Este artigo é um breve pensamento sobre os oficiais da igreja primitiva
e o sistema de governo adotado pelos apóstolos
Por Gilson Barbosa
Muitos com certeza não consideram
importante o estudo sobre os sistemas de governos da igreja. Os sistemas
definem como a igreja deve ser governada dentro do âmbito terreno. Entretanto, à
revelia dos desinteressados, se uma igreja deseja ser totalmente bíblica é
necessário esposar e se enquadrar num sistema puro, bíblico e historicamente confiável.
Obviamente a forma de governo da
igreja não é doutrina primária, comparado com outras de fundamentos
inabaláveis, porém, se um sistema de governo não é plenamente bíblico podemos
esperar consequências terríveis na esfera administrativa. Sendo assim, apesar
de não ser uma doutrina central, é uma questão importante conhecer o sistema
adotado pelos apóstolos na formação da igreja, e ter ou implantar o mesmo na
igreja atual.
Os oficiais na igreja
Para entendermos bem os sistemas
de governo da igreja, primeiramente é necessário saber e compreender como a
Bíblia denominava os oficiais da igreja primitiva.
A Bíblia relata os ofícios de
apóstolo, presbítero e diácono. Estes eram pessoas que tinham sobre si o
reconhecimento público e desempenhava certas funções em beneficio da igreja.
Dos três ofícios citados na linha anterior um estava limitado ao tempo e hoje
já não existe mais: o apóstolo. Não é minha intenção discutir sobre as bases da
inexistência desse ofício agora, e fica quem sabe para outra postagem.
Reconhecidamente sobram os ofícios de presbítero e diácono. Podemos perceber
que não há o ofício de pastor, pois se trata de função e não titulo ou ofício.
É verdade que os presbíteros em certo sentido podem ser chamados de pastores,
mas é simplesmente por causa da função de pastorear. A única vez que a Bíblia
menciona a palavra pastor para
referir-se a um oficial da igreja se encontra em Efésios 4.11: “Assim, Ele
designou alguns para apóstolos, outros para profetas, outros para evangelistas
e outros para pastores e mestres”. Mas sabemos que esses pastores/mestres, na
verdade eram os presbíteros. Note bem que em Atos 20.17 o apóstolo Paulo pediu
para que fossem chamados os presbíteros da Igreja de Éfeso, mas
no versículo 28 ele lhes diz que Deus os estabeleceu “para pastoreardes a
Igreja de Deus”. Leia mais em I Pedro 5.2.
Pluralidade de presbíteros
Em segundo lugar não há na Bíblia
a ideia de um único pastor dirigindo e detendo poder sobre um grupo de igrejas
e consequentemente de presbíteros e diáconos. Entendo que o modelo bíblico é o
da pluralidade de presbíteros. Em Atos 14.23 quando os missionários retornavam pelas
cidades de Listra, Iconio e Antioquia, diz, por exemplo, que “Paulo e Barnabé
lhes constituíram presbíteros em cada igreja; e, tendo orado e jejuado, eles os
consagraram aos cuidados do Senhor, em quem haviam crido”, ou seja,
estabeleceram um grupo de presbíteros em cada igreja que fundavam. Tito foi
aconselhado a fazer o mesmo em Creta: “Para esta missão te deixei em Creta,
para que pusesses em ordem o que ainda faltava e constituísses presbíteros, de
acordo com minhas orientações” (Tito 1.5).
O apóstolo Tiago (1.1) escreveu
sua epístola “ás doze tribos dispersas entre as nações” o que significa que era
para as muitas igrejas neotestamentárias, e em 5.14 ele orienta a igreja:
“Algum de vós está doente? Chame os presbíteros da igreja, a fim de que orem
sobre a pessoa enferma, ungindo-a com óleo em nome do Senhor” (5.14). O
apóstolo Pedro também segue a mesma linha quando diz: “Suplico, portanto, aos
presbíteros que há entre vós, eu que sou também presbítero com eles [...]
pastoreai o rebanho de Deus que está sob o vosso cuidado” (I Pe 5.1,2).
O iminente teólogo Wayne Grudem
ratifica a mesma linha da pluralidade de presbíteros em cada igreja: “Duas
importantes conclusões podem ser tiradas desse panorama de dados do Novo
Testamento. Primeiro, nenhum texto sugere que qualquer igreja, não importa quão
pequena, tivesse um só presbítero. O padrão coerente do Novo Testamento é a pluralidade
de presbíteros ‘em cada igreja’ (At 14.23) e ‘em cada cidade’ (Tt 1.5).
