sábado, 19 de maio de 2012

A IGREJA DE FILADÉLFIA (Subsídio EBD)


Por Gilson Barbosa

As igrejas de Filadélfia e Esmirna não receberam nenhuma crítica do Senhor Jesus. Bem-aventurados são esses pastores e suas respectivas igrejas! Pudera o Senhor encontrar, em nossos dias, pastores e igrejas que atendam os Seus requisitos e sejam considerados dignos. Apesar do caos, ainda há esperança! Quanto à igreja de Filadélfia, Cristo se identifica com a sua situação espiritual:

Ao anjo da igreja em Filadélfia escreva: Estas são as palavras daquele que é santo e verdadeiro...

Não sabemos o tamanho dessa igreja, mas, como não há repreensão, temos um indicativo de que todos os membros eram de fato regenerados, justificados e santificados. Apesar de sua pouca força é uma igreja fiel ao Senhor Jesus:

... tens pouca força, entretanto, guardaste a minha palavra e não negaste o meu nome.

É curiosa a expressão força nesse versículo. No idioma original é dunamis que significa “poder”, “habilidade”, “poder miraculoso”, “abundancia” (Concordância de Strong). Dá a ideia de uma igreja simples, sem o antropocentrismo dos nossos dias, sem a preocupação obsessiva de quantidades de membros, sem alardes sensacionalistas, não era espalhafatosa, não buscava reconhecimento social e político, etc. Não significa que fosse uma igreja fraca, sem poder espiritual, mas, que suas prioridades eram guardar a palavra do Senhor e não negar o seu nome. A expressão palavra do Senhor não se refere (absolutamente) às Escrituras Sagradas, mas, a tudo o que Jesus exortou a respeito da santidade e verdade como critério para as igrejas. Matthew Henry, em seu comentário, diz o seguinte sobre essa expressão:

Nisso parece estar expressa uma suave censura: “Tu tens pouca força, uma pequena graça, que, embora não seja proporcional à larga porta de oportunidade que abri para ti, mesmo assim é verdadeira graça, que te manteve fiel”. A verdadeira graça, mesmo fraca, tem a aprovação divina; mas, embora Cristo aceite a pequena força, os crentes não devem descansar e ficar satisfeitos com o pouco, mas devem se empenhar para crescerem na graça, para serem fortes na fé, dando glória a Deus. A verdadeira graça, mesmo fraca, vai realizar mais do que os maiores dons ou o mais elevado grau de graça comum, pois vai capacitar o cristão a guardar a palavra de Cristo e a não negar o seu nome. A obediência, a fidelidade e a franca confissão do nome de Cristo são os frutos da verdadeira graça, e como tais são agradáveis a Cristo. 

Permanece a curiosidade sobre em quê sentido Jesus conceituou a “pouca força” dessa igreja. Hernandez Dias Lopes sugere:

Para uma igreja sem forças aos olhos do mundo, Jesus a parabeniza pela sua fidelidade (Ap 3.8). A igreja tem pouca força, talvez por ser pequena; talvez por ser formada por crentes pobres e escravos; talvez por não ter influência política nem social na cidade, mas ela tem guardado a Palavra de Cristo e não tem negado seu nome.

A igreja era pequena em tamanho e em força, mas grande em poder e fidelidade. Deus, na verdade, escolhe as coisas fracas para envergonhar as fortes. Sardes tinha nome e fama, mas não vida. Filadélfia não tinha fama, mas tinha vida e poder. A igreja tinha pouca força, mas Jesus colocou diante dela uma porta aberta, que ninguém poderia fechar. A igreja é fraca, mas seu Deus é onipotente. Nossa força não vem de fora nem de dentro, mas do alto.

Muitos em nossos dias estão preocupados tão somente com a visibilidade e publicidade da sua pessoa e da igreja sob sua liderança. Uma igreja “boa” é uma igreja “poderosa”, com ótima qualidade musical, com “excelentes” pregadores, com muitas atividades para os jovens, com marcante presença e influência social/política na cidade, membros com alto poder aquisitivo, filiais Brasil afora, e outros fatos semelhantes a estes. Nunca esqueçamos: “nossa força não vem de fora nem de dentro, mas do alto”.

