Por Mauricio Zágari
Algumas reflexões aqui no APENAS nascem de episódios da minha vida. Outras são mero fruto de pensamentos que cismam em pulular dentro da minha mente. Muitas são resultado da observação do mundo ao meu redor. Mas a de hoje tirei de um lugar inusitado: uma frase que minha maninha @JuliaHelena_ postou no twitter.
Confesso que quando li “Tem muito pão com ovo se achando Big Mac” achei criativo e bem-humorado. Mas não tem jeito: quando você respira a fé 24 horas por dia (e, que fique claro, isso não falo como uma qualidade que pode soar soberba, mas sim como uma mera constatação), até pequenas coisas como essas me levam a refletir sobre a Igreja, Cristo e o nosso universo cristão. A verdade é que Julia está certa, talvez não mediante a intenção que a fez postar essa frase, mas em um âmbito muito mais profundo dentro desse mesmo universo.
Esta é uma reflexão sobre celebridades, fama e sua relação com a fé.
O ser humano sempre foi atraído por celebridades. Veja o star system americano, uma estratégia criada décadas atrás pelos estúdios de cinema que procura criar celebridades em Hollywood apenas para que filmes deem mais lucro. Em resumo, o star system busca tornar atores e atrizes famosos para levar você, do público, a se apaixonar por eles e querer sempre ver seus filmes. Afinal, confesse, você vai ao cinema em 99% das vezes pelo título do filme ou porque seus astros prediletos atuam nele?
E funciona! Você não vai ver Diamantes de sangue, você vai é assistir ao “último filme do Leonardo DiCaprio”. É assim que age a dinâmica das celebridades: a máquina de marketing de Hollywood, da TV Globo ou o que seja leva você a se afeiçoar pelos atores A, B ou C para que a cada novo filme, novela ou seriado você esteja ali, sentadinho, pagando seu ingresso, aumentando o ibope e, claro, enriquecendo estúdios de cinema ou redes de TV. É simplesmente por isso que existem celebridades nos nossos dias: pois elas geram poder e dinheiro. Muuuuuito dinheiro!
E entre os cristãos?
Isso tudo apenas comprova que o ser humano sempre foi atraído por celebridades. E você acha que entre os cristãos é diferente? Também somos seres humanos. Então não, não é. Basta olhar em volta. Nós, cristãos, criamos e amamos celebridades pelas exatas mesmas razões que o mundo. Repare que desde a época de Cristo era assim. Jesus mesmo virou uma celebridade – não por vontade própria, claro. Mas perceba: quando ele multiplica pães e peixes e alimenta milhares de pessoas, muitos passam a segui-lo não por suas palavras de vida eterna, mas pelos benefícios materiais que perceberam que ele poderia lhes proporcionar. Cara, um homem que pega cinco pães e dois peixes e alimenta de graça milhares de pessoas! Quem não quer seguir uma celebridade dessas?! Mas aí o tempo passa e quando Jesus é pregado numa Cruz restam apenas 120 no cenáculo. Pois naquele momento o ibope de Jesus estava em baixa e ele não tinha, aos olhos humanos, mais nada a oferecer, já que morto não gera poder, prestígio, dinheiro ou outros bens materiais. Só permanece quem realmente busca o Reino de Deus e não pessoas que lhes proporcionem benefícios materiais ou arrepios de emoção.
Passaram os séculos e chegamos aos nossos dias. Então o meio cristão começa a inventar celebridades, pelos mesmos motivos mundanos de sempre: atrair gente. E com isso gerar dinheiro – usando as boas e velhas estratégias: encher igrejas, vender CDs e DVDs, eleger políticos e outras práticas similares. O problema é que uma enormidade dessas celebridades é puro pão com ovo: entopem mas não têm substância. O resultado é que temos pastores-celebridades ensinando absurdos bíblicos nos púlpitos e multidões que devoram aquele pão com ovo achando que é Big Mac quando na verdade as palavras proferidas não carregam em si nada além de algo que engorda e aumenta o colesterol espiritual. E, óbvio, podem causar uma tremenda infecção e até uma septicemia espiritual – que pode levar à morte.
É assim com pregadores-celebridades que ensinam prosperidade. É assim com pregadores-celebridades que atraem os jovens com discursos e estéticas bonitinhas mas começam a pregar que o cristão não precisa ter uma mudanca radical de vida para seguir Cristo (a mais nova heresia do mercado gospel, ensinada por pastores que dizem que você não precisa ter uma mudança de vida radical após receber o chamado de Cristo. Aliás, cabe aqui um parêntese: se você ouvir falar de ética transacional ascendente, FUJA!). É assim com pregadores-celebridades que falam sobre graça mas vivem atacando os outros e chamando pastores sérios de “bundões”. É assim com pregadores-celebridades que usam sua pregação eloquente para se eleger ou eleger seus irmãos e parentes para cargos políticos no governo. É assim com pregadores-celebridades que usam a linguagem, a estética e ate a música dos jovens para atrai-los e torná-los seus dizimistas.
É muito pão com ovo se achando Big Mac. Mas no Reino de Deus? Comida espiritual irrelevante.
Pão com ovo na música
No mundo da música cristã, então, é pão com ovo pra tudo que é lado. Em nome de um “ministério de louvor”, muitos cantores tentam emplacar suas carreiras com músicas francamente horripilantes, com letras muitas vezes antibíblicas e propostas teológicas de vitória que fariam a galinha ter vergonha de ter posto aquele ovo. Harmonias paupérrimas, melodias assustadoras, letras clichês e, o que é pior, músicas que só têm por objetivo movimentar o mercado fonográfico gospel, mas cuja finalidade enquanto real louvor a Deus é só… pão com ovo.
