O
problema da igreja de Laodiceia era duplo: ausência de fervor espiritual e falsa
espiritualidade. Contudo, tenho observado que há igrejas que possuem muito
fervor espiritual, como a dos coríntios, mas, desconhecem o que é ser
verdadeiramente e realmente espiritual. Dos dois, a prioridade deve ser que a
igreja desenvolva uma real e verdadeira espiritualidade. Isso pode ser
confirmado pelo pastor Antonio Gilberto (Lições Bíblicas, 2º trimestre de
2009):
Os
crentes de Corinto tinham dons espirituais (1.7), mas muitos eram imaturos,
insubmissos, ignorantes da doutrina reveladora dos dons, além de carnais. Em
uma igreja é possível haver crentes fervorosos, que gostam de movimento e
agitação sem, contudo, haver espiritualidade real, advinda do Espírito Santo.
Às vezes o que parece fervor espiritual é mais emocionalismo, resultante de
motivações e mecanismos externos. Tal fervor é passageiro, ao passo que a
verdadeira espiritualidade está intimamente relacionada ao exercício da piedade
e da vida cristã consagrada (Ef 4.17-32).
Os
pentecostais (exclusivamente da Assembleia de Deus) sabem que o pastor Antonio
Gilberto confessa a teologia do batismo com o Espírito Santo (com a evidencia
das línguas estranhas) e dos dons espirituais, mas, na citação acima ele deixa
claro haver dois grupos entre os pentecostais: os fervorosos e os que são
realmente espirituais, mas ambos estão envolvidos nos dons carismáticos. Isso
por si só já cria um problema, pois, quase todos não discernem essa questão.
Por mais que “estudem” a doutrina pentecostal, a confusão permanece.
A
Igreja de Corinto possuía fervor espiritual, mas, um falso conceito de
espiritualidade; a de Laodiceia não tinha fervor espiritual, mas possuía,
também, um enganoso conceito de espiritualidade. Situações espirituais e
conceituais muito parecidas. Essa questão serve de alerta para as igrejas
evangélicas da atualidade a que prefiram uma vida piedosa e santa a tentar exibir
um aparente fervor espiritual. A maior diferença entre as duas é que podemos
encontrar dentro da igreja de Corinto alguns crentes piedosos e tementes ao
Senhor, já os crentes laodicenses pensavam que ainda serviam a Deus, porém, o
Senhor Jesus estava do lado de fora da igreja. Foi necessário uma intervenção
Divina.
São
três as descrições de Cristo ao pastor da igreja laodicense: o Amém, a
testemunha fiel e verdadeira, e, o princípio da criação de Deus. A expressão Amém é mais bem entendida dentro do
contexto do Antigo Testamento. Tratava-se de uma confirmação, dos que rendiam
culto à Deus, daquilo que se havia ouvido, como em I Crônicas 16:36: “Louvado
seja o Senhor Deus de Israel, de século em século. E todo o povo disse: Amém! e
louvou ao Senhor”. Servia também como uma conclusão para uma doxologia: “A
graça de nosso Senhor Jesus Cristo seja, irmãos, com o vosso espírito. Amém!”
(Gálatas 6.18). A descrição fiel e
verdadeiro tem o mesmo sentido da expressão Amém e significa que Jesus é indubitavelmente verdadeiro em suas
palavras: “E o que estava assentado sobre o trono disse: Eis que faço novas
todas as coisas. E disse-me: Escreve; porque estas palavras são verdadeiras e
fiéis” (Apocalipse 21.5). A descrição princípio
da criação de Deus não deve ser entendida no sentido passivo, como se Jesus
fosse um ser criado, mas, que Ele é a origem da criação. A palavra “princípio”
no idioma original é arque e no caso
de Jesus significa que é o Criador do mundo, o arquiteto, a fonte da criação:
“Porque nele foram criadas todas as coisas que há nos céus e na terra, visíveis
e invisíveis, sejam tronos, sejam dominações, sejam principados, sejam
potestades: tudo foi criado por ele e para ele” (Colossenses 1:16). Essas
descrições significam que aquilo que Jesus está falando da igreja laodicense é
verdadeiro, tem fundamento firme e é digno de confiança.
Os
crentes laodicences se tornaram apáticos, anêmicos, indiferentes,
secularizados, espirituais insensatos, e, portanto, a temperatura cristã da
igreja era morna: “Conheço as tuas obras, que nem és frio nem quente. Quem dera
fosses frio ou quente! Assim, porque és morno e nem és quente nem frio, estou a
ponto de vomitar-te da minha boca” (v.15). Jesus ironicamente diz conhecer as obras deles, mas o fato é
que não viviam uma vida de serviço ao Senhor, não exerciam a santidade, não
eram tementes nem piedosos, não se importavam com o serviço cristão, e o pior
de tudo: pensavam que estavam espiritualmente bem (pois dizes: Estou rico e
abastado e não preciso de coisa alguma). Quantos crentes e igrejas possuem um
falso conceito de santidade e espiritualidade. Divorciam-se banalmente de seu
cônjuge e casam-se novamente, fazem negócios a espreita com os dízimos e
ofertas do Senhor, sabem as exigências da Lei do Senhor (a Escritura Sagrada),
mas, transgridem abertamente seus preceitos e doutrina. Deus há de fazer
justiça!
