segunda-feira, 22 de agosto de 2011

OS CRISTÃOS NA SOCIEDADE

Por Gilson Barbosa

Alguns anos atrás eu estava num culto quando o pastor disse que era preferível os jovens não cursarem uma faculdade do que cursando, se desviarem do evangelho. Confesso que fiquei preocupado com essa "orientação espiritual". Fiquei preocupado com o futuro profissional dos jovens e com o tipo de entendimento que aquele abnegado servo de Deus tinha da santidade cristã. Para ele era melhor o isolamento social do que o convívio no meio dos "incrédulos".  

Hoje as coisas mudaram, mas comparado com decisões de algum tempo atrás, esse acontecimento descrito acima é apenas uma pontinha do iceberg. Quantas pessoas foram desligadas do rol de membros da Igreja por "conduta mundana" - refiro-me, no caso, a Igreja onde participei desde a tenra infância - Igreja Evangélica Assembléia de Deus. Não culpo, jamais, os pastores que agiram desta forma, pois era o entendimento que eles tinham da Bíblia, das doutrinas e foram movidos por boa intenção.
 
Porém, olhando para as páginas dos Evangelhos não é assim que acontece. Jesus jamais se isolou ou evitou o contato com os "imundos pecadores". Pelo contrário, "foi em meio às pessoas que Ele transformou a sociedade e o mundo [...] quando adulto frequentava a sinagoga, pagava impostos e, sempre que convidado, participava de eventos sociais". Jesus estava entre as pessoas, especialmente entre os necessitados. Quando em algum momento Ele estava no meio dos doutores era para lhes censurar, exortar, repreender ou pregar o evangelho do reino. Como é diferente o comportamento de muitos homens de Deus hoje em dia. Preferem a companhia de pessoas badaladas, almoços e jantares requintados com o político tal, desejam ser ovacionados por seus fãs, ser amigo do famoso pregador, ser amigo intimo do blogueiro mais famoso do universo evangélico... 

Como Jesus é e sempre foi maravilhoso! Após estar numa casa lotada de pessoas e curar um paralítico (Marcos 2.1-12), ele sai andando pela praia, ao ar livre, onde encontraria pessoas carentes de receber o seu evangelho (Mc 2.13). A Bíblia diz que Jesus via as pessoas, não como Cifrão de dinheiro, não como canais potenciais de riquezas a serem exploradas, não como mentes fáceis de serem manipuladas, não como um bando de revoltados e desviados, não como gentalha, mas como ovelhas que não tinham pastor: "E Jesus, saindo, viu uma grande multidão, e teve compaixão deles, porque eram como ovelhas que não têm pastor; e começou a ensinar-lhes muitas coisas" (Mc 6.34). 

O texto bíblico de Marcos 2.13-17 trata da chamada de Levi, ou Mateus (Mt 9.9) - Mateus ou Levi é a mesma pessoa. Este homem arrecadava impostos para Roma, que dominava a Palestina nessa época. No evangelho de Mateus (10.3) é chamado de publicano. O sistema de arrecadação de impostos na Palestina subentendia grandes somas de desvios de dinheiro e vantagens pecuniárias. Os romanos ricos arrendavam a outros a tarefa de recoletar os impostos públicos sobre as exportações e importações. Os judeus consideravam os judeus publicanos, traidores. Eram odiados pelo fato de enriquecer um país estrangeiro que os escravivaza e cujos principios religiosos eram pagãos. Foi para esse tipo de profissional, para esse arrecadador de impostos aos cofres romanos, para esse que não gozava de confiança alguma, para esse homem detestado, Jesus disse Segue-me.

Não devemos olhar para o estereótipo profissional das pessoas, para a aparência física, para a conta bancária, mas entender que essa é um pobre pecador e que necessita seguir a Cristo, como nós. Levi (ou Mateus) ficou tão feliz por ter recebido a Cristo como seu Salvador e como queria tê-lo por perto promoveu um jantar especial em sua casa e convidou muitas pessoas, principalmente Jesus: " E aconteceu que, estando sentado à mesa em casa deste, também estavam sentados à mesa com Jesus e seus discípulos muitos publicanos e pecadores; porque eram muitos, e o tinham seguido" (Mc 2.15). Marcos informa que Jesus estava com os [muitos] publicanos e pecadores. Lá estava Jesus no meio dos desqualificados, dos ignorantes, dos que desconheciam profundamente a Lei, dos desgraçados. Não vejo, nos Evangelhos, Jesus no meio do pessoal da grana, lisojeando-os para usufruir das suas riquezas e posses, mas vejo-o no meio dos pobres e necessitados. Quem é que sustentava o ministério de Jesus (Lc 8.3)? Jesus se importava com as pessoas, não as via como máquinas potencialmente produtivas, mas carentes de salvação e amparo. 

O pastor Wagner Gaby diz que "a Igreja do Senhor não deve ser insensível diante dos sofrimentos e mazelas que infelicitam a sociedade. Nossa obrigação é estender as mãos necessitados (I Jo 3.17)". Podemos minorar o dilema social através da oração por meio dos nossos governantes (I Tm 2.1-8), mas isso não nos exime de criarmos mecanismos básicos para atendermos aos necessitados, na alma e no corpo. Muitos crentes estão alheio aos acontecimentos sociais como se nada tivessem a ver com essas questões. Devemos ser agentes transformadores da sociedade. Os realitys shows, a boa vontade política e religiosa, a filosofia, a sociologia não podem eficazmente promover mudanças inerentes a espécie humana. O problema da humanidade é o pecado (Mc 2.17) e o Senhor nos deu condições e ordem para aliviar o sofrimento humano. 

"E disse-lhes: Ide por todo o mundo, pregai o evangelho a toda criatura".   
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