Donizete
Evangelista na Ad de Deus Ministério no Ipiranga
Irmão Donizete,
ResponderExcluirA paz do Senhor. Muito obrigado por acessar esse blog. Espero que seja edificado.
Quanto ao irmão Russel Shedd: apesar de ser um homem intelectual, é passível que comente algo que discordemos e que não seja coerente, tanto com a tradição doutrinária da AD, como com a teologia em geral.
Se não estou enganado o irmão Russel Shedd é um premilenista clássico pós tribulacionista, ou seja, ele não defende a posição Miditribulacionista. O Dr Gleason Archer, sim, é miditribulacionista.
A Assembleia de Deus é premilenista, a partir das ideias de John Nelson Darby, século XIX.
Grande abraço,