Aspectos
da cidade laodicense são empregados por Jesus para admoestar a igreja. O pastor
Hernandez Dias Lopes comenta que Laodiceia
Era um centro das
águas térmicas. A região era formada por três cidades: Colossos, Hierápolis e
Laodiceia. Em Colossos ficavam as fontes de águas frias, e, em Hierápolis,
havia fonte de água quente que, em seu curso sobre o planalto, tornava-se morna
e, nessa condição, fluía dos rochedos fronteiriços com a Laodiceia. Tanto as
águas quentes de Hierápolis, como as águas frias de Colossos eram terapêuticas,
mas as águas mornas de Laodiceia eram intragáveis.
A
água morna fala da vida cristã nominal, de um cristianismo sem vigor, débil,
totalmente desagradável ao Senhor – ainda que contenha algum tipo de obra. Os
estudiosos dizem que as águas de Laodiceia eram medicinais, pois possuía bicarbonato
de cálcio, mas, ingerido em temperatura morna causava náuseas. Usando as águas
mornas de Laodiceia como exemplo Jesus ensina uma lição espiritual àqueles
crentes. Mas, mesmo na situação caótica Jesus demonstra a graça do evangelho
quando pacientemente diz que estava a ponto
de vomitar-lhes da sua boca, ou seja, o Senhor estava dando tempo para que
os crentes se arrependessem dos seus pecados e retornassem a Ele. Os crentes
estavam enganados quanto à espiritualidade vivida pessoalmente. Pensavam que o
Senhor se agradava deles e aos poucos colocaram o Senhor Jesus pra fora da
igreja e ainda por cima fecharam a porta. Quantas igrejas estão vivendo uma
falsa espiritualidade e um iludido avivamento. Temos de repensar o que de fato
é servir a Cristo verdadeiramente.
Os
crentes laodicenses eram socialmente ricos, pois a própria cidade era próspera
e rica. Eis aqui uma sugestão aos pregadores da Teologia da Prosperidade:
preguem sobre a prosperidade dos crentes laodicenses e os tomem como modelo de
pessoas “abençoadas” materialmente pelo Senhor. Duvido que alguém deles ouse
pregar tal sermão.
Afirmavam
os crentes laodicenses: “Estou rico e abastado e não preciso de coisa alguma”.
Como afirma o pastor Hernandez Dias Lopes
O problema da
igreja de Laodiceia não era teológico nem moral. Não havia falsos mestres, nem
heresias. Não havia pecado de imoralidade nem engano. Na carta, não há menção
de hereges, de malfeitores, nem de perseguidores [...] A vida espiritual da
igreja era morna, indefinível, apática, indiferente e nauseante. A igreja era
acomodada. O problema da igreja não era heresia, mas apatia.
Porém,
ainda que fossem socialmente ricos, a riqueza e fartura que diziam ter deve ser
entendido, pelo contexto, como riquezas espirituais. Ou seja, pensavam que a
ausência de pobreza material, heresias, pecados imorais, eram sinais da
aprovação divina. Simon Kistemaker informa um fato importante a esse respeito:
La evidencia indica
que la iglesia había adoptado las normas de Laodicea y las había transferido al
ámbito espiritual. Por ejemplo, la ciudad, conocida como centro financiero,
construyó edificios, puertas y torres grandes poco después de que el terremoto
hubo destruido la ciudad. Se enorgullecía de ser independiente y de su
capacidad para ayudar a sus vecinas que habían sufrido el mismo desastre. Los
miembros de las iglesias estaban muy de acuerdo em mostrar independencia y en
ayudar a los vecinos. En consecuencia, no llegaron a ver la diferencia ente
riqueza material y espiritual. Se jactaban de su autosuficiencia y no necesitan
a Cristo. Eran espiritualmente ciegos.
Tornaram-se
sem nenhuma capacidade de auto avaliação e consideravam-se autossuficientes.
Aos olhos de Cristo, porém, a igreja encontrava-se num terrível estado:
infeliz, miserável, pobre, cego e nu. Ouvi um sermão de um pastor presbiteriano
analisando que a boa condição social (honorários) que o ministério
proporcionava aos seus pastores poderia fazê-los independentes da ajuda do
Senhor. Nessa linha o Senhor sugere a igreja laodicense:
Aconselho-te que de
mim compres ouro refinado pelo fogo para te enriqueceres, vestiduras brancas
para te vestires, a fim de que não seja manifesta a vergonha da tua nudez, e
colírio para ungires os olhos, a fim de que vejas.
O
ouro refinado pelo fogo, as vestes brancas e o colírio para ungir os olhos
contém lição espiritual no que respeita a salvação dos crentes: redenção,
justificação e santificação. A linguagem utilizada é a de um mercador. Isso
lembra uma passagem do Antigo Testamento (Isaías 55:1):
Ah! Todos vós, os que tendes sede, vinde às
águas; e vós, os que não tendes dinheiro, vinde, comprai e comei; sim, vinde e
comprai, sem dinheiro e sem preço, vinho e leite.
