sexta-feira, 16 de maio de 2014

ELEIÇÃO E REPROVAÇÃO: DOUTRINA QUE ASSUSTA

Por Gilson Barbosa

As doutrinas da eleição e reprovação divinas são bíblicas. Estão contidas em um corpo maior da Teologia Sistemática: a doutrina da providencia de Deus. A grande maioria dos evangélicos na intenção de “livrar Deus da culpa de lançar pecadores no inferno” costumam afirmar que essas doutrinas estão fundamentadas na presciência de Deus. Ou seja, Deus elege ou reprova com base na futura escolha do pecador. Primeiro o pecador aceita ou escolhe a salvação, em seguida Deus o predestina. Obviamente esse entendimento não tem nenhuma base bíblica. Vejamos.

1 – Os planos de Deus, chamado também de Decretos, são fundamentados a) em sua sabedoria, bem como afirmou o salmista (104:24): “Que variedade, SENHOR, nas tuas obras! Todas com sabedoria as fizeste; cheia está a terra das tuas riquezas”; b) em sua soberania, pois ele não precisa da nossa opinião humana para a realização de sua vontade: “Quem, pois, conheceu a mente do Senhor? Ou quem foi o seu conselheiro?” (Romanos 11:34); c) são realizados no tempo histórico; d) são incondicionais, ainda que o Senhor não dispense os meios para a realização do seu plano.

2 – Desde o início a raça humana foi dividida em dois grupos. Os descendentes da semente piedosa e temente ao Senhor – proveniente de Sete: “Tornou Adão a coabitar com sua mulher; e ela deu à luz um filho, a quem pôs o nome de Sete; porque, disse ela, Deus me concedeu outro descendente em lugar de Abel, que Caim matou. A Sete nasceu-lhe também um filho, ao qual pôs o nome de Enos; daí se começou a invocar o nome do SENHOR” (Genesis 4:25,26). E os descendentes de Caim (leia Genesis 4:17-24).

3 – Deus escolheu a nação de Israel para ser sua propriedade exclusiva. Sabemos que havia outras nações naquele tempo, mas o Senhor em seu infinito poder e soberania elegeu Israel para ser seu povo: “Porque tu és povo santo ao SENHOR, teu Deus; o SENHOR, teu Deus, te escolheu, para que lhe fosses o seu povo próprio, de todos os povos que há sobre a terra” (Deuteronômio 7:6). A escolha do Senhor por Israel não aconteceu por algum mérito desta nação: “Não vos teve o SENHOR afeição, nem vos escolheu porque fôsseis mais numerosos do que qualquer povo, pois éreis o menor de todos os povos” (Deuteronômio 7:7). Mas, o Senhor a escolheu com base em seu amor e sua aliança feita com os patriarcas: “mas porque o SENHOR vos amava e, para guardar o juramento que fizera a vossos pais” (Deuteronômio 7:8).

4 – Indivíduos da linhagem piedosa foram escolhidos para realizar a obra do Senhor.  Fundamentado em quê, Deus escolheu Abrão ainda em Ur dos Caldeus? “Então, Josué disse a todo o povo: Assim diz o SENHOR, Deus de Israel: Antigamente, vossos pais, Tera, pai de Abraão e de Naor, habitaram dalém do Eufrates e serviram a outros deuses. Eu, porém, tomei Abraão, vosso pai, dalém do rio e o fiz percorrer toda a terra de Canaã” (Josué 24:2,3). Por que o Senhor não escolheu Ismael como filho da promessa? “Deus lhe respondeu: De fato, Sara, tua mulher, te dará um filho, e lhe chamarás Isaque; estabelecerei com ele a minha aliança, aliança perpétua para a sua descendência. Quanto a Ismael, eu te ouvi: abençoá-lo-ei, fá-lo-ei fecundo e o multiplicarei extraordinariamente; gerará doze príncipes, e dele farei uma grande nação. A minha aliança, porém, estabelecê-la-ei com Isaque, o qual Sara te dará à luz, neste mesmo tempo, daqui a um ano” (Genesis 17:19-21).

Por que, dos filhos de Isaque, Deus escolheu Jacó? “E ainda não eram os gêmeos nascidos, nem tinham praticado o bem ou o mal (para que o propósito de Deus, quanto à eleição, prevalecesse, não por obras, mas por aquele que chama), já fora dito a ela: O mais velho será servo do mais moço. Como está escrito: Amei Jacó, porém me aborreci de Esaú” (Romanos 9: 11-13).  

Notamos ainda que Deus escolheu a tribo de Judá, de onde viria o Messias (Genesis 49:10). José como governador do Egito para preservar o povo do Senhor (Genesis 45:7). Moises para ser o mediador da velha aliança (Êxodo 3:10). Levi para o sacerdócio (Deuteronômio 18:1,5). Saul e Davi para o trono em Israel (I Samuel 10:24; II Samuel 6:21). Paulo como apóstolo e missionário (Gálatas 1:15). Profetas, tais com Isaías (capítulo 6) e Jeremias (capítulo 1).

5 – O Senhor escolhe indivíduos para serem abençoados. Jesus comentou sobre o fato de que o Senhor, por meio do profeta Elias, providenciou alimento apenas para a viúva de Sarepta de Sidom (Lucas 4:25,26) e curou apenas Naamã de Lepra (Lucas 4:27). Dentre muitos outros que precisavam de cura no tanque de Betesda, o Senhor curou apenas um paralítico (João 5: 2-9). 

6 – O Senhor rejeita indivíduos. Na perdição de Judas: “Quando eu estava com eles, guardava-os no teu nome, que me deste, e protegi-os, e nenhum deles se perdeu, exceto o filho da perdição, para que se cumprisse a Escritura” (João 17:12). No abandono dos gentios: “Por isso, Deus entregou tais homens à imundícia, pelas concupiscências de seu próprio coração” (Romanos 1:24). Nos vasos de ira preparados para a perdição: “Que diremos, pois, se Deus, querendo mostrar a sua ira e dar a conhecer o seu poder, suportou com muita longanimidade os vasos de ira, preparados para a perdição” (Romanos 9:22). Na escolha de Cristo para servir como pedra de tropeço e rocha de escândalo: “Para vós outros, portanto, os que credes, é a preciosidade; mas, para os descrentes, A pedra que os construtores rejeitaram, essa veio a ser a principal pedra, angular e: Pedra de tropeço e rocha de ofensa. São estes os que tropeçam na palavra, sendo desobedientes, para o que também foram postos” (I Pedro 2:7,8).

Católicos romanos e arminianos juntos numa mesma antropologia

Em todos esses exemplos Deus é soberano e poderoso em seus decretos. Não temos o direito de questionar os planos do Senhor, por mais que pareça humanamente ilógicos ou absurdos: “Quem és tu, ó homem, para discutires com Deus?! Porventura, pode o objeto perguntar a quem o fez: Por que me fizeste assim? Ou não tem o oleiro direito sobre a massa, para do mesmo barro fazer um vaso para honra e outro, para desonra?” (Romanos 9:20,21).

Percebemos também nesses exemplos que não há nenhuma condição imposta externamente para que o Senhor eleja ou reprove indivíduos ou nações. Isso por si desconstrói a tese de que a eleição ou rejeição (também conhecida como preterição) sejam baseadas na presciência de Deus. Em Deus não há contradição nem confusão de seus atributos. Arminianos e católicos romanos enfatizam não uma teologia bíblica, na questão do tratamento de Deus com os homens, mas uma antropologia humanista. Que o Senhor nos ajude para darmos somente a Ele a devida glória.


Com amor, 
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