Segundo, não vemos uma diversidade de formas de governo eclesiástico no Novo
Testamento, mas um padrão único e coerente, segundo o qual toda a igreja tinha
presbíteros que a dirigiam e zelavam por ela (At 20.28; Hb 13.17; I Pe 5.2,3)”.
TEOLOGIA SISTEMÁTICA, p. 765.
Não quero acusar ou criticar os
que defendem a figura de um único pastor com autoridade sobre um corpo de
presbíteros, grupo de diáconos e membros da igreja, mas pra mim isto não é
essencialmente bíblico. Certa vez Jesus censurou os discípulos quando discutiam
entre si quem era o maior. Em resposta Jesus disse que “se alguém deseja ser o
primeiro, será o último, e servo de todos” (Mc 10.33-37). Mais á frente, a
respeito do pedido inusitado de Tiago e João, Jesus lhes respondeu: “Sabeis que
aqueles que são considerados governantes das nações as dominam e as pessoas
importantes exercem poder sobre elas. Contudo, não é assim que ocorre entre
vos. Ao contrário, quem desejar tornar-se importante entre vós deverá ser
servo; e quem ambicionar ser o primeiro entre vós que se disponha a ser o
escravo de todos” (Mc 10.35-45).
Mesmo os discípulos que
aparentemente são apontados por alguns como prediletos de Jesus (Pedro, Tiago e
João), não foram instruídos a se sentirem superiores nem deter algum tipo de
autoridade sobre os demais. Novamente cito Wayne Grudem que felizmente disse:
“Isso pode bem refletir a sabedoria de Cristo de precaver o abuso de poder que
inevitavelmente acontece quando qualquer ser humano tem excesso de poder sem o
necessário controle ou supervisão por parte de outros. Assim como Jesus deixou
uma pluralidade de apóstolos com a autoridade (humana) definitiva na igreja
primitiva, também os apóstolos sempre estabeleceram uma pluralidade de
presbíteros em cada igreja, nunca deixando só uma pessoa com a autoridade de
liderança”.
Formas de governo da igreja
Feito essa introdução necessária,
passemos para as formas de governo da igreja. Há três formas de governo
eclesiástico estabelecido: o Episcopal, o Presbiteriano e o Congregacional. De certa
forma todos eles possuem perigos inerentes do próprio ser humano, mas, buscar
seguir o modelo que seja bíblico é considerar o que as escrituras dizem sobre o
assunto. Não compartilho com outros estudiosos que os modelos de administração
são intercambiáveis e que podem ser defendidos mutuamente. Acredito que a
Bíblia esclarece e aprova apenas um modelo: o congregacional.
Episcopal
A origem da palavra episcopal na
língua grega remete ao vocábulo episkopos, que significa “supervisor”,
traduzido seguidamente por “bispo” ou “superintendente”. Comparado aos outros,
é o sistema eclesiástico mais antigo. O líder principal revestido de autoridade
é o arcebispo, tendo à sua disposição o “domínio” sobre vários bispos.
Basicamente este sistema apoia seu pensamento na certeza de que os sucessores
dos apóstolos (bispos) foram legalmente constituídos por Cristo, obtendo de sua
liberação o controle da igreja na Terra.
Os que defendem esse sistema ou
usufruem dele, alegam que se deu este desenvolvimento naturalmente no início da
igreja. Acreditam estes, que após a morte do apóstolo João, naturalmente e sob
sua aprovação, um bispado foi surgindo em cada igreja enquanto os apóstolos
(originais) faleciam, e, pouco a pouco se tornou em grandes proporções com
extremos poderes. Entre as igrejas que adotaram este sistema, a igreja Católica
Romana é a mais “aguerrida defensora” e, apesar de existir vários bispos, um só
é autoridade infalível, o Papa. As reivindicações e justificativas repousam na
teoria de que Pedro foi o primeiro papa e que logo após a morte deste teria se
iniciado uma série de sucessões papais, predominante hodiernamente. Menos
fervorosos do que a igreja católica nesta reivindicação, mas, participantes do
sistema episcopal estão a Igreja Anglicana, a Igreja Metodista Unida, a Igreja
de Deus (pentecostais dos EUA) e a Igreja da Santidade Pentecostal (EUA). No
Brasil, a Igreja Evangélica Assembleia de Deus é episcopal.