Querido irmão, querida irmã, cuidado com o que você ingere em se tratando de teologia, doutrina ou artes gospel. Eu já passei três dias no CTI de um hospital por ter tragado comida estragada. E acredite: é bem doloroso. Não deixe sua alma ser infeccionada por pães com ovo que parecem comidas suculentas mas não passam de pão mofado e ovo galado. Se você ouvir um pregador da moda ensinando coisas que até soam interessantes, poéticas, modernosas e simpatiquinhas mas que você nunca ouviu antes, procure conversar com seus pastores ou irmãos mais experientes em quem você confie antes de abraçar esses pensamentos apócrifos. Afirmações como “Deus não está no controle das tragédias”, “doe dinheiro para o meu ministério e a unção financeira será derramada sobre sua vida”, “se você é um empresário pode se converter mas não precisa parar de dar propina a fiscal do dia para a noite, isso ocorre progressivamente”, “basta você tomar posse da vitória pela fé e será teu” simplesmente não são bíblicas E, logo, são demoníacas. Não coma o manjar oferecido aos demônios achando que é maná dos céus só porque um pastor ou um cantor famoso te oferece aquilo.
Se você me permite ser muito objetivo, serei: há muitas celebridades evangélicas vendendo comida oferecida aos ídolos por aí. E como são famosos, há multidões engolindo. E, é triste admitir, vão sofrer muito por isso. Não seja uma dos tais. Atenha-se ao cristianismo ortodoxo, corra com todas suas forças de novidadezinhas.
Se você ouvir novidades que você nunca ouviu antes sendo pregadas em púlpitos, no twitter, no facebook, em blogs, no Youtube ou seja lá onde for…querido, querida: não dê ouvidos. Não importa se foram ditas por pastores famosos, por pregadores que estão na TV ou têm blogs e videos bonitinhos e comentados no Youtube. FUJA! Pelo amor que você tem a sua alma, entenda que o simples fato de um pastor ter milhares de seguidores no twitter não faz dele um homem de Deus. Pode parecer Big Mac, mas muitas vezes é pão com ovo da pior espécie. Ou o fato de um pastor pregar de jeans e levar bandas de rock para tocar em suas igrejas não o faz mais cristão do que um que prega de terno e gravata e canta hinos antigos. E vice-versa. Importa se aquilo que ele prega é bíblico ou não. Estética é só estética. Fama é só fama.
Do mesmo modo, é absolutamente irrelevante se um cantor, uma cantora ou um grupo gospel da moda sejam famosos. Fama nunca levou nem vai levar ninguém pro Céu. Fama não faz de um músico que canta canções cristãs mais ou menos ungido ou usado por Deus. Ele é apenas famoso. Apenas. Nada mais. Fama não lhe atribui absolutamente nenhuma qualidade espiritual que o não famoso não tenha. Examine a letra das músicas que cantam. Veja se a filosofia que transmitem entre uma música e outra é canônica ou não. Muitas vezes o artista pão com ovo deixa transparecer como é seu compromisso com Deus quando, ao “ministrar” entre as canções, diz barabaridades hediondas como, por exemplo, “Senhor, quero ter um romance contigo”. FUJA desses – mesmo que suas músicas sejam lindas de morrer. Lembre-se que Dalila e Bate-Seba eram lindas e Sansão e Davi pagaram um preço muito alto por terem se deixado levar mais pela beleza do que pela Palavra de Deus.
Indo aos finalmentes
Geralmente o simples fato de um pão com ovo já querer ser Big Mac, ou seja, o fato de alguém querer muito ser famoso, já denuncia sua condição espiritual. Jesus falou sobre João Batista: “Eu lhes digo que entre os que nasceram de mulher não há ninguém maior do que João” (Lc 7.28a). E no entanto João era tão espiritual que disse “É necessário que ele [Jesus] cresça e que eu diminua.” (Jo 3.30). Esse é o espírito que deve estar em nossos corações. A busca da fama não é bíblica nem cristã. O cristão de verdade aponta para Cristo em tudo o que faz. O desejo pela fama é carnal e, francamente, diabólico.
Quem dá ao povo o que o povo deseja só para ser seguido vilipendia a essência da nossa fé. Tem pastores distribuindo pães e peixes à vontade, para que no dia seguinte suas igrejas estejam cheias ou para que sejam convidados para a conferência X, Y ou Z. Ou músicos cujos corações estão no espelho e não na cruz – só para que seus shows lotem, seus CDs se esgotem, sua conta bancária engorde e seus egos sejam inflados ao máximo só mercem uma coisa: que você FUJA deles.
Querido, querida, busque os anônimos. Busque aqueles que não querem aparecer. Se você olhar em volta vai perceber que os pregadores mais bíblicos e de coração mais puro fogem da fama a todo custo. Dê unfollow nos pregadores da moda do twitter ou do facebook só porque estão na moda ou falam frasezinhas bonitinhas e busque aqueles que de fato transmitem a essência do Evangelho. Esqueça os videos de pastores charmosinhos do Youtube e leia os clássicos, procure livros em vez de programas de TV gospel. Ignore os músicos que lotam igrejas – procure os que, sem mega estruturas, louvam ao Senhor em lágrimas com um banquinho e um violão. Pare. Pense. Mude os padrões que te levam a eleger esse ou aquele como o Big Mac da hora.
E quer saber de uma coisa? Você não vai encontrar as palavras de vida eterna em pães com ovo. Muito menos em Big Macs. Vai encontrar é num bom prato de feijão com arroz, bife e salada. Então FUJA do que é só celebridade e fama e procure o que realmente alimenta. E, repare: propaganda de Big Mac você vê em todo lugar. Mas de feijão com arroz, bife e salada… ninguém faz. Só que é ali que está o alimento de verdade pra tua alma.
Paz a todos vocês que estão em Cristo.
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