Já que Jesus é Soberano e Dono da igreja, tem autoridade, domínio e poder sobre as ações dela: “Estas coisas diz o santo, o verdadeiro, aquele que tem a chave de Davi, que abre, e ninguém fechará, e que fecha, e ninguém abrirá”. Isso tem ligação com os judeus não convertidos ao evangelho (v. 9), pois não entendiam nem aceitavam a inclusão dos gentios no plano da salvação.  Os judeus se gloriavam de serem descendentes de Abraão e achavam que isso era suficiente para lhes garantir a vida eterna. A partir daí tentavam coagir os gentios a praticarem o judaísmo com seus rituais, cerimoniais, e seu código rígido de leis, para serem salvos. Vemos isso logo no início da Igreja cristã em Atos 15.1: “Alguns indivíduos que desceram da Judéia ensinavam aos irmãos: Se não vos circuncidardes segundo o costume de Moisés, não podeis ser salvos”. Da mesma maneira alguns crentes atuais, por pura ignorância pessoal, bíblica, teológica ou simplesmente fanatismo espiritual, imaginam ter a “chave de Davi”, pois querem sancionar ou não a salvação dos outros. Exigem que os demais irmãos na igreja local sejam e ajam como eles, para serem salvos. Desta forma, vão “abrindo” e “fechando” a porta da salvação. Geralmente são crentes legalistas, adeptos fanáticos dos abusivos usos e costumes. Quase sempre são rasos e supérfluos na interpretação dos textos bíblicos.  

Cristianismo e judaísmo são diferentes e não se misturam totalmente, assim como óleo e água. Os primeiros cristãos eram judeus e obviamente seguiam a religião de seus pais, pois eram instruídos nela desde a tenra infância. Orgulhavam-se de serem descendentes de Abraão e consequentemente filhos da promessa: “Produzi, pois, frutos dignos de arrependimento e não comeceis a dizer entre vós mesmos: Temos por pai a Abraão; porque eu vos afirmo que destas pedras Deus pode suscitar filhos a Abraão” (Lucas 3:8). Possuíam muitos privilégios: “Qual é, pois, a vantagem do judeu? Ou qual a utilidade da circuncisão? Muita, sob todos os aspectos. Principalmente porque aos judeus foram confiados os oráculos de Deus” (Romanos 3:1,2). Deus elegeu, chamou e vocacionou o povo de Israel, havendo outros povos, para que eles sendo separados (santificados) anunciassem às nações pagãs o evangelho do único Deus verdadeiro: “Agora, pois, se diligentemente ouvirdes a minha voz e guardardes a minha aliança, então, sereis a minha propriedade peculiar dentre todos os povos; porque toda a terra é minha; vós me sereis reino de sacerdotes e nação santa. São estas as palavras que falarás aos filhos de Israel” (Êxodo 19.5,6). Face a tudo isso (há muitos outros privilégios divinos que poderiam ser ditos sobre o povo israelita) os judeus jactavam-se da sua religião e por extensão acreditavam que era a única que oferecia a segurança da vida eterna. É nesse contexto que Jesus conforta o pastor e a Igreja de Filadélfia:

Eis farei que alguns dos que são da sinagoga de Satanás, desses que a si mesmos se declaram judeus e não são, mas mentem, eis que os farei vir e prostrar-se aos teus pés e conhecer que eu te amei.  (Apocalipse 3.9).

Paulo escrevendo aos Romanos (9.6) havia dito: “E não pensemos que a palavra de Deus haja falhado, porque nem todos os de Israel são, de fato, israelitas”; isso porque os verdadeiros filhos de Deus não são os que “nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus” (João 1.13). Nossos filhos precisam ser instruídos na Lei do Senhor e confessarem Jesus como Salvador das suas almas. É nesse sentido que Jesus diz sobre o fato de alguns se declararem judeus, mas não eram de fato. Sob a áurea da eleição, escolha e vocação Divina, os judeus perseguiram os primeiros cristãos, tirando-lhes a vida: “Eles vos expulsarão das sinagogas; mas vem a hora em que todo o que vos matar julgará com isso tributar culto a Deus” (João 16.2). Em vez de se sentirem honrados, os religiosos judeus, perseguidores da igreja e orgulhosos, honrariam os fiéis seguidores de Jesus e reconheceriam que Cristo verdadeiramente ama os seus.