Costumo
dizer que a igreja local é, na verdade, uma comunidade de pecadores – ainda que
redimidos. Se os crentes laodicenses pensavam que estavam espiritualmente bem, Cristo
os informa que estavam enganados. Não deviam se julgar tão santos assim, pois
não eram. Deveriam reconhecer a soberania e o domínio do Senhor Jesus Cristo.
Deviam reconhecer que é Cristo quem graciosamente nos salva. Tinham de se humilhar,
arrepender e adquirir de Cristo o ouro (redenção), as roupas (justificação) e o
colírio para os olhos (santificação). Pra mim está nítido que a igreja de
Laodiceia necessitava de regeneração. Talvez
a nova geração nem achasse que precisava disso, pois estava indiferente a
realidade de que eram infelizes, miseráveis, pobres, cegos e se achavam nus.
Cristo
admoesta dizendo algo que algumas lideranças pastorais da atualidade desconhecem ou fingem desconhecer: “Eu
repreendo e disciplino a quantos amo. Sê, pois, zeloso e arrepende-te”. Isso
significa que Cristo usa a repreensão e disciplina para o nosso bem espiritual
porque nos ama, e não que as adversidades são todas, e absolutamente, de origem
diabólica. O amor de Deus não é fraco, displicente, banal, irresponsável, mas
vigoroso, forte, previsível.
Deveriam
se arrepender da indiferença, comodismo e mornidão espiritual. Tinham de
receber a Cristo em suas vidas, coloca-lo no seu devido lugar na igreja: “Eis
que estou à porta e bato; se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, entrarei
em sua casa e cearei com ele, e ele, comigo”. Aplicamos esse versículo para
pecadores não regenerados, mas aqui, Cristo aplica a uma igreja que se considerava
espiritual. Precisamos avaliar a primazia dos elementos da fé cristã em nossa
vida espiritual. É imprescindível que oremos, leiamos e estudamos a Bíblia
Sagrada, sejamos santos, pratiquemos os ensinamentos cristãos, etc. Cristo quer
ter plena comunhão espiritual com seus eleitos; ele deseja cear conosco. É
necessário confessarmos nossos pecados a ele. Fazendo assim ele nos promete:
“Ao vencedor, dar-lhe-ei sentar-se comigo no meu trono, assim como também eu
venci e me sentei com meu Pai no seu trono”.
Aquele
que triunfar em/com Cristo receberá o privilégio de sentar-se com Cristo no seu
trono. A expressão “sentar-se no trono comigo” é apenas uma metáfora
simbolizando a honra dos crentes salvos, pois terão o privilégio de julgar as
doze tribos de Israel, o mundo e os anjos:
Jesus lhes
respondeu: Em verdade vos digo que vós, os que me seguistes, quando, na
regeneração, o Filho do Homem se assentar no trono da sua glória, também vos
assentareis em doze tronos para julgar as doze tribos de Israel. (Mateus 19:28)
Ou não sabeis que
os santos hão de julgar o mundo? Ora, se o mundo deverá ser julgado por vós,
sois, acaso, indignos de julgar as coisas mínimas? Não sabeis que havemos de
julgar os próprios anjos? Quanto mais as coisas desta vida!” (I Coríntios 6:1,2).
A
universalidade da (s) carta (s) é comprovada pela conclusão: “Quem tem ouvidos,
ouça o que o Espírito diz às igrejas”. Nenhuma igreja pode alegar
desconhecimento do seu estado espiritual. Todas receberam a mensagem de Cristo,
quer seja de louvor ou elogio, de censura ou reprovação, e promessa. Os crentes
laodicenses precisavam confiar plenamente em Cristo, obedecerem a sua mensagem
e tornarem-se verdadeiros servos de Cristo. Essa mensagem serve de alerta para
a igreja evangélica da atualidade que pensa estar bem espiritualmente, mas não
passa de um ajuntamento religioso; precisa de vigor espiritual, apesar do
poder econômico e financeiro; precisa confessar seus pecados, ouvir o convite
de Cristo e cear com ele.
Que
o Senhor nos ajude!
Em
Cristo,
Amado irmão Gilson, Deus lhe abençoe por cada uma das postagem sobre as sete igrejas da Ásia. O grande desejo do meu coração é que os professores e superintendentes da escola bíblica dominical de cada igreja, estejam usando esses subsídios para enriquecer as suas aulas, assim como tenho usado para enriquecer o meu conhecimento. Fico imaginando: Quem sabe um dia você não transforme os textos do seu blog em um grande livro? Seria maravilhoso! Grande abraço!
ResponderExcluirPr. Rosivaldo Sales
Pr Rosivaldo,
ResponderExcluirO senhor é de fato uma pessoal muito gentil. A sugestão da produção de um livro foi fantástico. Tê-lo como amigo e leitor deste humilde blog é uma grande honra pra mim, dado o seu conhecimento bíblico e teológico.
Grande abraço,