Presbiteriano
No sistema presbiteriano não há a
centralização da autoridade ou dos direitos em alguém, contudo, há um
representante, escolhido pela igreja local, através do sistema de eleição, que
figura a igreja nas atividades eclesiásticas. O representante, neste sistema, é
denominado de presbítero (gr. presbuteros), e vemos sua presença, por exemplo,
em Atos 11.30: “O que eles com efeito fizeram, enviando-o aos anciãos
(presbíteros) por mão de Barnabé e de Saulo”. As decisões básicas eclesiais, no
sistema presbiteriano, são tomadas por sequenciais concílios. Os presbíteros
são responsáveis pelo governo das igrejas de determinadas áreas jurisdicionais.
Fazem parte do presbitério os membros que compõem um conselho, ou uma
assembleia. Este presbitério deve respeito ao superior hierárquico, o pastor da
igreja, que não deixa de ser um presbítero, cuja autoridade é exercita sobre os
demais presbíteros das igrejas locais. Em um patamar mais elevado, e de maior
autoridade eclesiástica, está a Assembléia Geral ou Supremo Concílio, o órgão
máximo do sistema presbiteriano.
Congregacional
Cada igreja local,
geograficamente, exerce poderes eclesiásticos, sendo que as decisões tomadas
pela congregação (de crentes) são investidas de autoridade. É o sistema em que
mais se executa a democracia, pois, coloca em ascendência a vontade dos
“leigos”. Decisões de extrema importância são tomadas pelos membros da
congregação, denotando que todo o poder emana do povo, sendo que, nenhum poder
externo tem a supremacia, e as decisões não podem ser revogadas por nenhum
corpo eclesiástico. A compra e venda de propriedades, a escolha e até o
orçamento do pastor, por exemplo, neste sistema, é feito totalmente sob a “aprovação”
dos membros congregacionais. Porém, isto não isenta uma determinada congregação
de deter uma representação pastoral e até mesmo um corpo eclesiástico. Destaco,
neste modo, as igrejas Batistas e Congregacionais.
O que a Bíblia diz a respeito do sistema de governo primitivo
Segundo o pastor Rosivaldo Sales entres os fatos que comprovam a biblicidade desse modelo estão: a ausência de uma hierarquia sacerdotal piramidal na igreja primitiva; as cartas apostólicas eram dirigidas para toda a comunidade e não aos líderes em particular como se houvesse diferenciação; a resolução das situações importantes não estava numa classe ordenada ou privilegiada (um clero, conselho, pastor ou sacerdote), mas na comunidade cristã (At 6.1-3; 13.1-3; 14. 21-23; 15. 22-25; I Co 5; 6.1-5; 16.3); o direito das igrejas de elegerem representantes para acompanhar o apóstolo Paulo na missão de levar as ofertas à igreja de Jerusalém; a sinergia entre a igreja reunida (os irmãos) com os presbíteros e diáconos, na direção do Espírito.
Segundo o pastor Rosivaldo Sales entres os fatos que comprovam a biblicidade desse modelo estão: a ausência de uma hierarquia sacerdotal piramidal na igreja primitiva; as cartas apostólicas eram dirigidas para toda a comunidade e não aos líderes em particular como se houvesse diferenciação; a resolução das situações importantes não estava numa classe ordenada ou privilegiada (um clero, conselho, pastor ou sacerdote), mas na comunidade cristã (At 6.1-3; 13.1-3; 14. 21-23; 15. 22-25; I Co 5; 6.1-5; 16.3); o direito das igrejas de elegerem representantes para acompanhar o apóstolo Paulo na missão de levar as ofertas à igreja de Jerusalém; a sinergia entre a igreja reunida (os irmãos) com os presbíteros e diáconos, na direção do Espírito.
Não tenho como reprovar as
escrituras e ela deixa claro que o sistema congregacional de governo é o mais
provável. As características de uma igreja saudável passam pelas virtudes da
comunhão, respeito, liberdade e participação e isso está mais presente numa
igreja que adota o congregacionalismo. Não significa que as igrejas
congregacionais sejam perfeitas, imaculadas, mas não temos como negar que nele (no
sistema congregacional) o importante mesmo não é quem manda na igreja até porque o dono da igreja é Cristo, o
Salvador e Senhor.
No amor de Cristo,
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