Hoje em dia há muitas igrejas evangélicas que estão imitando o judaísmo. Realizam as Festas judaicas, tocam o shofar, carregam a “Arca da Aliança”, vemos pastores usando kipá e talit, e muitos que enfatizam uma espécie de avivamento com base nas práticas cerimoniais e rituais da religião judaica. Uma coisa deve ficar clara: “Amar Israel não é judaizar a igreja”. Daqui a pouco igrejas evangélicas estarão instruindo seus membros a orarem com a postura corporal  em direção a Jerusalém – uma prática bíblica, mas não cristã. Lembre-se sempre que nem tudo que é bíblico é cristão.

“Porque guardaste a palavra da minha perseverança, também eu te guardarei da hora da provação que há de vir sobre o mundo inteiro, para experimentar os que habitam sobre a terra” (v.10). O sentido da palavra “paciência” (perseverança) trata-se da opressão, por causa das perseguições, que os crentes de Filadélfia estavam enfrentando, bem como enfrentam os fiéis seguidores de Cristo por todo o mundo. Note que eles estavam “na perseguição”, ou seja, Deus permitiu que seus fiéis passassem por essa situação; não evitou que isso acontecesse, mas, era um teste, uma prova da fidelidade dos cristãos dessa região. Não obstante esse momento tenso eles perseveraram fiéis a palavra de Cristo. O pastor Hernandez Dias Lopes anota uma importante informação nesse sentido:

Para uma igreja sem forças aos olhos do mundo, Jesus a parabeniza pela sua fidelidade (Ap 3.8). A igreja tem pouca força, talvez por ser pequena; talvez por ser formada por crentes pobres e escravos; talvez por não ter influência política nem social na cidade, mas ela tem guardado a Palavra de Cristo e não tem negado seu nome.   

Por causa dessa perseverança e fidelidade o Senhor Jesus os guardaria da hora tentação que abateria sobre eles. Note bem: os guardaria da tentação, e não que os impediria de serem tentados. Isso é curioso e ao mesmo tempo causa angústia a muitos que aprenderam, como eu, que a igreja de maneira alguma passará por algum tipo de tribulação. Se a igreja de Filadélfia (fiel como era) passaria por essa tribulação (nos seus dias) fico pensando se a igreja dos dias atuais também não passará! Bem: na verdade estou levantando um debate, uma polêmica, mas, fundamentado tão somente no texto bíblico e não em “achismos” ou raciocínio lógico. O leitor atento do Antigo Testamento sabe que na história de Israel Deus não evitava ou impedia que Seu povo passasse por momentos de “grande tribulação”, porém, os livrou de quase todas – exceto, por exemplo, nos cativeiros (e em alguns casos individuais como o de Sansão) motivados por causa dos próprios pecados do povo.   

Outro ponto polêmico nos dias atuais é a respeito do ensino da perda da salvação: “Venho sem demora. Conserva o que tens, para que ninguém tome a tua coroa”. Porém, esse ensino não pode ser extraído desse texto bíblico, pois aqui o assunto é recompensa e não salvação. A palavra coroa no idioma original significa recompensa e não a salvação individual. Os ímpios serão vingados pelo Senhor: “Alexandre, o latoeiro, causou-me muitos males; o Senhor lhe dará a paga segundo as suas obras” (II Timóteo 4.14), mas, os servos de Cristo também terão suas obras avaliadas diante de Deus: “Segundo a graça de Deus que me foi dada, lancei o fundamento como prudente construtor; e outro edifica sobre ele. Porém cada um veja como edifica” [...]Contudo, se o que alguém edifica sobre o fundamento é ouro, prata, pedras preciosas, madeira, feno, palha, manifesta se tornará a obra de cada um; pois o Dia a demonstrará, porque está sendo revelada pelo fogo; e qual seja a obra de cada um o próprio fogo o provará” (I Coríntios 3.10,12,13).

Fiéis, santos e verdadeiros como eram,  os crentes de Filadélfia não deveriam temer a perda da salvação, mas tomarem cuidado com suas motivações para que suas obras não fossem desaprovadas diante de Deus. Que o Senhor nos ajude e que tomemos cuidado para fazermos “nossas obras” com amor, humildade, simplicidade, fidelidade e zelo.

Em Cristo,
    


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