NOTA: Apesar desse artigo não focar a questão teológica nas músicas evangélicas, e sim o aspecto estético, achei interessante incluí-la neste blog, pois, o autor considera alguns pontos importantes: 1) a manipulação da mídia cristã; 2) o envolvimento de cantores e bandas com gravadoras não evangélicas; 3) a única preocupação com lucros e vantagens que o sucesso proporciona; 4) a imitação de estilos musicais e melodias de outros cantores ou bandas; 5) a repetição e igualdade de melodia e letras, músicas onde o cantor fica repetindo o refrão por um longo tempo, etc.
Se quiser ler uma breve reflexão teológica acerca da música evangélica (leia aqui)
por César Ricky
Estou aqui queimando
alguns neurônios tentando me lembrar de algum lançamento realmente impactante
da música cristã em 2010 (nacional e internacional). Entenda o que eu disse:
lançamento impactante.
Certamente bons CDs foram
lançados. Mas estou em busca daquele que marca, que te faz ouvir por diversas
vezes e pensar como os caras conseguiram fazer algo tão bom.
Alguns CDs, em anos
diferentes, me trouxeram essa sensação. Vou citar os principais albuns cristãos que me
causaram esse impacto: Iona – Open Sky, Deep Still – Authentic Celtic, David
Crowder Band – Can You Hear Us, Delirious – Glo, Burlap to Cashemere – Anybody
Out There?, Kaiser/Mansfield – Slow Burn, Third Day – Come Together, Vineyard
UK – Beautiful, Kevin Prosch – Acoustic, The Insyderz – Skaleluia, Michael W.
Smith – Freedom, The Verra Cruz – Innocence, Galactic Cowboys – Galactic
Cowboys, Tourniquet – The Collected
Works, DC Talk – Freak Show, Som da Chuva – I, Darrell Evans – Freedom.
Claro, toda lista de CDs
tem a influência do gosto da pessoa que escolhe. E é lógico que alguns desses
CDs causaram mais impacto na época em que foram lançados do que agora, até
porque muitos deles foram exaustivamente copiados por outras bandas. Mas se
você observar atentamente coloquei CDs de diversos estilos musicais e de anos
diferentes, alguns tem até um apelo mais comercial. Outra coisa interessante é
que nessa lista tem CDs que foram lançados no mesmo ano, o que para mim
demonstra terem feito parte de um período muito criativo da música cristã.
Fica aqui uma observação.
Algumas das bandas que citei ainda nem são muito conhecidas, outras, lançaram
esses excelentes CDs antes de fecharem contrato com as grandes gravadoras – o
que de certa forma, demonstra que não eram manipulados artisticamente. E
algumas dessas bandas acabaram (Galactic Cowboys, Burlap to Cashemere, The
Insyderz, DC Talk).
O que me assusta muito
quando converso sobre música cristã com algumas pessoas, é como tudo está
nivelado por baixo. Ouço cada absurdo chamado de “excelente trabalho musical” que
chego a ficar assustado. Sites e revistas cristãs costumam ser medonhos, porque
são raros os que chamam de bom aquilo que é bom de verdade. A grande maioria da
mídia cristã, que é manipuladora, vendida e medíocre (além de altos casos de
puxa-saquísmos para quem é a “bola de vez”) é uma das maiores responsáveis
dessa nivelação tão baixa no que diz respeito a qualidade musical.
Não estou escrevendo esse
texto como músico de uma banda independente que faz um tipo de som praticamente
anormal para os padrões mercadológicos. Estou escrevendo como consumidor e
admirador da BOA música, vou frisar novamente: BOA música, não esse lixo
enlatado que você compra na Conde de Sarzedas (famosa rua de comércio gospel da
cidade de São Paulo) ou que você vê nas Expocristãs da vida (com mais que
raríssimas exceções).
É engraçado que até mesmo
os sites cristãos, que deveriam ajudar no “aculturamento” musical tornaram-se
responsáveis por divulgar as coisas mais imprestáveis possíveis. As gravadoras
e distribuidoras de CDs (que se dizem cristãs, mas o título cristão se refere
apenas ao estilo de música, porque o objetivo mútuo é grana), algumas até com
nomes estrambolicamente espirituais, já deixaram de apoiar os que tentam fazer
algo interessante musicalmente para ficar com a “mesma mesmice de sempre”. Por
quê? Porque o deus-grana precisa abençoar a conta bancária dos donos!
É difícil achar um único
culpado na decadência da música cristã.
Os próprios pastores e
ministros de louvor de igrejas manipulam o povo com a música que se deve ouvir
ou não. Quer apostar? É só ver quais são as músicas cantadas nas igrejas
durante o período de louvor. Outra forma de observar isso, é ver quais são os
grupos ou artistas que cada igreja concorda em levar – falo isso com
conhecimento de causa, já vi e participei dessas reuniões em vários lugares. A
verdade é que o povo é manipulado o tempo todo. Muitas vezes os próprios
pastores são manipulados pelos membros do grupo de louvor, que na grande
maioria tem suas opiniões niveladas com o baixo nível do que se consume de
música cristã.
Tem casos de igrejas que
convidam determinado músico/artista/ministro de louvor, só para ver se consegue
pegar uma “carona” no sucesso momentâneo do sujeito, ou mesmo se tornar “a
igreja da vez” por levar o “artista da vez”. Infelizmente, raros são os que
convidam grupos porque gostam ou admiram o trabalho.
É duro ter que revelar
certas verdades, mas acho que já passou do tempo da igreja ter cérebro. Além de
ser um lugar espiritual, precisa ser um lugar de pessoas pensantes e críticas,
para não fircar engolindo todo tipo de besteira que engole ano após ano.
Os próprios artistas são
culpados por isso. Alguns que se submetem a perda da autênticidade após a
realização do sonho de fechar com uma gravadora e ter todo tipo de benefícios
possíveis (carros, apartamentos, cirurgias plásticas – nos casos mais extremos
de gravadoras grandes). Outros, por serem simplesmente imbecis em busca do
sucesso abandonam sua idéia inicial de fazer algo que é seu para copiar outros.
Desde que os músicos cristãos descobriram a fórmula “U2 – Coldplay” de se fazer
música, nada de novo foi criado (obs: todo meu respeito ao U2 e Coldplay, que
não tem culpa de serem plagiados). Sem falar no incontável número de artistas
cristãos que tentam deixar seu estiloparecido com o do “artista da vez” ou se
aproximar de artistas mais respeitados paenas para impulsionar suas carreiras.
Acho interessante que
muitos músicos que tocam para os artistas cristãos promotores de lixo musical,
tem uma concepção musical diferente dos seus patrões. Conheço muitos que são
aficcionados por jazz, amantes de músicas de boa qualidade. Mas na hora de
fazerem a diferença e colocarem a cara para bater mostrando algo novo e bem
feito, se acovardam pela presença do deus-grana. Ou seja, criatividade e
autenticidade são coisas banais que podem ser deixadas de lado quando
descobre-se que o caminho ao lado delas não é tão fácil e e cheio de glamour.
Que vantagem tem para um
músico que diz ser autêntico ficar tocando covers de suas bandas favoritas ao
invés de compor sua própria música? Uma música ou outra, tudo bem, mas um CD
inteiro! Para aqueles que se dizem adoradores, que vantagem tem ficar gritando
“Jesus, eu te amo” feito um louco, por 5 ininterruptos minutos sendo que o
Senhor nos deu inteligência o suficiente para sermos mais poéticos e sinceros
em nossas adoração?
Nós, consumidores cristãos
de música precisamos pensar mais, precisamos colocar nossos cérebros para
funcionar e sermos mais críticos quanto ao que nos vendem. A igreja tem o prazer
de criticar os programas de TV de domingo à tarde, acusando-os de serem os
responsáveis por todo lixo de música esdrúxula que se consome no Brasil – o que
é fato. Mas é essa mesma igreja, que de uma forma “gospel” consome outros tipos
de lixo com o rótulo de cristão.
Os culpados por essa
decadência são: Os artistas, as gravadoras e distribuidoras de CDs, a mídia, os
pastores, os ministros de louvor, os músicos e o próprio povo que faz questão
de deixar o cérebro guardado numa gaveta ao invés de pensar antes de engolir
todo esse lixo musical.
Desisti, não vou mais
queimar meus preciosos neurônios para tentar encontrar algo que se encontra em
extinção: a criatividade musical na música cristã.
FONTE: http://www.artecomcristo.com/
FONTE: http://www.artecomcristo.com/
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